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Azul ao Sul

Algarvio e portista E depois? O mar também é azul...

Azul ao Sul

Algarvio e portista E depois? O mar também é azul...

No fundo, os adeptos não passam de uma cambada de Bonnies Tylers

24
Set15

Como o Jorge muito bem caracterizou, depois do último fim-de-semana, gerou-se uma onda, não, um tsunami de histeria em torno do André André.

 

Sei disso. Fui um dos que não lhe resistiram.

 

Mas foi interessante. Sabem porquê? Essencialmente porque tive a oportunidade de comprovar algo de que já falara em tempos, quando dediquei algumas linhas à problemática do assobios e dos assobiadores.

 

Todos nós, enquanto adeptos, queremos ter na nossa equipa bons jogadores. Profissionais, empenhados, dedicados, isso tudo. É básico, e é o mais natural.

 

Porém, se para alguns esses atributos, embrulhados numa bela camisola às riscas azuis e brancas, bastam, há outros que vão ainda mais além no seu grau de exigência.

 

A ligação emocional e afectiva que têm com o clube pede mais que as meras obrigações éticas e mecânicas do profissionalismo.

 

Procuram referências dentro do terreno de jogo, alguém com que se identifiquem. Grande parte do empolamento dado, ainda hoje, à questão do Quaresma, para lá de muita estupidez, terá resultado disto mesmo.

 

A carga genética azul e branca que o André André carrega involuntariamente em si, mas que denodadamente faz por não desmerecer, torna-o num símbolo por excelência. Num país ainda devoto do mito sebastiânico, e que procura salvadores da pátria a cada esquina, é um achado.

 

Talvez fosse interessante que alguém retirasse daqui, senão a devida, ao menos uma qualquer ilação.

 

No fundo, os adeptos não passam de umas bifas, de fartas cabeleiras loiras esvoaçantes, abonadas com proeminentes pares de amélias, que se pavoneiam bamboleantes, enquanto equilibram um balde de malte na mão, na pista do Liberto's, em Albufeira.

 

Uma autêntica cambada de Bonnies Tylers, que nos intervalos em que não estão muito ocupados a assobiar ou a cantar "slb, slb, slb...", se dedicam a sessões contínuas de karaoke:

 

" I need a hero

I'm holding out for an hero "

 

Bem, e agora, vou pôr-me na alheta, que está lá ao fundo, na ponta do balcão, um gajo podre de bêbedo, que não pára de galar-me.

 

Porra, que o raio da cabeleira loira é mesmo irresistível!

 

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Incaracteristicamente característico - A confissão

01
Set15

A propósito do texto "Incaracteristicamente caracteristico", que publiquei na manhã do nosso último jogo contra o Estoril-Praia, tenho uma confissão a fazer-vos.

 

Acreditem ou não, e espero que acreditem, porque senão não tenho qualquer forma de prová-lo, mas o essencial daquele texto estava escrito, vai para qualquer coisa como quase dois anos.

 

Andava por ali, abandonado nos rascunhos à espera de melhores dias, e nem sei porquê, deu-me para publicá-lo no Sábado passado.

 

Não sei se isto vos diz alguma coisa, porém, para mim, é ilustrativo daquela que foi a evolução futebolística do Herrera, mais coisa, menos coisa, em linha com a quantidade de títulos arrecadados pelo seu treinador na época passada.

 

E mais, no ultimo jogo foi por demais evidente, que o Herrera acabou por se revelar o elemento estabilizador da equipa. 

 

Bem demonstrativo daquele que é o estado da arte nos tempos que correm.

They dance alone

25
Mai15

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“They’re dancing with the missing

 

(…)

 

They’re dancing with the invisible ones

 

Their anguish is unsaid

 

(…)

 

They dance alone

 

They dance alone

 

It’s the only form of protest they’re allowed

I’ve seen their silent faces scream so loud”

 

 

Alguém acredita que terá sido de ânimo leve, que as claques do FC Porto permaneceram em silêncio grande parte do tempo, e abandonaram o recinto antes de terminar o nosso último jogo?

 

Alguém acha que a atitude das claques significa, que por um momento que seja, deixaram de apoiar, de gostar, de viver, de sentir, o clube e a equipa?

 

Alguém duvida que na próxima temporada vão voltar a lá estar e a cantar e gritar os nomes dos jogadores que agora apuparam?

 

Alguém pensa que assobiam os jogadores na expectativa de que, com um estalar de dedos, como que num passe de magia, fiquem impregnados do ADN que não possuem, por muito cientificamente interessante que uma tal transfusão pudesse ser?

 

Eu acho que não, e não tenho a menor dúvida de que, na próxima temporada, lá estarão com os seus cânticos e o seu apoio. E tarjas.

 

Não acredito, nem por um segundo que seja, que tenham voltado as costas à equipa, ou que não se orgulhem do seu trajecto, e ainda menos que não respeitem o suor que alguns daqueles jogadores, nomeadamente os que vão sair, verteram naquelas camisolas.

 

Parece-me antes que, no actual estado de reactividade epidérmica, esta terá sido talvez, a forma de protesto possível.

 

Mais, não me afigura sequer que se trate de um protesto dirigido a alguém em particular. Nem aos jogadores, nem ao treinador, nem sequer à SAD ou ao presidente.

 

Pareceu-me antes uma chamada de atenção para o rumo que as coisas tomaram e, ao que parece, será para continuar autisticamente inalterado.

 

Um pai que dá uma palmada num filho, por este se portar mal, porventura deixará de o amar da mesma maneira?

 

Bem, na presente conjuntura, aquilo que acabei de escrever não é certamente politicamente correcto, e alguém ainda seria capaz de ir a correr chamar a Comissão de Protecção de Menores.

 

É isso, no fundo, que as claques aplicaram: uma palmada, um correctivo. Para que no futuro a asneira não se repita. Para que se arrepie caminho. Para que, ao menos, se oiça. Neste caso, ironicamente, o silêncio, como cantaram Simon & Garfunkel.

 

Seriam preferíveis apedrejamentos? Que se virassem e incendiassem viaturas ou que se saqueassem armazéns?

 

Essas, ultimamente, parecem ser actividades mais próprias para festejos, do que para manifestações de protesto.

 

E quanto a mim, nada disto não tem que ver com ser ou deixar de ser coerente, o essencial permanece lá, quero crer que intacto e imutável: a paixão pelo clube.

 

Ou seria melhor bater palminhas, e ficar alegremente a ver as coisas descambarem, como Nero num torpor esgazeado a olhar para Roma a arder?

 

Vale o que vale, mas se noutras ocasiões estive longe de concordar com a postura das claques, neste caso em particular, têm a minha total compreensão.

  

“Hey Mr. Pinochet

 

You’ve sown a bitter crop

 

It’s foreign money that supports you

 

One day the money’s going to stop

 

No wages for your torturers

 

No budget for your gun

 

Can you think of your own mother

 

Dancin’ with her invisible son”

 

Nota: não me levem a mal por ir buscar esta música, que retrata e tem a ver com coisas muito mais sérias do que este assunto. Por favor, ao lerem coloquem as coisas na sua devida proporção. Relativizem. Foi apenas a música que imediatamente me ocorreu.

 

Também não me levem a mal a referência a Pinochet. Está na música, e ao mantê-la não estou a fazer qualquer comparação entre personagens históricas. Quanto muito, uma longíqua, mas possível analogia de situações… 

 

Percebem agora?

19
Mai15

"Sei lá quantos vai assinar patrocínio milionário com a Emirates"

 

Estão a perceber porque é que não dou relevância, por aí além, aos milhões da Liga dos Campeões?

 

Não é que não valorize a caminhada feita, é claro que não é todos os dias que se chega aos quartos-de-final, mas daí a fazer do dinheiro o foco prioritário…

 

Arrecadámos vinte e tal milhões, temos garantidos mais doze para a próxima temporada e vem aí um empréstimo obrigacionista de mais 40.

 

Apesar disso, o Danilo está vendido, e parcialmente recebido, ao que consta, e ainda vamos ter de nos desfazer de mais alguém.

 

E do outro lado, o que é se vê?

 

Sai a PT, que dava quatro milhões/ano, e entra a Emirates, que vai dar oito.

 

Mas isto nem é o mais importante.

 

Nada impede que venhamos a ter nas nossas camisolas o Azerbaijão, o Usbequistão, ou outro “ão” qualquer.

 

A questão não é essa. A questão é que contra recursos que são ilimitados, não há concorrência possível.

 

Não vale a pena entrar no jogo dos milhões, porque nesse, estamos condenados a ficar sempre a perder.

 

Se não for da Emirates, o dinheiro haverá de brotar por qualquer outra via, e nunca faltará. Peter Lim, Jorge Mendes, BES, Novo Banco, donde quer que seja…

 

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E, fundamentalmente, por dois motivos, qualquer um deles inquestionável: a dimensão do mercado e a impunidade.

 

Quanto à dimensão do mercado, é claro que um share de seis milhões, give or take a few (millions!), é sempre mais apetecível que um de quatro, três ou menos.

 

E se esse share, face às suas características idiossincráticas revela uma propensão quase irracional para um consumo desenfreado, melhor ainda.

 

Relevante, é também o manto de impunidade que cobre as fontes donde provém o financiamento, seja elas claras ou obscuras.

 

Bernardino Barros questiona com alguma frequência no Porto Canal, porque é que o “Apito Dourado” não desceu abaixo de Leiria.

 

Não é só com o “Apito Dourado” que isso acontece. É geral.

 

Toda e qualquer matéria em que dê azo à mais pequena dúvida quanto à sua legitimidade, e mais grave, legalidade, é rapidamente abafada, e se tal não for suficiente, branqueada.

 

Para tal, concorre grandemente o beneplácito de todas as instâncias, de cima abaixo nas suas hierarquias, e a conivência decisiva, inacreditavelmente muito mais por acção do que por omissão, de todo um universo de comunicação social, em que as leis de mercado se sobrepuseram há muito tempo, àqueles que deveriam ser os seus princípios éticos e deontológicos.

 

Neste caldo, a concorrência pelos milhões é claramente impraticável.

 

O único campeonato europeu onde consigo vislumbrar um paralelo de comparação é a Bundesliga, onde a desproporção é de tal ordem, que o Bayern de Munique, recorrentemente, se dá ao luxo de contratar os melhores jogadores dos rivais directos, como o Borussia de Dortmund.

 

Ainda assim, este último consegue, ainda que episodicamente, fazer-lhe frente, e o presidente dos bávaros, Uli Hoeness, embora a título pessoal, foi condenado por fraude e evasão fiscal.

 

E por cá?

 

Por cá, fico estúpido quando vejo adeptos portistas, do alto da sua credulidade, a caírem convictamente na esparrela de que no outro lado o dinheiro vai acabar.

 

Boa sorte.

 

A mística do funcionalismo

07
Mai15

 

 

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Ele há pessoas que têm um prazer insano em complicar aquilo que é simples.

 

Então não é que uns indivíduos quaisquer, um tal de Vítor Baía, um Jorge Costa e um Ricardo Costa, resolveram ligar o “complicómetro”, e tiveram a distinta lata de vir para a praça pública falar em “falta de mística" no FC Porto actual?

 

Que raio! Não têm nada de mais produtivo para fazer?

 

Mas, o actual treinador da nossa equipa respondeu-lhes à letra, certamente para grande alegria dos seus fãs:

 

"Falta de mística? A mística passa pelo profissionalismo, pelo orgulho, pela responsabilidade, e a equipa mostrou isso"

 

Ora, nem mais. É tão prosaico e linear, que não percebo donde vêm questões tão a despropósito.

 

Outra coisa que também não percebo é que, se a equipa mostrou estas características ao longo da temporada, e os outros é que vão à frente, o que é que faltou?

 

Os outros tiveram mais profissionalismo? Mais orgulho? Foram mais responsáveis?

 

Sim, já sei: as arbitragens. É claro.

 

O descalabro de Paulo Fonseca também começou com o penálti mal assinalado na Amoreira. Por outro lado, o Jesualdo Ferreira foi campeão, mais do que uma vez, em plena ebulição do Apito Dourado, numa altura em que nenhum árbitro nos dava o benefício da dúvida. Antes pelo contrário.

 

Mas voltemos ao que interessa.

 

Se me dirigir a uma qualquer repartição pública, o mínimo que exijo aos meus concidadãos e colegas funcionários públicos, ou o quer que nos queiram chamar, é profissionalismo, orgulho e responsabilidade.

 

E, quer acreditem, quer não, há muitos bons profissionais na nossa administração pública. Têm orgulho em prestar um serviço público, e fazem-no de forma responsável.

 

É uma realidade que constato e com a qual convivo diariamente.

 

Aliás, digo mais, aquilo que a nossa administração pública tem de bom e que funciona, depende largamente do empenho desses profissionais, que dedicam uma porção considerável do seu horário de trabalho, a desfazer e reciclar merdas que chefias incompetentes, colocadas politicamente em função do cartão partidário, os tais “boys” e “girls”, que não acabaram, nem pouco mais ou menos, por ignorância, incapacidade e clientelismo produzem.

 

Talvez daí a necessidade de ampliação do horário de trabalho…

 

No entanto, a imagem global que passa da nossa administração pública é aquela que todos conhecemos.

 

Porquê? Porque os bons profissionais que existem não têm qualquer contrapartida palpável que os compense pela sua dedicação, e consequentemente, desmotivam-se.

 

Desmotivados, acabam por fazer aquilo que tantas vezes se vê: picar o ponto à entrada e à saída, e amanhã há mais.

 

E é este o cerne da questão: a motivação.

 

Um profissional competente e sério atinge os seus objectivos. É o normal, e é a isso que o seu profissionalismo, o seu orgulho e a sua responsabilidade, o obrigam.

 

Um profissional motivado, transcende-se, e supera-os.

 

Num clube, reconhecido mundialmente por contratar jogadores desconhecidos, embora cada vez menos desconhecidos, valorizá-los, e transferi-los com lucro, como é se motivam os profissionais para darem tudo o que têm, com profissionalismo, orgulho e responsabilidade, sabendo que, mais cedo ou mais tarde chegará o ansiado momento de "dar o salto"?

 

E para transcenderem-se?

 

Como é que se faz isso quando a sua cotação de mercado parece nem sequer depender dos títulos conquistados pela equipa?

 

Veja-se o caso do Jackson Martínez. Sem dúvida um bom jogador, e não o tenho como mau profissional. Em determinados momentos, se estivesse cá de corpo inteiro, talvez até pudesse fazer mais, mas ainda assim é inquestionável que faz bastante.

 

Desde que veste as nossas cores, foi apenas uma vez campeão, e vai com três épocas entre nós. Deixou de ter pretendentes ou o seu valor de mercado baixou por isso? Não me consta.

 

Portanto, deve necessariamente haver algo mais.

 

Ou o que queremos para o FC Porto são profissionais ao jeito do tradicional funcionalismo público?

 

Jogadores que se limitam a picar o ponto, e corram as coisas como correrem, vão para casa com a consciência tranquila do dever cumprido, porque se correr mal, para a semana há mais?

 

É esse o tipo de mística que queremos?

 

Compreendo e encaro com normalidade, que alguém vindo de fora, e que conhece da história deste clube, aquilo que tiveram a delicadeza de lhe ensinar, se é que a tiveram, ache que “a mística passa pelo profissionalismo, pelo orgulho, pela responsabilidade.

 

Contudo, parece-me demasiado redutor. Por isso, acho estranho que adeptos portistas pensem o mesmo, e surpreende-me a facilidade tamanha com que se prontificam a renegar parte da história do clube, bem assim como a opinião de figuras que dela fazem parte.

 

Porquê? Ignorância? Estupidez? Amnésia? Desonestidade intelectual?

P.V.P. ou “Da influência da cor vermelha enquanto factor de distorção na apreensão da realidade” – Parte III

28
Mai12

A propósito dos incidentes ocorridos no Dragão Caixa, no recente jogo final do playoff da Liga de basquetebol, vieram alguns dos moralistas do costume botar faladura, inicialmente, até sem saberem exactamente do que falavam.

 

Nem tal é preciso. Como é tradicional, fazem-no, escudados no maniqueísmo primário, tão do agrado dos adeptos do seu clube. O Bem vs. Mal, em que os lados estão perfeitamente definidos, e adivinhem quem está de que lado?

 

Ao Bem, tudo se perdoa, pois se dali algo menos digno emana, é por provocação do Mal.

 

Acham o comportamento do Carlos Lisboa lamentável, mas, ainda assim, quiçá por desconhecimento da sua prévia existência, ou apenas para atirar paralelepípedos aos olhos dos outros, permanecem na vã esperança que o dito se digne a facultar uma explicação plausível, que desdiga o que disse, e obviamente, desculpabilize a sua atitude, pois tonto é que não é.

 

Do lado do Mal, estão os tontos, os grunhos, a barbárie, pois mesmo quando provocados, são incapazes de revelar capacidade de “encaixe”. A mesma que aquele treinador reclama dos outros, dizendo que, na derrota, «[é] preciso saber “encaixar”», quando ele próprio, a ser verdade o que li num comentário, não a terá em abundância suficiente para suportar uma piada sobre o seu futuro profissional, e reagiu como se viu.

 

Reagiram mal e exageradamente os adeptos? Sim, é verdade. O que é engraçado é, como em tão pouco, apenas naquela resposta do treinador e no texto a que vai dar a ligação acima, tanto se revela do “ser benfiquista”.

 

A mesma puta da mesma superioridade moral do costume. A facilidade em julgar os outros pelos seus parâmetros, e paradoxalmente, a usual incapacidade de olhar para o próprio umbigo, à volta do qual, afinal de contas, tudo gira.

 

Aquele texto recordou-me de algo que comecei a escrever antes da interrupção ocorrida na actividade deste espaço, entre Maio e Dezembro do ano passado.

 

Na altura, num momento convulsivo da temporada, comecei a escrever para que as Putas das Virgens Puras não encolhessem os ombros e viessem dizer que não viram, não ouviram e não sabem de nada. Era suposto ser uma trilogia, como qualquer obra que se quer credível, mas ficou inacabada (caso interessem, ficam as ligações para a Parte I e a Parte II).

 

Para a terminar, faltou uma história, contada parcialmente na primeira pessoa, que poderá contribuir para o enriquecimento cultural, dos que tiverem suficiente abertura de espírito para a compreender.

 

Na cidade de Faro cada um dos três maiores clubes nacionais tem a sua filial. O Sporting Clube Farense, o mais proeminente e mais representativo, como o próprio nome indica, é filial do Sporting Clube de Portugal. A filial do Futebol Clube do Porto é o Futebol Clube de São Luís, e a do outro clube, o Sport Faro e Benfica, que merece toda a minha consideração, e daí aqui constar o nome por completo.

 

O São Luís e o Faro e Benfica, como são vulgarmente denominados, são clubes de bairro, que não sei se alguma vez terão ido além dos campeonatos distritais, e se alguma relevância têm, será ao nível das camadas jovens e do desporto amador.

 

É claro que, dada a dimensão dos três clubes, a maior parte dos farenses, onde eu me incluo, tem uma dupla paixão, por um dos clubes de Lisboa ou do Porto, e simultaneamente, independentemente da sua preferência nacional, pelo SC Farense.

 

Após esta breve introdução, direi que em todos os anos que vi futebol no velhinho e hoje decrépito São Luís, sendo o mais imparcial que me é possível, nunca vi o SC Farense ser mais prejudicado contra um dos grandes do que com qualquer outro. Se alguma excepção houver, para pior, será talvez, precisamente em confrontos com a equipa da “casa-mãe”. 

 

Assim sendo, a bipolarização por e anti, descrita por António Boronha no seu blog, e que aqui reproduzi, do ponto de vista de um qualquer farense sem outras preocupações clubísticas que não o SC Farense, não tem mais motivo plausível para existir que, eventualmente o distanciamento geográfico entre Faro e o Porto.

 

A que, entrando na parte que tem que ver com os clubes, acresce o facto de, como o próprio Boronha admitiu já por diversas vezes, o Farense ter sido, no decurso dos seus mandatos, um dos clubes beneficiados, por exemplo, pela política de cedência de jogadores do FC Porto.

 

Tudo somado, torna-se difícil compreender o porquê de, em praticamente todas as vindas a terras do sul, os autocarros portistas serem sistematicamente apedrejados.

 

 

 

Estes comentários, retirados da caixa respectiva do blog acima mencionando, a propósito de mais um apedrejamento, ocorrido aquando de uma visita do FC Porto ao São Luís, poderão, em parte, ajudar a compreender o estado de espírito reinante nesses dias:

 

 

 

 

 

Caso não chegue, convirá ainda ter em conta que a maior claque do Farense chama -se “Southside Boys”, e ostenta por sigla um orgulhoso duplo “S”. Eu não teria tanto orgulho nisso, mas isso sou eu que sou esquisito em rfelação a certas coisas.

 

 

Conhecem alguma outra claque cujo nome termina em “Boys”, e em cujo símbolo constem também duas letras iguais, no caso invertidas?

 

Exacto, é essa mesmo. A tal que é ilegal, e que tem uma arrecadaçãozinha no Estádio da Lucy, onde se encontram coisas interessantes. E porque é que há esta similitude entre as designações destas duas claques?

 

Quem não as conheça, poderá dizer: “Olha que coincidência engraçada!”

 

Quem conhece os seus elementos, trata alguns por tu desde os tempos de escola, sabe bem o porquê, e tem tudo a ver, claro está, com aquele ou aqueles, que são os clubes do seu coração.

 

Por isso, há um pequeno pormenor que é omitido naqueles comentários, e que eu também presenciei no dia em questão. O autocarro do FC Porto foi perseguido e apedrejado até à saída da cidade, quem o perseguiu e apedrejou trajava as camisolas alvi-negras da claque do Farense, só que, por baixo destas a cor era outra.

 

Isto vi eu, não foi preciso que alguém me viesse relatar. Mais tarde, preocupados com as eventuais consequências da situação, apareceram outros sócios do Farense a falar do sucedido, e do facto de o clube ir arcar com as responsabilidades dos actos de uns quantos energúmenos. Como penso que veio a suceder.

 

Portanto, pregadores da moral, dos bons costumes, da verdade desportiva e quejandos, deixem-se de tretas. Os Bons não estão todos de um só lado, nem os Maus do outro.

 

Foi feio o que aconteceu no Dragão Caixa? Pois foi. Não há violência boa e violência má, apenas violência condenável? Também é verdade, assim como a violência não pode servir de álibi para mais uma rodada da dita.

 

Porém, “antros”, no dizer do autor do texto que despoletou este meu longo desabafo, como o Dragão Caixa, há-os por todo lado, basta que neles se reúnam umas quantas dúzias de grunhos, sem que faça grande destrinça entre os que provocam e os que respondem desporporcionada e despropositadamente.

 

Apenas separo os que assim agiram porque, verdadeiramente se sentiram ofendidos por um grunho, daqueles, se é que os houve, por exemplo, no caso do Dragão Caixa, que apenas tinham por motivação obstar a que um adversário recebesse um título na sua casa.  

 

Porque os grunhos, por muito que custe a alguns aceitar, são de todas as cores (clubísticas).

Nem o Arthur C. Clarke explica, quanto mais o Freud

16
Abr12

Passado que foi o fim de semana, ainda não me consegui decidir sobre o que é que me deixou mais chocado, se as vaias com que terão sido recebidos os jogadores, e em particular o treinador, da equipa que conquistou a Taça Lucílio, se ficar a saber que a Rihanna é fã de pornografia brasileira.

 

 

Quando confrontados os relatos surgidos por alturas da sua época de sucesso, de que o Prof. Doutor Rei da Chuinga telefonava para o Rui Costa às tantas da madrugada, para lhe falar dos jogadores que tinha acabado de ver nas transmissões nocturnas do(s) campeonato(s) brasileiro(s), e as contratações de Kardecs, Airtons e Emersons, o que me surpreenderia mesmo era se ao contrário, as vaias fossem para a Rihanna.

 

Há coisas que não compreendo. Censuram-nos porque, dizem eles, falamos mais do clube deles do que do nosso. Criticam-nos porque, dizem eles, vibramos mais com as derrotas do clube deles, do que com as vitórias do nosso. Queixam-se de que não os respeitamos.

 

Mas vai-se a ver, e afinal de contas acabamos todos por estar de acordo. Aquilo que dizem do treinador deles, é igual ou pior que aquilo que nós já vimos dizendo, e não é de hoje.

 

Nós também criticamos o nosso? É verdade. Contudo o nosso nunca passou por um estado prévio de graça. Coitado, mal lá chegou, começou logo a ser zurzido sem piedade. Também é verdade que, por si próprio, ainda não ganhou nada que lhe conferisse o acesso a esse estado gracioso.

 

Eles, parece que finalmente atingiram o conceito de que a Taça Lucílio não passa de um sucedâneo de coisas de que efectivamente gostamos, mas que por algum motivo nos estão vedadas, e que se situa algures na lista entre itens como o adoçante, o descafeínado, a cerveja sem álcool e os bife de soja.

 

Se lhes falarmos em nomes como Luís Filipe Vieira, João Gabriel, Rui Gomes da Silva, Sílvio Cervan ou Pragal Colaço, vade retro Satanás. Nem querem saber, gostam tanto deles, como dos nossos.

 

Do canal de televisão alusivo, idem, aspas, aspas. Se estranhamos, e franzirmos o sobrolho, respondem que não são Marias-vão-com-as-outras, e até pedem, desnecessariamente, licença para que os deixemos pensar pelas suas próprias cabeças. E sabem fazê-lo. Não me estou a referir à massa anódina de adeptos, mas sim à creme-de-lá-creme, a cabeças hábeis, capazes formular de raciocínios coerentes e articulados.

 

Sendo assim, estamos de novo de acordo. Eles não gostam dos deles, e nós também não. Eles não gostam dos nossos, e nós, podemos ter algumas dúvidas ocasionais e passageiras, mas não os trocávamos pelos deles in a million years.

 

Se não gostam deles, algum bom motivo deve haver. Como disse, estamos perante seres inteligentes, logo, não será apenas porque sim ou porque não.

 

Não confiam neles? Desagrada-lhes o seu modus operandi? Então não percebo porque é que depois, quando expomos alguns dos nossos pontos de vista, são tidos a título de “teorias da conspiração”.

 

Ou porque é que, não raro, vemo-los a subscrever pontos de vista idênticos aos daqueles personagens? “Os árbitros, os árbitros, os árbitros!”
 
 

 

Melhor ainda, será que antes de insultarem o treinador e os jogadores, festejaram o título conquistado? Ou a seguir, depois de esfriados os ânimos. Será que se indignaram e se abstiveram de festejar os títulos, poucos, mas ainda assim, alguns, que conquistaram com aquelas pessoas ao leme dos destinos do seu clube?

 

A bem dizer, podem não ter sido brilhantes até aqui, mas sempre foram os melhores dos últimos vinte anos…

 

Num ponto tenho a certeza que estamos em discordância total e absoluta. Eles, não gostam dos deles, mas apesar de tudo, querem (julgo eu!) que o seu clube vença, dê lá por onde der.

 

Nós, não. De que lado está a coerência?

 

Quanto a mim, já decidi o que é que mais me chocou no fim de semana: vão tropas portuguesas a caminho da Guiné Bissau, enquanto por cá há maternidades a fechar e estudantes universitários a desistirem dos seus cursos, por falta de meios financeiros.

 


 

 

 

Nota: Arthur C. Clarke, Sir – autor de ficção científica, que entre outros títulos, escreveu “2001: Odisseia no Espaço”, e apresentava na minha meninice/juventude a série "O Mundo Maravilhoso de Arthur C. Clarke".

 

“Your Favourite Team Doesn’t Give a Damn About You”

28
Mar12

Li este texto aqui há uns dias. Salvaguardadas as distâncias que vão entre duas realidades bastante diferentes, dois países e dois desportos quase sem paralelismos entre si, soou-me algo familiar. Os adeptos são os mesmos em todo o lado, e por isso, resolvi traduzi-lo.

 

Espero que apreciem.

 

 

 
(foto e artigo tirados daqui)
 
A tua equipa favorita está-se nas tintas para ti
 
Por Justin Halpern em 7 de Março de 2012
 

 

Nos últimos 20 anos, apenas perdi sete jogos dos Chargers [San Diego Chargers, uma equipa de futebol americano, que actua na NFL – National Football League]. Vejo-os todos os Domingos, e se o jogo é codificado localmente, agarro-me ao rádio como se estivesse em 1944 a ouvir um discurso de FDR [Franklin Delano Roosevelt] sobre os nazis.

 

Há cinco anos, quando andava a servir à mesa e mal ganhava para a renda, gastei trezentos e trinta dólares numa camisola autêntica do LaDainian Tomlinson. Fi-lo em parte porque necessitava de trocar a minha camisola do Steve Foley depois de ele ter sido atingido a tiro pela polícia, mas também porque queria mostrar o meu apoio à equipa que amo.

 

E no final desta época há uma hipótese muito razoável de que a equipa na qual gastei milhares de horas – e demasiados dólares – a apoiar vá sair de San Diego.

 

Os Chargers estão em San Diego desde 1961, e durante esse tempo tornaram-se o Nicholas Cage da NFL. A cada 10 anos arranjam maneira de fazer uma boa época, mas na maior parte do tempo são uma vergonha de se ver. Mas na época de 1994-95, chegaram à Super Bowl. Apesar de ser do Kentucky, o meu pai é fã dos Chargers. Ele veio para San Diego em 1971 e apaixonou-se pela equipa.

 

Ele é incapaz de usar uma camisola, e a primeira vez que viu a minha disse, “Eu nunca usaria uma maldita camisola de um homem adulto. Isso é para crianças e para a mulher que fode actualmente esse homem”. Mas nunca perde um jogo, e segue a equipa tão de perto quanto eu.

 

Para adeptos dos Chargers como nós, aquela ida à Super Bowl foi grandiosa. Eu tinha 14 anos, e ver os Chargers era a minha actividade favorita que não requeria uma caixa de lenços. O meu pai e eu vimos todos os jogos dos playoffs na nossa sala, ele no seu fato de treino cinzento sentado na sua já gasta cadeira reclinável castanha, e eu desportivamente com a minha t-shirt Junior Seau no nosso sofá castanho.  Para o Super Bowl, mantivemos a mesma rotina, na esperança de que o resultado fosse o mesmo. Mas não foi. Os San Francisco 49ers deram uma coça aos Chargers, 49-26.

 

 

 

 

O meu pai assistiu em silêncio, e eu tentei reduzir as minhas reacções a gritos e cerrar de punhos, mas no princípio do quarto quarto, quando o Steve Young, estabelecendo um recorde fez o seu sexto passe para touchdown para um Jerry Rice desmarcado, saltei do meu assento no sofá, corri para uma almofada que caíra no chão, e chutei-a com toda a força que tinha. A almofada fez ricochete pelas paredes da nossa pequena sala de estar e aterrou no rebordo da lareira, onde embateu de encontro à peça mais preciosa do meu pai: uma garrafa de bourbon do Kentucky em cerâmica com 50 anos que lhe tinha sido dado pelo pai dele. O meu pai estava a guardar aquele bourbon para uma ocasião especial não especificada. Uns anos antes, um amigo perguntara-lhe se ele tinha bebido daquele bourbon na noite em que eu nasci, para marcar o nascimento do seu filho. “Nem sequer pensei nisso”, disse ele. “As pessoas cagam bebés a cada raio de cada segundo. Aquele bourbon foi feito com amor e paciência”.

  

Vi horrorizado a almofada a bater na garrafa, que começou a bambolear devagar em direcção à borda da lareira, onde havia estado pousada desde que me consigo lembrar. Naquilo que parecia câmara-lenta, saltei sobre a mesa do café em direcção à lareira, com os braços estendidos, mas era tarde: caiu ao chão mesmo diante dos meus olhos, e desfez-se em três grandes bocados, derramando o precioso líquido na nossa carpete. Em 20 segundos, era como se nunca tivesse existido. Gelei, depois virei-me lentamente para olhar para o meu pai. A cara dele era uma cara que desde esse dia vi em muitos dos meus amigos que são pais. Uma cara que diz, “Estou com sérias dúvidas sobre a minha decisão de ter filhos”. Então, antes que conseguisse encontrar palavras para me desculpar, levantou-se e saiu pela porta da frente sem dizer palavra. Da nossa sala de estar vi-o subir a rua e desaparecer na escuridão.

 

Quatro horas depois, por volta das 22:30, estava a lavar os dentes e a preparar-me para me deitar quando ouvi a porta de frente abrir. Um momento mais tarde, ele apareceu à porta da casa de banho, com gotas de suor na testa.

 

“Papá, peço imensa desculpa por…”

 

Não há uma escala disponível com a qual eu possa medir com precisão o quanto quero que te cales neste momento, mas acredita-me quando digo que é no teu melhor interesse que o faças”, disse ele calmamente.

 

“Okay”.

 

“Okay. Eu compreendo que gostes dos Chargers. Torces por eles; queres que ganhem. Mata-te quando eles perdem. Mas deixa-me contar-te uma pequena história. Quando exercia medicina no Oklahoma, havia por lá um obstetra que gostava de ir a bares de strip. E havia um em particular não muito longe do hospital a que ele ia sempre que podia. E isto era no Oklahoma, que não é exactamente a primeira divisão dos bares de strip. Não devia dizer isto, é grosseiro. De qualquer forma, aquele médico, apaixonou-se por uma das strippers. E começou a voltar do almoço e a dizer a toda a gente que tinha a certeza que a rapariga também gostava dele, e que lhe dizia que ele era diferente dos outros, e etc., etc.. Isto continua durante uns meses. Então, no dia de São Valentim, ele vai ao bar de strip com um ramo de flores para pedir namoro à stripper ou coisa que o valha. Adivinha o que aconteceu”.

 

“Ela disse que não”.

 

“Não. Ele nem sequer lhe perguntou, porque quando ele entrou ela estava a roçar o traseiro pela tesão de um tipo qualquer. Ele tentou dar um soco ao fulano e levou com uma garrafa de cerveja na cabeça, como um cara-de-cú. O que, para referência futura, será a única maneira como conseguirás pôr uma garrafa de cerveja na cabeça: como um cara-de-cú,” disse ele.  

 

“Wow. Que seca”.

 

“Não exactamente, porque ele era um estúpido de um filho-da-mãe. O que ele não conseguiu perceber – e que qualquer ser humano conseguiria – foi que a stripper vai ser sempre simpática o suficiente para o fazer regressar ao bar, mas no fim do dia, ela está-se marimbando para ti. És apenas mais uma tesão onde ela se esfrega por dinheiro. É a sua profissão. E queres ver? É o raio da mesma coisa que os San Diego Chargers e qualquer outra equipa sentem por ti. Por isso na próxima vez que te quiseres levantar e chutar qualquer coisa, lembra-te disto: A tua equipa favorita está-se nas tintas para ti, portanto porque é que deixas que te arruine o dia? Ou, mais importante, que te faça destruir uma garrafa sagrada de bourbon?”

 

Pensei um momento. “O que é que aconteceu ao tal médico?”

 

“Tornou-se o obstetra-chefe. O seu nome é Hal Ashland. Um gajo porreiro”.

 

Hoje, os Chargers ameaçam ir para outra cidade se não lhes derem um novo estádio. Os fãs de San Diego estão a telefonar para programas de rádio e a escrever artigos irados em blogs, a dizer que se os Chargers se forem embora que se sentirão devastados e traídos. E o seu comportamento não é diferente daquele da grande parte dos adeptos pelo país. Cada vez que a nossa equipa favorita faz algo egoísta, apenas por motivos puramente económicos, levamo-lo a peito. Porque queremos acreditar que eles gostam de nós tanto quanto nós gostamos deles. Mas eles não gostam. Eles apenas se esfregam em quem tem mais dinheiro. Portanto se decidirmos ser como o Hal Ashland, vamos mas é parar de ficar surpreendidos de cada vez que levarmos com uma garrafa de cerveja na cabeça.