Não sou crente. Embora ache que entendo o conceito de fé, por muito que me esforce, nunca o consegui atingir, e duvido que algum dia lá chegue.
Acreditar em algo apenas porque sim, para além daquilo que a racionalidade alcança é coisa que infelizmente, não está nas minhas capacidades. Por isso mesmo, admiro aqueles que o conseguem fazer. Imagino que a sensação seja um misto de conforto salpicado de rushes de adrenalina.
Esta minha lacuna estende-se obviamente ao que se passa no futebol. Ora, assim sendo, não consigo juntar-me aos adeptos portistas que nos tempos conturbados que atravessamos, têm fé de que tudo se vai resolver. Basicamente, porque assim tem sido desde há trinta anos para cá, e porque o nosso presidente sabe mais de futebol a dormir, do que muitos bem acordados.
Percebo que esta é também a mensagem oficial a passar, ou pelo menos a que foi passada no Porto Canal, pelo José Fernando Rio, após o jogo de Guimarães.
Quando a esta mensagem se junta a ideia de que no FC Porto, por tradição, não há chicotadas psicológicas, e que em vez disso se dá tempo e estabilidade aos técnicos para fazerem o seu trabalho, como São Tomé, desconfio.
Porque não me fio inteiramente na minha memória, e por manifesta preguiça intelectual, resolvi ir à Wikipedia em busca de algo mais palpável, que me confortasse.
Digamos que os resultados não foram muito diferentes daquilo que a minha depauperada memória ainda guardava, nem do que esperava.
Temos então que, nos 31 anos que Pinto da Costa leva como presidente (parece-me que será este o período mais pertinente), a nossa equipa principal teve, até ao Paulo Fonseca, 21 treinadores.
Nestes incluo o primeiro de todos, José Maria Pedroto, embora na minha mente não tenha como perfeitamente esclarecido se foi Pinto da Costa que escolheu Pedroto, ou se este que escolheu Pinto da Costa, ou se as circunstâncias daquele Verão quente, escolheram ambos.
Incluo também, tal como a Wikipedia, o Rui Barros, apesar da condição de interinato em 2006/2007, mas em cuja qualidade, não deixou de conquistar uma Supertaça.
Então e destes, quais foram as apostas bem e mal sucedidas?
Friso, como se fosse preciso, que esta é uma opinião pessoal, e tendo em conta fundamentalmente, os resultados obtidos no campeonato/liga.
Descontando os dois anteriores pelos motivos apontados, considero que terão sido apostas de sucesso 10 treinadores:
- Artur Jorge, entre 1984/85 e 1986/1987;
- Tomislav Ivic, em 1987/88;
- Carlos Alberto Silva, em 1991/92 e 1992/93;
- Sir Bobby Robson, entre 1993/94 e 1995/96;
- António Oliveira, em 1996/97 e 1997/1998;
- José Mourinho, entre 2001/2002 e 2003/2004;
- Co Adriaanse, em 2005/2006;
- Jesualdo Ferreira, entre 2006/2007 e 2008/2009;
- André Villas Boas, em 2010/2011; e
- Vitor Pereira, em 2011/2012 e 2012/2013.
Do outro lado, o dos falhanços, temos os rotundos, aqueles que reúnem a unanimidade de quase toda a gente, à parte talvez algum dos próprios, menos dotado para a autoavaliação, e os menos rotundos.
Rotundamente falharam:
- Quinito, em 1988/89;
- Tomislav Ivic, também na sua segunda passagem, em 1993/94, em boa hora terminada para dar lugar à vinda de Bobby Robson;
- Octávio, em 2001/2002;
- Luigi del Neri, Victor Fernandez e José Couceiro, todos em 2004/2005;
Além destes, incluo ainda no lote das “falhas”, mas menos graves:
- Artur Jorge, na sua segunda passagem, entre 1988/89 e 1990/1991, apesar de ter conquistado um Campeonato, uma Taça de Portugal e uma Supertaça;
- Fernando Santos, entre 1998/1999 e 2000/2001, mesmo tendo vencido o penta, duas Taças de Portugal e outras duas Supertaças;
No cômputo global, teremos pois oito casos de insucesso. Se somarmos o Paulo Fonseca, serão nove.
As escolhas mais arriscadas foram, para mim, Paulo Fonseca, Villas Boas, Vitor Pereira e Mourinho, precisamente por esta ordem.
Paulo Fonseca, como escreveu Pedro Marques Lopes, neste artigo, que surripiei com o devido respeito e vénia, do blog do Dragão Vila Pouca, foi o esticar da corda.
Não bastando um treinador com uma experiência relativamente curta, acrescentou-se a ausência de vivência de “clube grande”, algo que nos outros, apesar de tudo, havia.
Ou naqueles em que ela não existia, o lastro de experiência de que eram portadores, ou o seu temperamento, e neste caso, estou a pensar muito concretamente no Co Adriaanse, faziam deles fortes candidatos a triunfarem. Faltava-lhes apenas a melhor envolvente.
Paradoxalmente, as melhores escolhas, do ponto de vista do binómio resultados internos/externos, foram algumas das escolhas mais arriscadas: Artur Jorge, José Mourinho e André Villas Boas.
E o que é que temos mais?
Vejamos a parte a evitar. Os nossos piores períodos em matéria de treinadores foram aqueles que se seguiram às conquistas da Taça dos Campeões/Champions, entre 1988/1889 e 1990/91, e 2004/2005.
A época de 2004/2005 foi a do mais completo desvario, pois um terço das piores escolhas ocorreu nessa mesma temporada
Fernando Santos e Octávio Machado foram os protagonistas do hiato de secura de títulos de campeão nacional, entre 1999/2000 e 2001/2002 – três épocas.
No entanto, a eles seguiu-se a nossa fase mais resplandecente, com Mourinho no comando.
Esta fase, bem como a do penta foram ambas antecedidas de “chicotadas psicológicas”.
O único treinador que permaneceu duas temporadas à frente da equipa sem conquistar o campeonato foi Fernando Santos.
Se, nos casos dos técnicos que não lograram conquistar o título de campeão e saíram, se poderá falar em apostas falhadas, neste caso houve uma teimosa persistência no erro.
Tal como a manutenção de Jesualdo Ferreira em 2009/2010, quando muito claramente, a motivação para continuar a ganhar era manifestamente insuficiente.
Vendo as coisas de outro parâmetro, agora que Marco Silva nos é apontado à força toda, ele que é reconhecidamente benfiquista, diga-se que de todos os treinadores elencados (excluindo sempre Pedroto e Rui Barros), apenas três foram unanimemente reconhecidos como sendo declaradamente portistas: António Oliveira, André Villas Boas e Vitor Pereira. Embora este último não tenha sido bem uma opção, mas mais o resultado conveniente duma exclusão de partes.
No fundo, quase tantos quantos os benfiquistas: Fernando Santos e Jesualdo Ferreira.
Que poderemos então concluir?
Que as coisas estão equilibradas. Em matéria de treinadores, Pinto da Costa acerta muito, mas erra quase tanto quanto acerta.
A arte da coisa reside precisamente no prolongamento dos períodos de acerto, que faz com que o número de títulos compense largamente os desacertos. Porém, o exagero na insistência não deu bons resultados.
Quando acerta, acerta em cheio, tal como quando erra. Mas quando erra, e dá a mão à palmatória reconhecendo o erro, normalmente a recompensa vale a pena.
Quanto ao resto, temos vitórias e derrotas, sucessos e insucessos. Excelentes apostas, boas apostas, apostas assim-assim, más e péssimas. Temos escolhas seguras e o desafio da racionalidade mais básica. Desvario e teimosia. Quase tantos homens da casa, como de casas alheias.
Ou seja de tudo um pouco. Certo é que, excluindo o desvario de 2004/2005, as famosas “chicotadas psicológicas”, ainda que sem resultados imediatos, antecederam alguns dos melhores períodos do nosso trajecto de vitórias.
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