Aquando do lançamento da nossa tentativa frustrada de jogar em Setúbal, foi recorrente por quase todo o lado a evocação da última vitória sadina, há coisa de 30 anos atrás.
Foi a 27 de Fevereiro de 1983, e perdemos por 3-1. Eram outros tempos. Basta olhar para o nosso plantel de então. Pensar que uma equipa com aqueles jogadores não foi campeã nacional, na altura, deu-me a volta ao miolo.
Hoje, fazem-me inveja aqueles quatro avançados: Gomes, Walsh, Jacques e Júlio.
E o que é certo, é que não fomos campeões. Do outro lado estava uma equipa treinada por um Eriksson, recém vencedor da Taça UEFA, com o desconhecido IFK Gotemburgo, que corria muito (onde é que eu já vi isto, recentemente?!), e que tinha a meio-campo um cavalão chamado Stromberg.
Mas isso não interessa nada, p’rá 'gora, como diria a Teresa Guilherme. Pinto da Costa era já presidente nessa altura, e fizera regressar José Maria Pedroto, depois da aposta fracassada da anterior direcção no austríaco Stessl. Com ele regressou também a casa Fernando Gomes, e as expectativas era o mais altas possível.
Foi o tempo da final da Taça de Portugal, que andou em bolandas do Porto, para Lisboa, e que acabaria por ser jogada nas Antas. E para grande desilusão nossa, o raio do César, nos haveria de lixar.
O Sporting fora campeão na época anterior, com o louco do Malcolm Allison, e para a nova temporada, fazendo apanágio da sua imagem de clube impoluto, mas com João Rocha sempre pioneiro em tudo o que eram trafulhices, inaugurava as naturalizações de jogadores, através do casamento com cidadãs portuguesas. Kostov e Bukovac, rezam as crónicas, terão casado em pleno voo para Portugal.
Foi a época do tão esperado regresso do Farense à primeira divisão (peço imensa desculpa Miguel, mas quem “é de Faro, é Farense”!, e não há volta a dar), com uma das melhores equipas qua alguma vez vi jogar em Faro, treinada pelo búlgaro Hristo Mladenov, que tinha como adjunto o Manuel Cajuda. Melhor até que aquela que defrontou o O. Lyon para a Taça UEFA.
Em Setúbal, o treinador era Manuel de Oliveira, um dos treinadores carismáticos da época. Que digo eu? Naquela altura, todos os treinadores eram carismáticos. Mas não boçais, como alguns dos nossos dias, que tentam emular essas figuras distantes.
Eram os tempos do futebol rendilhado, feito de rodriguinhos a meio-campo, em que faltavam trinta metros ao jogo, mas em que se jogava à bola. Os artistas recreavam-se em campo, para grande deleite dos adeptos, e as derrotas eram quase sempre vitórias morais, desde que se jogasse bem.
O nosso Pedroto, expoente máximo deste tipo de futebol, tão tipicamente português, foi o primeiro que lhe acrescentou a objectividade de que necessitava para ir mais além. E se o conseguiu, caramba! Está aí à vista de todos.
Não me recordo, nem consegui encontrar a equipa do Vitória de Setúbal que nos derrotou, apenas tenho a certeza de que não foi a da fotografia.
No entanto, seria a equipa-tipo sadina desses dias: em cima, da esquerda para a direita: João Cardoso, Padrão, Formosinho, Brito, Fernando Cruz e Nascimento; em baixo, no mesmo sentido: Nunes, Mota, Cerdeira, Rui Lopes e Narciso.
Vi-os jogar quase todos ao vivo. O João Cardoso era um daqueles defesas-centrais à antiga, de antes quebrar que torcer, ao bom estilo de um Laranjeira, um Guilherme, um Quaresma, ou do nosso sempre estimado Lima Pereira. Não eram maus, eram assim, e pronto.
O Padrão tinha família em Faro, e ainda chegou a ser campeão com as nossas cores. O Brito, não é outro senão o Baltemar Brito, adjunto do Special One.
O Cerdeira e o Mota, originalmente médios, ocupavam as laterais (esquerda e direita). Dois produtos das escolas de Alvalade, e mais duas jovens promessas, que por lá nunca se impuseram.
Ao Formosinho, ao Fernando Cruz e ao Rui Lopes, vi-os jogar em Faro, pelo Farense. O Formosinho, em final de carreira, era o homem a quem o Paco Fortes confiava as marcações impiedosas ao adversário, tipo marcação individual de andebol.
O Fernando Cruz, alto e esguio, quando chegou a Faro, após uma passagem não muito bem sucedida pelo Sporting, parecia um armário, e o Rui Lopes era um ponta-de-lança, assim para o franzino, mas oportuno como poucos.
O Nunes, viria mais tarde a jogar na Cesta do Pão, e o Nascimento, foi durante muitos anos adjunto do Manuel Cajuda. O Narciso era o homem da casa.
O plantel setubalense incluía ainda nomes tais como o de um certo Octávio e de um Jesus, também conhecidos nos dias de hoje por Machado e Jorge.
Disse atrás que aquela não terá sido a equipa que nos derrotou, porque me recordo que nesse dia, quem brilhou e conquistou o direito às parangonas de primeira página no papel para forrar fundos de gaiolas de periquitos, foi um brasileiro baixinho, brinca-na-areia, de nome Da Silva.
Ele e o Fernando Cruz foram os heróis nesse dia. Não me recordo quantos golos marcaram, ou sequer se os marcaram, mas tenho ideia que sim. Nunca mais me esqueci dele. Sei que depois foi para Guimarães, que teve uma lesão grave, e pouco mais, mas nunca mais me esqueci dele, e daquele jogo.
Entretanto, passaram trinta anos. O futebol está muito diferente. A bola queima nos pés da grande parte dos jogadores de hoje em dia, e não há tempo para grandes rodriguinhos, sem levar com um adversário em cima.
As transições rápidas e o físico passaram a imperar, a ratice e a manha (que não o João Querido!), no bom sentido, de certa maneira, perderam-se.
Estamos hoje, incomparavelmente mais consistentes e menos românticos que então, ainda que naquela altura, goleássemos jogo sim-jogo não.
O nosso adversário de amanhã, comparado com o de há trinta anos, perdeu a imaginação e a criatividade do mestre Manuel Oliveira, mas ganhou a combatividade do José Mota.
Caso não chova a cântaros, seja como fôr e dê lá por onde der, que no dia de amanhã não se faça outra vez história. Pelos piores motivos…
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