Dando um desconto à parte que trata do Mariano, isto é uma imagem fiel do que é o Sporting Clube de Portugal.
“Não esperem que eu me detenha no périplo goleador de Hulk ante a Naval quando o Sporting, com a demissão do seu presidente, me permite experimentar a consistência da expressão “aquilo não é um clube, é um romance russo”. Acabo de reler e segura-se.
Quer isto dizer que escuso perorar sobre a estranha configuração escatológica que permite que muito do ascendente de Villas-Boas no balneário se deva ao facto de ser mais velho que aquela criançada toda (só o Helton chega perto). Também escuso de mostrar preocupação com a propensão de Varela para lesões ou, pior, com a manifesta impossibilidade de encaixar Mariano Gonzalez numa narrativa confortável acerca da vida em sociedade. E acreditem que já tentei de tudo. Primeiro determinei que Mariano seria um desastre. Depois lá me fui convencendo que a sua maneira de ser desastrado era, afinal, a sua grande virtude – foi nessa altura em passei a reparar na espantosa a forma como ele consegue fazer fintas com as suas desconcertantes recepções de bola. Houve ainda uma altura em que me limitei a achar que ele era um bom jogador cujo estilo, de truculento, prejudicaria a recepção crítica dos espectadores da Sporttv – esta narrativa aguentou uma tabela, ele passou para o Lucho, desmarcou-se, recebeu a bola e aí eu tive que abandonar esta hipótese de trabalho. No fundo, Mariano é uma personagem futebolística com grande densidade caracteriológica, um gajo cheio de heterotopias naquela cabeça que nos faz questionar, a cada jogada, se os tijolos que carrega nos pés não serão meras projecções de preceitos arcaicos.
Mas voltemos ao Sporting, que isto de ter uma personagem densa para zurzir não é nada quando há todo um clube cuja reputação se estabeleceu na possibilidade de Eduardo Bettencourt sobreviver ao primeiro mês de mandato. É demasiado fácil dizer, como tenho visto por aí, que o presidente demissionário falhou em tudo. Na minha opinião Bettencourt foi uma provação à sociedade civil do Sporting, algo nestes termos: "será possível um presidente fazer merda atrás de merda durante um ano e meio sem que a massa crítica do clube o ponha a correr?". A sociedade civil do Sporting é que falhou. Positivamente. Por deus!, num clube normal um presidente que tivesse como um dos seus primeiros actos de gestão a contratação de Angulo era empalado. Um presidente que contratasse o Pongolle era mandado para Guantanamo num avião fretado pela Juve Leo. Um presidente que se lembrasse do Sá Pinto para director desportivo era atirado para o centro histórico de Guimarães com uma tatuagem do Braga na testa. Um presidente que se lembrasse do Costinha para director desportivo era obrigado a contratar o Maniche. Um presidente que vendesse o Moutinho ao Porto era obrigado a correr num ano o mesmo que a Moutinho corre num treino calmo. Um presidente que contrata o Torsiglieri pelo preço do Otamendi era obrigado a ficar com o Nuno André Coelho. Um presidente que escolhe o Dias Ferreira para presidente da mesa da assembleia-geral era obrigado a tomar café com ele todos os dias. Mas não, Bettencourt conseguiu fazer todo o tipo de asneira e demitir-se.
O facto de José Eduardo Bettencourt ter saído pelo próprio pé remete-nos para a única explicação possível: JEB abandonou uma casa há muito abandonada (excepção a Angulo, ainda a equipar-se no sótão).”
(Bruno Sena Martins, “Liga Aleixo e “Arrastão")
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