Quando a desinformação começa em casa
“[Miguel Relvas] alegadamente, representa o lobby angolano que, alegadamente terá também interesse em financiar o PSD.
Como nas autarquias não há obras, consequentemente não há sacos azuis para financiar as eleições internas dos partidos. (…) os partidos do arco do poder viraram-se para o capital angolano, o que explica a arrogância de Miguel Relvas em relação ao que anteriormente era a base do PSD: os autarcas.
Há também dentro do PSD oposição interna, embora discreta. Paula Teixeira da Cruz e Miguel Macedo, são alegadamente os inimigos mais sonantes de Relvas e da sua facção e modus operandi. Não que sejam uns santinhos, apenas representam interesses diferentes. Se Miguel Relvas cai, Passos Coelho fica à mercê do aparelho do PSD. Se Relvas deixa de o controlar, imaginem o quão frágil se torna a posição de Passos...Por isso, penso que esta demissão não irá existir, nem se por hipótese, o próprio a quisesse. Ângelo Correia e os seus não vão deixar o partido à mercê da linha do Balsemão, depois de tanto esforço para conquistar o aparelho para o seu lado, não estou a ver uma oferta de mão beijada”.
(retirado do texto "Risco sistémico", publicado no blog "artigo 58")
Quando aqui há tempos comentei, no texto "Mariquinha, vem comigo pr'Angola", o veto de Luís Filipe Vieira a um torneio a realizar em Angola, supostamente promovido pelo agora na berra, Ministro Miguel Relvas, fi-lo em grande parte, porque estranhei a intermediação ministerial deste no processo.
Tendo em conta duas constatações. As boas relações que o clube que preside mantém (mantinha?) com aquele estado, e que até terão concorrido para que participasse, há duas épocas atrás, nos festejos do 35.º aniversário da sua independência.
E, além disso, o desprovido de sentido que me pareceu vetar um torneio, como retaliação à comichão que ao dito indivíduo havia provocado, o facto de aquele governante ter jantado com Pinto da Costa, Joaquim Oliveira, Judite de Sousa e Fernando Seara, após a vitória do FC Porto no Estádio da Lucy, selada com o golo do Maicon, naquilo que, aos seus olhos, teria configurado uma comemoração ostensiva, e pelos vistos, ofensiva.
Coloquei então a hipótese de se tratar de “uma maneira de procurar chegar a uma situação artificial de quid pro quo com a actual liderança política da nação”.
Pois bem, admito que as tricas da política, apesar de bem mais importantes para a vida de todos nós, me interessam bem menos que as futebolísticas, portanto, por vezes denoto lacunas bastante óbvias a esse nível.
Quando fiz aquela suposição, não havia ainda lido o texto acima transcrito. Mas, como não estou aqui para lançar lebres ou atoardas sobre o que quer que seja, parece-me que será de bom tom penitenciar-me, e acrescentar mais alguns dados àquilo que então disse.
O conteúdo do texto, bate certo com a argumentação que ouvi uma noite destas a José Luis Arnaut, em debate com Luís Fazenda, a propósito também do caso das secretas.
Dizia, inocentemente, o presidente da Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Futebol, que ao mexer em dossiers problemáticos como a reforma autárquica e na privatização da RTP, o coitado do Relvas terá cutucado as feras com paus demasiadamente curtos, e estará por isso, a levar o troco.
O problema, parece-me a mim, não será tanto o “deixar o partido à mercê da linha do Balsemão”, mas antes o desinteresse total que este terá em ver a RTP privatizada, e dividir com mais um operador privado, o já de si curto mercado publicitário, ou deixar a televisão do estado ir parar às mãos da concorrência.
Falando-se em Angola, necessariamente terá de se falar em Isabel dos Santos, que ainda recentemente reforçou as suas posições accionistas na Zon e no BPI.
Como se pode ler no artigo, em termos de programação, as grandes apostas da Zon, para conquistar audiências em terras angolanas, serão a SporTV e os canais TV Cine.
A SporTV, como é por demais sabido, é detida pela Controlinveste, de Joaquim Oliveira, e pela Zon. Assim sendo, o convívio entre Miguel Relvas e Joaquim Oliveira, parece fazer sentido, independentemente da sua associação a quaisquer festejos que estivessem em curso.
Por outro lado, para além de reforçar a sua posição no BPI, de que Américo Amorim foi fundador, e detentor de capital, até há uns anos atrás, Isabel dos Santos é, em parceria com o homem mais rico de Portugal, a feliz proprietária do BIC, a quem caiu no regaço o (des)nacionalizado BPN. A este somam-se outros negócios em conjunto, nomeadamente na área da energia e do petróleo.
Américo Amorim é membro do Conselho Consultivo do FC Porto. É demasiado rebuscado para chegarmos a algo que justifique a presença de Pinto da Costa no dito repasto.
Acontece que o FC Porto é também ele, proprietário de um canal de televisão. Gravitando a temática em torno do meio audiovisual, será por aqui o caminho? Quente ou frio?
Ficavam então, apenas explicar as presenças de Fernando Seara e Judite de Sousa. Bem, esta última, para além de portista, trabalha no ramo. Será suficiente? Não parece.
E Fernando Seara? Deixava-se arrastar para um jantar destes, apenas para acompanhar a esposa?
É um facto que lá para os lados do Estádio da Lucy, vão aparecendo novas vozes descontentes com o presidente e com o treinador.
José Veiga e António Figueiredo foram os primeiros. Agora é Bruno Carvalho, o concorrente derrotado no último plebiscito, que também tornou a assomar-se, comparando a situação actual do seu clube à Coreia do Norte e à Venezuela. Convenhamos, num clube que se arvora em paladino da democracia, até nos tempos em que cá no burgo o regime era ditatorial, fica mal!
Querem ver que o Fernando Seara ficou ressentido por ter visto hipotecadas as suas hipóteses de ir até ao fim com a sua candidatura à Liga e/ou à Federação Portuguesa de Futebol, vendo-se relegado da corrida pelos apoios ao “portista” Fernando Gomes e a Carlos Marta?
Quererá Fernando Seara constituir-se como uma “quarta via”? Logo ele, que tem estado com todos os presidentes de Damásio a Vieira, passando por Vale e Azevedo?
O que é certo é que, neste momento e num futuro próximo, pelo menos até ao acto eleitoral, o destino daquele clube e a sua capacidade para enfrentar a próxima temporada, está muito mais nas mãos de Joaquim Oliveira, do que o contrário.
Sem prosseguir a estratégia usual de antecipação de receitas, garantida pelos fundos da Olivedesportos e sem fundo de estrelas que lhes valha, as contratações, a havê-las, terão de ter como contrapartida vendas. Com Witsel reservado para o Real Madrid, restam o Gaitán, e como hipóteses mais remotas, o Rodrigo ou o Nélson Oliveira.
Ainda que se façam rogados, o contrato com a SporTV, é a única bóia de salvação que se avista. Única, exceptuando um qualquer milagre, claro está.
O que é que isto nos interessa? Como se costuma dizer no Brasil, “pimenta no cú dos outros é refresco”!
Vamos aguardar serenamente, com ou sem o Sereno. Vai-se a ver, ainda vamos ter o Porto Canal a internacionalizar-se para Angola.
Fica assim feita, em jeito de mea culpa, e para que a desinformação não comece em casa, a rectificação devida àquilo que disse antes.
Afinal de contas, nestas coisas que envolvem Angola e nos tempos que correm, o Ministro das secretas e dos aventais, é capaz de ter um papel bem mais relevante que quem boicotou o torneio.
Nota: Para quem tenha interesse no assunto, mais informações sobre Isabel dos Santos.