Ora, quando ainda se sentem, e por quanto mais tempo irão sentir-se, os efeitos da arbitragem do dérbi de segunda-feira, uma notícia como a da suspeita de corrupção do árbitro auxiliar José Cardinal, cai que nem sopa no mel para desviar as atenções.
Não sei se será a oportunidade da sua “divulgação”, terá sido ditada por esse objectivo, mas quanto a mim, parece-me um perfeito fait divers, digno de uma silly season fora de tempo. Ainda que rodeado de muitas coincidências. Demasiadas, talvez.
Primeiro. Se há coisa que o “Apito Final” ensinou, a quem quis ou conseguiu aprender, foi que não há corrupção sem que se produza o efeito procurado pelo corruptor. Por isso, dado que o árbitro assistente em questão nem sequer interveio no jogo, será um exagero falar em corrupção. Quanto muito na sua tentativa.
A não ser que, com base nesta, estejam a ser investigadas outras hipotéticas situações.
Segundo. O facto de ter sido depositado dinheiro na conta, não implica necessariamente que o seu titular tenha alguma coisa que ver com isso. Infelizmente comigo nunca aconteceu. Mas pode acontecer, e ninguém está livre disso.
Espero que a “investigação” consiga averiguar se o dinheiro ficou na conta, ou se o José Cardinal, recebendo-o, ainda que distraidamente, fez uso dele. Como podiam, e deveriam ter feito em relação ao hipotético envelope, hipoteticamente entregue por Pinto da Costa ao Azevedo Duarte, no tal “Apito”.
Depois, vêm as coincidências. A notícia é divulgada após a vitória do Sporting no clássico, e precisamente na semana em que este clube ultrapassou o Marítimo na classificação da Liga Zon Sagres.
O José Cardinal é o árbitro assistente de que o Sporting se tem vindo insistentemente a queixar desde a recepção ao Olhanense, na primeira jornada.
Há ainda sportinguistas que tentam associá-lo ao penálti fantasma que deu a Taça Lucílio ao mais grande do Mundo dos arredores de Carnide. Porém, nesse caso, exageram.
Conforme o próprio Lucílio Baptista assumiu na altura, não terá sido induzido em erro pelo Cardinal, mas sim, pelo Pais António - o famoso Ferrari de Setúbal.
Para além do Olegário Benquerença, também o José Cardinal foi homenageado pela AF do Porto, na temporada passada, nas vésperas do cataclismo de Guimarães à quarta jornada, que ditou a então reacção holocáustica do clube derrotado.
O Marítimo, sobre quem recaem as suspeitas de ter pago os dois mil euros, vai defrontar brevemente o segundo e o primeiro classificados da Liga, por esta ordem respectivamente.
Apesar do bom relacionamento que o homem do guardanapo tem com o seu homologo de orelhas grandes, tal não impediu que houvesse mosquitos por cordas no final da partida disputada no Estádio da Lucy, na época finda.
No fundo, nada disto é muito relevante, e não passam como disse de factos isolados, que, conjugadamente se tornam numa série de coincidências, com potencial para dar azo a umas belas teorias da conspiração.
Contudo, à frente do nome do José Cardinal, o asterisco, que já não era pequeno, começa a tornar-se gigantesco.
Agora, relevantes, relevantes, quanto mim, são pormenores como o facto de, sem querer beliscar minimamente o bom trabalho do Pedro Martins, os madeirenses estarem a fazer a sua melhor época desde há anos a esta parte.
De a carreira do árbitro madeirense Marco Ferreira se vir a projectar numa rota ascendente nas últimas duas temporadas, sem que a qualidade das arbitragens produzidas tenha evoluído correspondentemente.
Ou de o actual presidente da Liga de clubes, indicado precisamente pelo Marítimo, revelar ser uma sorte ter um dos contendores na final da Taça da Liga, criada teoricamente, para dar oportunidades aos ditos clubes pequenos, que até terão contribuído grandemente para a sua própria eleição.
Ou ainda que, este mesmo presidente, a propósito da questão da negociação dos direitos de transmissão televisiva, tenha trazido à colação o exemplo do FC Porto, como sendo o clube onde o detentor daqueles direitos [a Olivedesportos], seria simultaneamente proprietário de percentagens da SAD e do clube:
"Devia ser proibido que o detentor dos direitos televisivos tenha percentagens em clubes de futebol, como acontece com o FC Porto e com a SAD, e depois nomeie membros para o Conselho de Administração. Pode haver a ideia, que eu penso na realidade que pode estar a acontecer, desses clubes serem beneficiados quando se trata da divisão desse bolo".
Isto quando a empresa em causa é detentora de partes do capital social, não só do FC Porto, mas também do Sporting (pág. 121), 5,474 % dos direitos de voto através da Sportinveste, dominada pela Olivedesportos, de Joaquim Francisco Alves de Ferreira de Oliveira, e do tal clube da sorte grande (pág. 19), 2,66% daqueles direitos, detidos pela mesma empresa, como consta nos respectivos relatórios de contas.
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