Há não muito tempo, li na caixa apropriada para o efeito de um dos blogs portistas que costumo visitar, um comentário em que alguém perguntava o seguinte:
“O …ica é candidato a campeão porque tem o calendário mais favorável. O Braga é candidato porque é a equipa que melhor futebol pratica. E o Porto é candidato porquê?”
Não sei qual a cor clubística de quem formulou a pergunta, mas não é difícil de adivinhar, e também não faço ideia se haveria ali alguma insinuação pelo meio. Digo isto porque para mim, a resposta era muito simples, como é óbvio.
Contudo, se respondesse apenas, como era devido, “porque Somos Porto”, talvez o indivíduo em questão não entendesse o que queria dizer, ou aproveitasse para introduzir mais alguma insinuaçãozinha brincalhona.
Assim, vou perder mais algum tempo com uma hipotética resposta àquela pergunta.
A questão do calendário é falaciosa. Como disse um dia um treinador, daqueles com carisma, não me recordo qual, o calendário só é bom ou mau depois de disputados os jogos. Todos têm que jogar contra todos, duas vezes, por isso, a história do calendário é muito relativa.
No entanto, há que reconhecê-lo, receber o Marítimo, é diferente de ir ao caldeirão dos Barreiros, e acolher em casa a União de Leiria, não é a mesma coisa que defrontar o Sporting.
Ou seja, o único ponto em comum entre os calendários dos dois primeiros classificados nas últimas quatro jornadas da Liga Zon Sagres, são as deslocações de ambos a Vila do Conde. Marítimo e Sporting, curiosamente, a disputarem entre si o quarto lugar, poderão fazer a diferença.
A questão da qualidade do futebol praticado é uma das maiores falácias que se tentam fazer passar.
A nota artística é garantia de sucesso? Todos sabemos que não, ainda que alguns façam disso argumento, ou uma espécie de vitória moral, na falta de melhor.
A melhor equipa que alguma vez vi jogar foi o Brasil de 1982, do Júnior, do Falcão, do Sócrates, do Zico, & cia. lda.. Foram campeões do Mundo? Nem por isso.
Perderam para a Itália do Bearzot a hipótese de ir às meias-finais. Dirão: “Pois, mas isso foi um torneio com duas fases de grupos e não uma prova de regularidade. Foram apenas cinco partidas, em que venceram quatro, e bastou uma derrota num de dois momentos cruciais”.
É verdade. Sem dúvida. Uma equipa que pratica futebol de qualidade terá sempre mais hipóteses de triunfar, do que uma que não o faça. Não há cá ambivalências quanto a isso.
Sem ir tão longe, tivemos por cá o caso do campeão nacional de 2009/2010. Era uma equipa que jogava mundos e fundos. Um ataque avassalador, um autêntico rolo compressor de futebol ofensivo. Melhor ataque, melhor defesa, a par do segundo classificado, e melhor marcador da prova.
Porém, vai-se a ver e andou uma grande parte da prova emparelhada com o tal segundo classificado, e se acabou com cinco pontos de diferença, foi por que este atirou a toalha na derradeira jornada.
Melhor ainda, quando comparada connosco, que fomos terceiros, essa grande máquina produtora de futebol de elevadíssima nota artística, deixou-nos a oito pontos de distância.
Esmiuçadas as coisas mais pormenorizadamente, e evitando entrar por túneis mal iluminados, verificamos que, por erros de arbitragem, e não estou a falar de jogadas duvidosas, estou a falar de erros objectivos, quase unanimemente reconhecidos, tanto quanto isso é possível em futebol, e com impacto nos resultados finais dos encontros em que tiveram lugar, a tal equipa obteve cinco pontos a mais (Naval 1.º de Maio, em casa – 2 pontos; FC Porto, em casa – 2 pontos; e Vitória de Setúbal, fora – 1 ponto).
Nós, em contrapartida, fomos prejudicados em outros tantos cinco pontos (Paços de Ferreira, em casa – 2 pontos; Belenenses, em casa – 2 pontos; e contra o campeão dessa época, fora – 1 ponto).
Como se vê, sem mais, o suficiente para ficarmos à frente desse clube, cujo treinador, a dada altura, admitiu que os seus adversários se distraíram "a inventar questões de túneis", não percebendo que não tinham os argumentos da sua equipa.
Pois. Viu-se…
Por outro lado, o mesmo clube é também detentor do título de pior campeão de sempre. O de 2004/2005, da lavra da velha raposa do Trapattoni, terminando com três pontos de avanço sobre o segundo classificado, por acaso o FC Porto, mas numa época em que fez seis pontos em dois jogos contra o Estoril-Praia
Em compensação, do nosso lado, essa época ficou marcada pelo desvario quase total da SAD, e por três treinadores ao longo da temporada, Del Neri, Victor Fernandez e José Couceiro. E ainda assim terminámos a apenas três pontos, e da maneira que então se viu.
Portanto, a tal questão da nota artística, não passa de uma mera conjectura, uma linda utopia falaciosa.
Então, porque é que somos sempre candidatos ao título, seja em que circunstâncias forem?
Quando em 2003/2004, na nossa caminhada para a conquista da Champions, o Sir Alex Ferguson disse, antes de eliminarmos o Manchester United, que comprávamos os nossos títulos no supermercado, não gostei.
Estava farto de ouvir esse tipo de comentários sobre “compras” por cá, e escusava de vir o Sir Ferguson, a dar também para esse peditório.
Agora, anos volvidos sobre esse episódio, vejo-me forçado a dar-lhe razão.
Mais tarde, não sei se se recordam, mas, na primeira entrevista que deu em Terras de Sua Majestade, foi o Mourinho quem confidenciou ao entrevistador Gary Lineker, que ganhar o campeonato em Portugal era fácil.
Bastava ter uma boa equipa, e por isso, não tinha corrido risco nenhum ao afirmar que ia ser campeão.
Depois disso, tivemos o Professor Jesualdo Ferreira a dizer que "[n]o F.C. Porto ganhar é como lavar os dentes", e novamente o Mourinho, no seu processo de troca de mimos com André Villas-Boas, a reiterar que "[g]anhar o campeonato no FC Porto é fácil".
O André acusou o toque, e abespinhou-se, mas é mais pura das verdades. É tão real como o Vítor Pereira (o nosso, não o dos árbitros) constatar, e bem, antes de defrontarmos o Olhanense, que a nossa irregularidade se saldava numa diferença de um ponto para o primeiro.
Por muito em baixo que esteja o FC Porto, aplica-se-lhe, e não é de hoje ou de ontem, aquilo que Mário Wilson disse um dia a propósito de uma outra equipa: "Qualquer treinador que vá para [lá], arrisca-se sempre a ser campeão"!
Querem ir pela fruta, pelo chocolate, pelos árbitros? Façam favor. O que é certo, muito até por aquilo que se tem visto esta temporada, é que, em condições normais, o maior inimigo do FC Porto é…o próprio FC Porto.
Começando pelos pouco frequentes, mas quase sempre comprometedores, desatinos da SAD, passando pela motivação e pelas teimosias dos treinadores, e por atitudes como a do Álvaro Pereira em Braga, a replicar a de Rolando numa ocasião anterior, e terminando nos próprios adeptos.
O grande desafio para uma equipa como a nossa é manter a guarda alta, ou por outras palavras, a motivação necessária para vencer, e continuar a vencer, sempre.
Pode ser a tal "doença do mais", como diziam no "Café das Antas". Quanto a mim, tem mais a ver com a falta de competitividade da nossa Liga.
Tragam-me todos os rankings e estatísticas da IFFHS, enquanto o presidente de um dos três grandes, ou que costumava sê-lo, se der por satisfeito por o seu clube se encontrar no quinto lugar, a 13 pontos de distância do primeiro, quando na época anterior estava a trinta e dois, não há rankings que nos valham.
O futebol português, salvo situações episódicas, como a da presente temporada, não é competitivo no topo, e do meio da tabela para baixo, acho que nunca um dia o será. Depois, mais do que discutir-se futebol, propriamente dito, o tempo gasta-se a debater arbitragens e outras tricas.
Neste contexto, é difícil manter os níveis de concentração dos jogadores, e é natural que estes e os treinadores, almejem outro tipo de voos e desafios, em vez de ficarem a vegetar nesta parvónia. Para além do vil metal, claro está.
E isso vê-se quando nos confrontos com os mais directos rivais, o FC Porto faz onze pontos em quinze possíveis, contando por vitórias dois dos jogos fora de casa e empatando o terceiro, para em casa, ceder um empate e obter mais uma vitória.
A qualidade está lá, claramente. Quanto muito, terão faltado ao longo desta Liga, a motivação e a vontade, que os grandes jogos proporcionam. É pena que, como alguém disse, os campeonatos se decidam todos contra todos, e não apenas contra os “grandes”.
Portanto, tudo somado, é por isto que, independentemente de calendários e notas artísticas, somos e seremos sempre candidatos ao título.
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