Diz o ditado, que “tarde, ou nunca se endireita”.
Sob os auspícios da TV online, finalmente lá consegui ver um bocado do jogo do FC Porto contra o Bordéus, ontem à tarde.
Estava ansioso por ver o “novo FC Porto”. As notícias de um FC Porto de André Villas Boas (AVB), a pressionar alto e com um reforço do papel do trinco na construção de jogo, deixaram-me de água na boca.
E fiquei desiludido. Aquilo que vi foi mais do mesmo. A continuação do FC Porto amorfo e sem rasgo do prof. Jesualdo Ferreira.
É bem certo que na equipa que jogou de início contra o Bordéus, só lá morava, julgo eu, um titular de caras, naquilo que será a equipa principal para a época que se avizinha – o Álvaro Pereira.
E ainda assim, mesmo ele acabadinho de chegar de férias, talvez, com uma semana e meia de trabalho.
Depois, dois jogadores, que para mim até seriam titulares: o Beto e o Silvestre Varela.
O resto, bem o resto é o pessoal que luta por um lugar na equipa, e que vai, quase de certeza, aquecer o banco de suplentes em grande parte da temporada: Sapunaru, Maicon, Sereno, Souza, Castro, Beluschi, Walter e Ukra.
Tendo isso em consideração, ainda assim esperava mais. Se a pressão alta é um dos princípios de jogo seguidos por AVB, esperava ver pressão alta. E não vi. Ou melhor, raramente vi.
O que vi foi o estafado 4-3-3 de Jesualdo Ferreira, a produzir o mesmo resultado que produziu na temporada passada, ou seja, nada.
A não ser que o melhor da exibição portista se tenha concentrado, para meu grande azar, até aos 30 minutos de jogo, quando comecei assistir, e o FC Porto liderava já o marcador por 1-0, com o golo do Walter.
Porque daí para a frente, não vi nada de novo ou especial. O que vi foi o segundo avançado francês a flectir para o meio, o Sapunaru a “segui-lo”, ou a ficar nas covas, e o Varela a recuar para defender, acompanhando o defesa esquerdo adversário, até quase à nossa área, e mais atrás que a posição do romeno.
Se a ideia do 4-3-3, é persistir nas transições rápidas, então algo estará mal. É muito louvável o espírito de sacrifício do extremo, mas só vi um Varela em jogo. E se o que eu vi estava lá atrás, a marcar o defesa esquerdo francês, faltava outro lá à frente para fazer a transição rápida.
Ou nesses casos atacamos só com o avançado centro e o extremo do lado oposto?
Para a segunda parte, saiu o Álvaro Pereira, que até era o capitão de equipa, e entrou o Emídio Rafael.
E aqui, um parêntesis. A braçadeira de capitão transitou para o Beluschi. Porquê? O Castro pôs alguma nódoa na braçadeira no jogo em que a envergou?
Ainda que isso não seja “o” critério a seguir, não era o jogador em campo com mais anos de casa? Porque é que a braçadeira foi para o Beluschi? Também abriu a época de saldos para capitão do FC Porto?
O miúdo é portista da cabeça aos pés, e, de certeza absoluta, sente aquela braçadeira de uma forma que o Beluschi, por muitos anos que fique entre nós, nunca sentirá.
Fait divers concluído, na segunda parte não vi nada ao FC Porto. Não vi uma jogada com princípio, meio e fim (princípio e meio, já não era mau!). Não vi ninguém do meio-campo a pegar no jogo, capitão de equipa Beluschi incluído, e dei por mim a pensar porque é que terão sido dispensados Tomás Costa e o Valeri, se o que os distingue deste artista é, fundamentalmente, a originalidade dos penteados.
Um jogador que é organizador de jogo, pega no jogo e leva a equipa para diante. É daquelas coisas que lhe estão no ADN. E se é assim, fá-lo mesmo quando o treinador tenta refrear-lhe os impulsos. Está-lhe no sangue.
Não vejo isso no Beluschi. Não sei em que posição jogava na Argentina ou na Grécia, mas pelo que vejo, não me parece ser um construtor de jogo, antes um finalizador.
Nem nele, nem em nenhum dos que jogaram ontem. O FC Porto não saiu uma vez a jogar com a bola controlada da defesa. As reposições de bola em jogo foram feitas através de pontapés do guarda-redes, ganhos pela defesa francesa (contra um único avançado centro, estava-se mesmo a ver!), e depois faltaram os médios capazes de recuperar a bola.
Não deu para ver que tipo de jogador é o Souza, porque, não sei se lhe deram instruções nesse sentido ou não, mas parecia amarrado a meio-campo. Era passar a bola, normalmente para o lado, e muito raro, para diante, e regressar à posição inicial frente à defesa. É irmão gémeo do Fernando? É que se é assim, um já bastava. E o tal transporte de bola pelo trinco? Onde é que ficou?
No fundo, para meter a bola lá à frente, continuamos na mesma: ou pontapé do guarda-redes, ou pelas alas. Quando pelas alas não dá, como ontem, porque o Varela rebentou (obviamente!) e o Ukra, não se conseguiu mostrar, resta o pontapé do guarda-redes.
Mas não houve nada de bom? Claro que houve. O golo do Walter. Se, como ele disse no final da partida, há dois meses que não entrava em jogo, e na estreia marca logo um golo, então foi óptimo.
E, uma jogada na segunda parte, em que efectivamente saiu a pressão alta sobre o trinco adversário. Não recuperámos a bola directamente da pressão feita, mas levou-se o oponente a cometer um erro no passe, e só não deu uma jogada de maior perigosidade por que o Castro se atrapalhou.
Mas atenção, porque neste exemplo de pressão alta, salvo erro, estiveram envolvidos, fundamentalmente o Castro, o James e o Beluschi, e viu-se o fosso que se cavou entre a linha média pressionante do FC Porto e a sua defesa. Se tivesse corrido mal, tínhamos o Souza e a defesa às aranhas.
Defesa às aranhas é uma coisa que acho que vamos ter amiúde, com ou sem Bruno Alves. Com Bruno Alves temos a defesa da época passada. Lembram-se?
Sem Bruno Alves, o Sereno fez o favor de mostrar, no segundo golo do Bordéus, porque é que não é jogador para o FC Porto. Tem, de facto, mais presença e mais lata que o Rolando, para sair com a bola controlada, mas…não sabe fazê-lo.
Dito isto, há uma questão, que já foi colocada, quanto a mim, com bastante pertinência neste artigo,"A praga do 4-3-3", no blog "Mistica do dragao", e hoje, aqui: alguma regra, vínculo contratual, promessa, nos obriga a jogar em 4-3-3?
Bem sei que o modelo 4-4-2, é difícil de implementar, que gera desequilíbrios, e força compensações, e outras balelas, mas bolas, não se pede o “tiqui-taca”, ao primeiro ensaio!! Não se pode, ao menos, pensar no caso?
O Cristián Rodriguez, ao que consta, no PSG jogava mais recuado, mais na linha de um médio, do que de um extremo puro. O Ukra, não me parece que tenha grandes dificuldades em recuar um pouco no terreno.
O mais prejudicado seria, talvez o Varela, que é o extremo mais puro. O James Rodriguez, daquilo que vi, não fiquei com uma ideia concreta.
Colocando o Hulk como segundo avançado, ganharíamos um poder de penetração e capacidade de remate, pelo centro, que desta forma não temos, e tanto o João Moutinho, como o Ruben Micael, já mostraram no Sporting e no Nacional da Madeira, que, a espaços, são bem capazes de estender o jogo até à linha de fundo.
Esta opção teria ainda a favor a possibilidade de optar pela ala onde colocar o “extremo”, consoante jogasse o Cristián, o Varela, o Ukra, ou outro, retirando previsibilidade ao modelo de jogo a adoptar.
Há ainda outro pormenor que gostava de ver, digamos que, erradicado. Após o jogo com o Paris Saint-Germain, o treinador do FC Porto veio queixar-se da bola e do terreno de jogo.
Agora foi a arbitragem que mereceu reparos. Tudo bem. São coisas que acontecem.
Das arbitragens nem vale a pena falar, tal é a frequência com que as queixas se multiplicam.
Ainda recentemente, durante o Mundial, terão sido poucos os que não se queixaram da “Jabulani”. O guarda-redes brasileiro chegou mesmo a dizer que parecia uma daquelas bolas que se compram no supermercado.
O próprio, o ilustríssimo e altíssimo Jorge Jesus, após o jogo da sua equipa em Alvalade, queixou-se da “relva fofa”, que dificultava a circulação de bola, lembram-se?
Talvez não. E os senhores do “Record” também não se recordam certamente disso, porque, pelo que vi na edição de ontem, as declarações do treinador portista foram suficientes para se ver galardoado com uma medalha de lata.
Um daqueles prémios de e para idiotas do “Record”.
Ou seja, isto começa a soar a déjà vu. Vamos revisitar a época passada?
O Benfica a ganhar a Taça da Amizade, a Summer Cup, a Taça do Guadiana, e dê lá por onde der, a Eusébio Cup, e um certo cheirinho a andor, colinho, ou lá o que seja.
O treinador do FC Porto terá que fazer um esforço de contenção, porque tudo o que fizer, não fizer, pensar fazer, ficar na dúvida se é de fazer ou não, vai ser aproveitado para colocá-lo em causa.
Se a sua tarefa, mesmo sem esses pormaiores, é já de si complicada, será melhor que se previna, para não dar flanco a esse tipo de desajudas.
É que, para este peditório já nós demos, e, na primeira, todos caem, mas na segunda, só cai quem quer…
Pois é. Se tivermos em conta, que o primeiro golo, vai lá vai, e que o terceiro foi obtido de livre, não surpreende que o Jesus diga que:
“Assim dificilmente alguém nos segura”
. Coisas diferentes, talvez...
. Quando uma coisa é uma co...
. O acordo necessário e a n...
. FC Porto 2016/2017 - Take...
. A quimera táctica do FC P...
. No news is bad news, (som...