O que se segue é a continuação do texto "As venturas e as desventuras de um palhaço acrobata (numa corda muito pouco bamba) - O Início.
Apreciação do modelo de jogo pelos adeptos
Poderei estar eventualmente a laborar num erro, mas penso que de entre os adeptos portistas, mesmo muitos daqueles que defendem o treinador com unhas e dentes, apenas porque sim ou porque é o nosso, não serão poucos os que frequentemente terão dificuldade em rever-se no tipo de jogo que a equipa produz, apesar de o importante prevalecer – ir vencendo.
Quando estrategicamente, aquilo que se espraia no terreno de jogo tem até para os mais despertos, o efeito soporífero de transformar o que se vai vendo, ao vivo ou no meu caso, na televisão ou no online, num lento e sonolento bocejo, algo não corre bem. Queremos mais. Queremos sempre mais. É a nossa marca distintiva.
Do outro lado há uma empatia, diria que quase total, entre o modelo de jogo adoptado e os adeptos, ainda que nem sempre a coisa corra pelo melhor. Nesse caso, tem toda a pertinência o diagnóstico da situação feito por um homem da casa, Carlos Daniel, e que consta no excerto que reproduzi no texto que deu origem a esta "reflexão".
Faltou-lhe, como é tão típico entre nós, indicar o ou os responsáveis, pelo estado de coisas diagnosticado. Ou talvez não estivesse interessado nisso, uma vez que o (de)mérito cabe sem sombra de dúvida, ao treinador daquele clube.
Não que tenha descoberto a pólvora, ou inventado algo de novo. Nada disso. Quanto muito terá o mérito de ter alguma memória, e de ter conseguido replicar algo que outros não conseguiram, e que foi o estilo de jogo de correria louca, que tanto me irritou nos idos dos anos 80, em que os jogadores daquele clube pareciam correr sempre mais, e ter um dinamismo superior a todos os demais.
Ou seja, o futebol que sempre foi apanágio daquela equipa e que fez dos seus atletas papoilas saltitantes. Digamos que nos tempos áureos dos anos 60, a diferença se fazia muito, entre outras coisas, que não vêm agora ao caso, através da força física de uns tais Eusébio e Coluna, da velocidade de um José Augusto e de um António Simões [ndr.: por lapso, mencionei inicialmente Jaime Graça], e da altura de um José Torres. E do profissionalismo, que consta que terá sido o primeiro emblema a abraçar.
Ora, saltitar não é o mesmo que jogar futebol. Corridas desenfreadas de uma trupe de Forrest Gumps esbaforidos – “Run, Forrest, run” - também dificilmente o serão. Foi o que terá pensado o Ivic, que mal havia posto pé na Cesta do Pão, e logo tratou de “encolher” o rectângulo de jogo.
No entanto, por vezes é efectivo, e permite alcançar resultados, contrariando de certo modo aquela outra teoria estapafúrdia da “nota artística”, parida pelo mesmo individuo.
Melhor ainda, é com este futebol que o povão vibra. Muita corrida, forte pressão ofensiva, o adversário permanentemente encostado às cordas, ou no caso, à sua baliza, e frequentemente, depois de exaurido, esmagado, espezinhado sem dó nem piedade até ao limiar da humilhação. Sangue, como dizia aqui há uns anos o Nuno Graciano, muito sangue, é o que o povo quer.
Ah, e convém não esquecer umas ajudazinhas, que aqui e além, concorrem para aquela parte do encostar às cordas, do esmagamento e do espezinhamento.
É, no fundo, o tipo de futebol que mais agrada aos seus adeptos. Preenche-lhes os egos e simultaneamente, o do treinador. Sim porque há que não esquecer a vertente egocêntrica da questão.
Há que não esquecer que estamos em presença do arquétipo do “bullied”, que passa a “bully”, e se transforma no macho alfa da matilha, um verdadeiro galifão de crista. Uns seguem-no porque não sabem mais, e agrada-lhes o status quo, outros porque lhes convém.
E assim sendo, torno a perguntar: quem arrisca mais? Quem mais dá ao público com regularidade aquilo que ele quer, ou quem se marimba para os adeptos e fiel às suas convicções, somente no final atinge o nirvana?
Nota: Com um bocado de sorte, ou azar, tudo dependerá da perspectiva, ainda é capaz de vir a haver mais um capítulo dentro em breve.
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