Bem, as coisas precipitaram-se um bocado desde que me lancei nesta saga, e o que é certo, é que a realidade superou em larga medida a minha suposta capacidade de análise.
Em Braga, contrariando inusitadamente quase tudo aquilo que escrevera, o treinador de cavalos resolveu inovar e alterar o esquema táctico habitual.
Escusado será de dizer que perdi grande parte da vontade de concluir a empreitada. Mas reconheço que até parecia mal. Portanto, com as minhas desculpas aos que pensaram que desistira, vamos lá tentar acabar em beleza os dois momentos anteriores:
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Gestão do plantel
Como muito bem notou o nosso treinador na antevisão à última partida:
“Às vezes leio críticas em que baixamos de qualidade, de ritmo, mas é preciso analisar correctamente as situações e perceber as opções que de repente perdemos na equipa, uns porque foram para as selecções, outros porque se lesionaram, e passamos por este período sem ceder qualquer ponto, à excepção do jogo da Luz, mas aí eu olhava para o nosso banco de suplentes e via se calhar o mais jovem de sempre que se deslocou ao Estádio da Luz e acabamos por empatar e fazer o jogo que fizemos.”
Esta é uma constatação pura e dura. E factual. Entretanto, com as contratações de inverno e os regressos do James e do Atsu, a situação tenderá para desanuviar.
Porém, a gestão que foi (vai) sendo feita, ainda que não por si só, ter-nos-á custado a eliminação da Taça de Portugal, e vamos ver o que acontecerá na Lucílio Baptista.
Do outro lado o que vemos?
Depois de ter sido o ponto por onde o nosso adversário claudicou rotundamente na época passada, foram dados de mão beijada ao treinador os ingredientes necessários para que tal não torne a acontecer, aliviando-o de algo que, comprovadamente, está para além da sua competência.
O seu plantel foi construído tendo por base a filosofia aplicada aos eletrodomésticos produzidos por essas Chinas, Taiwans e quejandos, e que grandemente concorreu para a falência de tantas lojecas tradicionais de reparação dos ditos: estragou-se uma peça, vai fora e compra-se outro.
Basta olhar para a quantidade de elementos propensos às grandes as cavalgadas, ou seja, extremos, e avançados colocados à disposição. Dentro do modelo de jogo característico, funcionam assim como uma espécie de Pony Express, dos tempos modernos: correm até cair para o lado, e depois entra outro. E assim sucessivamente.
Como se tem visto, tem gente em número suficiente para isso, e até para introduzir inesperadas modificações no esquema táctico.
Deste modo, também por aqui quem correrá mais riscos? Quem tem a papinha feita, ou quem na falta de cães, tem que inventar gatos que os substituam?
Lançamento de novos jogadores
Numa das crónicas que motivaram esta deambulação, Miguel Sousa Tavares escreveu o que se segue, a propósito do Vítor Pereira:
“Com ele à frente, James teve de esperar meia época para conquistar a titularidade a Varela e a Cristian Rodriguez (…). Com ele, Atsu, Kelvin, Iturbe, Sebá e Tozé esperam e esperarão indefinidamente que o treinador lhes um décimo das oportunidades que têm jogadores «consistentes» como, por exemplo, Defour e Varela. Ao contrário de Jorge Jesus no Benfica, Vítor Pereira é um destruidor de talentos no berço”.
Neste particular, sinto alguma dificuldade em acompanhar o raciocínio do cronista. Que jogadores é que foram lançados no outro lado com sucesso, que se possa afirmar terem sido apostas pessoais do treinador?
Assim que me lembre, só vislumbro o Fábio Coentrão e, por aproximação, talvez o Di Maria. Há mais?
David Luiz? Já lá estava. Javi Garcia? O Ramires, que já era internacional brasileiro? O Witsel, cuja qualidade era inquestionável, tanto que já zarpou? O Emerson? O Melgarejo? Ou serão o Artur Moraes, ou o Paulo Lopes? Quem?
Não quer isto dizer que, do nosso lado o panorama seja muito distinto, que não o é. Digamos que descobrir talentos, tanto de um lado como do outro, é algo que a ambos de sobremaneira, não lhes assiste.
Contudo, há um item no curriculum do nosso treinador que já ninguém lhe apaga, nem com Supergel: a limpeza operada no balneário na temporada passada, que o obrigou a procurar alternativas.
Portanto, neste capítulo, digamos que se equivalem. O que se verifica é que são os dois treinadores bastante conservadores. Uma vez encontrada a sua equipa-tipo, a ela permanecem fiéis até que algum motivo de força maior os obrigue a introduzir modificações, e tal, obviamente, prejudica o lançamento de jogadores jovens.
A isso, acresce ainda a justificação aduzida pelo nosso treinador na antevisão acima mencionada, relativamente à aquisição de jogadores experientes no mercado de inverno:
“A questão é que um jogador jovem numa altura destas, se não tiver experiência para chegar e render, de pouco vale. Normalmente demoram o seu tempo a adaptarem-se. O próprio campeonato tem características próprias. Nesta altura, acho mais importante apostar em jogadores de qualidade, que vêm acrescentar qualidade ao nosso plantel e estão adaptados ao nosso campeonato. São jogadores que estando ao seu nível físico rapidamente conseguem estar disponíveis para acrescentar mais soluções ao treinador.”
Conclusão:
…finalmente!
Tudo isto somado, e ainda que, continuo a dizê-lo, sinta muitas vezes dificuldades em interpretar o nosso treinador, e dele discorde, não venham comparar o incomparável.
O que temos do outro lado é a conjugação perfeita da fome com a vontade de comer. Um matrimónio perfeito, ainda que em muitos momentos, certamente ditado apenas por conveniência, entre um presidente e um treinador, fazendo uma dupla que é uma ode ao pato-bravismo nacional.
De que outra forma se poderá entender a manutenção à frente dos destinos daquela equipa, de um treinador que, em três épocas, conquistou apenas um título de campeão nacional, contra três treinadores diferentes do principal oponente, sendo-lhe dadas todas as condições endógenas e exógenas, inacessíveis a quaisquer outros, para que o fizesse?
Com as nossas cores, não me lembro de mais ninguém para além do Fernando Santos, que tenha coleccionado dois insucessos consecutivos.
O nosso treinador, até agora, ganhou um título de campeão nacional, à primeira tentativa. O que acontecerá quando falhar?
Como vimos, o modelo de jogo, a apreciação que os adeptos deste fazem e o plantel, não o favorecem. Cada vez mais, ainda que como disse, não o compreendendo e até discordando por vezes do que vou vendo, parece-me que tem uma idéia muito precisa de onde quer chegar e do que tem que fazer para o conseguir. Contra ventos e marés.
Daí a comparação com o palhaço acrobata, que roubei aos Rádio Macau. O palhaço tem, ou será bom para a sua sanidade mental que tenha, perfeita consciência de si, as palhaçadas fazem tão somente parte do seu papel.
O Vítor Pereira, em parte, também é assim. Ainda que para os adeptos, muito daquilo que faz não passe de uma perfeita palhaçada, dando bem mais azo a críticas de toda a ordem, do que a acessos de hilaridade, prossegue o seu caminho indiferente, que mais não seja na aparência.
Bem vistas as coisas, quanto a mim, arrisca e arrisca-se muito mais do que o seu colega do outro lado. Não obstante, a corda na qual se tenta equilibrar, tem na realidade, muito pouco de bamba.
Isto porque ao longo do percurso tem a sustentá-lo a tal famosa estrutura, que agora alguns querem pôr em crise à conta do episódio da Taça Lucílio Baptista.
No seu caso, tal como no de tantos outros, tudo dependerá do resultado final. Quem em três, perde duas, não dirá certamente o mesmo.
Nota: As minhas desculpas ao Miguel por utilizar uma imagem que vi no seu Tomo II. Achei que ficava aqui, mesmo a calhar.
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