Sábado, 8 de Fevereiro de 2014

No dia em que os porcos voarem

Ainda que não concorde inteiramente com o enquadramento dado a alguns dos clubes mencionados, e muito menos com a conclusão final, achei interessante, para reflexão, este texto de João André, publicado no blogue Delito de Opinião.

 

Vejam se concordam.

 

 

"Modelos de negócio no futebol

 

 

Quanto mais sigo o futebol europeu mais me convenço que existem 4 modelos de sucesso. A saber:

 

1.    O clube com o bilionário que paga as extravagâncias (com ou sem equilíbrio financeiro posterior): Chelsea, PSG, Mónaco, Manchester City;

 

2.    Os clubes ricos que são mais ou menos bem administrados e que (também) por via de serem bem sucedidos equilibram as contas: Manchester United, Real Madrid, Arsenal, Barcelona, Bayern de Munique, Juventus;

 

 

3.    Os clubes que se baseiam em descobrir futuras vedetas noutros países e as tentam vender com lucro: Benfica, FC Porto, Udinese, Lyon, Sevilha;

 

4.    Os clubes que tentam essencialmente formar os seus jogadores e que quando vão ao mercado preferem jogadores ainda muito jovens e pouco conhecidos: Ajax, Sporting, Atlético Bilbau, Feyenoord.

 

Os nomes referidos acima são essencialmente indicativos e não são herméticos. Há clubes que poderiam caber em mais que uma categoria (Arsenal e Barcelona, por exemplo). No entanto, e para este post, quero comentar essencialmente o modelo 3.

 

Este modelo interessa-me por ser aquele que o meu clube - Benfica - segue actualmente. É indiscutível que tem dado alguns bons frutos. No reinado de Jorge Jesus - que é um ás a valorizar jogadores e fraquinho a vencer troféus - deu para a venda por bom dinheiro de Coentrão, Ramires, di María, Javi García, David Luiz e agora Matić. Outro exemplo de sucesso (e ainda mais pronunciado) é o do FC Porto, com a venda de Falcao, Hulk, João Moutinho, etc. São modelos que têm dado para adquirir jogadores por 5 a 15 milhões para os vender a 20-35 milhões e pelo meio os jogadores contribuem bastante para a equipa. No papel são bons negócios.

 

Claro que têm problemas. Estão dependentes de agentes (Jorge Mendes à cabeça) e um dos problemas disto é que estes poderão exigir a compra de jogadores no máximo apenas medíocres como contrapartida (o cortejo de jogadores contratados pelo Benfica para serem emprestados e depois dispensados dá a volta ao Estádio). Por outro lado, se os jogadores forem bons mas não forem vendidos, o investimento não compensa em termos financeiros. Luisão, Cardozo e Gáitan podem ser bons jogadores, mas há anos que o Benfica tenta vendê-los com lucro e não consegue.

 

Disto resulta que os clubes com o modelo 3 vivem dentro de uma bolha. Por vezes é inflaccionada (não se consegue vender o jogador), noutras alturas é reduzida (o jogador dá um bom lucro). O problema das bolhas é que, de tempos a tempos, rebentam. Para tal bastam normalmente pequenos percalços. O clube pode passar demasiado tempo à espera de vender os jogadores (e entretanto compra outros); os clubes que pagam as fortunas passam por um período de menor liquidez (como quando esperam pelos novos contratos televisivos); ou, e aqui há o risco actual, quando regras externas entram em vigor com o fim de limitar os gastos excessivos - o famoso fair play financeiro da UEFA.

 

Actualmente não se sabe muito bem o efeito que terá porque a própria UEFA ainda não esclareceu certos aspectos. Por outro lado fica por saber se a UEFA teria coragem de negar a entrada a um Chelsea ou a um Milão (dois clubes a tentar cumprir as regras). No entanto, assumindo que as regras são estabelecidas e cumpridas e que clubes que vivem à base do sugar daddy têm mesmo que limitar gastos ou ser excluídos, os clubes dom o 3º modelo arriscam-se a ficar com activos desvalorizados nas mãos.

 

Os jogadores que compram têm-se vindo a tornar cada vez mais caros porque os clubes vendedores (normalmente da América do Sul) sabem que eles são depois retransferidos a valores que aumentam constantemente. Isso significa que ao comprarem um jogador em 2014 por um valor que será substancialmente superior aos de 2012, os clubes "3" esperam também que o valor de revenda em 2016 seja também superior ao de 2013. Caso isso não suceda por razões externas, os clubes perdem dinheiro muito depressa.

 

E é nessa corda bamba que clubes como o Benfica e o FC Porto caminham. O FC Porto menos porque é indubitavelmente melhor organizado, mas também está sujeito ao risco. Nesses momentos veremos os clubes do modelo 4 a reemergir, porque a queda na valorização dos jogadores os afectará menos, já que gastaram também menos a comprar ou simplesmente nada a treinar.

 

Não sou - longe disso - um oráculo de futebol. Espero até que esteja enganado, para bem do Benfica - e, vá lá, do FC Porto, a bem do desporto português. No entanto não posso deixar de pensar que se o Sporting mantiver o caminho que trilha actualmente, será a breve prazo o dominador do futebol português por uns anos.”

 

 

Confesso que fico um pouco preocupado, não com o enquadramento do FC Porto naquele grupo, mas pelo facto de, a nível externo, nenhum dos clubes que o integram lutar declaradamente pelo título de campeão do respectivo país.

 

Por outro lado, a nível interno, fico mais tranquilo pois parece-me que, dentro do nosso modelo de negócio, ainda somos detentores da liderança.

 

Sem dúvida que o nosso rival, pontualmente, tem vindo a fazer alguns bons negócios, e outros em que não se consegue muito bem distinguir negócio de negociata, suscitando bastas dúvidas a proveniência dos fundos que lhes dão cobertura.

 

Pela nossa parte, apesar de alguma inversão no modus operandi, o modelo permanece.

 

As futuras vedetas, que antes eram adquiridas a preço de banana, como diria o Mourinho, deram o lugar a vedetas, ainda que jovens, e como tal, dispendiosas.  

 

É das regras comerciais: para se obterem margens de lucro, ou se vendem muitas unidades, a baixo preço e com uma margem curta por cada uma, ou se vendem poucas unidades, a um preço elevado, obtendo-se margens mais elevadas em cada uma delas.

 

As aquisições do Hulk, do Danilo, do Alex Sandro, em parte do James, do Quintero, e do Reyes e do Herrera, marcam essa viragem.

 

Convém também ter presente o papel dos empresários, intermediários e fundos de jogadores. Quanto maior for a margem na venda dos jogadores, maior será sua própria.

 

Outra explicação para a mudança poderá ter a ver com o plano desportivo. Deste ponto de vista, será sempre preferível vender por época um Hulk, um João Moutinho ou um Falcao, ainda que acompanhados por um James ou um Ruben Micael, que pôr no mercado meia equipa.

 

É claro que a coisa tem outras desvantagens, mas sobre essas, conto falar noutra ocasião.

 

Agora, a parte que me deixou atónito, foi a perspetiva de termos “a breve prazo [um Sporting] dominador do futebol português por uns anos”.

 

Não é por nada, mas eu cresci a ouvir a lenga-lenga das camadas jovens do Sporting, e dos méritos da sua formação. Depois veio a Academia, e qual foi o clube que mais perto andou, e ainda não se safou do buraco?

 

Apesar de todos os méritos de Aurélio Pereira, e dos Futres, dos Figos, dos Quaresmas, dos Crisnaldos, dos Nanis, das maçãs podres, dos bundões, e outros tantos, que não passaram da cepa torta (Carlos Martinzes et al.), nada disso foi suficiente.

 

Bastou vir algum doidivanas, daqueles que abundam lá pelas bandas da Calimeroláxia, e quase foi tudo por água abaixo. Uma vez, outra, e mais outra.

 

Mesmo nesta temporada, em que as coisas até estão surpreendentemente, a correr melhor do que o previsível, o treinador quer levar o barco com calma, sem sofreguidões, degrau a degrau, de acordo com o planeado, e vem de lá o presidente a querer títulos.

 

Pois é, é que é muito bonito recorrer à prata da casa, nem que seja em desespero de causa, como é claramente o caso, ficamos todos muito orgulhosos por termos mais jogadores portugueses que os outros todos, mas se os resultados desportivos não aparecerem…

 

É caso para se dizer, como na anedota sádica: “não há bracinhos, não há bolachinhas!”

 

Atendendo ao actual estado da arte dos três grandes, parece-me muito mais fácil ao FC Porto ou aos outros da capital, na falta de resultados, operarem uma reviravolta estratégica num curto espaço de tempo, do que ao Sporting assomar-se ao patamar dos dois rivais seguindo pela sua via, sem conquistar títulos – e daí a premência absoluta da Taça Lucílio Baptista, há que apaziguar as hostes.

 

Por isso, cheira-me que a previsão do autor, se algum dia se concretizar, será no dia em que os porcos voarem. E aí, cuidado com as penas no fiambre!

sinto-me:
música: Space oddity - Natalie Merchant
publicado por Alex F às 12:00
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2 comentários:
De Jose Lopes a 8 de Fevereiro de 2014 às 18:55
Excelente post, Alex.

Percebi pelo teu comentario no ultimo post do Porta 19 que tinhas voltado a actividade (nao vinha ao teu blog ha algum tempo por ter visto que andava parado). Saudo o regresso, nao sei se recente!

Abraco.
De Alex F a 8 de Fevereiro de 2014 às 23:41
Obrigado José, e bem vindo, neste seu regresso.

Quanto às minhas idas e vindas, isto está a tornar-se muito imprevisível. Neste momento, não consigo manter a constância de outros tempos.

Mas, vou andando por cá...

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