A análise feita pelo Jorge das contrações de inverno do FC Porto é do mais completo que pode haver. É daquelas que coisas que se assinam em baixo, sem grande receio do que, havendo-as, possa vir nas entrelinhas.
No entanto, há um pormenor que, talvez por pudor, é abordado en passant, como que não quer a coisa, e que, apesar do resultado do recente jogo contra o Vitória de Setúbal, e do bem sucedidas que foram no mesmo as mais recentes contratações, não consigo por para trás das costas.
“A aposta nestas duas contratações de último dia trazem dois pontos que não poderão ser contestados: é uma assunção de falha pela parte da cúpula na planificação da época(…)”.
Nem mais, só não me parece correcto que tal assunção se fique apenas pela “aposta exacerbada em Kléber/Walter para a solução ofensiva central”.
Sim, mas não só. Senão vejamos.
Conforme disse em tempos, parecia-me que nosso meio-campo, na anterior configuração do plantel, oferecia soluções mais do que suficientes. O João Moutinho, o Defour, o Belluschi, acrescentando alternativas como o Danilo e o Guarín, se estivesse para aí virado, daria para o gasto.
Como problemática via, antes sim, a situação do trinco, onde, para além do Fernando, restava apenas o Souza.
Ou seja, assim à primeira vista, não me parecia essencial a contratação de mais um elemento para o centro do terreno. É claro que o El Comandante não é um qualquer. E também é mais que evidente que o Belluschi tem estado esta temporada bastante abaixo da forma que exibiu na época transacta, e que quanto ao rapaz do chapéu colombiano, subsistiriam bastas dúvidas, fundamentalmente quanto à sua vontade de produzir alguma coisa de jeito.
Postas as coisas de outra forma, reparemos nas contingências que estiveram por detrás das saídas dos jogadores que deixaram o Dragão desde Agosto.
De todos, o Falcao e o Guarín, poder-se-á dizer que serão os únicos que saíram para melhor, ou equiparável ao FC Porto. O Falcao para melhores condições financeiras, e o Guarín, para uma Liga com mais visibilidade e um clube, quer se queira quer não, minimamente compatível com o nosso.
O Rúben Micael acabou por ser uma espécie de contrapeso na transferência do Falcao, como aqueles rebuçados que na mercearia acrescentavam ao prato da balança, para dar mais umas gramitas ao peso do fiambre (ou o que fosse!).
O Falcao, depois das trapalhadas e dos adiamentos sucessivos da sua renovação, era por demais evidente que já cá não morava.
Do Fucile, de acordo com o que se ouviu ao nosso treinador, terá faltado, pelo menos, empenho no trabalho durante a(s) semana(s), para além das já usuais panes mentais, de cuja espontaneidade, muito sinceramente, começo a duvidar.
Mal de nós se o Guarín, depois da telenovela de carretel colombiana que protagonizou, com a ajuda empenhada do seu empresário, continuasse no nosso clube.
Ao Belluschi, ninguém terá deixado de reparar nas mais que evidentes manifestações de desagrado aquando de algumas substituições acontecidas esta temporada.
Destes jogadores, excluindo o Falcao e o Rúben Micael, todos os demais acabaram por sair por empréstimo, o que não exclui, à priori, a hipótese do seu regresso, ainda que, a alguns deles, como o Guarín, não o queria de volta nem pintado a ouro.
Onde é que quero chegar com este palavreado todo? É muito simples. Em pelo menos três destas saídas - Fucile, Guarín e Belluschi – parece evidente que os jogadores em causa não seriam “Brise Contínuo” no balneário.
Quanto a mim, a vinda do Lucho Gonzalez, mais do que “uma revolução na mentalidade de um conjunto de jogadores que provaram não conseguir criar uma estrutura coesa em campo”, parece-me que quererá antes instaurar essa revolução no balneário, e daí sim, transportá-la para o campo.
Noutras palavras, se a única explicação, minimamente razoável que consegui encontrar para mim mesmo, como justificativa da ascensão do Vítor Pereira a treinador principal, seria por se tratar de uma solução de continuidade, por fazer parte de um grupo vencedor, e assim, de certa maneira, se situar em pé de igualdade com um plantel de jogadores, que haviam vencido praticamente tudo o que havia para vencer, essa justificação cai por terra.
Por essa via, e pela também mais que evidente “inversão pontual (?) da estratégia de vários anos” em matéria de contratações, Vítor Pereira passou a ser tudo menos uma solução de continuidade.
Neste momento, esperemos que não tardiamente, das duas, uma: ou a SAD ainda espera, a cinco pontos do líder, cujo presidente, até vai dar uma entrevista à televisão estatal, sem se perceber muito bem qual a efeméride que festeja - serão os cinquenta anos da primeira mijinha atrás da árvore em terras da metrópole do Eusébio? – recuperar o terreno perdido?
Ou, será tão somente pão e circo? Para satisfazer os apaniguados dá-se-lhes o avançado, por que tanto clamam e o El Comandante. Será isso?
Infelizmente, o que me parece evidente é que as contratações do Lucho e do Janko trazem consigo um travo amargo a fracasso, e soam-me, muito sinceramente, à confissão do rotundo fracasso que foi, não a aposta na dupla Kléber/Walter, mas sim na promoção do nosso treinador-adjunto a principal.
Não me parece que o Lucho Gonzalez venha para ser o braço do treinador dentro do relvado, ou para ajudar o Hulk, nas novas funções em que foi investido. Cheira-me antes que veio, antes de mais porque quis, e depois, para conseguir aquilo que o treinador não consegue: ter mão no balneário e motivar os colegas de equipa mais jovens, através das suas inegáveis capacidades de jogador e de líder.
Portanto, neste momento acho que estamos como após a derrota com a Naval 1.º de Maio, em 2008, em que o Bruno Alves foi no final do jogo falar com os adeptos, e a partir daí os jogadores tomaram as rédeas de um barco, que o Jesualdo Ferreira ameaçava deixar afundar, como se viu na época seguinte.
Neste momento, é isso que espero. Que os jogadores, sob a batuta do Lucho, do João Moutinho, do Hulk, etc. se assumam, e deem aos adeptos, no mínimo, as alegrias de eliminar o Manchester City e ir ganhar à Cesta do Pão.
Algo que, ou muito me engano, ou um treinador que claudica em casa com Apoeis cipriotas e Zénites sampetesburguianos, dificilmente será capaz de fazer.
Nota (actualizado em 2012.02.08): Ora bolas! Esqueci-me do Walter, caramba! Também recebeu a mais que prevista guia de marcha. Contudo, a situação do Walter não se enquadra em nenhum dos casos mencionados. O seu caso é perfeitamente retratado pela tal dupla aposta exarcebada nele e no Kléber, cuja falha terá sido assumida pela contratação do Janko (e do Lucho).
O caso do Walter foi uma aposta falhada desde o início, e a prova provada de que nem todos os patinhos feios se transformam em belos cisnes. Ainda assim, para mim, por aquilo (pouco) que fez, parece-me que tem mais arte e manha de ponta-de-lança que o Kléber.
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