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Encefalopatia hipóxico-isquémica perinatal. Dito e lido assim, até parece um bicho de sete cabeças. Mas não é.
Apenas e tão somente, resume-se a todas as coisinhas más que podem acontecer, Diabo seja cego, surdo e mudo, no ante, durante e pós-parto, como resultado da privação do afluxo normal de oxigénio ao cérebro.
Nos casos mais graves acaba em paralisia cerebral. Nas situações mais leves, ainda assim, pode provocar, e provoca mesmo, garanto-vos, danos irreversíveis.
Nos primeiros tempos, em que os indicadores de desenvolvimento são visíveis essencialmente ao nível motor, os desfasamentos que se notam não são significativos. Uma semana, semanas, um mês, três meses.
Com o passar do tempo, à medida que as coisas se começam a centrar mais na componente cognitiva, a décalage torna-se mais sensível. Seis meses, um ano, até à irremediabilidade.
Um "atraso mental", na verdadeira acepção da palavra. Que, no fundo, nada mais é que uma incongruência notória entre a idade cronológica e a idade cognitiva.
Ou seja, nada daquilo que pejorativamente, usualmente se quer fazer significar pelo termo, e que não passa, em grande parte, de desonestidade intelectual.
Somemos-lhe uma septissémia natal, e já agora, cataratas congénitas em ambas as vistas, consequência directa da oxigenação artificial, e que, ainda que intervencionadas, a perda total de visão num dos olhos é cada vez mais uma realidade iminente.
Bem sei que há casos muito mais graves. Muito mais graves e pungentes mesmo. Mas, convenhamos, é muito para um menino apenas a caminho dos cinco anos. Demais, mesmo.
Como é que se explica a um menino dessa idade, enquanto vê o irmão gémeo e os colegas do ano anterior, a entrarem todos para a sala dos cinco anos, chamando-lhe "bebé" de caminho, que vai ficar na dos quatro anos, mas que até teve sorte, pois podia ser muito pior?
Só espero que um dia seja capaz de entender e de ter em si a capacidade de perdoar por tudo aquilo por que tem passado.
Oxalá não me levem a mal por este desabafo. Este texto foi escrito, mais coisa, menos coisa, há cerca de um ano.
A intenção, para além de extravazar o que ia na alma, era também dar uma satisfação devida, àqueles que por aqui passavam e não encontravam nada de novo.
Na altura, não tive coragem de o publicar. Hoje sim, o rapaz está com seis anos e há motivo para o fazer, por isso quero assinalar assim este dia.
Talvez tenham cá vindo desta vez, à procura de algo sobre o Kelvin, o Atsu, o Iturbe ou o Castro. Lamento desapontá-los.
Há um menino muito, muito valente, que deve ter sofrido muito mais do que todos eles, e que certamente irá continuar a sofrer.
Mas dá luta. E sorri. Ele pode dizer que é do Benfica, mas, sem menosprezo para com o mano, é, e será sempre o meu Dragãozinho d' Aço.