"Ao ler as notícias vejo que o presidente da Liga disse que há uma monarquia na arbitragem e no sistema. Ele como republicano quer a coisa mais transparente. As bandeiras da monarquia e da república têm cores inconfundíveis..."
O trecho que acabei de transcrever, ao que parece, foi um comentário feito no seu Facebook, pelo assessor do presidente da Liga de Clubes, João Tocha, sobre algo que, por sua vez, o patrão comentara sobre a profissionalização na arbitragem.
Quando o li no Diário de Notícias de sábado passado, achei-o um comentário demasiado inteligente, e revelador de um saber histórico que não estaria ao alcance de todos. Ou seja, demasiado subtil, hermético e excessivamente cifrado para ser percebido pelo meio do futebol.
Tendo em conta que o seu autor fôra antes assessor de comunicação de Hermínio Loureiro e de Fernando Gomes, talvez seja essa a explicação para a política de comunicação seguida pela Liga.
Bem hajam ao Record, e...ao Rui Santos, que fez o favor de replicar o artigo no Facebook do "Tempo Extra". Com certeza que pouparam milhares de portugueses, de buscas entediantes na net pelas cores da monarquia.
Mas não só. No afã de prestar o tal "serviço público", alargando-o o mais possível a sectores anti-portistas primários, a lógica da coisa foi preterida.
Que raio de vantagem é que o FC Porto retirará da profissionalização dos árbitros, para ver desta maneira as suas cores a ela associadas?
Se a profissionalização vai abranger apenas árbitros internacionais.
Se grande parte dos internancionais, ou são de Lisboa, ou são benfiquistas, ou ambas.
Dos que não são, que vantagem tirará o FC Porto em benficiar Xistras ou Benquerenças?
Ou mesmo os portuenses. O histórico de Jorges Sousas, Soares Dias ou Vascos Santos, não faz deles nem mais, nem menos, que os anteriores, no que toca a favorecer as nossas cores.
Será apenas para dar um doce a Pedro Proença? É uma lógica que fará algum sentido para todos aqueles, e não são poucos, que acreditam que o sucesso ou insucesso de uma temporada se resume ao resultado de uma única partida.
Se como se diz por aí, e tantos acreditam piamente, o FC Porto compra os árbitros por fora, que vantagem terá em que estes passem a ser remunerados enquanto tal? Configura muito claramente um acto flagrantíssimo de concorrência desleal, digna de queixa a Bruxelas.
Foi o FC Porto que apoiou as actuais direcções da Liga de Clubes ou da Federação Portuguesa de Futebol? Ou que exigiu a continuidade em funções de Vítor Pereira no Conselho de Arbitragem, em contrapartida do seu apoio?
Foram por acaso adeptos do FC Porto, que foram identificados como os perpetradores das ameaças a árbitros, que motivaram a alteração dos timmings de divulgação nas nomeações de árbitros?
Foram dirigentes, adeptos ou simpatizantes do FC Porto que foram encontrados na posse de listas com dados pessoais de árbitros?
Foi a algum administrador da SAD portista que se dirigiu o presidente de um certo clube, questionando-o se era para "[aquilo] que queria controlar a arbitragem"?
Tenho a vaga ideia de que a resposta a estas questões é negativa.
Há coisas que não mudam. Porque será que alguns, em vez de ficarem à espera de D. Sebastiões, não fazem antes algo pela própria vida?