Aqui há uns anos atrás, corria por aí uma anedota que, supostamente, seria reveladora da maneira de ser de alguns povos.
Era qualquer coisa como isto:
Numa movimentada rua citadina, existiam três estabelecimentos comerciais.
A dada altura, desesperado com as vendas que teimavam em não subir, e nem sequer estávamos ainda em crise, o espanhol, dono do estabelecimento da direita, colocou uma placa de muito razoáveis dimensões, a dizer:
“Descontos 30%”.
O português, proprietário do estabelecimento da esquerda, pôs uma placa ainda maior, onde se lia:
“Saldos 50%”.
Vai daí, o judeu, cuja loja estava entalada entre as outras duas, coloca um cartaz, de tamanho descomunal:
“Entrada Principal”
Isto era há uns anos. E era engraçado. Ou tentava ser.
Actualmente, é mais assim:
Na Ucrânia
E, em Portugal
Não tem tanta graça, mas ainda assim, não deixa de ser elucidativo de que cada povo, tem a sua mentalidade. As diferenças são evidentes, mas a mim, o que mais me surpreende são as semelhanças.
Por mero acaso, no passado sábado reparei que no programa “Voz do Cidadão”, o Provedor do Telespectador se debruçava sobre as diferenças mais que evidentes, no tratamento jornalístico conferido ao prémio recebido pelo Cristiano Ronaldo no Dubai, ao internamento e ao aniversário do cidadão Eusébio da Silva Ferreira.
Ontem, no Dragão até à morte, o Dragão Vila Pouca escreveu sobre o assunto, e embora admita que “não há consequências, apenas desculpas esfarrapadas”, terão valido a pena as reclamações interpostas junto do Provedor.
Quando, em vários noticiários durante a noite, e já hoje de manhã, torno a ver o tratamento dado a novo internamento do ex-jogador, tenho forçosamente que concordar com ele.
Aqui há tempos, por andar extremamente ocupado, não tive a oportunidade de festejar condignamente o septuagésimo aniversário do personagem.
Diga-se em abono da verdade que, depois de ver festejados os 50 anos da sua arribagem a Portugal continental, os 50 anos da sua estreia pelo clube que todos nós sabemos, os 50 anos do primeiro golo marcado, os 50 anos da primeira mijinha atrás de uma árvore e os 50 anos da primeira cuspidela na rua, muito sinceramente não me restavam muitas ideias originais para festejos.
Ainda para mais quando, para cúmulo da originalidade, alguém se lembrou de fazer uma entrevista ao aniversariante, onde o dito admitiu que, enquanto jogador do Beira-Mar, no ocaso da sua carreira, se teria recusado a alinhar contra o seu clube de sempre.
Não conseguindo fazer valer os seus intentos, avisou o seu treinador Manuel de Oliveira, de que não remataria à baliza nesse jogo. E parece que assim foi.
Esta revelação terá chocado alguns. Mas porquê? - pergunto eu.
Então já se esqueceram do que se passou, mais recentemente, com o Fábio Faria ou com o Jardel? Ou por acaso, não repararam que ontem o Urreta se constipou, e não pode alinhar contra o mais grande do Mundo dos arredores de Carnide?
Tudo isto é perfeitamente normal. O que escapa de todo ao conceito de “normalidade” para esta gente, é o Atsu lesionar-se na véspera do Rio Ave defrontar o FC Porto.
Muito provavelmente, os mesmos que aplaudiram com lágrimas nos olhos, o facto do Rui Costa não festejar um golo marcado pelo AC Milan contra o seu clube do coração, serão aqueles que censuraram o Ukra ou o Rabiola, por dizerem que, caso marcassem pelo Olhanense contra o FC Porto, não festejariam.
É assim. É o que temos, conceitos variáveis de normalidade, e desportivismo de uma só via.
Do símbolo do desporto nacional e ícone do desportivismo Eusébio da Silva Ferreira, espera-se que, de quando em vez, fuja a boca para a verdade, e saiam pérolas como chamar racistas e arrogantes aos membros do clube da sua terra natal onde se iniciou na prática do futebol, ou estúpido ao Alain, por se ofender de ser chamado de “preto”.
ESCALÃO DE JÚNIORES – ÉPOCA 1958/59 Braga Borges - André - Lino Alonso - Flores (Gomes) - Bessa
- Cunha James - Manuel António - Ashok - Eusébio - Madala
Haverá sempre um Ricardo Serrado para interpretar e reinventar as patacoadas debitadas pelo cidadão em causa, pondo-lhe a mãozinha por baixo.
Para terminar, e para não me acusarem de ser tendencioso, transcrevo um artigo escrito por um sportinguista, que li, e achei interessante.
Eusébio nasceu e em Lourenço Marques, actual Maputo, no dia 25 de Janeiro de 1942. Começou a jogar num clube/grupo do seu bairro da Mafalala "os brasileiros". Cedo perdeu o pai de modo que era a mãe, DªElisa, que desesperava por não ver o seu filhote estudar preferindo passar o seu tempo a jogar à bola. Eusébio entusiasmou-se com o destaque que teve nos "brasileiros" e dirigiu-se ao Grupo Desportivo de LM, seu clube predilecto, para jogar. Porém Eusébio não foi aceite pelos responsáveis do clube alvi-negro, filial do SLB. Sem perceber bem as razões de tal negação Eusébio dirigiu-se ao clube vizinho e rival, o Sporting Clube de LM, filial do SCP.
E foi no Sporting Clube de Lourenço Marques que Eusébio calçou as primeiras chuteiras de futebol, se fez homem e despontou para o mundo do futebol.
Citando Braga Borges (na altura colega de equipa de Eusébio) " o seu primeiro jogo oficial pelo Sporting LM foi contra o Benfica LM, na categoria de Juniores na época de 1958/59, em que o Sporting venceu por 2-0. Eusébio jogava a interior-esquerdo e tinha, como colegas de equipa, Braga Borges (GR), André, Lino Afonso, Flores (Gomes), Bessa, Cunha, James, Manuel António, Ashok e Madala". Na época seguinte, e continuando a citar Braga Borges, " ainda nos juniores do Sporting LM, Eusébio teve como colegas Braga Borges, Leitão, Bessa, Sau, James, Coelho, Delfim, Madala, Roberto Mata, Eduardo, Morais Alves e Isidro". Apesar de haver depoimentos (a começar pelo do próprio Eusébio) em como terá feito alguns jogos pela equipa de seniores ainda com a idade de junior, Eusébio subiu mesmo à categoria senior em 1960 e terá marcado 2 golos ao seu "querido" Desportivo na vitória leonina por 3-0 e foi o marcador de serviço no jogo da final contra o Ferroviário em que marcou 2 golos ao conhecido GR Acúrsio Carrelo, ex-FCP Eusébio dava nas vistas, Eusébio era cobiçado, como todas as riquezas africanas, pelos europeus.
O FCP foi o primeiro clube a mostrar interesse no jogador. Pouco depois foi a vez do SCP entrar em contacto com a sua filial moçambicana chegando a acordo para a transferência propondo que Eusébio fosse para Lisboa para um período de testes. O SLB entrou na corrida e foi directamente falar com Dª Elisa, mãe de Eusébio. O SCP ofereceu 500 contos mas Dª Elisa manteve-se fiel à palavra para com o SLB. A guerra SCP-SLB estoura nos jornais de Lisboa e esgrimem-se argumentos por ambas as partes. Antecipando-se o SLB faz Eusébio viajar para Lisboa com o nome de Ruth Malosso. Foi recebido na Portela por um dirigente da Luz e um jornalista do jornal "a Bola". Foi levado para o Algarve e lá ficou escondido ( e não "raptado" ) até a Federação dar razão ao SLB.
Bela Guttman, treinador Húngaro, lança-o, de águia ao peito, num jogo de reservas contra o Atlético em que marcou 3 golos. Uns dias depois via o SLB vencer o Barcelona, na final de Berna, por 3-2 e, pouco depois, viu, da bancada do Estádio da Luz, esse fantástico jogador Mário Coluna, também Moçambicano, dar a vitória sobre o Peñarol com um golão dos 40 metros. Na derrota de Montevideu (jogo de desempate)por 2-1 Eusébio seria o autor do golo encarnado, jogo realizado a 19 de Setembro de 1961. O SLB perdia a taça Intercontinental mas ganhava um grande jogador.
A Juventus tentou levá-lo e ofereceu 16 mil contos (muito dinheiro na altura) mas Eusébio não pôde sair por ter sido convocado para o serviço militar sendo, por isso, proibido de abandonar o País.
Na selecção estreia-se a 8 de Outubro de 1961 marcando 1 golo na humilhante derrota por 4-2 com o Luxemburgo... Após conquistar a Taça dos Campeões Europeus na memorável vitória por 5-3 sobre o Real Madrid (2 golos de Eusébio) o ponto alto de Eusébio aconteceu no mundial de 1966 em que foi o melhor marcador com 9 golos (ninguém pode esquecer a célebre reviravolta de 0-3 para 5-3 contra a Coreia do Norte em que Eusébio facturou 4 golos).
Eusébio tem títulos que não acabam. Ganhou 11 campeonatos nacionais em 14 épocas! Bola de Ouro do France Football (melhor jogador a actuar na Europa), 2 vezes Bota de Ouro (melhor marcador europeu), ´3º no Mundial, 1 Taça dos Campeões Europeus, 3 finais dos Campéões Europeus perdidas, 5 Taças de Portugal, 7 (sete!) vezes Bola de Prata (melhor marcador nacional) e a FIFA considerou-o, há uns tempos, o 7º melhor jogador de todos os tempos, classificação que, para muitos, terá sido injusta por pouco "simpática" para com o goleador português. Eusébio foi, também, eleito pelo IFFHS o 9º melhor jogador do séc. XX.
Mandam as estatísticas que Eusébio marcou 733 golos em 745 jogos oficiais. ( 42 jogos e 77 golos no SCLM, 614 jogos e 638 golos no SLB, 11 jogos e 9 golos no Oceaneers USA, 7 jogos e 11 golos no Minutemen USA, 10 jogos e 1 golo no Monterrey, 12 jogos e 3 golos no Beira-Mar, 25 jogos e 18 golos no Metros-Croatia CAN, 2 jogos e 1 golo no União de Tomar, 5 jogos e 1 golo no Buffalo Stallions USA. Pela selecção portuguesa Eusébio fez 64 jogos em que marcou 41 golos).
Esta é a verdadeira história de Eusébio. E é este Eusébio que prefiro recordar. O Eusébio dos golos e da arte do bem jogar futebol. Prefiro este Eusébio ao das entrevistas infelizes em que revela pouca memória quando afirma não haverem juniores no SCLM (no seu tempo) ou quando filosofa sobre o racismo que existia no mesmo clube que o acolheu e o lançou. Prefiro o Eusébio da águia e das quinas ao peito ao Eusébio que se afirma Português ao mundo inteiro e Moçambicano quando em Moçambique. Prefiro o Eusébio das correrias endiabradas rumo ao Golo ao Eusébio que tem afirmações indecorosas para quem o acolheu e acarinhou quando ainda nem chuteiras tinha. E é este Eusébio que vou recordar sempre!”
A acreditar nas notícias vindas a público ontem, o Benfica terá desistido de contratar o já famoso, Radomel Falcao (ou Radamel Falcão), como também já vi escrito).
Como explicou o senhor Director do futebol encarnado, à semelhança do caso do guarda-redes Andújar, terá sido dado um prazo ao jogador para decidir se vinha ou se ficava. Esgotado esse prazo, o Benfica (ou o Rui Costa, a saber) entendia que o seu amor pelo(s) jogador(es) não estava a ser correspondido, e rompeu o(s) noivado(s).
Acontece. No entanto, é estranho que dois jogadores fiquem assim com tantas dúvidas, ainda para mais quando se trata de vir para o Grande Benfica, e não se tenham metido no primeiro avião, sujeitando-se a serem contagiados pela gripe H1N1, e ala para a Luz.
Dá a entender o Rui Costa que terá havido algures uma intromissão do FC Porto neste último negócio, e aproveita para enaltecer a superioridade ética e moral do Benfica, que “(…) nunca procurou nem procura contratar jogadores para não irem para o FC Porto ou porque o FC Porto está interessado”, e que “(.…) não anda atrás de jogadores apalavrados por outros clubes”.
Desculpem lá, mas isto soa-me, antes de mais, a desculpa de mau pagador.
E parece que é precisamente isso que estará em causa. Em relação ao Andújar, não sei o que se passou, mas quanto ao Falcão, o que corre por aí é que a diferença de valores entre as duas partes anda à volta de 400 mil euros.
Ora, 400 mil euros é bem menos que o valor do passe do Mário Bolatti. Se o FC Porto pode ficar com um jogador pelo preço que o Benfica ia pagar, rentabilizando de caminho, um activo pouco activo do seu plantel, e entra na corrida por ele, de que se queixa o Rui Costa?
É do FC Porto a culpa de que o Benfica pague indemnizações a treinadores que saem e a equipas dos treinadores que entram, que, curiosamente, não estavam só apalavrados com o clube que treinavam, tinham até mais um ano de contrato, e depois ande a regatear na compra de passes de jogadores?
É o tipo de coisa que talvez dê resultado no negócio dos pneus ou na construção civil. No futebol, pelos vistos, não dá.
Que o diga o Atlético de Madrid, que também já se veio queixar de que o Benfica não cumpriu o estabelecido quanto ao Reyes. Se calhar querem mantê-lo por cá a preço de saldo.
Vendo bem as coisas, não era má ideia. Apesar de não ter gostado de algumas atitudes de filho-da-p*%@ do Reyes, ao longo da época passada, isso foi no Benfica.
O FC Porto precisa urgentemente de jogadores sacanas e que dêem porrada à má fila, que concorram em pé de igualdade com os do Benfica e do Sporting, porque os que por lá andam, com excepção do Bruno Alves, que pode ficar ou não, são uma chusma de anjolas.
Pois é, caro Rui, a vida é difícil. Era bem mais fácil aqui há uns anos, quando jogadores do Barreirense, do Montijo, do Atlético, da CUF, do Olhanense ou do Lusitano de Vila Real, recebiam convites de outros clubes, e eram redireccionados, para não dizer outra coisa, para o Benfica.
Ou, quando não, davam com os costados em África na Guerra Colonial, juntamente com colegas de outros clubes, que não o Benfica.
Os adeptos benfiquistas não gostam de ouvir isto. É a fase da negação da doença crónica de que padecem, e da qual sofrem recidivas sazonais quase todos os anos, aí por volta de meados de Maio.
Foram várias as histórias que me lembro de ler na bíblia benfiquista “A Bola”, no tempo em que ainda perdia tempo a lê-la, contadas na primeira pessoa por antigas glórias do nosso futebol, algumas das quais até ex-jogadores encarnados, que narravam episódios deste género.
Um dos únicos que sempre negou veementemente, ter sido desviado do Sporting, naquela época foi o Eusébio. Mas compreende-se. Trata-se de um funcionário do clube, do qual depende de tal maneira, que até o Vale e Azevedo apoiou, virando depois a casaca.
Aliás, foi interessante vê-lo na cerimónia de apresentação do Cristiano Ronaldo em Madrid, ainda que não tenha percebido muito bem a que título, ao lado do Alfredo di Stefano, que foi e é outro caso idêntico.
Um desviado pelo regime do generalíssimo Franco para o Real Madrid, e o outro pelo salazarismo, para o Benfica. Um e outro imagens dos regimes, e um e outro, a nunca o admitirem. Talvez daí o simbolismo a sua reunião no Santiago Barnabéu.
Nesses tempos era muito mais fácil contratar jogadores. Nos dias de hoje, dá algum trabalho, não é Rui Costa?