Reza o dito popular que “é mais fácil apanhar um mentiroso, que um coxo”. O povo é sábio, e sabe-a toda.
Quem não a saberá toda, ainda que, sem sombra de dúvida, saiba muito, é o Jorge Jesus. E isto, ainda a propósito do jogo Benfica x Leixões, do último fim-de-semana.
O treinador do Benfica parece que se começa a alcachofrar com as constantes, e claro está, infundadas, alusões de que o seu clube tem sido ajudado na carreira brilhante que tem feito até aqui na Liga Sagres.
De tal maneira que se tem visto obrigado a fazer alguns malabarismos para demonstrar o contrário. Após o jogo com o Leixões foi vê-lo a justificar o descalabro leixonense pela “dinâmica ofensiva” do jogo do Benfica, que fez com que os do Mar arriscassem faltas, e se vissem por isso, castigados disciplinarmente.
Mais, segundo confidenciou, ao intervalo terá dito mesmo aos seus jogadores, que por causa disso, o Benfica ia golear na segunda parte.
Questões de fé e contactos divinos preferenciais à parte, o Jesus deve ter algum espírito santo de orelha que lhe segreda essas coisas. Se bem que, com um adversário reduzido a dez elementos desde os 26 minutos da primeira parte, não foi grande a profecia.
Além disso, os factos do jogo e o Aimar, encarrega(ram)-se de desmentir o treinador do Benfica.
O Pablito disse, de caras, no flash interview, que o Benfica tinha entrado nervoso, e que só na segunda parte, com o adversário reduzido a dez jogadores, é que tinha assentado o seu jogo.
Viu-se a reacção abespinhada do Jesus a este comentário. Atirou-se ao argentino, dizendo irado que não, que a equipa não entrou nervosa, “o jogador organizador de jogo, é que estava nervoso”.
Pouco tempo depois, num tom mais calmo, certamente depois de falar com o João Gabriel, lá teve de emendar a mão. A equipa continuou a não estar nervosa, para num meio elogio a Aimar, acrescentar que o organizador de jogo do Benfica quer fazer tudo muito rápido. Então, como por vezes começava a pensar a jogada antes de ter a bola nos pés, dava buraco.
Depois, salomonicamente, dividiu as responsabilidades com o Saviola, que não ajudou, não sendo a referência costumeira na frente de ataque.
O Benfica, desde que o Presidente e o Rui Costa estão afónicos, tem uma excelente política de comunicação, e continua a ter uma brilhante estratégia de marketing.
Nada pode pôr em causa o grande Benfica. Tudo a favor, nada contra. Nem um jogador admitir que a equipa entrou nervosa em campo. Isso é dar parte de fraco, e não pode acontecer neste Benfica.
De tal maneira que foi ver o Aimar, no princípio da semana, na capa de um dos jornais oficiais do glorioso, a dizer que “estava maravilhado com o Benfica” e que “na Argentina não conhecem a grandeza do Benfica”. É assim. Amor, com amor se paga.
Voltando, só por descargo de consciência, à questão da “dinâmica”. Também por aqui é desmentido o Jorge Jesus. Senão, vejamos quantos cartões amarelos é que os jogadores do Leixões levaram na primeira parte, à conta da “dinâmica” benfiquista.
De acordo com os dados da Liga de Clubes, foram cinco: Tiago Cintra, aos 18 minutos, Pouga, aos 21 e 26 minutos, Tucker, aos 36 minutos e Wénio, aos 39 minutos.
Ora, se tivermos em conta que, destes, o primeiro do Pouga foi por responder a uma provocação do Luisão, após uma falta para amarelo, que ficou por mostrar, do Ramires, e o do Tucker, foi por “palavras” ao árbitro, ficamos com três cartões “dinâmicos”.
A não ser que se tenha em conta o “dinamismo” da provocação do Luisão, ou que se considere que a cabeça quente do Tucker, foi uma reacção “termodinâmica”.
Mais. O Wénio, toda a gente o conhece. Mais tarde ou mais cedo, acaba por ser amarelado, em todos os jogos. Portanto, ficamos, vá lá, com dois cartões e meio, por conta da “dinâmica”.
No Benfica, o dinamismo ofensivo todo, deu um cartão ao Luisão, na jogada com o Pouga (vá lá!), e um cartão por mostrar ao Ramires, por uma entrada ao género da que valeu o segundo cartão ao Pouga, e que curiosamente, foi sobre este mesmo jogador. Esteve em todas o rapaz!
Por isso, “dinâmica ofensiva”? Pois sim. Só se for talvez, a partir dos 54 minutos de jogo, quando o adversário ficou reduzido a nove jogadores.
E não é só isso. Estou com o José Mota, quando ele diz que é difícil sair em ataque organizado, quando as jogadas são sistematicamente cortadas em falta pelo adversário. Faltas essas que não são assinaladas, e são-no a favor do adversário.
É que a “dinâmica ofensiva” se constrói a partir da recuperação da bola. Se se permite a uma equipa recuperá-la em falta, e ainda se penaliza o oponente em jogadas idênticas, torna-se difícil tentar, pelo menos equilibrar o jogo.
Ou seja, ao contrário do que disse no último post, tenho de admitir que até há árbitros capazes de fazer arbitragens ao bom estilo do seu patrono, Vítor Pereira. Não conhecia este João Capela quando escrevi aquilo.
Por outro lado, não concordo com o José Mota quando reclamou do árbitro, uma atitude pedagógica para com os seus jogadores, dada a sua inexperiência. Aqui acho que as regras e os critérios são iguais para todos. Se alguém tem que ser um pedagogo, é ele próprio, José Mota. Agora, as regras e os critérios têm que ser iguais para todos, e, no entanto, não é isso que se vê.
É por estas e por outras que, por muito que o Jesus tente fazer crer que tudo se resume a uma questão de “dinâmica ofensiva”, não vai longe. Esta época está condenado forçosamente, a ter de vencer todos os jogos por margens confortáveis, para que as “ajudas” inexistentes, não se notem!
E quanto ao pretenso penálti não assinalado sobre o Ramires, tenho, de facto, de dar os parabéns ao árbitro. O castigo máximo que decidiu marcar, sobre o Aimar, foi bem mais verosímil. Se tem assinalado os dois, mesmo com quatro ou cinco a zero, dava muito nas vistas. Assim, com a ajuda do argentino, que sabe deixar-se cair ao nível do melhor Simão Sabrosa, fez a melhor escolha, e foi bem mais pacífico.
Melhor ainda quando o FC Porto x Sporting, que estava fadado para a polémica, deu mesmo em polémica.
Quanto a este jogo, há que reconhecer que os jogadores do Sporting estão mal habituados.
Estão habituados a fazer faltas e mais faltas, dar porrada a torto e a direito e a não serem penalizados.
Com o treinador que têm, é natural. Cada vez percebo menos as reacções de certos treinadores, jogadores, etc, que, quando são “amarelados” ou expulsos, reclamam que é a primeira falta, ou a segunda, ou coisa que o valha.
No caso da expulsão do Miguel Veloso, vê-se nas imagens o Paulo Bento, feito toiro enraivecido, dirigir-se ao árbitro, com dois dedos no ar, como que a dizer que era a segunda falta do rapaz.
Mas, e quê? Não se pode ser expulso à segunda falta? O Pouga fez uma falta, no jogo contra o Benfica, e foi expulso. O próprio Paulo Bento, que não fez falta nenhuma (cada vez é mais verdade!), também acabou expulso. O Hulk, que foi expulso duas vezes no mesmo jogo, uma delas depois do jogo ter terminado.
E há casos de jogadores excluídos do banco de suplentes, sem tirarem os traseiros do dito cujo.
Qual é o problema do Miguel Veloso ter sido expulso, aos noventa e tal minutos, por ter feito duas faltas? Não foram faltas?
Começo a ter que concordar com o Scolari, e com aquela história da bunda. O tipo dos penteados chega duas vezes atrasado aos lances. Em vez de tirar o pé, deixa-o ficar. Faz faltas para amarelo. Leva dois, e vai para a rua. O que é que há aqui de extraordinário?
Desculpem lá, mas nada. E nem todos os decibéis e a boçalidade do Paulo Bento e do Dr. Dias Ferreira alteram isso.
Se o Sporting tem motivos para queixa, não será com certeza desta expulsão.
Falam da jogada que antecede o golo do FC Porto, e que resultou no livre que lhe veio a dar origem. Que o Polga não terá feito falta sobre o Hulk. É possível. A jogada é duvidosa.
Tratando-se do Polga, há fortes probabilidades de ter sido falta. Com o Hulk envolvido na jogada, há fortes probabilidades de não ter sido.
Mas que diabo. O Hulk, para prosseguir a jogada, teria necessariamente que saltar por cima do Polga, porque este, ao entrar de “carrinho”, atravessar-se-ia sempre no seu caminho. O jogador do FC Porto, em vez de tentar saltar, deixou-se cair.
Em tempos, o FC Porto foi prejudicado num penálti, porque um anjolas que por lá andou, e agora está em Marselha, se lembrou de sofrer uma falta, e tentar prosseguir a jogada. Este caiu, e pronto. Devia ter tentado continuar a jogada? Talvez. Mas não o fez. Foi falta, a falta foi marcada, e foi golo. Mérito do FC Porto.
Se fosse ao contrário, de certeza que se discutia bem menos a não marcação da falta.
O outro grande momento do jogo foi a não expulsão do Raúl Meireles.
O primeiro amarelo não tem discussão. Na segunda falta, arrasta a perna do adversário. No entanto, ao contrário do que alguns querem ver, não me parece que o tenha feito de forma violenta, “ceifando” o Abel, como dizem. Aliás, vendo a reviravolta que o Meireles dá no ar, até parece ter o seu quê de casual. Mas admito que sim. Que aqui o Sporting terá sido prejudicado. Mas daí, até à escandaleira que se seguiu. Por favor…
A jogada aconteceu ainda na primeira parte. Não é de hoje que os árbitros portugueses, quando dão cartões amarelos muito cedo, se baldam a expulsar os jogadores punidos ainda na primeira parte, mesmo quando fazem falta(s) para isso.
Certo? Errado? Quanto a mim, é errado. Se fez a falta, vai para a rua. Agora, o que é certo é que os árbitros portugueses têm muito esse hábito enraizado. Excepto, lá está, em casos como o do Sr. João Capela, no Benfica x Leixões.
Houve aqui parcialidade do árbitro? É provável. Como em tantas outras ocasiões do mesmo género, em tantos outros jogos. O azar é que foi a favor do FC Porto.
A fora isto, o suposto penálti sobre o Liedson, dá vontade de rir, e a segunda expulsão, que o João Moutinho viu, será melhor que ele esclareça em que jogada foi, e se foi mesmo neste jogo.
Agora, que o árbitro não devia ter sido nomeado para este jogo, não devia. De acordo.
Que o árbitro fez aquilo que se esperava dele, e acabou por agradar a toda a gente, é um facto.
O Benfica, ficou com um rival a seis pontos, viu surgir um manto de névoa, debaixo do qual ficou oculto o jogo com o Leixões, e de caminho, vê adensar-se o clima de suspeição entre dois adversários, que até à data, davam indícios de se entender.
Ainda que, pelos comentários que ouvi, as queixas do Sporting sejam mais dirigidas ao Sr. Vítor Pereira e ao árbitro, do que ao FC Porto.
Este, ganhou o jogo, somou três pontos e manteve a distância que o separa do Benfica. Perde, porque, ainda que não tenha nada que ver com isso, surge, uma vez mais, como beneficiário de uma arbitragem mal conseguida, desta vez do Sr. Duarte Gomes.
O Sporting, apesar de perder o jogo, os três pontos e ficar a seis pontos do Benfica, foi, para o que der e vier, roubado pelo árbitro. Ganhou aqui capital de queixa, e tem aqui uma oportunidade para se remeter ao papel de vítima, aproveitando para extravasar as suas emoções.
O Paulo Bento teve um jogo daqueles que são facílimos para os treinadores. À partida, qualquer resultado seria, desde logo, aceitável. Com a actuação do árbitro, ninguém se lembra que perdeu o jogo. E assim vai, cantando e rindo, praguejando e vociferando. É o maior, e ninguém o cala.
Nota: não consegui encaixar no texto, já demasiado longo, que, na minha opinião, o penálti sobre o Aimar, que deu origem ao segundo golo do Benfica, não existe. Logo, não se justifica a segunda expulsão no Leixões, que ficou reduzido a nove elementos aos 55 minutos de jogo.
O terceiro golo dos encarnados, marcado pelo Ramires, devia ser invalidado.
Na jogada deste golo, vê-se claramente o Nuno Gomes a cair. Quanto a mim, sem qualquer falta, e em mais uma fita à Nuno Gomes. Se caiu com falta, então era grande penalidade. O árbitro devia ter parado ali a jogada porque, sendo penálti, não há lei da vantagem, e devia então, ter marcado o respectivo castigo máximo.
“Se” foi fita, devia ter parado o jogo, e assinalado falta contra o Benfica, mostrando o cartão amarelo ao infractor.
Portanto, eu também não acredito em ajudas, “pero que las hay, hay”!