Antes de mais, uma espécie de “disclaimer”. Quando comecei a ver futebol, o ponta de lança titular do FC Porto era o Fernando Gomes. O meu primeiro ídolo no futebol internacional foi o Horst Hrubesh, avançado do Hamburgo e da selecção da, então, RFA, e o gajo que mais forte vi cabecear até hoje.
Neste momento está aberto o mercado de transferências, e para os nossos lados, o assunto do dia, tal como já o foi na época transacta aquando da lesão do Falcao, é a hipotética contratação de um avançado centro que substitua, agora a título definitivo, o melhor marcador das competições europeias de 2010-11.
No ano passado por esta altura defendi, ainda que talvez não o tenha escrito, que o homem ideal a contratar seria o João Tomás, do Rio Ave, então com 34 anos.
Caso tenham ficado surpreendidos, acrescento que, quando o Jardel regressou a Portugal para representar o Beira-Mar, fui da opinião de que, caso desse certo em Aveiro, devíamos ir buscá-lo, precisamente na janela de transferências de Janeiro, para vir acabar a época entre nós.
E isto não tinha nada a ver com alguma assomo de gratidão ou paga pelos serviços prestados. Passo a explicar.
A meu ver o FC Porto tem alguma tradição naquilo que defino como os “avançados matacões”. Aquela história do “pinheiro”, de que o Cepo que em tempos passou por Alvalade, falava e que não é de hoje. O tipo não inventou nada. Caramba, o Brasil de 1982, que foi a melhor equipa que vi jogar até hoje, tinha plantado lá na frente o Serginho, e outros exemplos não faltarão.
Quando falo em “avançado matacão” não me estou a referir a rapazes altos e toscos, como o Manniche (o original, e não aquele que só fez alguma coisa de jeito entre nós), ou o Peter Crouch, ou mesmo o checo Köller, ainda que este, disfarçasse mais do que os outros dois a tosquice.
Estou a falar de tipos altos, sim, daqueles que jogam na área, sabem cabecear, e que se mexem, mas fundamentalmente, sabem mexer a bola ou pelo menos direccioná-la com propriedade para a baliza.
Quando o Fernando Gomes foi tentar a sorte em Gijón, veio o primeiro avançado deste género que me lembro: o Mick Walsh, um cabeceador por excelência.
Depois vieram o Júlio e o Jacques, que fugiam um pouco a este padrão. Este último, apesar da sua pequena estatura chegou a melhor marcador nacional.
Seguiu-se um extenso rol de avançados, uns melhor sucedidos outros pior. Nomes como Paulo Ricardo, Paulinho César, Mielcarski (o Miguel Castro, para os amigos), Stephane Paille, Jankauskas, Pizzi e Quinzinho, por exemplo, passaram pelo FC Porto sem deixar grandes marcas.
Homens como Vinha ou Kaviedes, nem deu para perceber muito bem o que é que raio é que eram.
Tivemos também produtos caseiros. Paulo Alves, ainda que vindo como júnior do Vila Real, e tendo ficado associado quase em exclusivo, vá-se lá saber porquê, ao Sporting, Hélder Postiga, Miguel Bruno ou Hugo Almeida, são exemplos dessa produção.
No entanto, os que mais me marcaram foram claramente, Gomes, o Rui Águas, apesar de tudo, e claro está, acima de todos, aquele que podia servir de modelo, e cuja fotografia devia ilustrar o termo “avançado matacão” na Wikipedia, o Super Mário Jardel.
Coloco noutro plano outros dois que também me impressionaram. Obviamente o Falcao, e o Benny McCarthy, que não foram exactamente exemplos de “matacão”, mas sem margem para dúvidas, grandes avançados.
Dir-me-ão: “Bolas! Em tantos gajos, foram tão poucos os bem sucedidos, para quê insistir nessa tecla?”
Por vários motivos. Na época passada, o João Tomás, ou há uns anos atrás o Jardel, poderiam ser contratados por uma tuta e meia, e quase de certeza que marcavam mais golos do que o Walter marcou. O João Tomás foi o melhor marcador português da Liga, estando no Rio Ave.
No FC Porto, com a equipa montada para um ponta-de-lança (ver o artigo anterior), parece-me ser expectável que concretizasse um número razoável de golos. O mesmo valia, à data, para o Jardel.
Outro argumento que pesa na minha tese, é o facto de que, um bom avançado, de certa maneira, nasce assim. A forma como o Jardel adivinhava os lances, ele que em termos de mobilidade, até não era um portento, terá algo de aprendido e de experiência, mas tem, de certeza absoluta, muito de instintivo.
Aí, qualquer um destes jogadores não teria grande valor acrescentado, mas, naquela parte que é possível transmitir, os macetes do lugar, as movimentações, a arte de cabecear, a maneira como lidar com vários tipos de defesa, uns mais filhos-da-mãe, que outros, isso pode ser passado para os avançados mais novos.
A minha ideia era, sendo os pontas-de-lança do FC Porto jovens (Falcao e Walter ou Kléber e Walter, ou outros quaisquer), aproveitar a experiência de um homem de área mais velho, para fazer uma espécie de escola de avançados. Quem sabe, à posteriori, ponderar a integração um homem com estas características na equipa técnica.
Bolas, se há um treinador específico para guarda-redes, porque não para avançados-centro?
O João Tomás, mais ainda do que o Jardel, cuja capacidade para transmitir este tipo de experiência, me parece inferior, poderia ser o homem ideal.
“Épá, tem juízo! O gajo já tem 35 anos” – dirão. É verdade. Mas, se estão recordados, o Gomes jogou até aos trintas e tais, e, no campeonato inglês, certamente mais exigente do ponto de vista físico que o português, há uma série de exemplos de longevidade de jogadores com estas características.
Ian Rush, Andy Cole, Teddy Sheringham, e o Alan Shearer, são apenas alguns que passaram da trintena de primaveras, e continuaram a jogar. Protegendo o físico, é certo, só que fazendo uso da experiência e da ratice, em vez do vigor de outrora. Portanto…
Pronto, eu sei que aquilo que acabei de escrever é do mais naïf que pode existir, uma espécie de sonho de criança, mas, como dizia outro “avançado matacão” das décadas de 60 e 70, o falecido José Torres, “deixem-me sonhar”…
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