Li este texto aqui há uns dias. Salvaguardadas as distâncias que vão entre duas realidades bastante diferentes, dois países e dois desportos quase sem paralelismos entre si, soou-me algo familiar. Os adeptos são os mesmos em todo o lado, e por isso, resolvi traduzi-lo.
Espero que apreciem.
Nos últimos 20 anos, apenas perdi sete jogos dos Chargers [San Diego Chargers, uma equipa de futebol americano, que actua na NFL – National Football League]. Vejo-os todos os Domingos, e se o jogo é codificado localmente, agarro-me ao rádio como se estivesse em 1944 a ouvir um discurso de FDR [Franklin Delano Roosevelt] sobre os nazis.
Há cinco anos, quando andava a servir à mesa e mal ganhava para a renda, gastei trezentos e trinta dólares numa camisola autêntica do LaDainian Tomlinson. Fi-lo em parte porque necessitava de trocar a minha camisola do Steve Foley depois de ele ter sido atingido a tiro pela polícia, mas também porque queria mostrar o meu apoio à equipa que amo.
E no final desta época há uma hipótese muito razoável de que a equipa na qual gastei milhares de horas – e demasiados dólares – a apoiar vá sair de San Diego.
Os Chargers estão em San Diego desde 1961, e durante esse tempo tornaram-se o Nicholas Cage da NFL. A cada 10 anos arranjam maneira de fazer uma boa época, mas na maior parte do tempo são uma vergonha de se ver. Mas na época de 1994-95, chegaram à Super Bowl. Apesar de ser do Kentucky, o meu pai é fã dos Chargers. Ele veio para San Diego em 1971 e apaixonou-se pela equipa.
Ele é incapaz de usar uma camisola, e a primeira vez que viu a minha disse, “Eu nunca usaria uma maldita camisola de um homem adulto. Isso é para crianças e para a mulher que fode actualmente esse homem”. Mas nunca perde um jogo, e segue a equipa tão de perto quanto eu.
Para adeptos dos Chargers como nós, aquela ida à Super Bowl foi grandiosa. Eu tinha 14 anos, e ver os Chargers era a minha actividade favorita que não requeria uma caixa de lenços. O meu pai e eu vimos todos os jogos dos playoffs na nossa sala, ele no seu fato de treino cinzento sentado na sua já gasta cadeira reclinável castanha, e eu desportivamente com a minha t-shirt Junior Seau no nosso sofá castanho. Para o Super Bowl, mantivemos a mesma rotina, na esperança de que o resultado fosse o mesmo. Mas não foi. Os San Francisco 49ers deram uma coça aos Chargers, 49-26.
O meu pai assistiu em silêncio, e eu tentei reduzir as minhas reacções a gritos e cerrar de punhos, mas no princípio do quarto quarto, quando o Steve Young, estabelecendo um recorde fez o seu sexto passe para touchdown para um Jerry Rice desmarcado, saltei do meu assento no sofá, corri para uma almofada que caíra no chão, e chutei-a com toda a força que tinha. A almofada fez ricochete pelas paredes da nossa pequena sala de estar e aterrou no rebordo da lareira, onde embateu de encontro à peça mais preciosa do meu pai: uma garrafa de bourbon do Kentucky em cerâmica com 50 anos que lhe tinha sido dado pelo pai dele. O meu pai estava a guardar aquele bourbon para uma ocasião especial não especificada. Uns anos antes, um amigo perguntara-lhe se ele tinha bebido daquele bourbon na noite em que eu nasci, para marcar o nascimento do seu filho. “Nem sequer pensei nisso”, disse ele. “As pessoas cagam bebés a cada raio de cada segundo. Aquele bourbon foi feito com amor e paciência”.
Vi horrorizado a almofada a bater na garrafa, que começou a bambolear devagar em direcção à borda da lareira, onde havia estado pousada desde que me consigo lembrar. Naquilo que parecia câmara-lenta, saltei sobre a mesa do café em direcção à lareira, com os braços estendidos, mas era tarde: caiu ao chão mesmo diante dos meus olhos, e desfez-se em três grandes bocados, derramando o precioso líquido na nossa carpete. Em 20 segundos, era como se nunca tivesse existido. Gelei, depois virei-me lentamente para olhar para o meu pai. A cara dele era uma cara que desde esse dia vi em muitos dos meus amigos que são pais. Uma cara que diz, “Estou com sérias dúvidas sobre a minha decisão de ter filhos”. Então, antes que conseguisse encontrar palavras para me desculpar, levantou-se e saiu pela porta da frente sem dizer palavra. Da nossa sala de estar vi-o subir a rua e desaparecer na escuridão.
Quatro horas depois, por volta das 22:30, estava a lavar os dentes e a preparar-me para me deitar quando ouvi a porta de frente abrir. Um momento mais tarde, ele apareceu à porta da casa de banho, com gotas de suor na testa.
“Papá, peço imensa desculpa por…”
“Não há uma escala disponível com a qual eu possa medir com precisão o quanto quero que te cales neste momento, mas acredita-me quando digo que é no teu melhor interesse que o faças”, disse ele calmamente.
“Okay”.
“Okay. Eu compreendo que gostes dos Chargers. Torces por eles; queres que ganhem. Mata-te quando eles perdem. Mas deixa-me contar-te uma pequena história. Quando exercia medicina no Oklahoma, havia por lá um obstetra que gostava de ir a bares de strip. E havia um em particular não muito longe do hospital a que ele ia sempre que podia. E isto era no Oklahoma, que não é exactamente a primeira divisão dos bares de strip. Não devia dizer isto, é grosseiro. De qualquer forma, aquele médico, apaixonou-se por uma das strippers. E começou a voltar do almoço e a dizer a toda a gente que tinha a certeza que a rapariga também gostava dele, e que lhe dizia que ele era diferente dos outros, e etc., etc.. Isto continua durante uns meses. Então, no dia de São Valentim, ele vai ao bar de strip com um ramo de flores para pedir namoro à stripper ou coisa que o valha. Adivinha o que aconteceu”.
“Ela disse que não”.
“Não. Ele nem sequer lhe perguntou, porque quando ele entrou ela estava a roçar o traseiro pela tesão de um tipo qualquer. Ele tentou dar um soco ao fulano e levou com uma garrafa de cerveja na cabeça, como um cara-de-cú. O que, para referência futura, será a única maneira como conseguirás pôr uma garrafa de cerveja na cabeça: como um cara-de-cú,” disse ele.
“Wow. Que seca”.
“Não exactamente, porque ele era um estúpido de um filho-da-mãe. O que ele não conseguiu perceber – e que qualquer ser humano conseguiria – foi que a stripper vai ser sempre simpática o suficiente para o fazer regressar ao bar, mas no fim do dia, ela está-se marimbando para ti. És apenas mais uma tesão onde ela se esfrega por dinheiro. É a sua profissão. E queres ver? É o raio da mesma coisa que os San Diego Chargers e qualquer outra equipa sentem por ti. Por isso na próxima vez que te quiseres levantar e chutar qualquer coisa, lembra-te disto: A tua equipa favorita está-se nas tintas para ti, portanto porque é que deixas que te arruine o dia? Ou, mais importante, que te faça destruir uma garrafa sagrada de bourbon?”
Pensei um momento. “O que é que aconteceu ao tal médico?”
Hoje, os Chargers ameaçam ir para outra cidade se não lhes derem um novo estádio. Os fãs de San Diego estão a telefonar para programas de rádio e a escrever artigos irados em blogs, a dizer que se os Chargers se forem embora que se sentirão devastados e traídos. E o seu comportamento não é diferente daquele da grande parte dos adeptos pelo país. Cada vez que a nossa equipa favorita faz algo egoísta, apenas por motivos puramente económicos, levamo-lo a peito. Porque queremos acreditar que eles gostam de nós tanto quanto nós gostamos deles. Mas eles não gostam. Eles apenas se esfregam em quem tem mais dinheiro. Portanto se decidirmos ser como o Hal Ashland, vamos mas é parar de ficar surpreendidos de cada vez que levarmos com uma garrafa de cerveja na cabeça.
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