Quarta-feira, 20 de Outubro de 2010

Consistentes como um dejecto canino (daqueles muito, mas mesmo muito ralinhos)

Li em local mais que fidedigno (no "Reflexão Portista"), que Carlos Móia, presidente da Fundação Benfica, terá afirmado em Ovar, numa casa daquelas que se devem evitar, qualquer coisa como isto:

 

“Ser do FC Porto era ser o que o FC Porto era: um clube a fechar-se dentro de uma região, a olhar todo o resto de Portugal como um espaço de inimigos em delírio, de mouros a abater. O Benfica dava-me a imagem oposta: a ilusão de um universo sem limites”

 

E fiquei pasmo. Contextualizando aquelas afirmações, será de salientar que foram proferidas numa cerimónia em sua homenagem (é natural de Ovar), e que as adornou ainda com mais algumas larachas sobre uma tal de “batalha por um futebol respirável” e sobre a, cada vez mais iminente (ou não, vá-se lá saber!) deslocação ao Dragão.

 

Portanto, tudo isto, no decurso de uma homenagem à sua pessoa, e presume-se, tendo em conta o local escolhido, enquanto Presidente da Fundação encarnada.

 

Ora, como Presidente da Fundação em questão, vai falar sobre o quê? Sobre o FC Porto.

 

Para justificar a escolha da sua filiação clubística fala de quem? Do FC Porto.

 

Será talvez pela maior proximidade de Ovar à cidade do Porto do que a Lisboa?

 

Ao que consta, nessa época o FC Porto se fechava “dentro de uma região”, havia na mesma cidade que alberga o clube do seu coração, um outro grande clube que poderia tê-lo atraído.

 

Nesse outro clube, provavelmente por esses dias em que (ainda bem!) fez a opção da sua vida, até brilhavam uns tais de “Violinos”, que incentivavam a adesão de muitos adeptos.

 

Porquê então a comparação com o FC Porto, ainda que esta, no fundo, no fundo, só nos orgulhe e enalteça? Não se percebe.

 

A não ser que, seguindo o mesmo processo de raciocínio retorcido utilizado para justificar o pedido de 2.500 bilhetes para o Dragão, o homem afinal seja portista (vade retro Satanás!) desde pequenino.

 

Pois se as declarações do André Villas-Boas são, como dizem, uma manifestação de benfiquismo, não querem lá ver que temos um portista infiltrado na Fundação papoila? Ou será só uma obsessão psicótica?

 

Outra fixação é a tal estória da “batalha pelo futebol respirável” (ou pela “verdade desportiva”), que, pelos vistos, também serve de justificação para o tal pedido de bilhetes.

 

Dizem os filósofos, à séria, que podem coexistir em simultâneo várias verdades. No futebol é fácil verificar que tal se passa assim, e nem é preciso recorrer a esse outro grande filósofo, que foi Pimenta Machado, e que disse um dia que “o que é verdade hoje, é mentira amanhã”.

 

Basta observar o comportamento ziguezagueante dos que se dizem bater pela “verdade desportiva”, para concluirmos que este facto é indesmentível. Ou então, que estamos perante sérios casos de esquizofrenia!

 

Relembro o que dizia na sua alínea b), o famoso comunicado do plenário dos órgãos sociais do maior clube do Mundo dos arrabaldes de Carnide:

 

“b) (…) Face à adulteração da verdade desportiva, queremos pedir aos sócios e adeptos do Benfica que continuem a apoiar, de forma inequívoca e sem reservas, a equipa nos jogos que o Benfica realiza no Estádio da Luz, mas que se abstenham de se deslocar aos jogos fora de casa.

 

A equipa já sabe que vai ter de lutar contra muitas adversidades, algumas previstas, outras totalmente imprevistas – já o sentiu neste início de época – e vai conseguir superá-las, mas os sócios e adeptos do Sport Lisboa e Benfica não devem continuar a ser lesados económica e emocionalmente.

 

A nossa ausência será o melhor indicador da nossa indignação”

 

(sublinhados meus)

 

Ou seja, quando se pede aos sócios e adeptos “que se abstenham de se deslocar aos jogos fora de casa”, na falta de indicação em contrário, presumir-se-ia que se tratam de todos os jogos fora de casa, incluindo o que se vai disputar no Dragão.

 

E porquê? Para que os sócios e adeptos não continuem “a ser lesados económica e emocionalmente”.

 

Salvo se o comunicado contiver algum acrescento em letrinha minúscula, como certos cérebros, não é feita qualquer distinção entre os clubes que algum dia incerto, poderão ou não, vir a bater-se pela ditosa “verdade desportiva”.

 

No entanto, vêm depois dizer que [o] jogo do Porto é o único que não cumpre os pressupostos em que assentou o pedido dos órgãos sociais”. Porquê? Porque [o] FC Porto, com esta Direcção, nunca se baterá pela verdade desportiva”.

 

Resumindo, como o “FC Porto, com esta Direcção, nunca se baterá pela verdade desportiva”, as papoilas saltitantes dispõem-se, quais São Jorges, a penetrar no Dragão, esse antro maléfico da falsidade desportiva, e a jogar contra o FC Porto.

 

O que é que se ganha então com tão profiláctica medida?

 

O FC Porto, que não se bate, nem baterá em tempo algum, com esta Direcção pela “verdade desportiva”, vai poder beneficiar desse magnífico bodo aos pobres, que representa a visita da “Instituição”.

 

Os outros, aqueles que se batem lado-a-lado com os São Jorges, pela “verdade desportiva”, vêem-se privados da visita dos seus patronos. Isto parece lógico?

 

A mim, parece-me, no mínimo, injusto!

 

E ainda pode haver um jackpot por detrás disto tudo!

 

É que, se nos portarmos mal, e por alguma incontrolável e terrível ironia do destino, o veículo que transporta os incansáveis guerreiros da verdade, sofrer algum acidente, que não seja uma cagadela de pombo, ainda poderá dar-se o caso de fazerem meia-volta, e regressarem à Cesta do Pão, sem jogar.

 

Então é assim que se propõem a defender a “verdade desportiva”?

 

Qualquer clube pequeno ao ver isto pensará para os seus botões: “Espera, então se eu for pela verdade desportiva, os tipos não vêem cá, e fico a arder sem a receita? Que se xaringue mas é a verdade desportiva, que eu quero é o pilim!”

 

Pior, se começar a correr por aí que, não só os adeptos e sócios gloriosos não porão os pés nos estádios dos infiéis, mas também que se acontecer algum percalço na viagem da equipa, dão às-de-vila-diogo, e voltam para trás, parece-me bem que muitas pedradas vai levar aquele autocarro.

 

…e não são daquelas de que parecem estar acometidos os inspirados proponentes da medida!

 

É que sempre são três pontos sem espinhas!

 

Onde é que esta gente tem a cabeça? Como se costuma dizer, isto não é defeito, é feitio.

 

A começar (ou neste caso, a terminar) pelo seu putativo candidato à presidência da Federação Portuguesa de Futebol, que, em 10 de Outubro, admitia avançar, caso Madail saísse, e agora já diz: "Contem comigo!", independentemente do que venha a fazer o actual presidente.  

 

A coerência e a consistência das posições dos indivíduos em causa, vão para além do mero contorcionismo intelectual. É como diz o título, fazem lembrar um cócó de cão, daqueles muito, mas mesmo muito ralinhos.

 

sinto-me:
música: Criatura da noite - Entre Aspas
publicado por Alex F às 19:19
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