“PC era capaz de tudo para ganhar. Para ele, não existiam barreiras nem personalidades.
Habitou-se a esmagar quem se lhe atravessasse no caminho. Duas semanas antes de um jogo entre gigantes (Porto-Benfica) e onde se iria discutir o título, teve um encontro com o presidente do Conselho de Arbitragem, naquela altura um homem isento e honesto, mas com a consciência de que tinha de ter uma certa flexibilidade em algumas situações. A nomeação do árbitro para esse jogo era extremamente importante, e o assunto foi discutido entre os dois:
- Que árbitro é que lhe agradava para fazer o seu jogo?
PC não respondeu. Pensou um pouco, pegou num papel e escreveu o nome de um árbitro de Setúbal (Carlos Valente), entregando o papel ao presidente do CA. Este analisou-o e concordou com a situação, até porque o árbitro tinha qualidade e não era daqueles que normalmente negociavam nos bastidores.
O clube rival acabou por saber quem era o árbitro e também quem o tinha escolhido. O responsável pelo futebol desse clube, homem muito traquejado e capaz de fazer frente a PC, colocou um plano em marcha.
Desconfiado de que PC já tinha o árbitro controlado, contactou com um dos seus fiscais de linha e negociou com ele o resultado do encontro.
Tudo se passou nos arredores da capital no campo de um clube de escalão inferior, onde esse fiscal de linha treinava habitualmente com outros árbitros. Só que, no dia em que o responsável do clube da capital se foi encontrar com o tal fiscal de linha, o encontro foi presenciado por alguém que também tratava da sua forma física. Este, desconfiado, no dia seguinte ligou para Pinto da Costa.
- Queria falar com o Senhor Pinto da Costa.
- Da parte de quem? - responderam do lado de lá da linha.
- Diga-lhe por favor que fala Maciel Feijoca.
Bzzz, click...
- Olá, está bom? Então o que é que manda? - perguntou PC do lado de lá do fio.
- PC, ontem vi o Gaspar Ramos a falar com um dos fiscais de linha do árbitro que vos vai apitar no domingo. Ponha-se a pau.
- Ah, sim! Esse gajo está fodido comigo! Vou já tratar do assunto.
Depois de desligar o telefone, PC, lívido de raiva, ordenou que lhe fizessem uma chamada para o presidente do CA. Logo que este lhe surgiu do lado de lá do fio, entrou a matar:
- Tem de me mudar o árbitro do nosso jogo!
- Então não foi você que o escolheu?
- Pois escolhi, mas soube agora que o Gaspar Ramos já contactou com um dos seus fiscais de linha.
- Isso pode não querer dizer nada, e a faltarem três dias para o jogo não vou substituir o árbitro. Isso seria um escândalo.
- Mas tem de ser, senão eu vou fazer um barulho dos diabos.
- Faça aquilo que quiser, desde que seja você a assumir essa responsabilidade. Pode até dizer aos jornais que sabe desse encontro. A responsabilidade é sua.
Sentindo a inflexibilidade do presidente do CA, ligou de imediato a Adriano Pinto, o homem que o socorria nos momentos de maior aflição, mas nem este conseguiu demover o presidente do CA da sua atitude.
Pinto da Costa colocou então em movimento uma outra estratégia e, através dos meios de comunicação social, criticou aquela nomeação, levando, como era seu hábito, o assunto ao rubro. O certo é que no dia do jogo confirmaram-se as suspeitas, e o tal juiz de linha que fora visto a ser contactado pelo dirigente do clube adversário não se portou nada bem, prejudicando o clube de PC. Para agravar, um habitual suplente (César Brito) da equipa adversária até bisou, dando a vitória e o título à sua equipa. Pela primeira vez, o assalariado de PC que treinava a equipa (Artur Jorge) deixou o verniz estalar, chorando baba e ranho na cara do dito juiz de linha.
À saída, os árbitros setubalenses levaram uma grande sova, e o chefe de equipa, coitado, sem saber de nada, até levou porrada da mulher de Reinaldo Teles.
- Mas, meus amigos, eu não tenho nada a ver com isto, como vocês sabem - desabafava o apitador, enquanto colocava pomada na zona atingida. -O que é que eu fiz para merecer isto?
Como é que vou explicar à minha mulher estas arranhadelas nas costas? - E, mesmo sendo um homem valente, começou a choramingar...
Pinto da Costa teve durante toda essa semana de provar o sabor amargo de que, afinal não conseguia controlar todas as situações”.
Antes de mais, as minhas desculpas aos que eventualmente, se possam de alguma forma sentir ofendidos por aqui reproduzir este excerto do livro “Golpe no Estádio”, dessa eminência parda da luta contra a corrupção no futebol português, Marinho Neves.
Se o faço, é apenas porque, para lá da componente lúdica da coisa, a arbitragem de Pedro Proença no nosso último jogo, me trouxe à memória a diarreia mental acima transcrita, ainda que a contrario.
Na sexta-feira, quase todos os erros de arbitragem detectados e cometidos pelo árbitro principal, foram a nosso desfavor. O único que nos terá favorecido, resultou de um erro do árbitro auxiliar.
Na fantasia de Marinho Neves, teria ocorrido precisamente o oposto. O árbitro estaria connosco, e o fiscal de linha, do outro lado.
Muita atenção, contrariamente ao que acontece afirmativamente no livro, não quero de maneira alguma, insinuar que Pedro Proença ou o auxiliar, teriam sido seduzidos por algum dos clubes em contenda. Nada disso.
Foi apenas a coincidência, ainda que em sentido inverso, entre as duas situações, que mexeu com o meu baú dos tesourinhos deprimentes.
Quanto ao livro, propriamente dito, essa obra-prima surreal da luta anti-sistema, ao que parece, produzido sob o alto patrocínio e os auspícios do ex-presidente do Sporting, Dias da Cunha, toda a curiosidade que tinha, e que me levou a lê-lo, acabou rotundamente frustrada.
Como é que, controlando o FC Porto o tal “sistema”, um episódio como o descrito, poderia acontecer? Então, éramos o “sistema”, e bastava uma conversa do inefável Gaspar Ramos com o fiscal-de-linha, para sem mais, resolver o problema que constituía para o seu clube a nomeação do Carlos Valente?
Afinal, quais eram as “duas cabeças do sistema”? Ou havia mais do que um “sistema”?
Enfim, mais um livreco, que não passa de um romance de cordel, cheio de pérolas como a que se transcreveu, e que a dada altura, mais parece uma sucessão de rábulas do Senhor Enginheiro, saídas de um programa do Herman José.
Ainda bem que há por aí uns benfiquistas simpáticos que o reproduziram em formato .pdf, que sempre sai mais barato.
Quanto ao resto, só mesmo alguém completamente chéché é que o poderia levar a sério, e usá-lo como referência para o que quer que seja.
Contudo, parece que houve p’raí uns seis milhões e tal de indivíduos que o apreciaram, e estranharam a sua ausência dos escaparates dos Prémios Nobel da literatura moderna.
E, como consta que dizia Tolstoi:
“Deve valorizar-se a opinião dos estúpidos: são a maioria”
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