Se pudéssemos juntar no dia de hoje o Dia da Independência, a Tomada da Bastilha, o Santo António, o Ano Novo, e todos os outros dias feriados que são celebrados com foguetes, não conseguíamos fazer uma festa tão espaventosa, como a que tem sido feita ao longo do dia, no seguimento da decisão da Comissão de Disciplina da Liga de Clubes de castigar o Boavista FC, o FC Porto e os seus presidentes, à data e sempiterno.
Desconheço em absoluto a proveniência do, ao que suponho, juiz, Ricardo Costa. Também não sei se é, ou não, verdadeira a sua simpatia clubística pelo Benfica. Mas o facto de, segundo o Diário de Notícias de hoje, se afirmar simpatizante da Académica de Coimbra, porque considera que o público em Portugal, não está preparado para ser conhecedor da filiação clubística dos detentores de cargos como aquele que ocupa, deixa-me de pé atrás.
Faz-me lembrar os indivíduos que, apesar de o terem, pelos mais variados motivos, se recusam a assumir o seu favoritismo por um dos três grandes do nosso futebol, escolhendo assim um clube simpático, como a Académica, o Belenenses, o clube da terra, etc.
Não sei porquê, mas soa-me a falso. No entanto, isso não é relevante. Nem o facto de alguém que, desde sempre, procurou o protagonismo, como o Major Valentim Loureiro, vir acusá-lo disso mesmo.
O que interessa é que o dito senhor, é actualmente o Presidente da Comissão Disciplinar da Liga de Clubes. E, nessa qualidade, veio a público anunciar uma série de coisas, de entre elas, os castigos aplicados aos acusados no caso "Apito Final".
Para além disso, fez questão de anunciar, quase que parecendo, em jeito de precaução, que a decisão da justiça desportiva, não tem necessariamente que ser coincidente com a decisão que vier a resultar da justiça ordinária, no processo "Apito Dourado".
Uma vez mais, fico com uma sensação estranha. Porquê essa chamada de atenção? Qual a necessidade de tal precaução?
Estará a adivinhar uma decisão diferente da do seu Conselho? E se assim fosse, qual seria o problema? Será que alguém iria achar estranho que, tal como aquele senhor também anunciou, sendo impossível à justiça desportiva chegar à solução punitiva a que chegou, sem o recurso às certidões extraídas do processo que corre na justiça comum, se chegasse no final a sentenças diferentes?
Se o "Apito Final" deve a sua existência, ou pelo menos, a sua sobrevivência, ao "Apito Dourado", e se no âmbito deste se chegar à conclusão de que, afinal, os réus são inocentes? Em que é que ficamos?
O Juiz Ricardo Costa fez ainda questão de frisar a autonomia com que foi obsequiado, por parte do Presidente da Liga.
Mas, seria tal necessário? Tenho uma vaga ideia, da disciplina de Princípios Gerais de Direito, que os juízes são independentes, não dependem de ninguém, ou seja, não têm superior hierárquico, desde logo, são autónomos. E são irresponsáveis, até prova em contrário, no sentido de que não podem ser responsabilizados pelas decisões que proferem. Há ainda um terceiro aspecto que os caracteriza, mas que não me recordo qual é (serão inamovíveis? alguém que perceba de Direito que me ajude!).
Se bem me recordo, o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, pressionado pelo presidente do Benfica, foi lesto a afirmar que nenhum dossier deste processo prescreveria.
O Presidente da Liga de Clubes, garantiu, e ontem vangloriou-se disso mesmo, que estes processos iriam ter uma decisão final.
Ora, qualquer processo judicial ou disciplinar pode ter diversas conclusões: pode prescrever, se não for resolvido em devido tempo. Pode ser arquivado, se não forem encontradas provas suficientes para condenar os arguidos. Ou então, estes podem resultar condenados ou ilibados.
Dadas as pressões exercidas e as declarações dos responsáveis, que acima mencionei, dificilmente este processo poderia algum dia prescrever. O arquivamento, que em condições normais, também seria uma possibilidade, estaria fora de questão. Portanto, o processo teria que ter uma solução final, a qualquer custo, e doesse a quem doesse. E acho muito bem que assim fosse.
Se tivermos em consideração a posição assumida pelo Juiz Ricardo Costa, de que os castigos aplicados ao FC Porto e União de Leiria, foram desproporcionados em relação ao do Boavista, e que, por isso mesmo, iria propor que, doravante, passassem situações idênticas a ser punidas de forma ainda mais severa, e que, os castigos aplicados aos árbitros, foram também eles, desproporcionados face aos dos clubes, não é difícil de perceber qual a sua convicção quanto à decisão final do processo.
Aliás, face a toda a pressão existente à volta do caso, estranho bastante que se veja este Juiz como um herói. Esta foi a via mais fácil. Difícil seria ter sustentado uma decisão diferente. Pormenores.
Mas há mais alguns pormenores que são públicos. Todos nós os conhecemos, se não preferirmos esconder a cabeça na areia.
Como alguém fez questão de frisar (o comentador Jorge Baptista, na SIC Notícias), o processo "Apito Dourado" teve a sua origem nas declarações de um senhor de provecta idade, na altura presidente do Sporting Clube de Portugal, de seu nome Dias da Cunha.
Para esse senhor, existia um "sistema", com dois rostos visíveis, Valentim Loureiro e Pinto da Costa, que dominava a seu bel prazer, arbitragem da I Liga.
Ele lá o saberia, porque o clube a que presidia conseguiu ser duas vezes campeão nacional, com o tal "sistema". Numa delas, nada a dizer. Com o Jardel a marcar golos de cócoras, não havia nada a fazer.
Já a outra, foi uma época esquisita, com dois treinadores, com os elementos preponderantes da equipa a serem contratados em Janeiro, com o Acosta a partir a cara ao Paulinho Santos e uma valsa Jardel-José Soares, em Campo Maior, com Bruno Paixão a assistir.
Depois, bem depois, temos um presidente do Sport Lisboa e Benfica, visivelmente ruborizado, após um repasto na companhia do candidato a Primeiro-Ministro, José Manuel "Cherne" Durão Barroso, a proclamar: "Votem neste homem, que é ele que vai ajudar o Benfica!".
O homem é eleito, e o que é que temos? Temos um Ministério das Finanças, onde pontifica um Secretário de Estado das Finanças, Vasco Valdez, que, por acaso, até foi consultor do mesmo Sport Lisboa e Benfica, para a área fiscal, que lança um perdão fiscal.
Entre outros beneficiários desse perdão fiscal, quem que se conta? O Sport Lisboa e Benfica. Com a particularidade de, para poder beneficiar do perdão, efectuar a dação de acções do clube, para assegurar a dívida vincenda.
A sempre rigorosa Ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite, aceita o valor atribuído às ditas acções, que, alguns fiscalistas, agora escutados com atenção, como Saldanha Sanches, dizem não valerem a ponta de um chifre.
A construção do Estádio do Sport Lisboa e Benfica, fica assegurada após negociação com o executivo de Pedro Santana Lopes, que mete ao barulho uma das famosas empresas municipais da Câmara de Lisboa, a EPUL.
Deste Estádio, diz-se que se encontra "hipotecado" à empresa construtora, a Somague. Esta, curiosamente, é a mesma empresa que foi recentemente multada em 600.000 euros, por financiamento ilegal ao PSD.
Hermínio Loureiro, actual Presidente da Liga de Clubes, fez parte, enquanto Secretário de Estado, com competência na área do Desporto, senão nos dois, pelo menos num dos Governos PSD, de Durão Barroso ou Santana Lopes.
O processo "Apito Dourado" vê a luz do dia em finais de 2004, princípios de 2005, ainda no Governo de Santana Lopes.
Coincidências. Muitas, mas coincidências.
Viva a Independência!