Ainda não tinha percebido porque carga de água é que tinha passado pela(s) cabeça(s) do Sporting, ir fazer a final do Campeonato Nacional de Juniores a Alcochete, na sua Academia.
Julgava eu que seria para que os adeptos aproveitassem para pegar nas respectivas famílias e escapar ao bulício da cidade. De caminho, quem sabe, talvez desse para fazer umas comprinhas no Freeport, com paragem para almoço no restaurante japonês, para depois, desfrutar o jogo, num ambiente bucólico, ouvindo o chilrear dos passarinhos, em vez da barulheira ensurdecedora das buzinas dos estádios.
Afinal, não foi nada disso. Foi, pura e simplesmente, por causa de um concerto no Estádio de Alvalade.
Começou mal a presidência de José Eduardo Bettencourt. Para já, a revelar um profundo desconhecimento sociológico dos apaniguados do seu adversário da ocasião, o SL Benfica.
É que em vez de passarinhos, o que apareceu foi um bando de energúmenos passarões1, adeptos do Benfica.
Certamente, para que partilhassem as maravilhas do ambiente com os sportinguista, foi proposta a este bando de aves, infelizmente, pouco raras, uma alegre passeata, devidamente escoltada por elementos das forças policiais, até ao local do jogo.
Obviamente que, ao apanharem-se num espaço aberto, quando no decurso do passeio, passaram por um local mais pedregoso, claro está, que não conseguiram resistir à pulsão irracional que brota do âmago do seu ser, e vá de apedrejar os adeptos sportinguistas, alguns, talvez tão energúmenos quanto eles próprios, mas outros, pais e mães de família, filhos, namorados e namoradas, enfim, simples adeptos.
E, tiveram sorte não haver nas redondezas uma árvora qualquer que desse por fruto very lights, que poderia ter sido pior.
O jogo acabou ali, aos 26 minutos, e o Campeonato há-de ser decidido, um dia, mais tarde. Confrontado com o ocorrido, o responsável pelo futebol benfiquista, o sr. Rui Costa, mais do que censurar o comportamento dos seus adeptos, fez questão de frisar que o Sporting não podia ser ilibado do que havia acontecido, tanto mais que já durante a semana, à cautela, o Benfica havia avisado que realizar o jogo em Alcochete, poderia descambar em chatices.
Nem se esperava outra coisa. O Benfica, os seus dirigentes, jogadores e adeptos situam-se num espaço etéreo, qual Olimpo ou Vahalla, acima dos comuns mortais.
São inimputáveis e irresponsáveis. Nada de mal que acontece é por sua causa, e são merecedores de tudo de bom que possa acontecer. E quando assim não acontece, a culpa é do árbitro.
Uma coisa é certa, os dirigentes do Benfica, esses, revelaram um profundo conhecimento dos adeptos que têm. Quiçá os mesmos adeptos cujas claques não são reconhecidas e apoiadas pelo clube, mas que o presidente deste faz questão de interceder junto da polícia, para que seja branda na sua vigilância.
Ou os mesmos adeptos que incendeiam autocarros ou que invadem o terreno de jogo, diabolicamente aperaltados, para mimosear o árbitro auxiliar com um calduço.
Porém, tenho que admitir que compreendo a posição do sr. Rui Costa. Num País em que uns quantos indivíduos se abotoam com uma pipa de massa, e o culpado é o regulador, onde o crime cresce, e o responsável é o Ministro, que não põe mais polícias na rua, de facto, só faltava que os adeptos do Benfica fossem responsabilizados pelos desacatos, e não o organizador do jogo.
Mais, se tomarmos por bons os relatos históricos dos primeiros jogos de futebol, então estamos no bom caminho para que a tradição volte a ser o que era, pois, se no início se tratavam de verdadeiras batalhas campais, onde a cabeça do chefe tribal perdedor era pontapeada pelas ruas, até ao sua total pulpificação, pelo andar da carruagem, lá chegaremos. Vamos ver é de quem é a cabeça pontapeada pela rua.
Perante isto, vêm-me à memória o Camacho Costa, a fazer de cigano, e a dizer: "Sinhor Dôtor Juiz, ê nã matei o homi. Ele é que caiu p'ra cima da minha navalha". E o Juiz a perguntar: "Doze vezes!?".
Cada vez mais me parece que se aplica ao sr. Rui Costa, o que Romário disse uma vez de Pelé: "Rui Costa, calado, é poeta!".
Nota: aquilo que acabei de escrever, aplica-se àqueles benfiquistas e àquele sr. Rui Costa.
1 como se sabe, as águias são pássaros grandes.
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