Pieguice calimera em acção
Quem é que não estava à espera que o Domingos, mais cedo do que tarde, fosse eleito o cordeiro de sacrifício lá para os lados da Calimeroláxia?
Estava-se mesmo a ver, não estava?
Foi daquelas contratações que, mesmo dando errado, tinha tudo para dar certo. Se a coisa corresse bem, lindamente. Se a coisa corresse mal, “ah pois claro, o gajo é até é portista desde pequenino”. Para a Direcção calimera, que muitos agora se distraem a criticar, não havia nada a perder.
Só me faz espécie é como é que o Domingos alinhou nesta charada. Era mais que evidente que o seu passado portista constituiria sempre uma nódoa imperdoável e inultrapassável no seu currículo.
Quanto ao resto, constata-se que a Direcção do clube, no fundo, e este fundo é quase literal, se comporta tal e qual os respectivos adeptos.
Já experimentaram discutir futebol com um sportinguista? Eu já. Aliás, as minhas primeiras discussões futebolísticas a sério, foram com um sportinguista.
De então para cá, pura e simplesmente desisti. Não vale o esforço.
Parecem casos agudos de bipolaridade: tão depressa são capazes apresentar um discurso e uma linha de raciocínio escorreitos e racionais, como, subitamente, tudo se enviesa, como numa casa de espelhos, e emerge em toda a sua plenitude a mais pura irracionalidade.
Por exemplo, é muito mais fácil discutir sobre estas matérias com benfiquistas. Basta, para início de conversa, dar-lhes sempre razão, e depois é só encaminhá-los no sentido que pretendemos. Como os cães pastores e as ovelhas, estão a ver?
Curiosamente, os sportinguistas conseguem levar uma vida normal no mundo real, ou seja, integram-se perfeitamente no seio da família e no trabalho. Bem, vêm-me assim de repente à cabeça dois exemplos de deficiente integração no trabalho. Ou não, porque não fazem a ponta d’um corno.
Conclusão: a irracionalidade manifesta-se, fundamentalmente e quase exclusivamente, no que ao futebol diz respeito.
Para os que acham que estou a exagerar, ou que eventualmente pensem acusar-me de falar de cor, devo dizer que, a maior parte dos meus familiares mais chegados são sportinguistas e grande parte dos meus bons amigos, também o são. Não direi que falo de cátedra, porque isso é o outro das chiclas, mas quase.
Além disso, o meu primeiro desgosto, futebolisticamente falando, foi provocado precisamente pelo Sporting, quando nos impediu de ser tricampeões em 79/80. Foi de tal maneira traumatizante, que nunca mais me esqueci dessa equipa: Fidalgo; Bastos, Eurico, Meneses e Inácio; Ademar, Fraguito e Marinho; Manoel, Manuel Fernandes e Jordão.
Foi o meu tio que me deu este onze, que passou a ser a equipa oficial daquele clube nos campeonatos de Subbuteo dessa época.
De resto, há que admitir que é uma agremiação com o seu quê de interesse. Quase um case study.
Queixam-se do tal “sistema”, mas foram campeões por duas vezes, por sinal os dois últimos títulos que conquistaram, com o dito cujo em pleno funcionamento, e ainda têm um ex-presidente que acusa outro ex-presidente, de conluio com o tal “sistema”.
Mais, uma apreciação au vôle de l’oiseau, pelo rol de indivíduos que presidiram aos destinos da instituição nos últimos trinta anos, encontramos nomes como João Rocha, Jorge Gonçalves, Sousa Cintra, Pedro Santana Lopes, a Academia de Alcochete foi obra de José Roquette, o anti-sistema campeão Dias da Cunha.
Dava um bom ponto de partida para se perceber o estado a que as coisas chegaram.
A actual Direcção deu mais uns valentes passos no sentido da melacianização do clube, como muitos sócios/adeptos parecem desejar. Veja-se o caso do Zé Diogo Quintela. É um daqueles sportinguistas, que na realidade, é mais uma papoila saltitante. Só que ainda não se apercebeu disso. Outros gostariam de o ser.
Esta equipa dirigente copia o rival de Circular na irresponsabilidade financeira, no atirar para a frente as dívidas, e contratou jogadores sem se perceber muito bem de onde nasce o dinheiro. “É do fundo” dirão. Mais uma cópia do rival.
Também gostam de se associar aos mais grandes do Mundo dos arredores de Carnide, quando se trata de apregoar valores éticos e morais, e ir buscar reminiscências de Calheiros e quejandos.
Porém, esquecem-se de figuras como o Mário "Chinês" Luís, do Manaca, e, por exemplo, que o maior “cavador” de penáltis cá por estas bandas, antes do João Vieira Pinto, se chamava Manuel Fernandes, e o Duarte Gomes ainda não apitava.
Gostam tanto de se parecer com os outros, que nem se reparam quando aqueles lhes passam a perna.
A realidade é que não têm onde cair mortos, e o que os vai salvando são as migalhas que o BES lhes vai atirando das sobras do que dá ao rival, quais pombos a vagabundear pelo jardim.
Isso viu-se bem nos valores envolvidos nos fundos de ambos os clubes, e nas avaliações feitas aos jogadores neles incluídos. O Sporting é na actualidade uma espécie de grupo desportivo do BES, enquanto que os outros são um investimento.
Nas últimas eleições disse a alguns amigos sportinguistas que, a única solução para garantirem uma sobrevivência minimamente condigna, seria se o Miguel Galvão Teles assumisse a presidência, e fizesse do clube o seu hobby pessoal, tipo Chelsea de Abramovich.
Não foi essa a solução encontrada, e vão continuar ligados à máquina dos fundos que vão vindo a conta-gotas, sobrevivendo artificialmente, como de resto, uma grande parte dos clubes nacionais.
Posto isto, resta-me estimar rápidas melhoras. Ou não, como queiram, tanto faz.