Conquistado mais um título de campeão nacional pelo FC Porto, como é hábito, seguiu-se o também habitual desfiar do novelo das entrevistas às carpideiras do costume.
Os objectivos de todo este folclore são como sempre, bem transparentes. A única novidade é que, desta vez, vêm em dose dupla, não se ficando pela costumeira singeleza da desculpa esfarrapada para o insucesso.
O mote, deu-o António Carraça:
O director de comunicação juntou-lhe o "tributo":
Depois vieram os testemunhos do Artur Moraes, e ainda no início desta semana, o do Rodrigo.
Nada de muito extraordinário. É como diz o Miguel Sousa Tavares:
“Compreendo, porém, que quem tem por profissão ser porta-voz dos outros (…) tenha dificuldade em entender que se possa ser uma voz sem dono”
A este relambório recorrente a cada derrota, acresceu um duplo objectivo, contestação dos sócios oblige: a defesa do seu mais que tudo mestre da táctica.
Primeiro, em autodefesa, através do próprio dito cujo, do topo do seu topo, e a seguir relembrando o quão profícuo tem sido no amealhar de trocados. 28 milhões deles, ao que parece.
O quanto gastou para aí chegar é que não se diz, mas isso também não interessa nada, como diria a Teresa Guilherme.
Bem como, também não interessou para nada, o facto de tudo isto ter sido aparentemente cozinhado, - outra vez! Chiça, que não são nada originais! - num almoço no Tivoli, que terá contado com a presença de altos dignatários do papel para forrar fundos de gaiolas de periquitos, que deu à estampa as entrevistas em causa.
Aparentemente, o que também não interessou pevide, perante um tão extenso relambório de entrevistas louvaminhentas, foi uma notícia, de terça-feira da semana passada, que não passou de um mero recortezito na capa desse ex-libris da comunicação social, que é o Correio da Manhã:
"Filipe Vieira veta torneio em Angola"
Reza a notícia que, “[o] (…)ica desistiu de participar num torneio em Angola, em que também estavam previstos o FC Porto e Sporting”.
E porquê? Porque, o seu presidente terá ficado «"muito incomodado" com o facto de o promotor do torneio, o ministro Miguel Relvas, ter "comemorado" com Pinto da Costa e Joaquim Oliveira a derrota (2-3) do Benfica diante do FC Porto, num jantar em que também esteve Fernando Seara e a mulher, Judite de Sousa, que se realizou a 3 de Março, um dia depois do jogo disputado na Luz (2 de Março)».
«(…) Vieira "não compreendeu" como é que o ministro (adepto do Sporting), Fernando Seara (sócio do Benfica) e o detentor dos direitos televisivos dos jogos do Benfica se tivessem juntado a Pinto da Costa após uma partida que o FC Porto ganhou com um golo em fora-de-jogo (Maicon, no 3-2)».
Em defesa do ministro, “(…) fonte próxima de Miguel Relvas assegurou ao CM que o jantar de 3 de Março foi o único em que o ministro esteve com Pinto da Costa e frisou que tal já aconteceu com outros dirigentes desportivos, caso de Luís Filipe Vieira, com quem já jantou três vezes”.
Perguntarão: “Qual é a relevância disto?”
Provavelmente, nenhuma. Especialmente vindo de um clube eternamente virado para o seu próprio umbigo, que, qual Rei Sol, proclama “nós somos o País”, e que é capaz de incentivar os seus apaniguados a boicotarem os jogos realizados fora de portas, recusando, consequentemente, de moto proprio, o apoio que queiram tributar à sua equipa. Única e exclusivamente a bem do seu conforto espiritual, e não, claro está, para que outros não aufiram da receita proveniente da sua presença.
Mas, reparem, que é a parte interessante, porque será que é em Maio, depois de decidido o título, que o indivíduo em questão, vem “vetar um torneio”, que se vai realizar no final do mesmo mês, por causa de um jantar, que terá decorrido dois meses antes? Compreensão lenta?
E o motivo para tal decisão, senhores, reparem no motivo:
«(…) Vieira "não compreendeu" como é que o ministro (adepto do Sporting), Fernando Seara (sócio do Benfica) e o detentor dos direitos televisivos dos jogos do Benfica se tivessem juntado a Pinto da Costa após uma partida que o FC Porto ganhou com um golo em fora-de-jogo (Maicon, no 3-2)»
Ou seja, a fazer relembrar o episódio do DVD com os pretensos erros do Olegário Benquerença, que o Secretário de Estado do Desporto, cuja demissão haveria de fazer cair o governo de Santana Lopes, afiançou que, se tivesse recebido, atiraria pela janela.
Porquê esta tentativa de puxar para a esfera do futebol a componente política?
As ligações do clube em causa ao anterior Governo, designadamente, por via do seu presidente, foram bem evidentes. O apoio do presidente encarnado ao PS foi público, assim como a inclusão na Comissão de Honra da sua recandidatura, do, à altura, Ministro da tutela da polícia e das secretas.
Para além deste, também o presidente da Assembleia Geral, Luís Nazaré, é um conhecido socialista, e João Correia, ex-Secretário de Estado da Justiça do Governo PS, foi um dos patronos do processo que visou excluir o FC Porto da Champions.
Com estes, convivem depois alegremente Ruis Gomes da Silva e Fernandos Searas (PSD), Sílvios Cervans (CDS), e outros, numa amálgama multi-representativa, que sempre garante algum suporte, para onde quer que as coisas, politicamente caiam.
Convirá também não esquecer que, se o clube é aquilo que é hoje, muito o deve, sem sombra de dúvida, ao PSD. Parece-me que é ainda caso raro, senão único, no regime quase democrático em que vivemos, um presidente de um clube incentivar os seus consócios ao voto num determinado partido político, como fez Manuel Vilarinho, afirmando que o seu líder, no caso Durão Barroso, era o homem que ia ajudar esse clube.
No entanto, o seu actual presidente, em dada altura, marcou uma posição, e essa posição não é, na presente conjuntura, a mais politicamente correcta.
Assim sendo, será tão descabida como parece a reunião de um tão improvável grupo de convivas?
O ministro Miguel Relvas está em tudo e em todo o lado. Desde questões de aventais até secretas, é omnipresente, portanto, é sem grande estranheza que se vê a sua presença.
É o titular da pasta da comunicação social, logo, a sua participação conjunta com Joaquim Oliveira, faz sentido.
Este último, o "amigo Oliveira" de Armando Vara e José Sócrates, em fase de ajustamento da sua rota face à conjuntura actual, seria, pode-se admitir, um participante natural em qualquer jantar temático sobre futebol.
Agora, Fernando Seara, o que é que faria Fernando Seara num repasto desta natureza? Alguém acredita que o putativo candidato benfiquista à presidência da Liga, da Federação, ou do que quer que seja, tomasse parte num jantar onde se festejaria a vitória do FC Porto sobre o seu clube?
Logo o homem que salvou o clube da desgraça mais que merecida? É estranho. E é mais estranho ainda, numa agremiação em que as coisas se fazem tradicionalmente, por outro lado.
Por isso, não me venham com histórias, apesar de o ministro ser sportinguista, o único clube que não esteve representado, a título oficial, naquela reunião, foi o Sporting.
Sendo assim, porquê esta fantochada do veto ao torneio?
Só vejo duas hipóteses. Ou é pura birra, típica num choninhas, como o é Luis Filipe Vieira, ou, em alternativa, é uma maneira de procurar chegar a uma situação artificial de quid pro quo com a actual liderança política da nação.
Como se recordarão, na temporada transacta, a equipa que foi copiosamente derrotada no Dragão, por cincazero, foi lamber as feridas desse amargo desaire, precisamente para Angola.
Festejava-se então o 35.º aniversário da independência daquele país, e o convidado de honra não foi outro, senão o clube que agora veta um torneio a realizar-se no mesmo país.
Naquela altura, que se saiba, não foi necessária qualquer intermediação ministerial: o bom relacionamento institucional entre as partes foi mais que suficiente. O que é se alterou entretanto? Terão destratado o Mantorras?
Sou quase capaz de apostar que, tal como em 2010, a presença de papoilas em terras de angola, vai ser tida como imprescindível. Precisamente pelos argumentos habituais: é o clube com mais adeptos, é o mais grande do Mundo, eles são Angola, etc., etc..
Assim sendo, é muito natural que o Governo angolano, para assegurar a dignidade competitiva do torneio, a alegria do povo, e em simultâneo, a presença do seu mais desejado convidado de honra, pressione, ainda que ao de leve, também não é preciso mais, o seu congénere luso.
O qual, por sua vez, de chapeuzinho na mão, através do Ministro Relvas, ou qualquer outro, lá irá rogar encarecidamente ao presidente incomodado, por favor, que se digne a mandar a sua equipa ir apanhar calor para África.
É claro que este, muito contrariado, assentirá, e o Governo ficará em eterna dívida, por dessa forma, poder aquiescer aos supremos e muito legítimos anseios angolanos.
E daí para a frente logo se vê. O que é certo é que os tempos que vivemos, são de crise, e vai-se a ver, o futebol ainda poderá novamente voltar a ser, como disse Ricardo Serrado, em relação à trilogia “Futebol, Fátima e Fado”, no regime salazarista, «o "refúgio" de um povo angustiado».
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