Quinta-feira, 7 de Maio de 2015

A mística do funcionalismo

 

 

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Ele há pessoas que têm um prazer insano em complicar aquilo que é simples.

 

Então não é que uns indivíduos quaisquer, um tal de Vítor Baía, um Jorge Costa e um Ricardo Costa, resolveram ligar o “complicómetro”, e tiveram a distinta lata de vir para a praça pública falar em “falta de mística" no FC Porto actual?

 

Que raio! Não têm nada de mais produtivo para fazer?

 

Mas, o actual treinador da nossa equipa respondeu-lhes à letra, certamente para grande alegria dos seus fãs:

 

"Falta de mística? A mística passa pelo profissionalismo, pelo orgulho, pela responsabilidade, e a equipa mostrou isso"

 

Ora, nem mais. É tão prosaico e linear, que não percebo donde vêm questões tão a despropósito.

 

Outra coisa que também não percebo é que, se a equipa mostrou estas características ao longo da temporada, e os outros é que vão à frente, o que é que faltou?

 

Os outros tiveram mais profissionalismo? Mais orgulho? Foram mais responsáveis?

 

Sim, já sei: as arbitragens. É claro.

 

O descalabro de Paulo Fonseca também começou com o penálti mal assinalado na Amoreira. Por outro lado, o Jesualdo Ferreira foi campeão, mais do que uma vez, em plena ebulição do Apito Dourado, numa altura em que nenhum árbitro nos dava o benefício da dúvida. Antes pelo contrário.

 

Mas voltemos ao que interessa.

 

Se me dirigir a uma qualquer repartição pública, o mínimo que exijo aos meus concidadãos e colegas funcionários públicos, ou o quer que nos queiram chamar, é profissionalismo, orgulho e responsabilidade.

 

E, quer acreditem, quer não, há muitos bons profissionais na nossa administração pública. Têm orgulho em prestar um serviço público, e fazem-no de forma responsável.

 

É uma realidade que constato e com a qual convivo diariamente.

 

Aliás, digo mais, aquilo que a nossa administração pública tem de bom e que funciona, depende largamente do empenho desses profissionais, que dedicam uma porção considerável do seu horário de trabalho, a desfazer e reciclar merdas que chefias incompetentes, colocadas politicamente em função do cartão partidário, os tais “boys” e “girls”, que não acabaram, nem pouco mais ou menos, por ignorância, incapacidade e clientelismo produzem.

 

Talvez daí a necessidade de ampliação do horário de trabalho…

 

No entanto, a imagem global que passa da nossa administração pública é aquela que todos conhecemos.

 

Porquê? Porque os bons profissionais que existem não têm qualquer contrapartida palpável que os compense pela sua dedicação, e consequentemente, desmotivam-se.

 

Desmotivados, acabam por fazer aquilo que tantas vezes se vê: picar o ponto à entrada e à saída, e amanhã há mais.

 

E é este o cerne da questão: a motivação.

 

Um profissional competente e sério atinge os seus objectivos. É o normal, e é a isso que o seu profissionalismo, o seu orgulho e a sua responsabilidade, o obrigam.

 

Um profissional motivado, transcende-se, e supera-os.

 

Num clube, reconhecido mundialmente por contratar jogadores desconhecidos, embora cada vez menos desconhecidos, valorizá-los, e transferi-los com lucro, como é se motivam os profissionais para darem tudo o que têm, com profissionalismo, orgulho e responsabilidade, sabendo que, mais cedo ou mais tarde chegará o ansiado momento de "dar o salto"?

 

E para transcenderem-se?

 

Como é que se faz isso quando a sua cotação de mercado parece nem sequer depender dos títulos conquistados pela equipa?

 

Veja-se o caso do Jackson Martínez. Sem dúvida um bom jogador, e não o tenho como mau profissional. Em determinados momentos, se estivesse cá de corpo inteiro, talvez até pudesse fazer mais, mas ainda assim é inquestionável que faz bastante.

 

Desde que veste as nossas cores, foi apenas uma vez campeão, e vai com três épocas entre nós. Deixou de ter pretendentes ou o seu valor de mercado baixou por isso? Não me consta.

 

Portanto, deve necessariamente haver algo mais.

 

Ou o que queremos para o FC Porto são profissionais ao jeito do tradicional funcionalismo público?

 

Jogadores que se limitam a picar o ponto, e corram as coisas como correrem, vão para casa com a consciência tranquila do dever cumprido, porque se correr mal, para a semana há mais?

 

É esse o tipo de mística que queremos?

 

Compreendo e encaro com normalidade, que alguém vindo de fora, e que conhece da história deste clube, aquilo que tiveram a delicadeza de lhe ensinar, se é que a tiveram, ache que “a mística passa pelo profissionalismo, pelo orgulho, pela responsabilidade.

 

Contudo, parece-me demasiado redutor. Por isso, acho estranho que adeptos portistas pensem o mesmo, e surpreende-me a facilidade tamanha com que se prontificam a renegar parte da história do clube, bem assim como a opinião de figuras que dela fazem parte.

 

Porquê? Ignorância? Estupidez? Amnésia? Desonestidade intelectual?

publicado por Alex F às 23:59
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