Seria hipócrita da minha parte se dissesse que a vitória do Sporting, na final da Taça de Portugal, me deixaria mais feliz que o triunfo da Académica.
E isso nem teria que ver com o facto de, vencendo, o Sporting nos alcançar em número de títulos da Taça de Portugal. Haverá de ser um dia de frio no Inferno, quando me preocupar que o número de títulos que tal equipa conquiste, se equipare aos nossos.
Também não foi pela mísera consolação de ver ganhar o clube que nos atirou pela borda fora da prova em questão.
Nada disso. Ou em parte até seria por este último motivo. Mas só porque seria assim, uma espécie de desforra particular em relação a algumas melancias, que quando fomos eliminados, se divertiram a gozar o prato.
Aos sportinguistas a sério, por esses, que conheço vários, e com os quais sinto uma réstia de empatia, sinto alguma pena de não terem conseguido o troféu, só para os ver felizes.
É engraçado como os estados de espírito de uns e outros, era bastante diferente antes do encontro iniciar. Para os melancias a vitória era um dado adquirido, quase um mero pró-forma. Os outros, a partir do momento em que foi nomeado o Paulo Baptista, recordaram a solidariedade do alentejano com o João “pode vir o João” Ferreira, e começaram a por travões à euforia.
No fim de contas, até parece que o Paulo Baptista não terá tido grande influência no desfecho da partida. Se, até como diz o Sá Socos, a derrota resultou de um “detalhe”…aos quatro minutos de jogo.
Para dizer a verdade, cada vez me agrada mais o Sá. A mim, e pelos vistos, aos sportinguistas e aos melancias.
A equipa perde. O homem vai à conferência de imprensa, diz umas quantas verdades incontornáveis, do tipo, “o Sporting não pode perder com a Académica de Coimbra de maneira nenhuma”, ou “não fomos o Sporting que temos sido, aquele que eu [me] orgulhava de liderar”. Enfim, coisas bonitas e que calam fundo junto dos adeptos do clube.
Ou então, coisas com uma profundidade de espírito espantosa, como “[h]ouve alguma apatia no subconsciente, porque no consciente eles queriam ganhar”. A melanciada fica derretida, e aplaude.
Vem o próximo jogo. Nova derrota. Mais umas quantas tiradas ao nível das anteriores, e temos de novo a malta a aplaudir, de lágrima no canto do olho. Novo jogo, nova derrota, e mais umas quantas pérolas de inspiração. Sim, dá mesmo gosto ouvir este Sá Socos, em versão hari krishna.
Também foi interessante ver que, para além dos melancias, outros houve que bradavam: “Ó inclemência, ó martírio, que a Académica safou-se da descida na última jornada, e agora, pasme-se, até vai à Liga Europa, à pala do Sporting, está visto”.
Pois é. Os de Coimbra tinham lugar assegurado apenas pelo simples facto de defrontarem os leões na final da Taça. Na qualidade simbólica de derrotados, obviamente. Da mesma maneira que foram às competições europeias outros clubes, como o Leixões, e outros por certo, de que não me recordo.
Agora com a Académica, lembraram-se de ficar chocados. Pronto, assim já ficam descansadinhos. Desta feita, a Briosa vai lá na qualidade de titular do troféu. E, ao que parece, vai diretamente para a fase de grupos, enquanto o seu rival ainda vai para o play-off, ou lá o que é. Boa. É a velha estória de contar com o ovo no cú da galinha, e sair merda.
Consta que não é só no futebol que isto acontece. Como, de qualquer maneira, nunca conseguiria (tele)visionar em directo a quarta partida do play-off do campeonato nacional de basquetebol, quando soube do resultado (74-65, a nosso favor), fiz uma tentativa desesperada para a (re)ver em diferido.
Por falta de alternativa, tive que ir zappando até à …icaTv, aparentemente a única coisa, aproximada de uma tv, que transmitiu em directo o desafio. E lá estava: repetição anunciada para as 21, e qualquer coisa.
“Porreiro”, pensei. “Vou ver o jogo, e ainda gozar com as caras de enterro dos gajos dos comentários”.
Qual quê! Ao contrário do anunciado, estavam a dar uma repetição, sim senhor, mas do jogo da Liga Zon Sagres, entre os donos do canal e o finalista vencido da Taça de Portugal!
Para ontem (segunda-feira), estava anunciado um jogo de basquetebol às 21:54. Julguei que fosse o último, ou seja, o de domingo. Qual quê, outra vez? Transmitiram o jogo de sábado, em que ganharam por um ponto (67-66).
“O que os olhos não vêem, o coração não sente”. Para quê mostrar as derrotas, quando se tem uma vitória aqui à mão de semear?
O que interessa é que o próximo jogo, salvo erro, é o decisivo, e joga-se no Dragão Caixa. Digo “salvo erro”, porque esta questão suscitou algumas dúvidas no Reflexão Portista.
Por cá, não há muito a tradição americana de disputar séries de play-offs à melhor de sete jogos. Foi assim na temporada 2010-2011, e fomos campeões. Agora, ter-se-á alterado o modelo. Começa a parecer-se com o hóquei em patins, em que à medida que íamos conquistando títulos, se ia modificando o modelo de prova, até que, por fim, dez títulos depois, ter-se-ão cansado.
Deduzo por isso, que se tratará de uma final à melhor de cinco, ou por outras palavras, até um dos contendores atingir três vitórias, o que acontecerá necessariamente na próxima quarta-feira. Há que ter cuidado, porém, pois nesta final já perdemos em casa (80-82, no segundo jogo). Ainda assim, tudo se prefigura para mais um camião de t-shirts irem acabar em panos do pó.
Com um melão considerável devem ter ficado os nossos amigos bávaros. Aquela derrota caseira contra o Chelsea, não veio nada a calhar. A eles, porque a nós, enquanto selecção portuguesa, até pode ter sido um favor.
Diz o Beckenbauer que os jogadores do Bayern estão deprimidos, e ainda são uns oito na selecção do Joachim Löw.
Não nutro nenhuma simpatia especial pelo Chelsea, contudo, desde os tempos do Vialli, do Gullitt e do Zola, que acho alguma piada àquele clube. Por outro lado, desde o Hamburgo dos finais dos anos 70/inícios dos 80, que o futebol alemão não me diz grande coisa. No entanto, como poderei ficar indiferente à tragédia do finalista derrotado de Viena?
E à tristeza do Schweinsteiger no final da partida? Coitado do rapaz.
Para variar um bocadinho de toda esta maré de tristezas, e portanto, completamente fora da ordem do texto, estão de parabéns os nossos sub-17, treinados pelo Nuno Capucho, que ontem vi no Porto Canal, e cujo discurso me deixou francamente impressionado pela positiva.
Vi o final da primeira parte do jogo contra o Vitória de Guimarães, que terminou, salvo erro, com 0-2, e os vinte minutos iniciais da segunda. Achei particularmente interessante o comentário ao intervalo de um miúdo, para aí dos seus quinze anitos, que resumiu tudo: “O Porto está em cima, eles foram lá a baixo duas vezes, e marcaram dois golos”.
E era isso mesmo. Como se viu na segunda parte, ficou espelhado no resultado final de 5-2.
Ouvi dizer, que seria a equipa das camadas jovens em que menos se apostava para chegar ao título, mas pareceu-me que há ali matéria-prima.
Gostei do lateral-esquerdo, Rafa. Boas iniciativas a subir pelo flanco, e seguro a defender, ainda que o Vitória pouco se tenha afoito no ataque, naquilo que vi do desafio.
Também me agradou o extremo-direito, Raul. Para além da carga afectiva, que para mim o nome carrega, esteve bastante bem a desmarcar-se e na recepção e domínio da bola.
Mostraram personalidade, sabendo jogar sem precipitações, e com umas variações de flanco (no sentido esquerda-direita, principalmente), com bastante a propósito.
Parabéns rapazes, parabéns Capucho!
. O ovo no cú da galinha e ...