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Azul ao Sul

Algarvio e portista E depois? O mar também é azul...

Azul ao Sul

Algarvio e portista E depois? O mar também é azul...

E assim se estraga uma festa

30
Abr12

 

Caso ainda não tenham reparado, de há uns tempos a esta parte, eu e o Vítor Pereira, não o mais recente campeão nacional, ainda que também quanto a ele não possa evitar uns quantos desencontros, mas o dos árbitros, temos, dizia então, aquilo a que poderemos apelidar de uma relação marcada por uma latente divergência.

 

Daquelas tipo amor-ódio. Se um diz que é branco, o outro verá que é preto, se um gosta de azul ou outro prefere verde, e assim por diante.

 

Também não será certamente do vosso conhecimento que o Vítor Pereira, uma vez mais o dos árbitros, é frequentador assíduo deste espaço. Aliás, tenho cá para mim que a implementação daquela não-medida, de não anunciar as nomeações dos árbitros, teve muito mais a ver com os comentários sobre as nomeações, que por aqui se faziam, do que com o que quer que seja que o Jorge Coroado pudesse perorar sobre o assunto.  

 

Ao nosso Vítor, acho que até lhe faria bem passar por cá de vez em quando, mas, dadas as evidências, parece-me bem que não o fez uma única vez ao longo da época.

 

Sendo sabedor de tudo isto, e preocupado com a preparação dos festejos do nosso mais que provável título, vaticinei propositadamente no último texto, que o árbitro designado para o nosso embate no Funchal, seria o João “pode vir o João” Ferreira.

 

É claro, que lendo o dito texto, o Vítor nunca, em hipótese alguma, nomearia o setubalense para aquele jogo, mais o seu compincha Ferrari. Com o João “pode vir o João” Ferreira fora de cena, as nossas hipóteses de montar a festarola do título em casa, contra o Sporting, aumentariam exponencialmente.

 

E com a ajuda dos jogadores da União de Leiria e do Sindicato dos Jogadores, então é que haveria de ser.

 

Ou seja, dei uma de Miguel Sousa Tavares, na véspera do nosso jogo para a Liga, no Estádio da Lucy, em que desancou a equipa e anteviu uma hecatombe, e depois, com a vitória consumada, veio dizer que o tinha feito para espicaçar o orgulho dos jogadores.

 

Nunca esperei foi que o Vítor fosse tão longe. Bolas, nomear o Paulo Baptista não lembrava o diabo, vermelho ou de que cor fosse. Então e os internacionais? Não havia?

 

O único ponto a favor do Paulo Baptista para tal jogo seria o facto de a última derrota do FC Porto nos Barreiros ter sido precisamente com o dito cujo. Mas ainda assim, só com um golo na própria baliza do Rolando.

 

Depois disso, esteve na época passada na nossa vitória de penálti na ronda inaugural, contra a Naval 1.º de Maio, que tanta léria motivou entre os comentadores papoilas, e na eliminação do Moreirense, para a Taça de Portugal, onde anulou mal, um golo ao nosso adversário.

 

Nada de especial, portanto. Dificilmente por aqui se poria em causa recebermos condignamente os sportinguistas, fazendo deles convidados de honra para uma festa do título à maneira. Coitados, eles que há tanto andam arredados dessas coisas. Vamos lá ver se levam a Taça! O Pedro Emanuel anda em poupanças há tanto tempo…

 

Agora, o Vítor trocou-me as voltas foi ao nomear o Olegário Benquerença, para o Estádio dos Arcos. É claro que nomeando o Olegário a coisa tinha de descambar.

 

Ao que consta, foram dois, apenas dois, os penáltis perdoados aos da casa, e ainda assim marcou um. Com a fezada com que andam por aí a atirar-se ao presidente e ao treinador de um certo clube, do falatório que aí vem dificilmente se livrará.

 

Poderia ter sido um jogo daqueles à Duarte Gomes, mas não, o Olegário não é menino para isso. Assinalar três penáltis no mesmo jogo, a favor da sua equipa predilecta? Nem pensar.

 

E pronto, o Vítor e o Olegário estragaram-nos a festa.

 

Tivemos de nos contentar em ser campeões em casa, de pantufas, sentadinhos no sofá. Com as luzes acesas e sem chuveiro. Convenhamos, não tem tanta piada.

 

Ainda dei uma volta pela baixa, para ver se via alguém, mas apenas dei com três ilustres companheiros de luta, desportiva, é claro. Não se faz meus amigos Vítor e Olegário.

 

Este título tem um sabor estranho, mas não deixa de ser um título. Mais um a juntar à lista, e já lá vão 26. Ficamos a cinco de alcançar quem nos antecede na lista dos campeonatos conquistados.

 

Foi, no entanto, um título esquisito, conquistado por um clube cuja SAD esteve estranhamente apática até Janeiro, parecendo que só aí terá acreditado que sim, que dava para lá chegar.

 

Cujo treinador gozou de um brevíssimo estado de graça, sendo mal querido pelos adeptos, quase desde que iniciou funções, e diga-se em abono da verdade, em não raras ocasiões pouco fez para que isso não acontecesse.

 

E pior ainda, até pelos próprios jogadores, alguns deles, que não vou nomear, mas vocês sabem de quem é que estou a falar, muitíssimo mal comportados, e a precisarem de um valente puxão de orelhas, como por exemplo, não tornarem a vestir aquela camisola. Para quem não quer, há de sobra.

 

Bem, o que interessa é que fomos campeões, somos bicampeões, e vamos festejar seja como for. Vamos levar isto até ao fim, borrifando-nos para se a União de Leiria joga ou não joga no próximo jogo, ou se o faz só com os jogadores emprestados pela equipa A.

 

Se não estivemos tão bem como em outras ocasiões, outros houve que terão estado pior. A duas jornadas do fim temos o título assegurado e seis pontos de distância para o segundo classificado, que poderão manter-se ou não.

 

A equipa mais louvada dos últimos tempos, o campeão de 2009/2010, garantiu o título na derradeira ronda e terminou com cinco pontos de avanço sobre o mais directo concorrente. E foi o campeão mais louvado, por isso…

 

Concluindo, concordo que foi um título merecidíssimo. Agora é festejar, e depois parar, reflectir no que correu menos bem e começar a preparar a época seguinte.

 

Bem, começar não, porque pelos vistos essa parte estará devidamente acautelada.

 

 

CAMPEÕES, CAMPEÕES, NÓS SOMOS CAMPEÕES!

 

CAMPEÕES, CAMPEÕES, NÓS SOMOS UNS GANDAS CAMPEÕES!

Últimos dias

27
Abr12
 

Este título a fazer lembrar épocas de saldos, soa a chunga, mas é assim mesmo. Cada vez mais começam a escassear dias, semanas, jornadas, para os nossos rivais nos apearem do primeiro lugar.

 

A partida deste fim de semana, na ilha dos buracos, que cada vez mais se aprofundam – agora, ao que parece, são mais dois mil milhões – contra o Marítimo, deve estar a ser encarada por alguns, assim a modos que, como uma última oportunidade.

 

Não quero dizer com isto que este jogo seja mais complicado que qualquer um dos outros dois, contra o Sporting e o Rio Ave. Contudo, esta será a última oportunidade para termos um árbitro susceptível de influenciar o desfecho final desta Liga, se não o fez já, e sem grandes preocupações no tocante ao factor casa, no Dragão, e proximidade, em Vila do Conde.

 

A medida do Conselho de Arbitragem, de não divulgar as nomeações dos árbitros, é outro ponto a favor desta possibilidade. Vítor Pereira (o dos árbitros, não o nosso treinador), que aqui há duas épocas atrás, se vangloriava de ter instituído um sistema de avaliação dos árbitros, do mais transparente à face da Terra, agora, no que diz respeito à nomeação dos ditos, opta, continuo a dizer, por uma não-medida, de total opacidade.

 

E afinal de contas, o que é que têm de especial no nosso futebol, as nomeações dos juízes dos encontros? Deveriam ser encaradas como algo perfeitamente natural, parte do jogo, como os demais elementos.

 

Esta não-medida, apenas tomada para serenar ânimos e evitar medidas, eventualmente mais agrestes em relação a alguns intervenientes (o castigo ao tal senhor da cabeleira desgrenhada, é para quando? Quando, matematicamente for irreversível a derrota?), é a admissão tácita, mas muito expressa, de que há, de facto, algo de estranho, a envolver as nomeações.

 

Assim sendo, quem será que vai dirigir a nossa partida no caldeirão dos Barreiros?

 

Uma vez que o Duarte Gomes esteve recentemente na derrota caseira dos maritimistas contra os conterrâneos do Nacional, aposto, de caras, no João “pode vir o João” Ferreira.
 
 

 

Para além do Duarte Gomes, se os critérios de nomeação forem mantidos como até aqui, também estarão inibidos o Bruno Paixão, que esteve no Estádio da Lucy, no último encontro dos insulares, bem como o Bruno Esteves e o Olegário, que estiveram nos nossos dois últimos jogos.

 

Quase de certeza, seguindo a lógica dos últimos três confrontos do Marítimo, curiosamente, desde a 25.º jornada, em que foram ultrapassados pelo Sporting, e dos nossos quatro últimos jogos fora de portas, o árbitro será um internacional.

 

O Marítimo teve já 18 árbitros nos seus jogos, dos quais, nove bisaram as suas presenças: Duarte Gomes, Bruno Paixão, João Capela, Jorge Sousa e Artur Soares Dias, todos internacionais, e ainda Rui Silva, Manuel Mota, Bruno Esteves e Hugo Miguel, que não são internacionais.

 

Porém, o trio Benquerença, o João “pode vir o João” Ferreira e Pedro Proença, só interveio em partidas com o Marítimo na qualidade de visitante, respectivamente em Coimbra, em Guimarães e na Calimeroláxia (V, D, V).

 

Posto isto, pode parecer estranha a aposta, pois a única vez que o João “pode vir o João” Ferreira arbitrou os madeirenses, saldou-se por uma derrota. E talvez ainda se recordem, há duas épocas, da expulsão, certamente inovadora no Mundo do desporto, do Olberdam, por palavras dirigidas a um colega de equipa.

 

Estes dados, tendo em conta aquele é o procedimento usual de Vítor Pereira, muito pouco de acordo com aquilo que seria o consensual, e em prol da defesa dos árbitros, em vez disso, a enviá-los alegremente para os cornos do touro, ainda mais reforçam a minha convicção.

 

Ainda por cima, o mote para o ambiente que vai envolver o jogo, está dado pelo presidente dos insulares, ao relebrar o mais que morto e encerrado caso Kléber, ele próprio - o Kléber - bastante elucidativo do estado daquele processo. A propósito de quê?

 

Quanto ao resto, é a máxima força do nosso lado, enquanto do lado deles, como antecipei, com muita sorte à mistura, pois o jogo anterior do nosso adversário, até foi dirigido pelo Bruno Paixão, vai estar ausente por acumulação de amarelos, o homem dos pontapés de fora da área, o Roberto Sousa.

 

Que venha o Marítimo, que a poncha não afecte os nossos rapazes, que levem guardanapos suficientes para o Carlos Pereira limpar as lágrimas, e que no final, fique a faltar apenas uma vitória ou dois empates.

 

O maravilhoso mundo dos totós, 398 dias depois

26
Abr12

Há, exactamente, 398 dias, no dia 25 de Março do ano passado, escrevi umas parvoíces sobre o processo eleitoral então em curso no Sporting.

 

398 dias depois, Godinho Lopes foi eleito Presidente. O Domingos Paciência foi o treinador escolhido, e pouco mais durou que seis meses. Milhentos jogadores entraram, e um pelo menos, o Bojinov, até também já saiu. Dos trinta e tal pontos que ficaram atrás de nós na classificação, recuperaram uns quantos, ainda insuficientes para sequer nos morderem os calcanhares.

 

Quase 400 dias depois, e tenho que chegar à conclusão que o problema daquele clube, pelo qual, até nutro alguma simpatia, continua a ser o mesmo: desperdício de recursos.

 

 

Quando se ouve o presidente do clube, convencidíssimo de que, mais tarde ou mais cedo, vai arranjar investidores minoritários, que entrem com capital fresco, tão necessário como de pão para a boca, invocando “o facto de o Sporting ser uma marca fortíssima”, concluímos que os inúmeros talentos do seu vice-presidente Paulo Pereira Cristóvão, seriam bem melhor empregues a analisar a situação interna, e reportá-la ao seu presidente, do que a espiar árbitros, jogadores e sabe-se lá quem mais.

 

De acordo com o Futebol Finance, e tendo por base um relatório do Brand Finance, há apenas um clube português nos trinta primeiros, mais concretamente em 28.º, e não é o Sporting.

 

Ao que parece, o FC Porto estava em 31.º, e só depois, mais lá para baixo, viria o clube do leão.

 

“Uma marca fortíssima”?

 

O outro motivo para o optimismo incontido prender-se-ia com o facto de “ter uma Academia que trouxe para o futebol mundial «jogadores de classe reconhecida “ e que é considerada, a par da do Barcelona e do Lyon, “uma das três melhores” do velho continente”».

 

Uma vez mais, aqui seriam bem melhor empregues os préstimos do vice-presidente, para informar o seu presidente.

 

[U]ma das três melhores [academias] do velho continente”? Qual?

 

A que formou quem? O Marcelo Boeck, o Rodriguez, o Polga, o Oniewu, o Evaldo, o Arias, o João Pereira, o Insua, o Turan, o Xandão, o Schaars, o Izmailov, o Matías Fernandez, o Rinaudo, o Elias, o Bojinov, o Wolfseiláquantos, o Capel, o Jeffrén, o Carrillo, o Ribas ou o Rubio? Será esta?

 

Onde é que andam os jogadores formados na Academia nos últimos tempos? Deportivo da Corunha? A Academia em si mesma, é um recurso claramente desperdiçado. O vice-presidente andar a espiar árbitros, jogadores e sei lá mais quem, e não constatar e relatar isso ao seu presidente, outro desperdício.

 

E não pára por aqui.

 

Então logo agora que arranjaram um treinador, que apesar de parecer movido a Xanax nas conferências de imprensa, em termos de eloquência futebolística bate aos pontos os rivais dos outros dois clubes, o grande e o mais grande, e só não bate o Leonardo Jardim em conteúdo, porque na forma, com aquela pronúncia madeirense arrevezada, pede-lhe meças, o que é que fazem?

 

Decretam um "black out"! Claro!

 

Em vez de aproveitarem o homem, e o discurso para motivarem as hostes, não. Black out! Faz sentido.

 

É caso para dizer que dá Deus nozes, a quem não tem dentes. E ainda por cima é de leões que se fala…  

 

Se isto não é desperdiçar recursos à fartazana, então não sei o que é.

 

Ainda assim, estão nas meias-finais da Liga Europa, e com fortes possibilidades de ir a Bucareste, à final.

 

É assim o mundo maravilhoso dos totós!

Abril e desilusões

25
Abr12

 

 

Hoje é dia 25 de Abril. Penso que todos nós sabemos o que representa, ainda que lhe possamos atribuir significados diferentes.

 

Como este não é um espaço de política, mas essencialmente de desporto, partilho convosco duas desilusões, relacionadas, ainda que muito ao de leve com futebol, e obrigatoriamente com o FC Porto.

 

Carlos Abreu Amorim, portista, deputado independente nas lista do PSD referiu-se recentemente à Associação 25 de Abril, como "brigada do reumático". Está obviamente, no seu direito, e sendo jurista, sabe-o melhor do que eu, por exemplo.

 

Direito esse, de que usufrui graças, em grande parte, à intervenção dessa dita "brigada do reumático". Não sinto pelos capitães de Abril nenhum tipo de admiração reverencial, e a alternativa política que propugnavam não seria certamente a mais desejável, mas respeito-os por aquilo que fizeram.

 

Se hoje, para o bem e para o mal, mas com liberdade, q.b., vivemos no País em que vivemos, a eles devemos grandemente. E nesse País incluo o FC Porto.

 

É sem margem para dúvidas o clube que mais venceu no pós-25 de Abril, e, pese embora os méritos próprios, sob o regime autocrático e centralista então vigente, nunca teria chegado onde chegou.

 

Compreendo que Carlos Abreu Amorim, apesar da sua independência partidária, diga o que disse defendendo as suas cores políticas. Enquanto portista, desiludiu-me.

 

Há um blog portista, que constava na lista de blogs do mundo azul e branco ali à direita, em que um autor, a propósito da recente derrota do Barcelona frente ao Real Madrid, mimoseou os culés, com o epíteto de "cabeças de melão".

 

Também está, como não podia deixar de ser, no seu direito. Mesmo sabendo certamente de antemão, que, pelo que venho notando, uma grande parte dos adeptos portistas, em que me incluo, sentem mais afinidades com o Barça do que com o Real Madrid.

 

O que até é perfeitamente natural, se tivermos em conta os regimes ditatoriais que existiram em ambos os países, e a protecção de que usufruiram neles o Real Madrid e um outro clube, que não o FC Porto.

 

Parece-me evidente e lógica uma maior proximidade do FC Porto ao Barcelona, no combate ao centralismo ditado pelas capitais de ambos os países, do que ao Real Madrid. Mas isso serei eu, e eventualmente, mais uns quantos que não conseguem dissociar essas coisas da afeição clubística.

 

No entanto, há de certeza um número considerável de portistas, tão adeptos do FC Porto como o autor do texto, que estão incluídos nos tais "cabeças de melão".

 

Bem, quanto ao Carlos Abreu Amorim, fica a decepção. Vale o que vale.

 

Quanto ao tal blog, foi-se da lista, e para lá não voltará.

 

25 de Abril, Sempre!

As aventuras de um Gulliver entre os liliputianos (ou "Por mais 25 de Abril que venham...")

24
Abr12

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

”No país que odeia vencedores"

 

por PEDRO MARQUES LOPES

 

Jorge Nuno Pinto da Costa completou na última terça-feira trinta anos como presidente da mais bem sucedida instituição portuguesa da nossa história recente: o Futebol Clube do Porto.

 

Em nenhum sector de actividade uma organização conseguiu sequer aproximar-se do desempenho nacional e internacional do clube nortenho. Até o mais distraído dos cidadãos não ignora as sistemáticas vitórias do Futebol Clube do Porto no plano interno em todos os desportos profissionais ou semiprofissionais e os êxitos retumbantes a nível internacional. Desde 1964, o único clube de futebol português a ganhar provas europeias e mundiais foi o FC Porto. Ganhou sete, batendo-se de igual para igual com clubes representativos de cidades e países com muitíssimas mais capacidades financeiras e com uma capacidade de recrutamento de jogadores e treinadores quase ilimitada - não vale a pena perder tempo referindo os campeonatos e taças dentro de fronteiras, o espaço nesta página é demasiado pequeno.

 

A pergunta impõe-se: que empresa portuguesa, que instituição, foi a melhor da Europa, no seu ramo de actividade, por duas vezes ou, pelo menos, chegou perto disso nos últimos trinta anos? Pois...

 

Os sócios e adeptos do FC Porto, o desporto português e a comunidade portuguesa devem todos esses feitos a uma pessoa: Pinto da Costa. Claro que nenhum homem sozinho seria capaz de tão espantosa obra, mas foi, de facto, ele o grande motor, o grande líder duma das mais extraordinárias histórias de sucesso duma organização portuguesa.

 

Pinto da Costa é, sem sombra de dúvida, o mais brilhante gestor português e, no seu sector, um dos melhores do mundo, senão o melhor (é o presidente dum clube, no mundo inteiro, com mais títulos ganhos). Em qualquer país que não estivesse minado pela inveja, que não vivesse obcecado pela intriga e não odiasse vencedores, o presidente do FC do Porto seria um autêntico herói nacional. O exemplo de alguém que com parcos recursos, liderando uma organização originária duma região pobre da Europa, conseguiu, à custa de trabalho, capacidade de organização e uma dedicação sem limites transformar um clube como muitos outros num dos maiores do mundo seria estudado, promovido, glorificado. Não é em vão que por esse mundo fora o FC Porto e o seu presidente são homenageados e vistos como autênticos fenómenos. Mas, em Portugal, quanto maior for o sucesso, maior será o ódio, maior será o desprezo, e, claro está, Pinto da Costa é o alvo de toda a desconsideração, de toda a infâmia, de toda a calúnia.

 

Desenganem-se os que acreditam que a razão para tanta falta de respeito pela obra realizada se deve exclusivamente à paixão que rodeia as coisas do futebol, ao facto de um clube com menos adeptos que os seus rivais lhes ganhar sistematicamente, às tomadas de posição muitas vezes duras do presidente ou ao discurso exageradamente regionalista. Terão essas razões algum peso, mas estão longe de ser as fundamentais. Pinto da Costa é invejado e odiado porque ganha. E ganha porque sabe mais do seu ofício, porque trabalha mais, porque sabe organizar melhor a sua empresa. Mas isso no nosso país pouco conta. Toda a gente sabe que se alguém é rico é porque roubou, se alguém tem um bom contrato é porque tem cunhas. Porque seria diferente com Pinto da Costa?

 

O sucesso em Portugal nunca serve de exemplo, nunca leva as pessoas a quererem fazer melhor, a trabalharem mais, a serem mais empenhadas.

 

Como dizia um meu bom amigo benfiquista, em Portugal só no futebol se fazem declarações de interesses. Sou sócio do FC Porto. Estarei eternamente agradecido a quem me proporcionou tantas alegrias e me fez quase arrebentar de orgulho por ser portista e português. Mas isso, para o tema, pouco importa. É quase patético ter de anunciar a minha condição de adepto dum clube apenas porque se reconhece a obra de alguém ímpar na nossa comunidade, de alguém que honrou o nome da cidade do Porto e de Portugal.

 

Muito obrigado, sr. Pinto da Costa.

Como substituir os insubstituíveis

23
Abr12

"Os cemitérios estão cheios de pessoas insubstituíveis".

(Georges Clemenceau)

 

Numa altura em que acabámos de celebrar os primeiros 30 anos de presidência de Jorge Nuno Pinto da Costa, trazer para aqui esta citação poderá parecer um tanto ou quanto descabido.

 

 

 

Espero que não o seja, porque se o faço é a propósito do nosso jogo, e daquilo que se lhe seguirá.

 

Vencemos, como seria de esperar, e, contando apenas connosco, faltam duas vitórias, ou uma vitória e dois empates, para assegurarmos o 10.º bicampeonato da história do clube.

 

Quanto ao jogo propriamente dito, nada que não se tivesse visto em anteriores ocasiões. Uma primeira parte de pasmaceira, como que a servir de aquecimento para um arranque fulgurante da segunda, mas ainda assim, pareceu-me a mim, não tão má como por aí vi pintado.

 

Falhámos muitos passes? É verdade. As únicas duas oportunidades de golo do Beira-Mar, surgiram nesse período? Também é verdade. O penálti que deu origem ao golo foi daqueles que punham o saudoso Pôncio Monteiro e o Gabriel Alves a perorarem sobre a intensidade da falta, durante umas valentes horas? Idem.

 

Pontos positivos. Foi uma pasmaceira direccionada, e a direcção foi apenas uma: a baliza dos aveirenses. O problema foi o do costume, uma vez lá chegados, as ocasiões de golo também não foram muitas, e só no tal penálti é que a bola entrou. Com bastas responsabilidades do Janko, diga-se.

 

Das oportunidades do adversário, uma delas só aconteceu porque o Otamendi teve mais um dos seus lapsos, e o Helton esteve a preceito em ambas.

 

No regresso dos balneários a música foi outra, mas durou pouco. Entre os 41 e os 47 minutos, com o intervalo de permeio, o nosso meio-campo foi todo amarelado (Defour, 41’; João Moutinho, 42’ e Lucho, 47’).

 

Aos 57 minutos, com o resultado feito e quando o Danilo se preparava para fazer o seu regresso aos relvados, o nosso treinador dava já indicação para abrandar. E, entretanto, do Beira-Mar nada se via.

 

Entrando na parte que diz respeito aos insubstituíveis, que ilações tirar deste jogo?

 

Deixando de fora desta conversa o Helton, porque sendo guarda-redes, é um caso muito particular, vi neste jogo dois jogadores “à Porto”: Sapunaru e Maicon.

 

O arreganho, o querer e a fibra que puseram em campo não deixa dúvidas quanto a isso. O Sapunaru só não recebe o prémio para melhor actor dramático, porque se excedeu naquela segunda simulação de penálti. Não havia necessidade de borrar a pintura assim.

 

Quanto ao Maicon, por muito que o empresário do Rolando e eventualmente, o próprio Rolando, achem que é ele o melhor defesa-central do FC Porto – quem, senão o noivo, para louvar a noiva? – na minha opinião, o Maicon, hoje por hoje, passou-lhe claramente à frente nesse particular. Em disponibilidade e segurança, não tenho a mais pequena dúvida, e nesta partida, ainda fez o passe para o terceiro golo.

 

O Rolando se se acha insubstituível, será só na cabeça dele, e na do empresário, e não me surpreenderia se estivesse de saída por uma porta bem mais pequena do que aquela que o estatuto, que julgará ser seu, lhe abriria.

 

Vi outros dois jogadores que nem precisam de se esfarrapar à Porto. Em qualquer lado, jogadores com a classe do João Moutinho e do Lucho, sobressaem.

 

E um, que faz a síntese entre uns e outros: o Hulk. Cada vez mais, quando as coisas lhe correm de feição, mistura momentos de pura classe, com outros em que luta como poucos, como muito bem notou o Jorge.

 

Estes foram, a meu ver, os pontos altos individuais da partida, deixando de fora o Helton, que esteve sempre bem, apenas pelo motivo que apontei acima.

 

Quanto aos demais, bem, nos demais temos aqueles que parecem bem encaminhados, e os outros em que as dúvidas são sensíveis.

 

Por exemplo, o Otamendi. Pelo que li recentemente, também poderá estar de saída. Nem chegou ao estado de insubstituível. As falhas frequentes não o permitem. Não é um elemento que me inspire muita confiança, e o eixo da defesa, caso efectivamente saia, não fica mal servido com o Maicon e o Mangala.

 

À esquerda, não andarei muito longe da verdade se disser que não se notou a ausência do Álvaro Pereira. O Alex Sandro esteve bastante melhor do que em anteriores aparições. Jeitoso a atacar e prático e despachado a defender.

 

Aliás, é diferente a equipa a atacar pelas alas com o Danilo e o Alex Sandro, em relação àquilo que faz com quaisquer outros dois, nomeadamente com o Álvaro Pereira. A saída para o ataque flui mais assente em técnica e toque de bola, em vez de em força, à base de arrancadas e repelões. Faz mais sentido numa equipa que privilegia como modelo de jogo, a conservação da posse de bola.

 

O Álvaro Pereira é o segundo insubstituível, que poderá ter um desgosto no que resta de temporada.  

 

No meio-campo, o Defour teve a ingrata tarefa de fazer esquecer um senhor, esse sim, quase insubstituível: o Fernando.

 

Desta vez, com o João Moutinho mais adiantado, apareceu mais desacompanhado na posição seis, em vez do duplo pivot, anteriormente utilizado. Não esteve mal. Saiu amarelado, e não sei se esgotado, mas acredito que sim.

 

Com o Fernando, quase de certeza absoluta, na agenda de uma boa parte dos tubarões do futebol por essa Europa fora, e o João Moutinho a caminho dos 26 anos, e por isso mesmo, a não poder desperdiçar as hipóteses que por aí lhe surjam de dar o salto para fora, a presença do Defour e do Lucho é incontornável.

 

Aqui sim, mais do que em termos defensivos, poderemos vir a enfrentar problemas para substituir algum daqueles dois, ou ambos. E a alternativa mais imediata que vem à mente, resume-se ao regresso do Castro.

 

No ataque, mora outro verdadeiramente insubstituível: o Hulk, claro está!

 

 

Não tem substituto possível, e acredito que seja a maior dor de cabeça de quem tem nas mãos os destinos do clube. Por muito dinheiro que entre nos cofres com a sua venda, onde encontrar algum outro jogador que faça o mesmo?

 

No Sábado, correu, atacou, defendeu, perdeu e recuperou bolas, marcou dois golos – pronto, um foi de penálti, mas marcou-o, não marcou? – e fez o passe para o outro, quase obrigando o Janko a marcá-lo.

 

E nem foi dos seus melhores jogos. Como é que se substitui alguém assim?

 

Podíamos perguntá-lo ao James, por exemplo, para ver se acorda para a vida. O rapazola vai jogando, é certo. Só que daí até se poder levar a sério aquilo o Guarín diz dele, vai uma grande distância.

 

Não digo que veja o Silvestre Varela actual a fazer o mesmo que ele, mas um Djalma, sem convencimentos, sem arrogâncias e sem se por em bicos dos pés, não lhe fica muitos furos abaixo. Nas calmas.

 

Por outras palavras, artistas como Rolandos, Palitos ou James, com maiores ou menores dificuldades substituem-se. Para jogadores como o Fernando, o João Moutinho ou o Hulk, a coisa fia mais fino.

 

Quanto ao nosso Homem da curva, está aí para as curvas, e a vários níveis. Noutros sítios, as coisas são bem diferentes…
 
 
 
 
 
 

O estado geral pidesco da nação

20
Abr12

 

 

No meio desta história toda do vice-presidente do Sporting, do Cardinal e etc., o que mais me espanta, muito sinceramente, é que o indivíduo em questão é um ex-Polícia Judiciária (PJ).

 

Primeiro, fico preocupado por saber que na PJ, poderão eventualmente existir fulanos capazes de actos deste jaez.

 

Depois, porque, a ser verdade, e convém não esquecer que até prova em contrário, todos são inocentes, que na PJ, poderão eventualmente existir fulanos capazes de actos deste jaez, e com tamanha incompetência.

 

Será possível que até o bilhete para a viagem à Madeira do funcionário, tenha sido adquirido em Alvalade? Inacreditável!

 

E daí, também não é nada de muito surpreendente que algo assim possa realmente ter sucedido. Um ex melhor saberá as linhas por que se cose a sua antiga casa.

 

Bem vistas as coisas, se prestarmos uma atençãozinha, mesmo que ínfima, aos grandes casos judiciais dos últimos tempos, o que é que temos?

 

O Casa Pia nasceu de denúncias anónimas. O Freeport de uma carta anónima, que posteriormente se veio a saber, ser da autoria, por recomendação da própria PJ, de um tal Zeferino Boal, ao que parece ex-dirigente sportinguista dos tempos de Sousa e Cintra, e putativo candidato abortado à presidência nas últimas eleições. Mera coincidência, obviamente.

 

O caso Bragaparques terá nascido de uma conversa gravada, ainda que em legítima defesa, mas sem a necessária autorização judicial, que despoletou a posterior investigação do Ministério Público.

 

O Apito Dourado, acabou por ser reaberto por causa de um livro, escrito a várias mãos por personagens de triste e pouco duvidosa reputação, vá-se lá saber a conselho de quem. Bem, mas pelo menos neste caso, salvou-se a vertente lúdica da coisa!

 

Ou seja, quanto à metodologia de intervenção da PJ e do Ministério Público, estamos conversados. São do mais variado, de cartas anónimas e gravações ilegais a algo que se poderá assemelhar a plantação de provas. A esperança é que episódios como estes sejam a excepção, e não a regra.

 

Tremo quando me lembro dos casos Joana e Maddie.

 

Tendo em conta os precedentes, o que é que uma situação como esta que envolve o vice-presidente sportinguista poderá ter de surpreendente? Muito pouco.

 

Na realidade, nem sequer a denúncia do presidente do Nacional da Madeira, de que estaríamos em presença de uma estratégia de coacção de árbitros, se revestirá de grande novidade. Ou ainda a revelação de que o vice-presidente do Sporting teria acesso a “dados dos árbitros que não estão ao alcance de qualquer dirigente desportivo”.

 

Tudo isto são notícias requentadas, apenas mudando ligeiramente o(s) protagonista(s).

 

No fundo, bem filtrada toda a balbúrdia à sua volta, e uma vez falhado o objectivo primordial, que seria afastar o FC Porto da Champions, o que foi o Apito Dourado, senão uma forma de colocar em sentido a arbitragem?

 

Pouco mais. A estratégia que alguns persistem em seguir, sempre que as coisas não lhes correm de feição, de descredibilização dos campeonatos, dos árbitros, da justiça, para além de uma boa desculpa para o(s) frequente(s) insucesso(s), é o quê?

 

O passar da imagem maniqueísta de que de um lado estão todos os bons, e do outro são todos maus, serve a quem?

 

“A informação é poder”, é um conhecido adágio. Não foi Paulo Pereira Cristóvão que fez essa magnífica descoberta.

 

Antes de serem divulgados online os dados pessoais dos árbitros, já alguns deles eram agredidos em centros comerciais, e outros sujeitos de ameaças. Neste caso, de tal maneira a informação foi poder, que o então presidente da Liga, sendo destas conhecedor desde Janeiro, só as denunciou junto da instituição competente em Maio, depois de decidido o campeonato de 2009/2010.

 

Curiosamente, com a vitória do clube dos presumíveis implicados.

 

Há pessoas que são autênticos poços sem fundo de informação. Não é de estranhar, por isso, que saibam onde alguns árbitros almoçam e na companhia de quem, ou de outras ocorrências gastronómicas, com outros intervenientes. Ou ainda que sejam receptores preferenciais de denúncias de ofertas feitas a adversários.

 

 

 

Nada disto é, no fundo, estranho. Quanto muito podemos achar que é uma grande coincidência. Como por exemplo, saber-se de uma oferta a jogadores do Leixões para derrotarem o clube cujo presidente recebeu a denúncia do facto, precisamente na véspera do, supostamente ofertante, defrontar o Sporting, e depois, precisamente antes do embate deste último clube com o FC Porto, o Dragão receber a visita da PJ.

 

A propósito de quê? Luciano d’ Onofrio, Baía, Rui Barros e Sérgio Conceição. Coisa premente e bastante actual, como se constata. Ou um voto de confiança nos sportinguistas?

 

Será tudo isto assim tão invulgar? Será inverosímil que, ao que se saiba, sem que seja assistente no processo ou que patrocine qualquer dos assistente, um qualquer Pragal Colaço, afirme veementemente, na mesma televisão onde produz incitamentos à violência, que há muito mais matéria, muito mais escutas no processo “Apito Dourado”, para além daquelas que foram divulgadas?

 

Talvez não. Nunca num País em que, por uma incrível coincidência, um ex-Ministro da Administração Interna, fez parte da comissão de honra de um dos candidatos à presidência de um clube.

 

Ou onde um ex-Secretário de Estado da Justiça, associado da sociedade “Correia, Seara e Associados, Sociedade de Advogados, RL”, em que o Seara, é de Fernando Seara, apesar de membro do Conselho Superior do Ministério Público, tenha sido, entre outros moinhos de vento, o ilustre causídico que patrocinou a telenovela benfiquista e vimaranense, que pretendeu afastar o FC Porto da Liga dos Campeões.   

 

“Não há coincidências”, diria a Margarida Rebelo Pinto. Hmmmm, respondo eu.

 

O ovo e a galinha, o estrutural e o estruturante

19
Abr12

 

A propósito do texto que escrevi, "Direitos às avessas", houve um comentário da autoria de Pedro Pereira, que despertou a minha atenção.

 

Sendo o assunto de que se falava a questão dos direitos televisivos, dizia então aquele comentador que sim, que concordava que os clubes mais pequenos deveriam ter direito a mais verbas, mas que “para isso teria de haver uma reestruturação dos moldes competitivos das 1ª e 2ª Ligas”.

 

Para tanto, preconizava entre outras medidas, que “Menos equipas, melhoraria a qualidade do produto, logo existiria uma maior capacidade de gerar mais valias, ou seja, mais receita”.

 

Começando por notar que se trata, claramente, uma opinião contra a actual corrente na Liga de clubes, mas que partilho, fiquei a pensar na questão da “reestruturação dos moldes competitivos das 1ª e 2ª Ligas”.

 

 

Muito francamente, parece-me que que estamos perante uma situação como a história do ovo e da galinha. Ficar à espera de uma hipotética reestruturação dos moldes competitivos das ligas profissionais, será meio caminho andado para que tudo permaneça na mesma.

 

A questão dos moldes competitivos, assim como a da invasão de jogadores estrangeiros, até nos escalões de formação, é estrutural do nosso futebol.

 

Sem dúvida que a sua reformulação terá forçosamente de passar, como diz no comentário, por “exigências apertadas de ordem financeira para que as equipas tenham de fato, capacidade para cumprir os compromissos assumidos com os seus atletas e demais funcionários, fornecedores e com o Estado”.

 

Ora, o que ainda esta semana se viu foi que em Guimarães, não houve dinheiro, não houve treino, e em Leiria houve mais uma baixa no plantel. Ou seja, até os clubes que neste momento disputam a Liga principal, não se revelam capazes de cumprir critérios mínimos de rigor financeiro.

 

Neste contexto, uma redução e um apertar das exigências a este nível parece razoável. Porém, não nos podemos esquecer de um pequeno pormenor.

 

Vivemos num País onde um dos principais clubes, está onde está e como está, porque beneficiou de algo que mais nenhum outro teve ao seu alcance. E não estou a falar de benesses autárquicas ou de financiamentos encapotados via empresas municipais, que esses, de uma forma ou outra, terão sido mais ou menos generalizados.

 

Falo de algo que, por exemplo, o clube da minha terra, coitado, não teve oportunidade de usufruir, e quase que desapareceu da face da Terra: um flagrantíssimo perdão fiscal, e a aceitação como garantia de acções, cujo valor ascendia a pouco mais de zero.

 

Vamos criar critérios rigorosos de solvabilidade financeira que fomentem uma sã concorrência entre todos os clubes? E não correremos, digo eu, o risco de deixar ir o bebé com a água do banho?

 

Este tipo de regras enquadra-se naquele conjunto em que só pensamos, quando vem alguém de fora forçar.

 

O monsieur Platini fala em impor regras impopulares de fairplay financeiro. Pode ser que sim. O problema é que o senhor Platini é eleito, logo fará aquilo que quem vota em si mandar.

 

Agora se os nossos amigos germânicos, que já andam picados com o Real Madrid, calham a dedicar uma especial atenção a este assunto, a coisa pode começar a piar mais fino. Aí sim, ainda haverá esperança a esse nível.

 

Quanto à questão dos jovens nacionais e estrangeiros, é sem dúvida inadmissível aquilo que se vai vendo nos dias que correm. Contudo, aqui a questão ainda me parece mais estrutural, indo para além da mera componente desportiva e entroncando até na sociológica.

 

Para lá das questões inerentes aos negócios e às comissões dos empresários, há a questão demográfica. Se se fecham escolas, porque cada vez há menos miúdos, é perfeitamente natural que, cada vez menos joguem futebol, ou que o façam de forma espontânea.

 

Apesar de começarem a frequentar em tenra idade as escolas de futebol dos famosos ou dos clubes, a concorrência com outros tipos de actividades é enorme. E o futebol, antes um veículo até de ascensão social, deixou de o ser.

 

Desde sempre que grandes futebolistas nasceram em bolsas de desfavorecimento social. E é isso que, a evolução da nossa própria sociedade, foi pondo em causa, ao passo que para os jovens oriundos de África ou da América do Sul, ainda se poderá prefigurar um Eldorado.

 

Nesse aspecto, a austeridade e a troika, ainda são capazes de prestar um serviço considerável ao futebol nacional. Quando não houver dinheiro para escolas de futebol, pranchas disto e daquilo, playstations, wiis, restam as bolas.

 

Tudo isto, que é de La Palisse, para exemplificar que a questão da reestruturação dos moldes competitivos, nas suas várias vertentes, tem um cariz estrutural.

 

A questão dos direitos televisivos, poderá eventualmente ser estruturante, para atingir este desiderato. O dinheiro a entrar nos clubes mais pequenos, por via dos direitos televisivos, poderá dar um contributo na observância dos requisitos financeiros que venham a ser estabelecidos.

 

Agora, quanto a mim, ainda que as duas coisas possam relacionar-se, a (re)negociação dos direitos televisivos não tem necessariamente de estar, nem deverá estar dependente, de uma mudança estrutural, sob pena de cairmos no costumeiro imobilismo.

 

O deixar tudo na mesma, enquanto não se mexe, não me parece razoável, e, lá está, vai claramente beneficiar uns, em desfavor de outros.

 

Uma coisa é, ao contrário do que parece pretender a Liga de clubes, vá-se lá saber porquê, rasgar os contratos existentes, à la Vale e Azevedo. Outra bem diferente, é cumprir o que está assinado ou reformulá-lo a contento de todas as partes, e então sim, reestruturar o que houver a reestruturar.

 

Dito isto, continuo a achar que os direitos televisivos, na ausência de mais do que um concorrente interessado na sua aquisição, deveriam ser sujeitos a uma negociação colectiva, sendo os clubes representados pela entidade que os superintende – a Liga de clubes.

 

Por outro lado, preocupa-me que a Liga de clubes “pareça” interessada em prosseguir este caminho, apenas como parte integrante de uma estratégia negocial particular de alguns, a quem, no fundo, o que interessa fundamentalmente, é a manutenção do status quo.

O pastor de gambuzinos

18
Abr12

 

 

Para dizer a verdade, quando comecei a ver futebol Pinto da Costa ainda não era presidente do FC Porto. A bem dizer, sei que era Américo de Sá, porque li a história do clube, e pouco mais.

 

Contudo, tal como a maior parte dos colegas da bluegosfera, o primeiro presidente que conheci, conscientemente, foi…Pinto da Costa. Obviamente.

 

Recordo-me do Verão quente de 80, de ficar altamente traumatizado pela saída do clube do António Oliveira e do Fernando Gomes, e pior ainda, da derrota na final da Taça de Portugal, que esteve marcada para o Porto, depois para Lisboa, e que acabou por se realizar nas Antas, onde o César nos lixou. Na nossa própria casa, caramba!

 

Mas a primeira figura, digamos de referência, que tive, sem ser jogador, foi o José Maria Pedroto. Depois sim, veio Jorge Nuno Pinto da Costa. É incontornável.

 

Vendo aquilo que foi sendo dito e escrito por estes dias sobre Pinto da Costa, tudo aquilo que possa dizer agora é chover no molhado. Não adianta, nem acrescenta grande coisa.

 

Prefiro então, dar um exemplo prático, recente, do porque o admiro.

 

No início do mês, quando a contestação ao Vítor Pereira (o nosso treinador, e não o outro!) amainou com as vitórias sobre o Olhanense e o SC Braga, veio Pinto da Costa, saiu daquele papel de forrar fundos de gaiolas de periquitos, um arroto azedo, pretensamente sob a forma de notícia, a dar conta que, mesmo vencendo a Liga, o treinador estaria de saída no final da época.

 

Para além do comunicado oficial, veio Pinto da Costa acrescentar mais qualquer coisa, não só desmentindo contactos com outros treinadores, mas, como quem não quer a coisa, aproveitando para afiançar que “se há algum treinador a ser contactado, não é pelo Futebol Clube do Porto”.

 

Assim. Sem mais. Sem adiantar nomes, ou mais pormenores. O certo é que, ainda assim, houve quem se visse na necessidade de vir segurar o seu próprio treinador para a próxima época.

 

"Saída de Jesus? Só se ele morrer", apressou-se a asseverar o Vieira. A carapuça serviu? Ou terá sido apenas um acto reflexo de alguém que revela bastas dificuldades em enxergar para lá do seu umbigo?

 

Indiferente, Pinto da Costa volta há carga, referindo haver um clube interessado na contratação do Leonardo Jardim, mas que, ao contrário do que por aí corre, não será o nosso.

 

Contrariando a corrente e preocupado, como sempre, com os ardis do presidente do FC Porto, a alcoviteira-mor do futebol português, Rui Santos, qual bom samaritano na sua boa acção do dia, adverte que "Pinto da Costa nunca adormece".

 

Perante a “tentação das turbas em crucificarem o treinador”, avisa que o clube “tem que perceber que se quiser criar condições para perder Jorge Jesus, alguém pode aproveitar-se disso”.

 

Isto, quando o próprio diz, como se pode ver na capa acima, que “Por mim não saio daqui!”. É claro que o “por mim”, é sempre muito relativo.

Pinto da Costa é isto mesmo. Desconcertante. Num dia, vêem-no interessado em Leonardo Jardim, no outro em Jorge Jesus. Os seus adversários e ódios de estimação não lhe conseguem resistir.

 

É tal o receio que por ele nutrem, que fala, comenta, riposta ou apenas respira, e alguém tem que lhe vir dar resposta, alguém tem de vir gritar: “Aqui d’el Rei!”

 

Há alguns que se dedicam à caça ao gambuzino. Ele não. Apascenta-os, doma-os e lança-os de volta para de onde vieram.

 

Por acção ou por omissão, em pessoa ou em espirito, está sempre presente nos pesadelos mais negros de alguns e nos sonhos azuis e brancos de outros.

 

“O sonho comanda a vida”, que venham mais trinta anos de sonhos…

O que falta do que está para vir

17
Abr12

Com regularidade, a trancas e barrancas, temos o título de campeão nacional a quatro jornadas de distância e interpõem-se entre nós e esse objectivo quatro equipas: o Beira-Mar, em casa; o Marítimo, nos Barreiros; o Sporting, novamente em casa; e o Rio Ave, em Vila do Conde.

 

Dada a almofada pontual de quatro pontos que temos em relação ao segundo classificado, bastam-nos três vitórias ou duas vitórias e dois empates, ou menos que isso, dependendo dos resultados dos nossos rivais.

 

Assim sendo, dediquei-me a dar uma vista de olhos ao nosso histórico de confrontos com estes adversários, mais concretamente, aos nossos dez últimos embates com aquelas equipas, cuja análise passo de seguida a fazer.

 

 

Com os aveirenses, nas últimas dez vezes em que nos encontrámos a jogar em casa, temos sete vitórias, um único empate, na primeira época do rol – 1993/1994, e duas derrotas: em 2004/2005 e 2001/2002.

 

Em 2001/2002 acabaria por sagrar-se campeão nacional o Sporting, do Boloni, com o Jardel como melhor marcador da prova, enquanto do nosso lado o treinador era já o José Mourinho, então ainda a congeminar o sucesso das épocas que se seguiram.

 

Neste jogo ficou para a posteridade uma magnífica exibição do Carlos Xistra, que marcou "A origem do xistrema".

 

Em 2004/2005, as faixas de campeão ficaram no Estádio da Lucy, com uma passagem pelo Algarve. O jogo foi à 13.ª jornada e o nosso treinador era o Victor Fernandez, que pouco tempo depois haveria de ser campeão do Mundo em Tóquio, e a seguir, despedido.

 

O golo do Beira-Mar foi obra do Beto, que na época seguinte se mudou para o clube campeão nessa temporada, onde permaneceu duas épocas, com Koeman e Fernando Santos. Prémio ou wishfull thinking?

 

 

Com o Marítimo em terreno forasteiro, temos cinco vitórias, três empates e duas derrotas: em 2009/2010 e 2002/2003.

 

O campeão de há duas épocas foi o mesmo de 2004/2005, e fomos derrotados por um golo na própria baliza do Rolando. A ter em consideração…

 

Em 2002/2003 fomos campeões, o primeiro título do José Mourinho. Não me lembro das incidências da partida, mas o Deco e o Pepe, na altura ainda nos madeirenses, acabaram expulsos.

 

 

Seis vitórias, três empates e uma derrota, é o nosso saldo entre muros contra o Sporting. A única derrota ocorreu em 2006/2007, sob a batuta do Jesualdo Ferreira, na sua época de estreia entre nós. Ainda assim fomos campeões.

 

 

No Estádio dos Arcos, o score é mais tremido. São quatro vitórias, cinco empates e também, apenas uma derrota. Esta aconteceu com o Mourinho, em 2003/2004, à 33.ª e penúltima jornada, quando éramos já campeões e o pensamento estava em Gelsenkirchen.

 

Tudo somado, são 22 vitórias, 12 empates e seis derrotas, em quarenta jogos. Apenas nas duas épocas em que perdemos com o Beira-Mar (2001/2002 e 2004/2005) e numa daquelas em que fomos derrotados pelo Marítimo (2009/2010), não nos sagrámos campeões.

 

Bem, se, para além de entediados, ficaram animados com o que leram até aqui, esqueçam.

 

Não interessa para nada. O que lá vai, lá vai, e o que interessa é o que aí vem.

 

E o que aí vem são quatro jogos que são para ganhar, e mais nada. Até porque, uma vez ultrapassado na próxima jornada o Marítimo, desconfio que o nosso principal rival muito dificilmente perderá pontos nos três últimos desafios.

 

A nosso favor temos:

 

a)    Quatro pontos de vantagem, que na prática são cinco;

 

b)    O Danilo, que ao que consta, parece estar recuperado, e que, juntamente com o Alex Sandro, tem quatro jogos para confirmar a presença nos Jogos Olímpicos de Londres;

 

c)    Literalmente, menos gordura no plantel, com o encosto definitivo do Cebola;

 

d)    O facto de ao clube mais difícil que vamos enfrentar fora de portas – o Marítimo, lhe tocar na jornada que imediatamente antecede esse jogo, o segundo classificado, com todas as consequências que daí poderão advir;

 

e)    O jogarmos em casa com o Sporting, podendo fazer a festa do título nesse jogo, que sendo contra um grande ou coisa que o valha, deve ter uma envolvente motivacional assegurada.

 

Faltam quatro jogos (ou menos) para o septuagésimo primeiro título. Uma bela forma de festejar trinta anos de presidência.

 

 

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