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Azul ao Sul

Algarvio e portista E depois? O mar também é azul...

Azul ao Sul

Algarvio e portista E depois? O mar também é azul...

They dance alone

25
Mai15

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“They’re dancing with the missing

 

(…)

 

They’re dancing with the invisible ones

 

Their anguish is unsaid

 

(…)

 

They dance alone

 

They dance alone

 

It’s the only form of protest they’re allowed

I’ve seen their silent faces scream so loud”

 

 

Alguém acredita que terá sido de ânimo leve, que as claques do FC Porto permaneceram em silêncio grande parte do tempo, e abandonaram o recinto antes de terminar o nosso último jogo?

 

Alguém acha que a atitude das claques significa, que por um momento que seja, deixaram de apoiar, de gostar, de viver, de sentir, o clube e a equipa?

 

Alguém duvida que na próxima temporada vão voltar a lá estar e a cantar e gritar os nomes dos jogadores que agora apuparam?

 

Alguém pensa que assobiam os jogadores na expectativa de que, com um estalar de dedos, como que num passe de magia, fiquem impregnados do ADN que não possuem, por muito cientificamente interessante que uma tal transfusão pudesse ser?

 

Eu acho que não, e não tenho a menor dúvida de que, na próxima temporada, lá estarão com os seus cânticos e o seu apoio. E tarjas.

 

Não acredito, nem por um segundo que seja, que tenham voltado as costas à equipa, ou que não se orgulhem do seu trajecto, e ainda menos que não respeitem o suor que alguns daqueles jogadores, nomeadamente os que vão sair, verteram naquelas camisolas.

 

Parece-me antes que, no actual estado de reactividade epidérmica, esta terá sido talvez, a forma de protesto possível.

 

Mais, não me afigura sequer que se trate de um protesto dirigido a alguém em particular. Nem aos jogadores, nem ao treinador, nem sequer à SAD ou ao presidente.

 

Pareceu-me antes uma chamada de atenção para o rumo que as coisas tomaram e, ao que parece, será para continuar autisticamente inalterado.

 

Um pai que dá uma palmada num filho, por este se portar mal, porventura deixará de o amar da mesma maneira?

 

Bem, na presente conjuntura, aquilo que acabei de escrever não é certamente politicamente correcto, e alguém ainda seria capaz de ir a correr chamar a Comissão de Protecção de Menores.

 

É isso, no fundo, que as claques aplicaram: uma palmada, um correctivo. Para que no futuro a asneira não se repita. Para que se arrepie caminho. Para que, ao menos, se oiça. Neste caso, ironicamente, o silêncio, como cantaram Simon & Garfunkel.

 

Seriam preferíveis apedrejamentos? Que se virassem e incendiassem viaturas ou que se saqueassem armazéns?

 

Essas, ultimamente, parecem ser actividades mais próprias para festejos, do que para manifestações de protesto.

 

E quanto a mim, nada disto não tem que ver com ser ou deixar de ser coerente, o essencial permanece lá, quero crer que intacto e imutável: a paixão pelo clube.

 

Ou seria melhor bater palminhas, e ficar alegremente a ver as coisas descambarem, como Nero num torpor esgazeado a olhar para Roma a arder?

 

Vale o que vale, mas se noutras ocasiões estive longe de concordar com a postura das claques, neste caso em particular, têm a minha total compreensão.

  

“Hey Mr. Pinochet

 

You’ve sown a bitter crop

 

It’s foreign money that supports you

 

One day the money’s going to stop

 

No wages for your torturers

 

No budget for your gun

 

Can you think of your own mother

 

Dancin’ with her invisible son”

 

Nota: não me levem a mal por ir buscar esta música, que retrata e tem a ver com coisas muito mais sérias do que este assunto. Por favor, ao lerem coloquem as coisas na sua devida proporção. Relativizem. Foi apenas a música que imediatamente me ocorreu.

 

Também não me levem a mal a referência a Pinochet. Está na música, e ao mantê-la não estou a fazer qualquer comparação entre personagens históricas. Quanto muito, uma longíqua, mas possível analogia de situações… 

 

P.V.P. ou “Da influência da cor vermelha enquanto factor de distorção na apreensão da realidade” – Parte III

28
Mai12

A propósito dos incidentes ocorridos no Dragão Caixa, no recente jogo final do playoff da Liga de basquetebol, vieram alguns dos moralistas do costume botar faladura, inicialmente, até sem saberem exactamente do que falavam.

 

Nem tal é preciso. Como é tradicional, fazem-no, escudados no maniqueísmo primário, tão do agrado dos adeptos do seu clube. O Bem vs. Mal, em que os lados estão perfeitamente definidos, e adivinhem quem está de que lado?

 

Ao Bem, tudo se perdoa, pois se dali algo menos digno emana, é por provocação do Mal.

 

Acham o comportamento do Carlos Lisboa lamentável, mas, ainda assim, quiçá por desconhecimento da sua prévia existência, ou apenas para atirar paralelepípedos aos olhos dos outros, permanecem na vã esperança que o dito se digne a facultar uma explicação plausível, que desdiga o que disse, e obviamente, desculpabilize a sua atitude, pois tonto é que não é.

 

Do lado do Mal, estão os tontos, os grunhos, a barbárie, pois mesmo quando provocados, são incapazes de revelar capacidade de “encaixe”. A mesma que aquele treinador reclama dos outros, dizendo que, na derrota, «[é] preciso saber “encaixar”», quando ele próprio, a ser verdade o que li num comentário, não a terá em abundância suficiente para suportar uma piada sobre o seu futuro profissional, e reagiu como se viu.

 

Reagiram mal e exageradamente os adeptos? Sim, é verdade. O que é engraçado é, como em tão pouco, apenas naquela resposta do treinador e no texto a que vai dar a ligação acima, tanto se revela do “ser benfiquista”.

 

A mesma puta da mesma superioridade moral do costume. A facilidade em julgar os outros pelos seus parâmetros, e paradoxalmente, a usual incapacidade de olhar para o próprio umbigo, à volta do qual, afinal de contas, tudo gira.

 

Aquele texto recordou-me de algo que comecei a escrever antes da interrupção ocorrida na actividade deste espaço, entre Maio e Dezembro do ano passado.

 

Na altura, num momento convulsivo da temporada, comecei a escrever para que as Putas das Virgens Puras não encolhessem os ombros e viessem dizer que não viram, não ouviram e não sabem de nada. Era suposto ser uma trilogia, como qualquer obra que se quer credível, mas ficou inacabada (caso interessem, ficam as ligações para a Parte I e a Parte II).

 

Para a terminar, faltou uma história, contada parcialmente na primeira pessoa, que poderá contribuir para o enriquecimento cultural, dos que tiverem suficiente abertura de espírito para a compreender.

 

Na cidade de Faro cada um dos três maiores clubes nacionais tem a sua filial. O Sporting Clube Farense, o mais proeminente e mais representativo, como o próprio nome indica, é filial do Sporting Clube de Portugal. A filial do Futebol Clube do Porto é o Futebol Clube de São Luís, e a do outro clube, o Sport Faro e Benfica, que merece toda a minha consideração, e daí aqui constar o nome por completo.

 

O São Luís e o Faro e Benfica, como são vulgarmente denominados, são clubes de bairro, que não sei se alguma vez terão ido além dos campeonatos distritais, e se alguma relevância têm, será ao nível das camadas jovens e do desporto amador.

 

É claro que, dada a dimensão dos três clubes, a maior parte dos farenses, onde eu me incluo, tem uma dupla paixão, por um dos clubes de Lisboa ou do Porto, e simultaneamente, independentemente da sua preferência nacional, pelo SC Farense.

 

Após esta breve introdução, direi que em todos os anos que vi futebol no velhinho e hoje decrépito São Luís, sendo o mais imparcial que me é possível, nunca vi o SC Farense ser mais prejudicado contra um dos grandes do que com qualquer outro. Se alguma excepção houver, para pior, será talvez, precisamente em confrontos com a equipa da “casa-mãe”. 

 

Assim sendo, a bipolarização por e anti, descrita por António Boronha no seu blog, e que aqui reproduzi, do ponto de vista de um qualquer farense sem outras preocupações clubísticas que não o SC Farense, não tem mais motivo plausível para existir que, eventualmente o distanciamento geográfico entre Faro e o Porto.

 

A que, entrando na parte que tem que ver com os clubes, acresce o facto de, como o próprio Boronha admitiu já por diversas vezes, o Farense ter sido, no decurso dos seus mandatos, um dos clubes beneficiados, por exemplo, pela política de cedência de jogadores do FC Porto.

 

Tudo somado, torna-se difícil compreender o porquê de, em praticamente todas as vindas a terras do sul, os autocarros portistas serem sistematicamente apedrejados.

 

 

 

Estes comentários, retirados da caixa respectiva do blog acima mencionando, a propósito de mais um apedrejamento, ocorrido aquando de uma visita do FC Porto ao São Luís, poderão, em parte, ajudar a compreender o estado de espírito reinante nesses dias:

 

 

 

 

 

Caso não chegue, convirá ainda ter em conta que a maior claque do Farense chama -se “Southside Boys”, e ostenta por sigla um orgulhoso duplo “S”. Eu não teria tanto orgulho nisso, mas isso sou eu que sou esquisito em rfelação a certas coisas.

 

 

Conhecem alguma outra claque cujo nome termina em “Boys”, e em cujo símbolo constem também duas letras iguais, no caso invertidas?

 

Exacto, é essa mesmo. A tal que é ilegal, e que tem uma arrecadaçãozinha no Estádio da Lucy, onde se encontram coisas interessantes. E porque é que há esta similitude entre as designações destas duas claques?

 

Quem não as conheça, poderá dizer: “Olha que coincidência engraçada!”

 

Quem conhece os seus elementos, trata alguns por tu desde os tempos de escola, sabe bem o porquê, e tem tudo a ver, claro está, com aquele ou aqueles, que são os clubes do seu coração.

 

Por isso, há um pequeno pormenor que é omitido naqueles comentários, e que eu também presenciei no dia em questão. O autocarro do FC Porto foi perseguido e apedrejado até à saída da cidade, quem o perseguiu e apedrejou trajava as camisolas alvi-negras da claque do Farense, só que, por baixo destas a cor era outra.

 

Isto vi eu, não foi preciso que alguém me viesse relatar. Mais tarde, preocupados com as eventuais consequências da situação, apareceram outros sócios do Farense a falar do sucedido, e do facto de o clube ir arcar com as responsabilidades dos actos de uns quantos energúmenos. Como penso que veio a suceder.

 

Portanto, pregadores da moral, dos bons costumes, da verdade desportiva e quejandos, deixem-se de tretas. Os Bons não estão todos de um só lado, nem os Maus do outro.

 

Foi feio o que aconteceu no Dragão Caixa? Pois foi. Não há violência boa e violência má, apenas violência condenável? Também é verdade, assim como a violência não pode servir de álibi para mais uma rodada da dita.

 

Porém, “antros”, no dizer do autor do texto que despoletou este meu longo desabafo, como o Dragão Caixa, há-os por todo lado, basta que neles se reúnam umas quantas dúzias de grunhos, sem que faça grande destrinça entre os que provocam e os que respondem desporporcionada e despropositadamente.

 

Apenas separo os que assim agiram porque, verdadeiramente se sentiram ofendidos por um grunho, daqueles, se é que os houve, por exemplo, no caso do Dragão Caixa, que apenas tinham por motivação obstar a que um adversário recebesse um título na sua casa.  

 

Porque os grunhos, por muito que custe a alguns aceitar, são de todas as cores (clubísticas).