Quinta-feira, 29 de Março de 2012

Filho és, pai serás

 
 

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“Se não batessem na minha filha, não me chateava tanto", ressalva, denotando que tinha conhecimento da situação desde o início do ano lectivo, mas realçando que só agiu depois de a mulher ter reparado que o caso "começou a criar conflitos na sala de aula.

 

(…)

 

"aquilo começou a trazer problemas" e justifica assim que tudo isto se transformou numa "causa" pedagógica, garantindo que não está particularmente interessado na questão clubística.

 

(…)

 

confessa (…) que ouviu dos outros pais, maioritariamente benfiquistas, gritos de "vai para o Porto, isto aqui é Lisboa".

 

(…)

 

foi "hooliganizado" no âmbito de uma reunião onde pensou que o caso fosse amenizado, depois de ter falado com os responsáveis do Agrupamento de Escolas da Ericeira (AEE). "Tive os pais aos berros e a quererem empurrar-me e a forçarem-me para ver se eu entrava em reação física, para depois chegar a polícia para dizerem que eu estava maluco", relata, constatando que chamaram mesmo a GNR ao local. Estes encarregados de educação alhearam-se do papel de pais e passaram para o campo do adepto, nota, referindo-se aos "pais feitos claques".

 

(…)

 

"É um hábito de tal forma entranhado, que acharam um absurdo vir eu pedir para mudar aquilo", desabafa, atestando que "é quase como que uma lei" e relatando que os miúdos "cantam duas, três vezes por dia" a canção numa "prática diária".

 

(…)

 

"Como é que é possível estar-se a cantar isto em todo o distrito de Lisboa?" Questiona ainda, apontando para aquilo que será uma prática generalizada e perguntando se um comportamento exibido na sala de aula, "por uma educadora, durante anos consecutivos, não tem impacto na relação das crianças entre si e na relação da criança com a vida?".

 

(…)

 

aquando do Benfica-Zenit da Liga dos Campeões, e enquanto torcia pelos encarnados - "como faço com todas as equipas portuguesas", sublinha -, a filha lhe fez a seguinte pergunta: "ó pai, mas então o (…)ica não é contra o Porto, estás a puxar pelo (…)ica?!".

 

(…)

 

estas crianças "não retiram da escola nenhum sentido de identidade nacional, de país, de Portugal, mas retiram de clubes".

 

(…)

o presidente do AEE lhe confidenciou que "por acaso" é "benfiquista" e que não vê "muito mal" no caso. "Aqueles que defendem isto são benfiquistas", não duvida este adepto do FC Porto - "nem sou sócio", garante contudo -, reparando que "o grande problema é que são tantos e estão em tantos níveis que é perverso".

 

(…)

 

“Não vou entregar a minha filha a esta educadora, nem pensar", diz, lamentando que esta contou aos miúdos, na passada segunda-feira, 19 de março, por ironia Dia do Pai, que não podiam cantar o "Atirei o pau gato" por causa dele, que era "mau".

 

(…)

 

"Tentei tudo e mais alguma coisa até chegar à queixa e isso só aconteceu porque os responsáveis não quiseram resolver, quiseram impor uma coisa que é absurda", constata, concluindo que "ignoraram a criança"

 

(retirado daqui)

 

Sou pai. Tenho dois filhos gémeos, de três anos. Aquilo que li, e que acima transcrevi sobre aquela estória do “Atirei o pau ao gato”, versão benfiquista, choca-me. Fiquei chocado na primeira vez que ouvi e li sobre este caso, mas à medida que mais vou lendo, mais chocado fico.

 

Enquanto pai, em primeiro lugar, acreditem ou não, e como portista depois, mas não tanto, porque, de facto, quer se queira, quer não, no país em que vivemos, temos infelizmente de encarar este tipo de situações como “normais”.

 

O externato que os meus filhos frequentam, de acordo com o regulamento interno, a cumprir por todas as crianças, prevê o uso de um uniforme.

 

Muitas vezes, quando vou buscar os meus filhos reparo que, no meio dos miúdos (e miúdas), todos trajados a preceito com a indumentária preconizada no tal regulamento, sobressai frequentemente um miúdo vestido a rigor com o equipamento completo de uma certa equipa de futebol. Não é do FC Porto, e não é difícil adivinhar de que equipa se trata.

 

A criança em questão é familiar de alguém que trabalha na instituição, portanto, até que a mostarda me chegue efectivamente ao nariz, não vou fazer rigorosamente nada, pois, afinal de contas, durante a semana e enquanto estão acordados, os meus filhos passam mais tempo naquela escola, do que comigo ou com a mãe.

 

E há outra coisa que não farei, enquanto outros não o tentarem fazer primeiro: influenciar ou tentar influenciar os meus filhos na escolha de um clube de futebol.

 

Que me perdoem os colegas portistas que pensam de outra maneira, mas foi assim que fui educado. Sou algarvio, nado e criado no Algarve, não tenho qualquer relação substantiva com o norte do País, ou com a cidade do Porto, no entanto, sou adepto do FC Porto.

 

Os meus pais são ambos sportinguistas. Nunca me influenciaram, nunca me criticaram, também, poderei quase seguramente dizê-lo, nunca compreenderam o porquê de tal ter acontecido.

 

Ter o FC Porto como equipa favorita, ainda que influenciado por terceiros, e em parte inconscientemente, foi a primeira decisão que tomei por mim mesmo, com impacto, diria que decisivo, na minha vida futura. E de que não me arrependo. Nunca.

 

À medida que fui crescendo, fui percebendo o alcance e as implicações dessa decisão, e conforme fui conhecendo melhor o país e a sociedade em que vivo, mais me congratulo dela, e mais se foi tornando conscientemente irreversível.

 

Aliás, houve duas coisas que me marcaram ao longo da minha infância, e ajudaram a definir muito daquilo que sou. O facto de ser portista, e o de os meus pais não me terem baptizado em pequeno, deixando ao meu critério, quando tivesse idade, fazer a escolha que muito bem entendesse. Nunca a fiz.

 

Esses dois pormenores marcaram em algumas situações, uma diferença entre mim e os outros, ainda que para muitos deles isso parecesse irrelevante. Para mim não foi, garanto.

 

Posto isto, mentiria se dissesse que não ficava muito feliz se os meus filhos viessem a ser portistas. É claro que seria oiro sobre azul e branco.

 

Quando me vêm com conversas sobre este assunto, para picar, costumo dizer, fugindo com o rabo à seringa, que prefiro que não o sejam. Ser do FC Porto é ter a vida facilitada. É só ganhar, ganhar, ganhar. Mais vale que sejam de um dos outros, para aprenderem a perder. Forma o carácter.

 

É claro que isto é uma grande tanga, como todos sabemos, e digo-o só para despistar. Por outro lado, se não optarem pelo FC Porto, estão feitos ao bife, pois vão ter o pai sempre a gozar com eles à fartazana.

 

De uma coisa tenho a certeza, sejam de que clube forem, nunca vão ter de perguntar, em tempo algum:” Ó pai, estás a puxar pelo (…)ica?”
sinto-me:
música: Papa don't preach - Madonna
publicado por Alex F às 23:19
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