Li em local mais que fidedigno (no "Reflexão Portista"), que Carlos Móia, presidente da Fundação Benfica, terá afirmado em Ovar, numa casa daquelas que se devem evitar, qualquer coisa como isto:
“Ser do FC Porto era ser o que o FC Porto era: um clube a fechar-se dentro de uma região, a olhar todo o resto de Portugal como um espaço de inimigos em delírio, de mouros a abater. O Benfica dava-me a imagem oposta: a ilusão de um universo sem limites”
E fiquei pasmo. Contextualizando aquelas afirmações, será de salientar que foram proferidas numa cerimónia em sua homenagem (é natural de Ovar), e que as adornou ainda com mais algumas larachas sobre uma tal de “batalha por um futebol respirável” e sobre a, cada vez mais iminente (ou não, vá-se lá saber!) deslocação ao Dragão.
Portanto, tudo isto, no decurso de uma homenagem à sua pessoa, e presume-se, tendo em conta o local escolhido, enquanto Presidente da Fundação encarnada.
Ora, como Presidente da Fundação em questão, vai falar sobre o quê? Sobre o FC Porto.
Para justificar a escolha da sua filiação clubística fala de quem? Do FC Porto.
Será talvez pela maior proximidade de Ovar à cidade do Porto do que a Lisboa?
Ao que consta, nessa época o FC Porto se fechava “dentro de uma região”, havia na mesma cidade que alberga o clube do seu coração, um outro grande clube que poderia tê-lo atraído.
Nesse outro clube, provavelmente por esses dias em que (ainda bem!) fez a opção da sua vida, até brilhavam uns tais de “Violinos”, que incentivavam a adesão de muitos adeptos.
Porquê então a comparação com o FC Porto, ainda que esta, no fundo, no fundo, só nos orgulhe e enalteça? Não se percebe.
A não ser que, seguindo o mesmo processo de raciocínio retorcido utilizado para justificar o pedido de 2.500 bilhetes para o Dragão, o homem afinal seja portista (vade retro Satanás!) desde pequenino.
Pois se as declarações do André Villas-Boas são, como dizem, uma manifestação de benfiquismo, não querem lá ver que temos um portista infiltrado na Fundação papoila? Ou será só uma obsessão psicótica?
Outra fixação é a tal estória da “batalha pelo futebol respirável” (ou pela “verdade desportiva”), que, pelos vistos, também serve de justificação para o tal pedido de bilhetes.
Dizem os filósofos, à séria, que podem coexistir em simultâneo várias verdades. No futebol é fácil verificar que tal se passa assim, e nem é preciso recorrer a esse outro grande filósofo, que foi Pimenta Machado, e que disse um dia que “o que é verdade hoje, é mentira amanhã”.
Basta observar o comportamento ziguezagueante dos que se dizem bater pela “verdade desportiva”, para concluirmos que este facto é indesmentível. Ou então, que estamos perante sérios casos de esquizofrenia!
Relembro o que dizia na sua alínea b), o famoso comunicado do plenário dos órgãos sociais do maior clube do Mundo dos arrabaldes de Carnide:
“b) (…) Face à adulteração da verdade desportiva, queremos pedir aos sócios e adeptos do Benfica que continuem a apoiar, de forma inequívoca e sem reservas, a equipa nos jogos que o Benfica realiza no Estádio da Luz, mas que se abstenham de se deslocar aos jogos fora de casa.
A equipa já sabe que vai ter de lutar contra muitas adversidades, algumas previstas, outras totalmente imprevistas – já o sentiu neste início de época – e vai conseguir superá-las, mas os sócios e adeptos do Sport Lisboa e Benfica não devem continuar a ser lesados económica e emocionalmente.
A nossa ausência será o melhor indicador da nossa indignação”
(sublinhados meus)
Ou seja, quando se pede aos sócios e adeptos “que se abstenham de se deslocar aos jogos fora de casa”, na falta de indicação em contrário, presumir-se-ia que se tratam de todos os jogos fora de casa, incluindo o que se vai disputar no Dragão.
E porquê? Para que os sócios e adeptos não continuem “a ser lesados económica e emocionalmente”.
Salvo se o comunicado contiver algum acrescento em letrinha minúscula, como certos cérebros, não é feita qualquer distinção entre os clubes que algum dia incerto, poderão ou não, vir a bater-se pela ditosa “verdade desportiva”.
No entanto, vêm depois dizer que “[o] jogo do Porto é o único que não cumpre os pressupostos em que assentou o pedido dos órgãos sociais”. Porquê? Porque “[o] FC Porto, com esta Direcção, nunca se baterá pela verdade desportiva”.
Resumindo, como o “FC Porto, com esta Direcção, nunca se baterá pela verdade desportiva”, as papoilas saltitantes dispõem-se, quais São Jorges, a penetrar no Dragão, esse antro maléfico da falsidade desportiva, e a jogar contra o FC Porto.
O que é que se ganha então com tão profiláctica medida?
O FC Porto, que não se bate, nem baterá em tempo algum, com esta Direcção pela “verdade desportiva”, vai poder beneficiar desse magnífico bodo aos pobres, que representa a visita da “Instituição”.
Os outros, aqueles que se batem lado-a-lado com os São Jorges, pela “verdade desportiva”, vêem-se privados da visita dos seus patronos. Isto parece lógico?
A mim, parece-me, no mínimo, injusto!
E ainda pode haver um jackpot por detrás disto tudo!
É que, se nos portarmos mal, e por alguma incontrolável e terrível ironia do destino, o veículo que transporta os incansáveis guerreiros da verdade, sofrer algum acidente, que não seja uma cagadela de pombo, ainda poderá dar-se o caso de fazerem meia-volta, e regressarem à Cesta do Pão, sem jogar.
Então é assim que se propõem a defender a “verdade desportiva”?
Qualquer clube pequeno ao ver isto pensará para os seus botões: “Espera, então se eu for pela verdade desportiva, os tipos não vêem cá, e fico a arder sem a receita? Que se xaringue mas é a verdade desportiva, que eu quero é o pilim!”
Pior, se começar a correr por aí que, não só os adeptos e sócios gloriosos não porão os pés nos estádios dos infiéis, mas também que se acontecer algum percalço na viagem da equipa, dão às-de-vila-diogo, e voltam para trás, parece-me bem que muitas pedradas vai levar aquele autocarro.
…e não são daquelas de que parecem estar acometidos os inspirados proponentes da medida!
É que sempre são três pontos sem espinhas!
Onde é que esta gente tem a cabeça? Como se costuma dizer, isto não é defeito, é feitio.
A começar (ou neste caso, a terminar) pelo seu putativo candidato à presidência da Federação Portuguesa de Futebol, que, em 10 de Outubro, admitia avançar, caso Madail saísse, e agora já diz: "Contem comigo!", independentemente do que venha a fazer o actual presidente.
A coerência e a consistência das posições dos indivíduos em causa, vão para além do mero contorcionismo intelectual. É como diz o título, fazem lembrar um cócó de cão, daqueles muito, mas mesmo muito ralinhos.
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