Segunda-feira, 26 de Novembro de 2012

c.q.d.

Nos tempos do secundário, tive no meu 10.º ano uma professora de matemática – olá, Maria Raquel, onde estás tu?! – que marcou decisivamente o culminar do meu processo de desaprendizagem.

 

Tinha a mania de tornar evidentes à saciedade, os zeros protagonizados por alguns de nós na disciplina, e de assinalar as diferenças descomunais para os crâniozinhos da matéria, apondo no final das fórmulas deduzidas a preceito, tanto por si, como por esses colegas iluminados, um triunfante “c.q.d.”

 

“C.q.d.”. Como queríamos demonstrar. Um c.q.d. que se traduzia numa enorme frustração para tantos de nós, que nunca na vida passaríamos do “c.q.”, quanto mais o “d”.

 

O nosso jogo de ontem teve várias situações em que, no final, podíamos perfeitamente acrescentar um “c.q.d.”

 

 

 

 

Comecemos pelo José Peseiro. Antes de mais, um “disclaimer” prévio.

 

Considero que o José Peseiro foi o último treinador que passou por Alvalade, que conseguiu por o clube local a jogar alguma coisa.

 

É bem certo que, ao contrário, por exemplo, do Paulo Bento, que me lembre, não conseguiu ganhar rigorosamente nada. Mas pôs aquela equipa a jogar futebol, um bocadinho para além da sarrafada dos tempos bentianos, em que, a determinada altura, parecia que só sabiam jogar contra nós.

 

No entanto, um bocado como acontecia com o Fernando Mamede, há por ali no Peseiro uma qualquer disfunção no que toca a vencer, uma dificuldade de relacionamento com as vitórias, que sistematicamente o faz ficar pelo caminho.

 

Vejo o Peseiro como um bom treinador, dos melhores ao nível nacional, e ao nível do Nacional. Da Madeira, está visto.

 

É bom para uma equipa do meio da tabela, que se ganhar metade dos jogos que faz ao longo da temporada, se dá por feliz. No entanto, dificilmente conseguirá estar no seu habitat natural, num clube que joga para conquistar títulos, ainda que seja por um qualquer bambúrrio.

 

Foi o que se viu ontem. A jogar em casa, no seu ambiente, e detendo o controlo da partida, praticamente desde o primeiro quarto de hora, foi o primeiro a mexer na equipa. Para quê?

 

Basicamente para retirar de campo dois dos seus médios mais ofensivos e capazes de produzir jogo, e lançar dois trincos (saíram o Hugo Viana e o Rúben Micael, para as entradas do Rúben Amorim e do Djamal), adiantando e libertando o Mossoró da lateral, onda andara a maior parte do tempo até aí.

 

É verdade que o Éder até teve duas oportunidades de golo depois disso. Mas, por esses idos, o Alain, depois de distribuir tanta castanha, e o próprio Mossoró, já quase que não podiam com uma gata p’lo rabo. O Éderzito não fez mais do que aproveitar o nosso adiantamento à procura da vitória. E podia ter resultado.

 

No banco estavam o Hélder Barbosa, o Paulo César e o Carlão. Somente este último haveria de entrar, apenas por descargo de consciência.

 

Ou seja, José Peseiro no seu melhor. C.q.d..

 

Por esta altura, estarão alguns com vontade de me jogar à cara que, com o penálti que ficou por marcar a meio da primeira, a história poderia ter sido outra.

 

Têm razão. Ou não. Nunca saberemos. Na minha opinião - minha, vale o que vale - tendo em conta a distância a que o Alex Sandro se encontrava do Alain, quando a bola foi pontapeada, era-lhe impossível evitar o contacto da bola com a mão.

 

Não havendo intenção, não seria grande penalidade. Contudo, tendo em conta a interpretação correntemente em voga, do que é um castigo máximo, é evidente que o braço do nosso jogador, prolongando a área de contacto da bola com o corpo, impediu que esta, impulsionada pelo bracarense, se direcionasse para a baliza.

 

Logo, penálti claro, que ficou por marcar, e o segundo c.q.d..

 

Neste caso, o que ficou demonstrado foi que, ao contrário do acontecido noutras ocasiões e com outros adversários, em sentido inverso, o FC Porto teve efectivamente, sorte na Pedreira, por o Carlos Xistra não apontar para a marca de penálti naquela jogada.

 

Como estaria certamente ansioso por demonstrar, aquele ex-treinador bracarense, que na véspera deste jogo, disse que normalmente éramos bafejados pela sorte por aquelas bandas. Deve ter ficado radiante. Um c.q.d., também para ele.

 

E com mais propriedade ainda porque, tendo em conta o cômputo global da arbitragem, aquela omissão, mais da esfera do árbitro auxiliar, que do principal, terá sido mesmo sorte. A arbitragem do Xistra fez-me lembrar uma outra recente, que, segundo os entendidos na matéria, onde se inclui o presidente do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, nos terá valido o último campeonato.

 

Sim, estou a falar da arbitragem do Pedro Proença na Cesta do Pão, na temporada passada. Uma arbitragem em que o árbitro levou toda a partida a tomar decisões em nosso desfavor, para depois, o árbitro auxiliar errar para o nosso lado, e decidir o jogo.

 

O Xistra foi apenas igual a ele próprio, e por uma vez na vida, muito parecido com o Pedro Proença. Esta, não queríamos demonstrar, mas ficou demonstrada.

 

 

 

 

E nós? Não me esqueci. O FC Porto também lá esteve, e quanto a mim, não estivemos mal.

 

Tinha algumas dúvidas quanto a utilização do Alex Sandro e do Fernando nos lugares do Mangala e do Defour.

 

Digamos que, no que toca ao Alex Sandro, nada a dizer. Dada a presença do Alain, das duas, uma, ou o Mangala lhe aviava uma valente marretada logo a abrir, ou corria o risco de ter sérias chatices no resto do jogo. Assim, com o brasileiro a coisa foi mais equilibrada, e se alguém levou de recordação umas quantas nódoas negras, terá sido o nosso.

 

Foi pena para o Abdoulaye, que esteve bem nas vezes que alinhou, mas a opção foi a mais correcta, e o Mangala também merecia fazer uma perninha, perdão, uma pernona de todo o tamanho, e que parece chegar omnipresente a todo o lado, no seu lugar.

 

Quanto ao Fernando, a coisa fia mais fino. O Polvo, já se viu, sempre que é forçado a parar, demora algum tempo para atingir o ritmo de jogo que o caracteriza.

 

Lançá-lo contra o SC Braga, que tem um meio-campo composto por rodas baixas, que sabem jogar à bola, foi um risco. Era previsível vê-lo metido num meinho, a cheirar a bola até ao desespero, e bem se viram umas quantas entradas a destempo do nosso jogador, que enfim, enfim... 

 

O Defour parecia mais em consonância com o contexto. Por sorte, o Peseiro resolveu, relativamente cedo, prescindir de jogar à bola, e apostar no empate.

 

De resto, nada de especial. A unidade que mais buliu no jogo de quarta-feira, foi a primeira a ser substituída - o João Moutinho. Quando saiu o Varela, para entrar o Atsu, estava eu já a pedir a saída do Lucho, por troca com o Kléber, como viria a suceder mais tarde. Tudo normal, portanto.

 

Concluindo, demonstrámos que estamos bem, como se queria, e que sorte e mérito, em futebol, não têm que ser mutuamente exclusivos, como algumas bestas quadradas querem fazer parecer.

 

Falo em mérito porque fomos a única equipa que quis efectivamente vencer, e acreditou que o podia fazer, até ao derradeiro apito do Xistra.

 

"Audaces fortuna juvat". A sorte protege os audazes.

 

C.q.d.. 

 

música: Wishing I was lucky - Wet Wet Wet
sinto-me:
publicado por Alex F às 23:03
link do post | comentar | favorito
5 comentários:
De reinemargot a 27 de Novembro de 2012 às 02:01
que magnífico post ! muito bem escrito, muito melhor pensado.


quod erat demonstrandum, Maria Raquel...
De penta1975 a 27 de Novembro de 2012 às 10:32
é por escritos como este que fazes falta na bluegosfera ;)

abr@ço
Miguel | Tomo II
De Alex F a 27 de Novembro de 2012 às 14:04
@ Reine Margot,
@ Miguel,

Muito obrigado a ambos. É muita simpatia Vossa. E exagero, também.

Já agora, a propósito da Maria Raquel. Tornei a cruzar-me com ela a 23 de Outubro de 1999, num casamento em que, por acaso, até fui o padrinho do noivo.

Garantiram-me então, que fora do ambiente da sala de aulas, até conseguia passar por um ser humano a tender para o simpático.

Não confiando, preferi não arriscar, e mantive-me à distância durante toda a boda.
De penta1975 a 27 de Novembro de 2012 às 22:45
@ Alex

da minha parte, não houve qualquer exagero ;)

ps:
« Não confiando, preferi não arriscar, e mantive-me à distância durante toda a boda. »
como querias demonstrar obviamente :D

abr@ço
Miguel | Tomo II
De Azul Dragão a 28 de Novembro de 2012 às 17:36
Grande Comando !


Abraço

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