Ailton Ballesteros e outros futebóis
26
Nov09
(foto retirada de leaodaestrela.blogspot.com)
Faleceu Ailton Ballesteros. É provável que não diga grande coisa a muita gente, e se lermos as notícias concluímos que foi na década de 70, jogador do FC Porto e do Sporting, ao serviço dos quais conquistou duas Taças de Portugal (uma em cada clube), tendo ainda jogado no Boavista e no Varzim.
A mim, diz-me mais qualquer coisinha. Não vi jogar o Ailton no FC Porto ou no Sporting, porque quando me comecei a interessar por futebol, jogava já no Boavista. Na altura, não sei se haviam jogos televisionados, mas não me lembro de o ver jogar.
E quando se mudou para o Varzim, no ocaso da carreira, tenho a ideia de que terá jogado muito pouco.
O Ailton fazia parte do grupo de jogadores com nomes engraçados, e que prendiam a atenção de um miúdo com oito anos. Na altura, não haviam muitos brasileiros no futebol português, e estrangeiros de outras nacionalidades, ainda menos.
No Boavista haviam dois jogadores cujos nomes, para mim, os transformavam em craques do outro Mundo. Precisamente o Ailton e o Taí. Adorava estes nomes, ainda que outros pudessem ser muito melhores jogadores.
E eram-no, certamente. Por aqueles dias, o guarda-redes dos boavisteiros era o Matos, e também lá jogavam o Mário João, o Manuel Barbosa, o Alberto, que depois também jogou no Benfica. Teve uma lesão grave, e esteve inactivo durante muito tempo. Recuperou, e ainda voltou a jogar, no Belenenses, e até tornou a ir à Selecção Português, no tempo do Rui Seabra, o seleccionador “civil”, que tinha o Juca, como treinador.
O capitão de equipa, salvo erro, era o Eliseu, e no meio-campo ainda pontificava o Salvador. No ataque tinha o Júlio e o Moinhos.
Bons tempos. Como disse, eram muito poucos os estrangeiros que jogavam no nosso Campeonato (sim, na altura não havia Liga, e dizia o Mário Wilson – depois de ser campeão pelo Benfica, que “no Benfica, qualquer treinador se arrisca a ser campeão”).
No FC Porto jogava o Duda, e ainda se recordava um tal de Cubillas. No Benfica não haviam estrangeiros. A política era “o que é nacional, é bom”, e, estrangeiros só uns anos mais tarde, com o Jorge Gomes.
No Sporting havia o Manoel. Assim mesmo, com “o”, não é gralha. Formava o tridente ofensivo leonino, junto com o Manuel Fernandes e o Jordão, e pelas bandas de Alvalade, ainda se suspirava pelo maliano Salif Keita.
No Portimonense jogavam o Paulo César e o Mirobaldo, que depois jogou no meu Farense, e hoje cumprimento quase todos os dias, quando vou buscar os miúdos ao infantário.
Mas era na União de Leiria, treinada pelo Fernando Tomé, que jogavam as aves mais exóticas. De nome, pelo menos. O Edson, o Jorge Bonga e o Chico Explosão. Se não me engano, também andava por lá um tal de Jesus.
E muitos outros haveriam, de certeza. Enfim, outros tempos, e outros futebóis, que a morte do Ailton trouxeram de volta. É aproveitar, enquanto o Alzheimer não pega.
É por estas, e por outras que, ainda que nestes casos a idade não seja um posto, acho uma certa piada quando pessoas que nasceram, mais coisa, menos coisa, por esta altura, me vêm tentar explicar a diferença entre uma agressão e uma “falta cirúrgica”.
Obrigado Ailton, por fazeres parte do imaginário de um puto, que se deixou seduzir por tantas equipas e nomes de jogadores, e com eles aprendeu a gostar de futebol.
Até sempre.