Por mero acaso, no passado sábado reparei que no programa “Voz do Cidadão”, o Provedor do Telespectador se debruçava sobre as diferenças mais que evidentes, no tratamento jornalístico conferido ao prémio recebido pelo Cristiano Ronaldo no Dubai, ao internamento e ao aniversário do cidadão Eusébio da Silva Ferreira.
Ontem, no Dragão até à morte, o Dragão Vila Pouca escreveu sobre o assunto, e embora admita que “não há consequências, apenas desculpas esfarrapadas”, terão valido a pena as reclamações interpostas junto do Provedor.
Quando, em vários noticiários durante a noite, e já hoje de manhã, torno a ver o tratamento dado a novo internamento do ex-jogador, tenho forçosamente que concordar com ele.
Aqui há tempos, por andar extremamente ocupado, não tive a oportunidade de festejar condignamente o septuagésimo aniversário do personagem.
Diga-se em abono da verdade que, depois de ver festejados os 50 anos da sua arribagem a Portugal continental, os 50 anos da sua estreia pelo clube que todos nós sabemos, os 50 anos do primeiro golo marcado, os 50 anos da primeira mijinha atrás de uma árvore e os 50 anos da primeira cuspidela na rua, muito sinceramente não me restavam muitas ideias originais para festejos.
Ainda para mais quando, para cúmulo da originalidade, alguém se lembrou de fazer uma entrevista ao aniversariante, onde o dito admitiu que, enquanto jogador do Beira-Mar, no ocaso da sua carreira, se teria recusado a alinhar contra o seu clube de sempre.
Não conseguindo fazer valer os seus intentos, avisou o seu treinador Manuel de Oliveira, de que não remataria à baliza nesse jogo. E parece que assim foi.
Esta revelação terá chocado alguns. Mas porquê? - pergunto eu.
Então já se esqueceram do que se passou, mais recentemente, com o Fábio Faria ou com o Jardel? Ou por acaso, não repararam que ontem o Urreta se constipou, e não pode alinhar contra o mais grande do Mundo dos arredores de Carnide?
Tudo isto é perfeitamente normal. O que escapa de todo ao conceito de “normalidade” para esta gente, é o Atsu lesionar-se na véspera do Rio Ave defrontar o FC Porto.
Muito provavelmente, os mesmos que aplaudiram com lágrimas nos olhos, o facto do Rui Costa não festejar um golo marcado pelo AC Milan contra o seu clube do coração, serão aqueles que censuraram o Ukra ou o Rabiola, por dizerem que, caso marcassem pelo Olhanense contra o FC Porto, não festejariam.
É assim. É o que temos, conceitos variáveis de normalidade, e desportivismo de uma só via.
Do símbolo do desporto nacional e ícone do desportivismo Eusébio da Silva Ferreira, espera-se que, de quando em vez, fuja a boca para a verdade, e saiam pérolas como chamar racistas e arrogantes aos membros do clube da sua terra natal onde se iniciou na prática do futebol, ou estúpido ao Alain, por se ofender de ser chamado de “preto”.
ESCALÃO DE JÚNIORES – ÉPOCA 1958/59 Braga Borges - André - Lino Alonso - Flores (Gomes) - Bessa
- Cunha James - Manuel António - Ashok - Eusébio - Madala
Haverá sempre um Ricardo Serrado para interpretar e reinventar as patacoadas debitadas pelo cidadão em causa, pondo-lhe a mãozinha por baixo.
Para terminar, e para não me acusarem de ser tendencioso, transcrevo um artigo escrito por um sportinguista, que li, e achei interessante.
"Eusébio só há um, o da Silva Ferreira e mais nenhum.
Eusébio nasceu e em Lourenço Marques, actual Maputo, no dia 25 de Janeiro de 1942. Começou a jogar num clube/grupo do seu bairro da Mafalala "os brasileiros". Cedo perdeu o pai de modo que era a mãe, DªElisa, que desesperava por não ver o seu filhote estudar preferindo passar o seu tempo a jogar à bola. Eusébio entusiasmou-se com o destaque que teve nos "brasileiros" e dirigiu-se ao Grupo Desportivo de LM, seu clube predilecto, para jogar. Porém Eusébio não foi aceite pelos responsáveis do clube alvi-negro, filial do SLB. Sem perceber bem as razões de tal negação Eusébio dirigiu-se ao clube vizinho e rival, o Sporting Clube de LM, filial do SCP.
E foi no Sporting Clube de Lourenço Marques que Eusébio calçou as primeiras chuteiras de futebol, se fez homem e despontou para o mundo do futebol.
Citando Braga Borges (na altura colega de equipa de Eusébio) " o seu primeiro jogo oficial pelo Sporting LM foi contra o Benfica LM, na categoria de Juniores na época de 1958/59, em que o Sporting venceu por 2-0. Eusébio jogava a interior-esquerdo e tinha, como colegas de equipa, Braga Borges (GR), André, Lino Afonso, Flores (Gomes), Bessa, Cunha, James, Manuel António, Ashok e Madala". Na época seguinte, e continuando a citar Braga Borges, " ainda nos juniores do Sporting LM, Eusébio teve como colegas Braga Borges, Leitão, Bessa, Sau, James, Coelho, Delfim, Madala, Roberto Mata, Eduardo, Morais Alves e Isidro". Apesar de haver depoimentos (a começar pelo do próprio Eusébio) em como terá feito alguns jogos pela equipa de seniores ainda com a idade de junior, Eusébio subiu mesmo à categoria senior em 1960 e terá marcado 2 golos ao seu "querido" Desportivo na vitória leonina por 3-0 e foi o marcador de serviço no jogo da final contra o Ferroviário em que marcou 2 golos ao conhecido GR Acúrsio Carrelo, ex-FCP Eusébio dava nas vistas, Eusébio era cobiçado, como todas as riquezas africanas, pelos europeus.
O FCP foi o primeiro clube a mostrar interesse no jogador. Pouco depois foi a vez do SCP entrar em contacto com a sua filial moçambicana chegando a acordo para a transferência propondo que Eusébio fosse para Lisboa para um período de testes. O SLB entrou na corrida e foi directamente falar com Dª Elisa, mãe de Eusébio. O SCP ofereceu 500 contos mas Dª Elisa manteve-se fiel à palavra para com o SLB. A guerra SCP-SLB estoura nos jornais de Lisboa e esgrimem-se argumentos por ambas as partes. Antecipando-se o SLB faz Eusébio viajar para Lisboa com o nome de Ruth Malosso. Foi recebido na Portela por um dirigente da Luz e um jornalista do jornal "a Bola". Foi levado para o Algarve e lá ficou escondido ( e não "raptado" ) até a Federação dar razão ao SLB.
Bela Guttman, treinador Húngaro, lança-o, de águia ao peito, num jogo de reservas contra o Atlético em que marcou 3 golos. Uns dias depois via o SLB vencer o Barcelona, na final de Berna, por 3-2 e, pouco depois, viu, da bancada do Estádio da Luz, esse fantástico jogador Mário Coluna, também Moçambicano, dar a vitória sobre o Peñarol com um golão dos 40 metros. Na derrota de Montevideu (jogo de desempate)por 2-1 Eusébio seria o autor do golo encarnado, jogo realizado a 19 de Setembro de 1961. O SLB perdia a taça Intercontinental mas ganhava um grande jogador.
A Juventus tentou levá-lo e ofereceu 16 mil contos (muito dinheiro na altura) mas Eusébio não pôde sair por ter sido convocado para o serviço militar sendo, por isso, proibido de abandonar o País.
Na selecção estreia-se a 8 de Outubro de 1961 marcando 1 golo na humilhante derrota por 4-2 com o Luxemburgo... Após conquistar a Taça dos Campeões Europeus na memorável vitória por 5-3 sobre o Real Madrid (2 golos de Eusébio) o ponto alto de Eusébio aconteceu no mundial de 1966 em que foi o melhor marcador com 9 golos (ninguém pode esquecer a célebre reviravolta de 0-3 para 5-3 contra a Coreia do Norte em que Eusébio facturou 4 golos).
Eusébio tem títulos que não acabam. Ganhou 11 campeonatos nacionais em 14 épocas! Bola de Ouro do France Football (melhor jogador a actuar na Europa), 2 vezes Bota de Ouro (melhor marcador europeu), ´3º no Mundial, 1 Taça dos Campeões Europeus, 3 finais dos Campéões Europeus perdidas, 5 Taças de Portugal, 7 (sete!) vezes Bola de Prata (melhor marcador nacional) e a FIFA considerou-o, há uns tempos, o 7º melhor jogador de todos os tempos, classificação que, para muitos, terá sido injusta por pouco "simpática" para com o goleador português. Eusébio foi, também, eleito pelo IFFHS o 9º melhor jogador do séc. XX.
Mandam as estatísticas que Eusébio marcou 733 golos em 745 jogos oficiais. ( 42 jogos e 77 golos no SCLM, 614 jogos e 638 golos no SLB, 11 jogos e 9 golos no Oceaneers USA, 7 jogos e 11 golos no Minutemen USA, 10 jogos e 1 golo no Monterrey, 12 jogos e 3 golos no Beira-Mar, 25 jogos e 18 golos no Metros-Croatia CAN, 2 jogos e 1 golo no União de Tomar, 5 jogos e 1 golo no Buffalo Stallions USA. Pela selecção portuguesa Eusébio fez 64 jogos em que marcou 41 golos).
Esta é a verdadeira história de Eusébio. E é este Eusébio que prefiro recordar. O Eusébio dos golos e da arte do bem jogar futebol. Prefiro este Eusébio ao das entrevistas infelizes em que revela pouca memória quando afirma não haverem juniores no SCLM (no seu tempo) ou quando filosofa sobre o racismo que existia no mesmo clube que o acolheu e o lançou. Prefiro o Eusébio da águia e das quinas ao peito ao Eusébio que se afirma Português ao mundo inteiro e Moçambicano quando em Moçambique. Prefiro o Eusébio das correrias endiabradas rumo ao Golo ao Eusébio que tem afirmações indecorosas para quem o acolheu e acarinhou quando ainda nem chuteiras tinha. E é este Eusébio que vou recordar sempre!”
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