Retomando parcialmente o assunto do texto anterior, foi ontem tornado público que FC Porto, Sporting e Nacional da Madeira, conforme previamente haviam anunciado, requereram a nulidade da Assembleia Geral da Liga de clubes, que aprovou o alargamento dos campeonatos profissionais.
Sabendo-se que o actual elenco da direcção da dita Liga não teve o apoio declarado de nenhum dos três grandes, ou coisa que o valha, e ainda que estejam na moda as troikas, estranha-se a não ver aqui um quarteto, em vez daquela tríade.
Aliás, é estranho o silêncio quase total a que se vem remetendo, ao que parece, voluntariamente, um certo e determinado clube, no tocante a matérias atinentes à Liga de clubes, quando noutras, se desboca com o maior dos à vontades.
Talvez, como eu, lhes pareça que esta questão, mais tarde ou mais cedo, e independentemente de se concordar ou não com o aumento do número de participantes nas ligas profissionais, tenderá a solucionar-se por si própria, quando passarmos do tão portuguesinho “onde comem dezasseis, comem dezoito”, para o também tradicional “em casa em que não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”.
Mais interessante parece-me sem dúvida, a questão dos direitos televisivos. Até porque se dá a coincidência de, Nacional da Madeira à parte, me parecer, conforme anteriormente escrevi, que dificilmente tanto FC Porto, como Sporting, retirarão algumas vantagens em prosseguir uma estratégia tão declaradamente valedeazevediana, de afrontamento à Olivedesportos.
(imagem tirada daqui)
Por outro lado, para além dos pequenos clubes, cuja defesa constituirá o leit motiv de uma hipotética queixa a interpor junto das instâncias comunitárias da concorrência, o único clube que eventualmente daí poderá retirar alguns proventos, é precisamente o que não faz parte daquela troika.
De facto, a ser verdade o que se diz, os ganhos de FC Porto e Sporting, serão sempre marginais, e resultarão da revisão dos valores que terão sido acordados até 2018, em função da sua indexação ao que vier a ser negociado com o mais grande do Mundo dos arredores de Carnide. Para este último, o processo negocial, por assim dizer, encontra-se num impasse, com a recusa do valor avançado pela Olivedesportos.
Contudo, para o esclarecidíssimo Rui Santos, apesar dos 111 milhões oferecidos serem “aparentemente um bom valor, (…) estrategicamente (…) o clube fez muito bem em ter recusado".
Refere ainda que, segundo a criatura supostamente agredida aqui há tempos no Porto, “a recusa não se deveu apenas a razões financeiras (…) [o] que está em causa é o poder da Olivedesportos e poucos duvidam da força desse poder, desse monopólio”.
Concluindo que "neste sistema, o (…)ica não pode consolidar uma situação de hegemonia e por isso a via da rutura é a única que o (…)ica tem, deve romper este sistema para que algum dia possa obter o domínio do futebol em Portugal, pois se este sistema continuar, não tem hipótese nenhuma".
Para os ditos, clubes pequenos, a questão será outra. A negociação em bloco e a partilha dos dinheiros resultantes das transmissões televisivas faz todo o sentido.
Porque carga d’água é que os clubes, ou alguns deles, negoceiam directamente os direitos televisivos dos seus jogos?
Tanto quanto se sabe, quer nas ligas americanas, em que o senhor presidente se inspira, como nas provas da UEFA e da FIFA, são as entidades que organizam os torneios, que transacionam e fazem a gestão de tais direitos.
Parece evidente que sem Ligas, sem UEFA ou FIFA, não há competição. Não havendo competição não haverão jogos, e sem estes, não há lugar a direitos sobre transmissões televisivas.
Da mesma maneira, nenhuma equipa joga sozinha. Portanto, a postura de certos clubes, que se põem em bicos de pés, e se limitam a olhar para o seu umbigo, entrando em processos negociais numa postura de “isto é tudo nosso”, intriga-me.
Sem pequenos, não haverá grandes. Ou alguém estará interessado em assistir a jogos das equipas principais do seu clube contra a equipa B ou os juniores?
Não é exactamente esta a visão de todos os clubes envolvidos na matéria. Por exemplo, a daquele que se vem falando ficou muito clara, quando na mó de cima, em finais de 2009, o seu director de Marketing afirmou, fazendo ciência para boicotes futuros, o seguinte:
“Quando o (…)ica começa a ganhar, os clubes pequenos com os quais joga realizam cinquenta por cento das sua receitas de bilheteira do ano todo nos jogos com o (…)ica. (…) é o (…)ica que está sempre em primeiro lugar quando toca a levar pessoas aos estádios, próprios ou alheios”
(extracto de uma entrevista de Miguel Bento, director de Marketing do (…)ica, a uma revista do Diário de Notícias, algures em finais de 2009, cujo link não consegui encontrar, e a revista, ainda menos)
Como é fácil de constatar, estamos claramente perante objectivos distintos, a serem prosseguidos com recurso à mesma estratégia.
Porém, estes objectivos são conflituantes entre si. Para os clubes pequenos, obter o seu quinhão, forçando a Olivedesportos, ou qualquer outro operador que se queira candidatar à posse dos direitos de transmissão televisiva.
Para o outro clube, o objectivo primordial, se não são só as razões financeiras que estão subjacentes à recusa, será fundamentalmente, quebrar a espinha à Olivedesportos e libertar-se do seu monopólio.
Mas, paremos um pouco e ponderemos quais as alternativas viáveis a este estado de coisas?
Para os clubes pequenos, para já, nenhumas. Para o outro, foram já aventadas várias.
O putativo canal televisivo a criar pelo Dragão de Ouro Rui Pedro Soares e Emídio Rangel, que nunca passou disso mesmo. As negociações com Pais do Amaral, que também não tiveram qualquer sequência, e mais recentemente até a Al-Jazeera veio à baila.
Todas estas hipóteses parecem tão credíveis como a OPA dos chineses. A solução mais à mão de semear será sempre, a caseira (…)icaTV. Contudo, será esta credível como querem fazer parecer?
A transição das transmissões televisivas em estilo radiofónico, para transmissões à séria, com alguma viabilidade económica teria sempre de ser suportada num canal codificado.
Ora, a (…)icaTV é, neste momento, de acesso livre através do MEO. O MEO faz parte do universo PT, do qual, curiosamente, tal como das SAD do FC Porto, Sporting, e dos outros, também é acionista a Controlinveste de Joaquim Oliveira (2,28%). Vai na volta, para além da hospedagem garantida, ainda recebem alguma mesada à conta disso.
Esta opção colocaria necessariamente a (…)icaTv em concorrência directa com a SportTv. Em que é que esta situação prejudicaria os pequenos clubes? E o FC Porto? Ou o Sporting?
Rigorosamente em nada. Pelo contrário, até os beneficiaria. Se do bolo a repartir por todos, 111 milhões que eram para atribuir a quem levava a maior fatia, não são gastos, mais sobraria para os restantes que ficam.
Além disso, mais horários ficariam disponíveis para as transmissões, que inclusivamente, se em concorrência, poderiam ser simultâneas, dos jogos do mais grande do Mundo dos arredores de Carnide e de outros clubes, possibilitando assim, ficar com uma ideia mais exacta do share efectivamente detido por cada um. Desde que a medição não ficasse a cargo da famosa GfK…
Será que estão dispostos, e têm condições para alinhar em algo assim? A (…)icaTv sobreviveria com a retransmissão de quinze ou dezassete jogos por época? Os campeonatos grego ou dos States, serão suficientemente cativantes?
Sinceramente, não sei. Tudo bem espremido, parece uma alternativa tão válida como as demais, logo, até ver, tanto o tal clube mais grande, como os pequenos, como todos os restantes, estão no mesmo barco.
Se é assim, estará aquele clube verdadeiramente interessado em dividir o bolo? Se não está, porque é que não se manifesta?
Se como vimos os objectivos das várias partes são distintos e a estratégia é a mesma, a favor de qual delas é esta prosseguida?
É aqui que começa a cheirar fortemente a instrumentalização da Liga de clubes. Se não a favor de alguém, pelo menos, aparentemente em nosso desfavor, tendo em conta a postura do presidente da Liga relativamente ao FC Porto, a que aludi no último texto.
A não perder as cenas dos próximos capítulos…
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