Terça-feira, 19 de Fevereiro de 2013

Volta Calabote, estás perdoado

Ou nem por isso.

 

 

“Jogo empolgante e dramático de um campeão malogrado” (Título de primeira página)

 

“A equipa cufista queimou muito tempo!” (Título no interior)

 

“Estava escrito! Estava escrito que (…) perderia o campeonato! Eram estas, no final do empolgante e dramático jogo da [Cesta do Pão], as duas frases que britavam dos lábios de uma grande parte dos adeptos benfiquistas. Nem um grito de revolta, nem uma recriminação, nem um queixume. Apenas esta frase, dorida, magoada, empregnada de resignação e conformismo: “Estava escrito!”.


Ela bastava, porém, para dizer tudo: para fazer justiça á grande e desafortunada exibição dos jogadores “encarnados”; para evocar as muitas oportunidades de golo perdidas por alguns dos seus avançados; para lastimar as atitudes de exacerbada hostilidade dos jogadores cufistas; para gritar o seu protesto contra a fatalidade de um campeonato perdido nos derradeiros instantes.


Mereceria (…) ter perdido este campeonato?


A pergunta talvez não tenha cabimento nas linhas desta crónica, que tem de cingir-se, apenas, aos acontecimentos do encontro da
[Cesta do Pão]. Calma e imparcialmente, porém, hemos de convir que na medida em que a questão do título estava dependente do número de golos que (…) marcasse na [Cesta do Pão], os seus jogadores e adeptos têm razão para se sentirem injustamente despojados do triunfo final. É que, independentemente das circunstâncias em que decorreram os últimos minutos deste histórico domingo de futebol; independentemente mesmo do grande nível da exibição produzida pela equipa “encarnada”, (…) poderia, deveria e merecia ter vencido a CUF por diferença superior a 6 golos”

 

(…)


“…a CUF não jogou, exclusivamente para si, mas também para uma outra equipa (a do FC Porto) que estava á margem da luta travada na
[Cesta do Pão]. Se assim foi – e por legítima temos a presunção – cremos existir aqui um problema de ética, digno de, em melhor oportunidade, ser devidamente apreciado e analizado”


(…)

Até que ponto é lícito a uma equipa defender, contra outra, de maneira ostensiva e contrária ás leis e espírito de jogo, os interesses de uma terceira? Não será esse procedimento tão incorrecto e antidesportivo como o inverso, isto é, o de facilitar, propositadamente, com o fim de prejudicar os interesses doutrem, a vitória do adversário? As perguntas aqui ficam, por ora sem resposta. Mas talvez valha a pena, em próxima oportunidade, tomá-las para tema de um artigo.”

 

 

O texto de onde foi retirado este excerto, terá sido publicado no papel para forrar fundos de gaiolas de periquitos, em dia de luto nacional, sendo seu autor Alfredo Farinha.

 

Disputara-se a 26.ª e última jornada do campeonato 1958/1059. O FC Porto jogou em Torres Vedras, onde triunfou por 3-0. Na Cesta do Pão, Inocêncio Calabote, qual coelho da Alice no País das Maravilhas, refulgira intensamente, e o clube da casa derrotou a CUF por 7-1.

 

Hélas! O FC Porto seria campeão com os mesmos 41 pontos que o seu rival, mas com 81 golos marcados e 22 sofridos, ao passo que aquele apenas logrou alcançar 78 tentos, sofrendo 20.

 

Como se vê, cinquenta e quatro anos depois, há coisas que mudaram, outras nem por isso.

 

 

 

Por exemplo, não consta que o treinador da equipa que naquele dia morreu na praia, se tenha virado para um qualquer jogador dos adversários, - ou coisa que o valha, porque ao que parece, de adversários teriam muito pouco - para o mimosear com o reparo de que "a [sua equipa] não joga[va] um c... e [tinha] de descer de divisão".

 

No entanto, as queixas, queixinhas e queixumes, não são muito diferentes daquelas que se ouviram após a partida do domingo passado, disputada no mesmo local.

 

O famosíssimo e estranho caso do prolongamento do tempo de jogo, denota também algumas semelhanças.

 

 

2 cantos;

 

1 cartão amarelo;

 

1 fora de jogo;

 

1 assistência a um jogador;

 

6 substituições; e

 

uns quantos pontapés de baliza.

 

Foram estas as incidências da partida, retiradas do jogo minuto-a-minuto do Sapo Desporto, que na segunda parte que motivaram cinco minutos de descontos, para além dos noventa regulamentares.

 

Considerando que foram seis as alterações operadas na etapa complementar, a uma média de trinta segundos cada, teríamos três minutos.

 

A assistência ao Reiner, foi coisa para 39 segundos.

 

Os vários pontapés de baliza não valeram ao guarda-redes academista ou a outro jogador da sua equipa, qualquer repreensão, conforme se pode constatar pelos cartões amarelos indicados na ficha do jogo. Logo, não terá sido por aí que a perda de tempo terá sido significativa.

 

Após os noventa minutos ainda houve:

 

1 penálti, com cartão amarelo de brinde, ou vice-versa;

 

Como a grande penalidade foi assinalada aos 90+3, e o golo do Lima foi marcado aos 90+5, ter-se-ão perdido dois minutos nos preparos para a marcação.

 

Mais um cartão amarelo após o penálti, para o Lima, por despir a camisola, e um vermelho directo aos 96 para o Hélder Cabral.

 

A partida terminou, conforme se pode ver na imagem, aos 97’ 52’’.

 

Para que a analogia entre as duas estórias não acabe sem um “happy end”, só falta que, no fim, se repita o campeão. Nem que seja, novamente por um golo apenas de diferença…

sinto-me:
música: Same old story - Ultravox
publicado por Alex F às 13:21
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2 comentários:
De penta1975 a 19 de Fevereiro de 2013 às 17:00
«Grândola Vila morena» [...] :D

abr@ço
Miguel | Tomo II
De Alex F a 20 de Fevereiro de 2013 às 09:42
Olha que bela escolha que era para música de fundo.

Está tão na moda outra vez, e nem me lembrei disso :(

Abraço

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