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Lamento muito, mas tenho más notícias para aqueles que, por pouco mais do que pura fé, tomaram as dores do nosso treinador, e resolveram desatar a deitar loas à bendita da rotatividade.
As notícias também não são boas para os que viam no projecto por ele encabeçado, o regresso ao futebol de toque e de posse.
E para os que acreditam que tem uma idéia bem definida do que pretende para o futebol da equipa, as novas também não são igualmente as melhores.
Lopetegui não tem uma idéia para o futebol que quer ver implementado na sua equipa. Tem várias. E elas sucedem-se em catadupa, quase que atropelando-se.
No início da temporada, com Rúben Neves e aquando da pré-eliminatória da Champions, o futebol de posse parecia ser o desígnio pretendido.
A seguir, entrou em cena a rotatividade, e o modelo de posse foi-se verticalizando, dando lugar, intermitentemente, a um futebol mais directo. Este terá atingido o seu auge na partida contra o Estoril-Praia, em que o meio-campo ficou reduzido a duas unidades, e as transições ofensivas ficaram quase exclusivamente a cargo do Herrera.
A título de exemplo, peguemos nesse e no jogo contra o Nacional da Madeira.
Contra os madeirenses tivemos o meio-campo mais ofensivo da temporada: Casemiro; Óliver e Quintero.
Se bem percebi a intenção de Lopetegui, a jogar no Dragão, e contra um adversário que alinha com três unidades na linha de ataque, seria, quando em posse de bola, fazer subir os dois centrais até à linha divisória, com Casemiro a juntar-se-lhes, formando um trio.
Sendo o meio-campo oposto, com um duplo pivot mais destrutivo que construtor, pouco dado ao transporte de bola, ficava apenas o Gomaa, mais para lançar os avançados do entrar em progressão individual.
Estreitando o espaço de manobra dos três avançados alvi-negros, ficaríamos detentores de superioridade na zona intermédia com o avanço dos nossos laterais e o Quintero e o Óliver a funcionarem como médios interiores, sempre do meio-campo para diante.
A coisa parecia estar bem pensada. Mas falhou. E, estupidamente, falhou pelo motivo mais idiota que se possa imaginar: marcámos um golo cedo, aos 9 minutos de jogo.
A partir desse momento, o Casemiro foi o primeiro a desposicionar-se, avançando para terrenos que não seriam os seus, o Quintero raramente pegou no jogo, e o que salvou o naufrágio total do meio terreno foi a exibição do Óliver.
Lopetegui teve de emendar a mão, lançando a jogo o Herrera, e a coisa recompôs-se, não sem que tenhamos sofrido alguns calafrios.
Contra o Estoril, pelos vistos, ao que se sabe agora, sem poder contar com Óliver e Quintero nas melhores condições, teve de mexer na equipa e dar a titularidade a Adrian e Herrera.
O Estoril, apesar de também utilizar o duplo pivot, optara nos últimos jogos, apenas por um avançado, o Kléber, e contra nós o Tozé, fazendo um 2 x 3 x 1, onde os homens das alas partem mais de trás que os nacionalistas, e são obrigados a um vaivém constante.
Contra uma equipa que vinha de disputar um jogo europeu, talvez a lógica tenha sido, um pouco à la Co Adriaanse, sufocar o adversário junto à sua defensiva, lançando para diante quatro homens: Quaresma, Jackson Martinez, Adrián e Brahimi.
Uma vez mais, no papel a coisa parecia poder resultar. O raio é que os tipos do outro lado correram que se fartaram, e nunca, por nunca, se ressentiram do jogo disputado 72 horas antes. O nosso meio-campo de duas unidades, viu-se votado ao desprezo, e pouco mais houve a fazer que correr atrás do prejuízo.
Ou seja, nota-se perfeitamente que há trabalho de casa feito. Os adversários são estudados e não resta dúvida que são procuradas as soluções que, no plano teórico, terão pernas para andar. Mas algo falha.
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Para Vitor Pereira, havia quem entrasse em perda contra nós por mudar o seu ADN.
Mourinho tinha o seu esquema táctico, que balançava entre o 4x3x3, a nível interno, e o 4x4x2, para os jogos europeus, mas os princípios básicos não se mudavam.
Adriaanse, a partir do momento em que apostou no modelo de jogo que melhor conhecia, levou a sua para diante, não obstante os constantes sobressaltos provocados pela vertigem ofensiva.
Jesualdo permaneceu sempre fiel ao seu estilo de bloco mais recuado e transições rápidas.
O André Villas-Boas, apostou no 4x3x3, e para além das trocas de Beluschi por Guarín, e das rotações defensivas, pouco mais mexeu.
Por Vítor Pereira começou este flashback, e quanto a mim, foi o mais conservador de todos os nossos treinadores dos últimos tempos.
O descalabro de Paulo Fonseca começou precisamente quando foi incapaz de impôr o seu modelo de jogo de duplo pivot, que de resto, muito por força da existência de um senhor chamado Fernando, não fazia sentido.
Comecei a ver futebol no tempo em que não existiam doutorados e mestres da táctica. Existiam sim velhas raposas, como Pedroto, Manuel de Oliveira, António Medeiros e outros, com os quais curiosamente, o actual mestre da táctica nos seus tempos de jogador, raramente calçava para o onze inicial.
Eram homens dotados de uma imaginação e uma sageza táctica que de jogo para jogo, ou no próprio jogo, alteravam a forma de jogar das suas equipas, apostando com mestria no factor imprevisibilidade.
Talvez por isso, pessoalmente, agrada-me no futebol a plasticidade táctica. A repetição do mesmo sistema de jogo vezes sem conta torna-se enfandonha, e francamente, aborrece-me. Por isso mesmo, uma das críticas que sempre fiz a Vitor Pereira foi a de não ter um plano B.
Contudo, quando olho para os nossos ex-treinadores que acima mencionei, e para as suas posturas, tenho de dar o braço a torcer.
Pergunto-me se nos dias de hoje, não nos estará a faltar arrogância táctica, do género de entrar em campo e dizer:
"Estamos aqui, e jogamos assim, vocês desengomem-se como quiserem".