A acreditar nas notícias vindas a público ontem, o Benfica terá desistido de contratar o já famoso, Radomel Falcao (ou Radamel Falcão), como também já vi escrito).
Como explicou o senhor Director do futebol encarnado, à semelhança do caso do guarda-redes Andújar, terá sido dado um prazo ao jogador para decidir se vinha ou se ficava. Esgotado esse prazo, o Benfica (ou o Rui Costa, a saber) entendia que o seu amor pelo(s) jogador(es) não estava a ser correspondido, e rompeu o(s) noivado(s).
Acontece. No entanto, é estranho que dois jogadores fiquem assim com tantas dúvidas, ainda para mais quando se trata de vir para o Grande Benfica, e não se tenham metido no primeiro avião, sujeitando-se a serem contagiados pela gripe H1N1, e ala para a Luz.
Dá a entender o Rui Costa que terá havido algures uma intromissão do FC Porto neste último negócio, e aproveita para enaltecer a superioridade ética e moral do Benfica, que “(…) nunca procurou nem procura contratar jogadores para não irem para o FC Porto ou porque o FC Porto está interessado”, e que “(.…) não anda atrás de jogadores apalavrados por outros clubes”.
Desculpem lá, mas isto soa-me, antes de mais, a desculpa de mau pagador.
E parece que é precisamente isso que estará em causa. Em relação ao Andújar, não sei o que se passou, mas quanto ao Falcão, o que corre por aí é que a diferença de valores entre as duas partes anda à volta de 400 mil euros.
Ora, 400 mil euros é bem menos que o valor do passe do Mário Bolatti. Se o FC Porto pode ficar com um jogador pelo preço que o Benfica ia pagar, rentabilizando de caminho, um activo pouco activo do seu plantel, e entra na corrida por ele, de que se queixa o Rui Costa?
É do FC Porto a culpa de que o Benfica pague indemnizações a treinadores que saem e a equipas dos treinadores que entram, que, curiosamente, não estavam só apalavrados com o clube que treinavam, tinham até mais um ano de contrato, e depois ande a regatear na compra de passes de jogadores?
É o tipo de coisa que talvez dê resultado no negócio dos pneus ou na construção civil. No futebol, pelos vistos, não dá.
Que o diga o Atlético de Madrid, que também já se veio queixar de que o Benfica não cumpriu o estabelecido quanto ao Reyes. Se calhar querem mantê-lo por cá a preço de saldo.
Vendo bem as coisas, não era má ideia. Apesar de não ter gostado de algumas atitudes de filho-da-p*%@ do Reyes, ao longo da época passada, isso foi no Benfica.
O FC Porto precisa urgentemente de jogadores sacanas e que dêem porrada à má fila, que concorram em pé de igualdade com os do Benfica e do Sporting, porque os que por lá andam, com excepção do Bruno Alves, que pode ficar ou não, são uma chusma de anjolas.
Pois é, caro Rui, a vida é difícil. Era bem mais fácil aqui há uns anos, quando jogadores do Barreirense, do Montijo, do Atlético, da CUF, do Olhanense ou do Lusitano de Vila Real, recebiam convites de outros clubes, e eram redireccionados, para não dizer outra coisa, para o Benfica.
Ou, quando não, davam com os costados em África na Guerra Colonial, juntamente com colegas de outros clubes, que não o Benfica.
Os adeptos benfiquistas não gostam de ouvir isto. É a fase da negação da doença crónica de que padecem, e da qual sofrem recidivas sazonais quase todos os anos, aí por volta de meados de Maio.
Foram várias as histórias que me lembro de ler na bíblia benfiquista “A Bola”, no tempo em que ainda perdia tempo a lê-la, contadas na primeira pessoa por antigas glórias do nosso futebol, algumas das quais até ex-jogadores encarnados, que narravam episódios deste género.
Um dos únicos que sempre negou veementemente, ter sido desviado do Sporting, naquela época foi o Eusébio. Mas compreende-se. Trata-se de um funcionário do clube, do qual depende de tal maneira, que até o Vale e Azevedo apoiou, virando depois a casaca.
Aliás, foi interessante vê-lo na cerimónia de apresentação do Cristiano Ronaldo em Madrid, ainda que não tenha percebido muito bem a que título, ao lado do Alfredo di Stefano, que foi e é outro caso idêntico.
Um desviado pelo regime do generalíssimo Franco para o Real Madrid, e o outro pelo salazarismo, para o Benfica. Um e outro imagens dos regimes, e um e outro, a nunca o admitirem. Talvez daí o simbolismo a sua reunião no Santiago Barnabéu.
Nesses tempos era muito mais fácil contratar jogadores. Nos dias de hoje, dá algum trabalho, não é Rui Costa?