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Azul ao Sul

Algarvio e portista E depois? O mar também é azul...

Azul ao Sul

Algarvio e portista E depois? O mar também é azul...

Três médios, três casos

27
Nov15

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Herrera. O jogador mais utilizado por Lopetegui na temporada passada, e que faz nos dias que correm, uma penosa travessia do deserto.

 

Dele disse o treinador à EFE, durante a pausa para os jogos de selecções:

 

"O ano passado jogou praticamente sempre, mas está há dois anos sem férias. Em 2014 jogou o Mundial e em 2015 a Gold Cup. E isso tem muita influência."

 

Herrera fez 180 minutos nos dois jogos da selecção mexicana, e foi convocado e foi suplente utilizado nos Açores, contra o Angrense. André André, Danilo Pereira e Rúben Neves não foram convocados.

 

Conclusão: neste momento, o problema de Herrera, entre outros, que não são agora para aqui chamados, não é o cansaço. O seu maior problema é que, para Lopetegui, passou de indiscutível a descartável.

 

Tanto num caso, como noutro, vá-se lá saber porquê. É carne para canhão. Quando não joga, é porque está cansado, quando é necessário dar descanso às escolhas que o antecedem na rotação engendrada pelo treinador, não há cansaço que lhe pegue.

 

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André André. Na concepção lopeteguiana do que é o futebol, André André não é médio, é extremo, ou se quiserem, interior, como se dizia à moda antiga.

 

No futebol de Lopetegui, o médio centro não é um médio,construtor de jogo, porque o jogo se constrói apenas pelas alas, mas sim um segundo avançado.

 

Assim, tanto pode ser o Herrera, como o Imbula, como o Evandro, como o Bueno, o tal avançado disfarçado de médio.

 

Com excepções, duas, que me lembre. Quando o Brahimi começou um jogo ao meio, a 10: deu um golo, e acabou-se. E contra o Vitória de Setúbal, em que num meio-campo Danilo-André André, este lá jogo naquela que parece ser a sua posição mais natural.

 

Dentro desta lógica, André André entra naturalmente, para as contas de Lopetegui, na rotação dos extremos/interiores. Com Brahimi e Tello operacionais, e com o subterfúgio do cansaço provocado pelos compromissos da selecção, está fora das opções.

 

A não ser que o desespero dite o contrário, como se viu.

 

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Imbula. Ignoremos por um momento o quanto custou.

 

Contra o Maccabi, jogou naquela posição de médio-centro, que é suposto funcionar como segundo avançado. Contra o Angrense, foi trinco, ou duplo-pivot, juntamente com o Sérgio Oliveira. Agora, contra o Dínamo de Kiev, voltou a ser médio-centro.

 

Quando olho para ele em campo, parece andar perdido. Já mostrou que tem técnica, e é perfeitamente natural que um jogador recém chegado revele dificuldades de adaptação. Mas, se ainda por cima, a cada jogo lhe pedem para fazer algo de diferente, será que isso ajuda?

 

Na época passada, quando as posições no centro do terreno ficaram, tanto quanto Lopetegui e as lesões deixaram, definidas, a coisa, mais ou menos carburou. Era Casemiro, Herrera e Óliver, e pronto.

 

Esta temporada, acabou. Os médios são os do duplo-pivot, e o resto é conversa. O médio-centro é mais um avançado, e o meio-campo, um deserto de ideias.

 

Alguém, certamente bem mais inteligente do que eu, disse um dia que "os ataques ganham jogos, mas as defesas ganham campeonatos". Eu acrescento: no meio-campo joga-se futebol.

No fundo, os adeptos não passam de uma cambada de Bonnies Tylers

24
Set15

Como o Jorge muito bem caracterizou, depois do último fim-de-semana, gerou-se uma onda, não, um tsunami de histeria em torno do André André.

 

Sei disso. Fui um dos que não lhe resistiram.

 

Mas foi interessante. Sabem porquê? Essencialmente porque tive a oportunidade de comprovar algo de que já falara em tempos, quando dediquei algumas linhas à problemática do assobios e dos assobiadores.

 

Todos nós, enquanto adeptos, queremos ter na nossa equipa bons jogadores. Profissionais, empenhados, dedicados, isso tudo. É básico, e é o mais natural.

 

Porém, se para alguns esses atributos, embrulhados numa bela camisola às riscas azuis e brancas, bastam, há outros que vão ainda mais além no seu grau de exigência.

 

A ligação emocional e afectiva que têm com o clube pede mais que as meras obrigações éticas e mecânicas do profissionalismo.

 

Procuram referências dentro do terreno de jogo, alguém com que se identifiquem. Grande parte do empolamento dado, ainda hoje, à questão do Quaresma, para lá de muita estupidez, terá resultado disto mesmo.

 

A carga genética azul e branca que o André André carrega involuntariamente em si, mas que denodadamente faz por não desmerecer, torna-o num símbolo por excelência. Num país ainda devoto do mito sebastiânico, e que procura salvadores da pátria a cada esquina, é um achado.

 

Talvez fosse interessante que alguém retirasse daqui, senão a devida, ao menos uma qualquer ilação.

 

No fundo, os adeptos não passam de umas bifas, de fartas cabeleiras loiras esvoaçantes, abonadas com proeminentes pares de amélias, que se pavoneiam bamboleantes, enquanto equilibram um balde de malte na mão, na pista do Liberto's, em Albufeira.

 

Uma autêntica cambada de Bonnies Tylers, que nos intervalos em que não estão muito ocupados a assobiar ou a cantar "slb, slb, slb...", se dedicam a sessões contínuas de karaoke:

 

" I need a hero

I'm holding out for an hero "

 

Bem, e agora, vou pôr-me na alheta, que está lá ao fundo, na ponta do balcão, um gajo podre de bêbedo, que não pára de galar-me.

 

Porra, que o raio da cabeleira loira é mesmo irresistível!

 

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Obrigado André

21
Set15

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Correndo o risco de ser acusado pelo Eduardo Barroso, de algum tipo de plágio, não resisto a contar-vos como é que eu e um dos meus filhos reagimos ao golo do André André, pois o outro andava muito ocupado com o Sonic e o Dr. Eggman.

 

"Foi golo de quem?" - pergumtou ele ao ouvir o meu grito.

 

"Do Porto. Do André André!" - respondi-lhe.

 

"Do André André?! Ele é dos mais fraquinhos..."

 

"É fraquinho, mas é do Porto" - disse-lhe já com os dentes cerrados, a fazer um esforço de contenção para não lhe arriar um chapadão, e sem grande esperança de que percebesse onde queria chegar.

 

Quando foi a hora do André André falar na flash interview fiz questão de por o som mais alto.

 

"Ouviste o que ele disse? Era o sonho dele estar ali e o Porto é o clube do coração dele, por isso, até pode ser fraquinho, mas marcou o golo".

 

Calou-se. O meu filho conhece montes de jogadores de futebol. Por causa das cadernetas de cromos, sabe-lhes os nomes e reconhece-lhes as caras. Portugueses e não só.

 

Mas, apesar de ainda não conseguir avaliar a sua qualidade futebolística, no que toca ao André André, não andou muito longe da realidade.

 

Não estamos na presença de um fora-de-série. É um bom jogador, porventura acima da média, tem qualidade técnica e é inteligente, mas são a raça e a abnegação que fazem dele o jogador que é. E com aquela camisola vestida, então...

 

No fundo, o FC Porto moderno foi isto. O FC Porto internacional teve a sua génese nesta matriz. Uma mescla de jogadores, alguns de elevada craveira, suportados numa base de homens pouco mais que medianos, mas a quem aquela camisola elevava aos píncaros do estrelato.

 

O segredo era então descobri-los e valorizá-los, para depois os transferir com um lucro apreciável. Cada vez mais me convenço de que este, terá forçosamente de ser o caminho a seguir para evitar a dependência de interesses duvidosos de terceiros. Se ainda houver volta a dar.

 

Dificilmente será com orçamentos de centenas de milhões de euros, inflacionados com vedetas oriundas dos catálogos pret-a-porter de fundos de investimento, e a fazer fé no profissionalismo e na racionalidade de jogadores, que chegam com destino marcado para a porta de saída.

 

O portismo é apenas sinônimo de profissionalismo e racionalidade, ou é um sentimento? Os sentimentos compram-se com os milhões da Liga dos Campeões?

 

O amor à camisola está ultrapassado? Está démodé? Não se usa? Azar. Vamos contra a corrente!

 

Por pensar assim sou retrógrado? Bota-de-elástico? Reaccionário? Que seja. É para o lado que durmo melhor.

 

O que sei é que, de vez em quando, vou saboreando momentos de alegria de tal intensidade, que infelizmente, muitos não conseguem sequer compreender, e que tenho pena de não conseguir partilhar com eles.

 

Aqui há tempos foi com a explosão de alegria do Castro, também ao marcar um golo com a nossa camisola. Ontem, foi com o André André.

 

Obrigado André.