Segunda-feira, 24 de Novembro de 2014

Ouço harpas, devo estar no céu (actualizado)

"Os presidentes do FCPorto e do Benfica foram capazes de ultrapassar questões pessoais para salvar a Liga"

 

Quando vi e ouvi isto na RTP (a entrevista integral a Pinto da Costa em terras de Angola, será transmitida amanhã), nem quis acreditar. Quaisquer dúvidas que a capa abaixo pudesse suscitar, estavam perfeitamente esclarecidas.

 

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A minha primeira reacção foi pensar em fechar o tasco e dedicar-me ao macramé.

 

Foi como se em vez de quem preside aos destinos do meu clube, estivesse a falar no seu lugar um clone, um sósia perfeito, que por uma incrível coincidência, também se chamaria Jorge Nuno Pinto da Costa.

 

Mas depois de perder dez minutos a pensar fora da caixa, num exercício aturado de pensamento de caranguejo, acalmei e mudei de idéias.

 

O mote da minha deambulação foi: afinal, a quem dói mais esta união? A nós? Ou a eles?

 

É certo que do nosso lado há muito orgulho para engolir. Orgulho, e não só. Há Apitos Dourados, há tentativas de exclusão da Champions, há túneis, há tempos e tempos a ser insultados de corruptos e porcos, e outros mimos parecidos.

 

E do lado deles?

 

Bem se viu a precupação com que rapidamente vieram desmentir a união, logo à primeira denúncia vinda dos lados da Calimeroláxia. Como se fossemos leprosos, ou coisa pior, que na realidade é aquilo por que nos tomam.

 

Alguém no seu perfeito juízo, quando confrontado com as arbitragens que temos presenciado esta temporada, acreditará que controlamos o que quer que seja no futebol português?

 

Claro que sim. Há malucos para tudo nesta vida! Só que a realidade desmente-os.

 

E no entanto, eles vieram aliar-se a nós. Eles, que levaram anos e anos a criar um mito, lançando sobre nós o anétema do jogo sujo e da corrupção, como é que irão justificar agora, perante os próprios adeptos, esta convergência?

 

Para salvar a liga de clubes? Mas o que é que risca a liga de clubes no futebol português, para que seja tão premente a sua salvação?

 

Acaso não sobreviveria o nosso futebol sem a liga de clubes? O que é que se perdia? A arbitragem e a disciplina estão na Federação, e não se perspetiva qualquer alteração. Aliás, quem a defende é precisamente o Sporting, que ficou de fora.

 

A centralização dos direitos de transmissão televisiva? Para quê? A coisaTV não dá lucros a potes? E nós não temos os direitos vendidos até 2018?

 

Já sei, perdia-se a Taça Lucílio Baptista. Pfff!

 

Nada disto me parece razão suficientemente convincente para dar a volta a quaisquer adeptos, por mais fundamentalistas e desmiolados que possam ser.

 

Em compensação, do nosso lado, se deixam de fazer sentido queixas relativamente à arbitragem, talvez esta seja uma forma de finalmente se conseguir atingir um ponto de equilíbrio, perdido por via do Apito Dourado.

 

Aliviado finalmente, o espectro da corrupção que ensombra as actuações dos árbitros e que os leva, no exagero de evitar errar a nosso favor, a fazer precisamente o contrário, talvez o deve e haver no final do campeonato se venha a revelar efectivamente equilibrado.

 

A este ponto acresce que a parcialidade da comunicação social neste capítulo deixará de fazer sentido. Havendo uma sintonia entre os clubes, por que carga d'água a comunicação social, ainda que afecta a um deles, iria denunciar um deles e omitir o que se passa com o outro?

 

Um tal comportamento apenas acabaria inevitavelmente por minar a união, tão do interesse, vá se lá saber porquê, do seu clube favorito, logo será, em princípio, de evitar.

 

Por tudo isto, mudei de idéias, e tenho de dizer: "Chapeau", senhor Jorge Nuno Pinto da Costa. Jogada de mestre.

 

Quanto ao indivíduo dos apêndices auriculares protuberantes, das duas uma, ou se passou dos carretos, ou, como desconfio de há uns tempos a esta parte, o rombo no navio é tão colossal como o navio, e está ansioso por dar de frosques, prestando-nos antes disso, um derradeiro e precioso serviço.

 

Apenas uma nota final de discordância. Qualquer questão que possa ter havido, nunca poderá ser ou ter sido pessoal.

 

Jorge Nuno Pinto da Costa foi ilibado em toda a linha no Apito Dourado, mas o clube foi condenado e perdeu seis pontos.

 

Para os adeptos que têm levado anos e anos a serem insultados, e que, perante o silêncio institucional, em muitas ocasiões, deram eles próprios a cara e o corpo ao manifesto pelo clube, esta não é uma questão pessoal.

 

Os homens passam e a instituição fica, ninguém está acima dela. Foi isso que aprendemos nestes anos todos, e aplica-se aos jogadores, aos treinadores ou ao próprio presidente.

 

Apesar de estar a falar a partir de Angola, os tempos não são de absolutismo e os Reis Sol deixaram de fazer sentido. O Sol quando nasce é para todos. 

publicado por Alex F às 21:39
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