Domingo, 14 de Maio de 2017

O acordo necessário e a necessidade de acordar

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O reatamento das relações institucionais entre dois clubes desportivos, que competem entre si numa série de campeonatos de variadas modalidades, seria sempre algo de saudar salutar. Independentemente da dimensão dos clubes em questão.

 

Desejavelmente, rivalidades à parte, o bom relacionamento entre emblemas, que mais não seja, institucional, deveria ser a regra, e não a excepção.

 

Digo "desejavelmente", porque no nosso país, terá sempre de ser aberta uma excepção. 

 

E esta é, obviamente, o clube a quem interessa a manutenção do status quo, aquele que indubitavelmente detém o poder fático , e a quem um clima de relacionamento institucional pacificado e normalizado, cairia que nem ginjas.

 

Esse clube é fácil de perceber qual é. Basta observar quais os que reataram relações e como reagiram a esse reatamento, os adeptos do que ficou de fora.

 

Mas isto, são contas de outro rosário, por isso, volto atrás neste introito.

 

Retrocedo para relembrar aquela história do telefonema, que o Vítor Baía denunciou ter havido, de Luís Filipe Vieira para Pinto da Costa, no final da primeira temporada de Lopetegui. 

 

Então, segundo Baía, Vieira teria indagado Pinto da Costa sobre o seu interesse em Jorge Jesus, ao que teria sido informado que tal interesse não existia.

 

Pela minha parte, na altura, fiquei duplamente satisfeito ao saber disso. Por um lado, apesar da predileção que Pinto da Costa tem por Jorge Jesus, este não teria sido cogitado para tomar o lugar do basco.

 

E por outro, um tal telefonema, e uma tal manifestação de receio, seriam sinal de que o FC Porto ainda dispunha de alguma autonomia, naquilo que à escolha de treinadores diria respeito.

 

Contudo, Pinto da Costa rapidamente negou a revelação de Baía, e fez desvanecer as minhas melhores expectativas de independência do clube, nomeadamente, em relação a Jorge Mendes. 

 

Mais tarde, o próprio Jesus revelou a história da sua ida para o Sporting, e a tentativa que Mendes e o Benfica terão feito de recambiá-lo para a Arábia Saudita, ou coisa que o valha.

 

E o FC Porto, conclui-se, não foi, de facto, nem tido nem achado, em todo o processo.

 

Lopetegui e Jesus, sendo ambos homens de Mendes, este optou, sabe-se lá porquê, por manter o basco no FC Porto, mas não conseguiu evitar a ida do bronco para o Sporting.

 

Ora, embora pessoalmente não engula Jesus nem barrado com manteiga de amendoim, reconheço que, se há treinador capaz de olhar o sistema nos olhos, viver comodamente no seu seio e, eventualmente, confrontá-lo, é Jorge Jesus. 

 

Por isso, talvez tê-lo no FC Porto seja um risco muito maior para o establishment, do que num Sporting, menos habituado à luta pelo título.

 

O Benfica e Mendes pouparam-me a esse sofrimento, mas talvez o FC Porto tenha perdido uma oportunidade. 

 

Avancemos agora para os dias de hoje, novamente para o reatamento de relações entre FC Porto e Sporting. 

 

Dá-se o caso de este ter acontecido, após a derrota em casa dos sportinguistas contra o Belenenses, e o mais que evidente extremar de posições entre Bruno de Carvalho e Jorge Jesus.

 

E o que é que acontece? É claro que vem à cena o interesse do Dragão, como em todas as ocasiões em que Jesus viu contratos melhorados por via desse propalado interesse. 

 

Acto contínuo,  José Maria Ricciardi reúne com Jesus, e surge a saudada pelos envolvidos e censurada jocosamente pelos demais, "aliança" FC Porto/Sporting. 

 

Note-se que não é o omnitudo Bruno de Carvalho, em ruptura com o treinador, quem reúne com o treinador, mas uma eminência parda, especializada nesse mesmo papel, o de eminência parda.

 

Ricciardi serena os ânimos com uma das partes desavindas, e a recém fundada amizade azul-verde-e-branca acalma(rá?) a tentação portista de contratar Jesus. 

 

E mais uma vez, o catedrático das chicletes fica arredado do FC Porto. Sem pena nenhuma da minha parte, confesso. 

 

Neste cenário, o Sporting evita vir a ter um problema de treinador. Depois de ter posto os patins a Leonardo Jardim e Marco Silva, e do fracasso da contratação de Jesus, quem é que Bruno de Carvalho poderia desencantar? 

 

Pedro Martins? Apostar num homem que, apesar de ter passado pelo clube, nunca orientou um grande?

 

Vitor Pereira? Um portista confesso? 

 

Paulo Fonseca? Mais um dos pupilos de Mendes, e cuja aspiração de vida é treinar o Benfica?

 

A saída de Jesus seria um valente bico d'obra nas mãos de Bruno de Carvalho.

 

Ou seja, este acordo era absolutamente necessário para preservar a continuidade em segurança de Bruno de Carvalho, e dado o envolvimento de Ricciardi, de um qualquer projecto, que ambos corporizam.

 

Nem que para isso, tenha Bruno de Carvalho de engolir sapos, e apertar a mão a alguém de quem já disse o que Maomé não disse do bacon.

 

E nesse caso, qual é a vantagem que o FC Porto retira deste acordo?

 

Vi escrito e ouvi por aí, que nos unimos ao Sporting para evitar o penta, o hexa, sei lá o quê, do Benfica.

 

Será assim?

 

Ao FC Porto, perdendo a hipótese de contratar Jesus, só lhe restam duas alternativas: ou continua com Nuno Espírito Santo, ou começa tudo de novo, com outro treinador, seja ele quem fôr. 

 

Logo, fica na mesma ou pior, uma vez que o capital de confiança de que Nuno dispõe junto dos adeptos, ficou bastante depauperado pelos resultados da presente temporada.

 

Vindo alguém de novo, ainda poderá usufruir do benefício da dúvida, mas a ansiedade e a dúvida estão instaladas. 

 

No Sporting mantendo-se Jesus, e embora tolerando-o Bruno de Carvalho, apenas a bem da nação sportinguista, o nível de saturação entre os adeptos é de tal ordem, que há primeira escorregadela, a coisa dá para o torto. Além de que a aura de vencedor, já viu melhores dias.

 

Quem é que lucra no meio disto tudo?

 

O novo tretacampeão, que vai beneficiar da instabilidade nos seus dois rivais, e vê o caminho desbravado em direcção ao penta.

 

Portanto, como penso que terei deixado claro, se este era um acordo necessário para o Sporting, do lado do FC Porto, a necessidade premente é de acordar. De uma vez por todas.

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