Finalmente. O Sporting fez o favor de acabar com o estado de agonia latente em que vinha vivendo de há uns tempos a esta parte.
Desde muito cedo que tive a intuição de que esta edição, modalidade “Pescada”, da Liga Sagres tinha um destinatário projectado. E escrevi-o. Mais exactamente em 10.08.2009. Poupo-vos o trabalho de ir à procura:
“Benfica. O Sport Lisboa e Benfica é, claramente, o principal candidato ao título da Liga Sagres 2009-2010.
Um clube com seis milhões de simpatizantes, que, de entre todos os clubes do Mundo, tem o maior número de associados, ainda que alguns não paguem quotas há mais de 30 anos. Um clube que tem como presidente Luís Filipe Vieira, como responsável pelo futebol, o “Maestro” Rui Costa, e o melhor treinador português, tem que ser o principal candidato ao título.
Uma SAD que gasta 20 e não sei quantos mais milhões de euros, em contratações de jogadores, alguns que mal aterram, e assim que o treinador lhes põe os olhos em cima, fazem ricochete, e vão de volta, e que só vende, por algo que valha a pena (dois milhões de euros), um jogador - o Katsuranis, tem que ser o candidato número um ao título.
Uma equipa que ganha a Eusébio Cup, sim, a EUSÉBIO CUP, e logo ao grande AC Milan, desculpem lá, mas ainda que a alguns custe a aceitar, é assim mesmo, e não há volta a dar. Especialmente quando os principais adversários, claramente, ficaram na mesma, ou perderam potencialidades.
O Sporting tem praticamente a mesma equipa que, nas últimas quatro épocas, se classificou à frente do Benfica. Por isso, dadas as melhorias na equipa da Luz, este ano é que não vão ter hipótese.
O FC Porto, à medida que o Benfica ia contratando grandes jogadores, trocou os seus dois melhores jogadores, dizem por aí, por quase uma dezena de jogadores medianos, ou desconhecidos. Também não vai lá.
(…)
FC Porto. O tetracampeão Futebol Clube do Porto, ou treta campeão, como alguns entendidos na matéria, com toda a propriedade lhe chamam, esta época não tem qualquer hipótese de revalidar o título.
Por duas ordens de factores: os externos e os internos. Na frente externa, o Benfica TEM que ser campeão.
Não é à toa que se faz um investimento como o que o Benfica fez. Um investimento daquele calibre, feito cirurgicamente, quando o Porto perde dois dos seus pilares da equipa, não é feito só para hipotecar futuras receitas, e comprometer as hipóteses de aparecimento de candidatos à liderança do clube, que agora, até a eleições já têm a desfaçatez de apresentar-se.
Não, um investimento daqueles tem que ter retorno desportivo, e imediato. E isso, exige a conjuração de todas as forças possíveis e imaginárias, ou, tão simplesmente, a vitória do PSD nas próximas eleições, que assegure a continuidade, e eventualmente, potencie a desfaçatez e a falta de vergonha que campeia na Liga de Clubes.
(…)
Portanto, em termos globais, não me parece que o FC Porto esteja assim, taaão mais fraco, que na época passada. Tem muitos jogadores novos. Isso é verdade. Vai ser complicado integrá-los todos. Tudo bem.
Mas é uma pena que o alinhamento estelar e que Saturno na quinta casa do Caranguejo, não permitam a esta equipa lutar pelo título, de igual para igual com o Benfica. Havia de ser um belo campeonato!
Assim, como assim, mais valia fazer aquilo que propus aqui há tempos, mas em relação ao FC Porto: entreguem esta época a vitória na Liga ao Benfica, e passemos à seguinte, de preferência, em pé de igualdade”.
Na altura, não estava jogado um único segundo da Liga Pescada. O Hulk não tinha sido duplamente expulso no mesmo jogo pelo Carlos Xistra, na jornada inaugural contra o Paços de Ferreira. As nomeações de árbitros pelo Vítor Pereira eram (e continuam a ser, em boa verdade!) inimagináveis. O Olegário Benquerença ainda não tinha anulado um golo limpo ao FC Porto, no jogo com os Belenenses, no Dragão, e o Rui Costa, contra o Paços de Ferreira.
O Lucílio Baptista não tinha marcado uma falta inexistente sobre o Di Maria, no jogo contra a Naval 1.º de Maio, de onde haveria de nascer o único golo dos encarnados, da autoria do Javi Garcia, e com o qual haviam de vencer o desafio, nem tinha validado o golo marcado pelo Benfica contra o FC Porto, antecedido por um claríssimo fora-de-jogo, e o Jorge Sousa não tinha anulado um golo limpo ao Vitória de Setúbal, que lhe poderia dar a vitória sobre os vermelhuscos.
Nada disto tinha acontecido. O Mossoró, o Ney e o Vandinho não tinham sido castigados. A bem dizer, não me passava pela cabeça que o SC Braga seria o principal opositor do Benfica na luta pelo título.
O Hulk e o Sapunaru não tinha agredido os “stewards”, nem sido castigados por isso mesmo, e não imaginava que estes fossem “agentes desportivos”.
Enfim, uma série de situações que, a 10 de Agosto de 2009, não imaginava que pudessem vir a acontecer. Mas aconteceram. E, neste momento, tudo se conjuga para que a minha previsão bata certo: o Benfica lidera a Liga Pescada, a nove jornadas do seu epílogo, com um ponto à maior sobre o SC Braga, e nove sobre o FC Porto.
Apesar de tudo isto, a teimosia, a negação das evidências, mais que evidentes, e o “matematicamente possível”, ainda me levavam a acreditar que era possível, e a martirizar-me com isso.
Ser portista é isso mesmo. O “perder” é algo difícil de encaixar, como se vê nos discursos, ainda que de circunstância, do Bruno Alves e do Jesualdo Ferreira.
Imbuído deste sentimento, antes do jogo entre o SC Braga e o Sporting, dediquei-me a fazer contas. O FC Porto estava então com seis pontos de desvantagem para bracarenses e benfiquistas, os quais, para além de ainda terem de jogar entre si, ainda teriam que defrontar os sportinguistas.
Ora, acreditando eu que o Benfica não perderia mais pontos esta época, a não ser com aquelas duas equipas, para o FC Porto ainda ser campeão bastaria que aqueles três adversários empatassem entre si e com o Sporting, e perdessem com o tetracampeão.
Ah! Para além disso, teríamos que ganhar todos os jogos a disputar, ou, pelo menos imitar os resultados dos minhotos e das papoilas saltitantes. Nada mais fácil. Era de caras!
SC Braga e Benfica perderiam assim sete pontos (dois no jogo entre si, mais dois, nos jogos com o Sporting, e três nos jogos com o FC Porto), e o penta estava garantido.
Mas, entretanto, o FC Porto empata com o Paços de Ferreira, o Benfica empata com o Vitória de Setúbal e antecipa o jogo da 20.ª jornada com a União de Leiria, que ganha, e passa a ter nove pontos de vantagem sobre o FC Porto.
Até aqui, tudo dentro do previsto. Agora, mau mesmo foi a vitória do SC Braga sobre o Sporting. É que assim, os bracarenses conseguiram frente ao Sporting mais dois pontos do que aquilo que seria expectável, e isso, somado ao empate portista com os pacenses, fez com que a distância para o FC Porto, que, por altura do embate entre estas duas equipas se deveria, desejavelmente, cifrar em quatro pontitos, fosse o dobro.
Cumprida a obrigação de vencer o SC Braga, o FC Porto fica a cinco pontos deste clube, dois para recuperar no jogo entre os minhotos e o Benfica, e três, não se sabe muito bem aonde. Mas, ainda assim, nada que parecesse à partida impossível.
O Benfica descansa uma jornada, o calendário da competição retoma o seu normal curso, e eis que chega a visita a Alvalade com os encarnados seis pontos à frente do FC Porto, seguidos do SC Braga, a cinco.
E, pronto. Acabou-se. Agora são nove pontos para os vermelhuscos de Lisboa, e oito, para os de Braga.
Ou seja, em relação ao Benfica, que acredito piamente, não tornará a perder pontos nas jornadas decisivas da Liga Pescada, a não ser contra SC Braga, FC Porto e Sporting, três derrotas (por exemplo, no Dragão, contra o Sporting e contra o SC Braga, na Luz), ainda podem resolver o problema, desde que a derrota no Porto seja por mais de um golo.
Já no caso dos bracarenses a coisa fia mais fina. O Benfica é o único grande com que lhes falta jogar. Sendo imperiosa a sua vitória nesse jogo, para que o FC Porto alcance os benfiquistas, os oito pontos de vantagem do SC Braga, uma vez que há vantagem portista no “goal average” dos jogos entre ambos, teriam que ser perdidos contra outras equipas. Resta saber, é quais… Não estou a ver. É muito ponto.
E tudo isto, claro está, partindo do pressuposto de que o FC Porto ganhará todos os restantes jogos.
Por outras palavras, era precisa muita sorte, e uma conjugação de resultados que, faz favor!
Ponto final, não vale a pena pensar mais nisso, ainda que “matematicamente” ainda seja possível.
Obrigado Sporting, por pôr um fim a esta lenta e longa agonia, que me atormentava desde Agosto. Venha de lá a Liga 2010-2011, e que não seja Pescada.
Talvez agora deixem em paz o FC Porto, e os seus jogadores, e se dediquem a infernizar a vida ao SC Braga. Se bem que, pelo que já me apercebi, para alguns benfiquistas, mesmo a nove pontos, o FC Porto continua a ser a preocupação dominante.
Devem ser masoquistas. Até ao segundo lugar me parece quase impossível chegar, quanto mais…
Resta-me, no que falta disputar da “competição”, torcer pela vitória do SC Braga, que está sem margem para dúvidas, a fazer uma época, a todos os títulos excelente, e que, nos jogos entre os principais concorrentes ao título, ostenta um registo impressionante.
Se não for assim, então o Benfica que ganhe. Mas por mais de dez pontos de vantagem em relação ao FC Porto.
É a única forma para que fiquem compensados os pontos que foram até agora sonegados nos jogos que acima mencionei, e ainda, aqueles que, em condições normais, não seriam atribuídos ao futuro campeão.
Não é por nada, é só para que a sensação de roubalheira, fique um bocadinho mais adocicada e fácil de digerir.
FC Porto (pontos a menos):
- dois pontos, no jogo com o Belenenses, no Dragão;
- mais dois, no jogo com o Paços de Ferreira, também no Dragão;
- e um no jogo com o Benfica;
Benfica (pontos a mais):
- dois pontos, no jogo com a Naval 1.º de Maio, na Luz;
- dois pontos, no jogo com o FC Porto, idem;
- e um ponto, no jogo com o Vitória, em Setúbal;
Nota 1: quando digo que o SC Braga tem um registo impressionante nos jogos com os “grandes”, refiro-me a isto:
- Sporting x SC Braga (1-2);
- SC Braga x FC Porto (1-0);
- FC Porto x Sporting (1-0);
- SC Braga x Benfica (2-0);
- Sporting x Benfica (0-0);
- Benfica x FC Porto (1-0);
- SC Braga x Sporting (1-0);
- FC Porto x SC Braga (5-1); e
- Sporting x FC Porto (3-0)
Resumindo:
SC Braga – 5 jogos, 4 vitórias, 1 derrota, 7 golos marcados, 6 golos sofridos, 12 pontos;
FC Porto – 5 jogos, 2 vitórias, 3 derrotas, 6 golos marcados, 6 golos sofridos, 6 pontos;
Benfica – 3 jogos, 1 vitória, 1 empate, 1 derrota, 1 golos marcados, 2 golos sofridos, 4 pontos;
Sporting – 5 jogos, 1 vitória, 1 empate, 3 derrotas, 4 golos marcados, 4 golos sofridos, 4 pontos;
Ao Benfica ainda falta jogar com todos aqueles que seriam, à partida, os seus concorrentes directos. Caso ganhe todos estes jogos, poderá superar o registo do SC Braga, fazendo treze pontos, e é, de caras, campeão.
Mas, se por hipótese, empatar em casa com os bracarenses, e se o FC Porto fizer no Dragão, o mínimo que se lhe exige, ou seja, ganhar aos encarnados, ainda vamos ver o Jorge Jesus a chorar por ter defendido o empate em Alvalade!
Há imagens que não se apagam da memória, e não me consigo esquecer da cara de incredulidade e impotência do bom do Jesus, na época passada em Braga, quando uma vitória sobre o Benfica do sobrinho da Lola Flores lhe dava o terceiro lugar, e não foi capaz de lá chegar.
Era essa a cara que me dava um gozo imenso voltar a rever!
Nota 2: para evitar discussões infindáveis, e perder tempo com interpretações mais que muitas sobre as Leis do Jogo, como pontos retirados ao FC Porto ou atribuídos indevidamente ao Benfica, só considerei aqueles que, ou resultaram de lances de foras-de-jogo mal assinalados, que invalidaram golos efectivamente obtidos por portistas e sadinos, mas não sancionados, ou que decorreram directamente de jogadas onde existiram ilegalidades generalizadamente aceites.
O ponto que devia ter sido outorgado ao FC Porto no jogo com o Benfica, resulta do facto de que, sendo retirados aos encarnados dois dos três pontos da vitória, o outro pontinho do empate para alguém teria de ir...