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Azul ao Sul

Algarvio e portista E depois? O mar também é azul...

Azul ao Sul

Algarvio e portista E depois? O mar também é azul...

Consistentes como um dejecto canino (daqueles muito, mas mesmo muito ralinhos)

20
Out10

Li em local mais que fidedigno (no "Reflexão Portista"), que Carlos Móia, presidente da Fundação Benfica, terá afirmado em Ovar, numa casa daquelas que se devem evitar, qualquer coisa como isto:

 

“Ser do FC Porto era ser o que o FC Porto era: um clube a fechar-se dentro de uma região, a olhar todo o resto de Portugal como um espaço de inimigos em delírio, de mouros a abater. O Benfica dava-me a imagem oposta: a ilusão de um universo sem limites”

 

E fiquei pasmo. Contextualizando aquelas afirmações, será de salientar que foram proferidas numa cerimónia em sua homenagem (é natural de Ovar), e que as adornou ainda com mais algumas larachas sobre uma tal de “batalha por um futebol respirável” e sobre a, cada vez mais iminente (ou não, vá-se lá saber!) deslocação ao Dragão.

 

Portanto, tudo isto, no decurso de uma homenagem à sua pessoa, e presume-se, tendo em conta o local escolhido, enquanto Presidente da Fundação encarnada.

 

Ora, como Presidente da Fundação em questão, vai falar sobre o quê? Sobre o FC Porto.

 

Para justificar a escolha da sua filiação clubística fala de quem? Do FC Porto.

 

Será talvez pela maior proximidade de Ovar à cidade do Porto do que a Lisboa?

 

Ao que consta, nessa época o FC Porto se fechava “dentro de uma região”, havia na mesma cidade que alberga o clube do seu coração, um outro grande clube que poderia tê-lo atraído.

 

Nesse outro clube, provavelmente por esses dias em que (ainda bem!) fez a opção da sua vida, até brilhavam uns tais de “Violinos”, que incentivavam a adesão de muitos adeptos.

 

Porquê então a comparação com o FC Porto, ainda que esta, no fundo, no fundo, só nos orgulhe e enalteça? Não se percebe.

 

A não ser que, seguindo o mesmo processo de raciocínio retorcido utilizado para justificar o pedido de 2.500 bilhetes para o Dragão, o homem afinal seja portista (vade retro Satanás!) desde pequenino.

 

Pois se as declarações do André Villas-Boas são, como dizem, uma manifestação de benfiquismo, não querem lá ver que temos um portista infiltrado na Fundação papoila? Ou será só uma obsessão psicótica?

 

Outra fixação é a tal estória da “batalha pelo futebol respirável” (ou pela “verdade desportiva”), que, pelos vistos, também serve de justificação para o tal pedido de bilhetes.

 

Dizem os filósofos, à séria, que podem coexistir em simultâneo várias verdades. No futebol é fácil verificar que tal se passa assim, e nem é preciso recorrer a esse outro grande filósofo, que foi Pimenta Machado, e que disse um dia que “o que é verdade hoje, é mentira amanhã”.

 

Basta observar o comportamento ziguezagueante dos que se dizem bater pela “verdade desportiva”, para concluirmos que este facto é indesmentível. Ou então, que estamos perante sérios casos de esquizofrenia!

 

Relembro o que dizia na sua alínea b), o famoso comunicado do plenário dos órgãos sociais do maior clube do Mundo dos arrabaldes de Carnide:

 

“b) (…) Face à adulteração da verdade desportiva, queremos pedir aos sócios e adeptos do Benfica que continuem a apoiar, de forma inequívoca e sem reservas, a equipa nos jogos que o Benfica realiza no Estádio da Luz, mas que se abstenham de se deslocar aos jogos fora de casa.

 

A equipa já sabe que vai ter de lutar contra muitas adversidades, algumas previstas, outras totalmente imprevistas – já o sentiu neste início de época – e vai conseguir superá-las, mas os sócios e adeptos do Sport Lisboa e Benfica não devem continuar a ser lesados económica e emocionalmente.

 

A nossa ausência será o melhor indicador da nossa indignação”

 

(sublinhados meus)

 

Ou seja, quando se pede aos sócios e adeptos “que se abstenham de se deslocar aos jogos fora de casa”, na falta de indicação em contrário, presumir-se-ia que se tratam de todos os jogos fora de casa, incluindo o que se vai disputar no Dragão.

 

E porquê? Para que os sócios e adeptos não continuem “a ser lesados económica e emocionalmente”.

 

Salvo se o comunicado contiver algum acrescento em letrinha minúscula, como certos cérebros, não é feita qualquer distinção entre os clubes que algum dia incerto, poderão ou não, vir a bater-se pela ditosa “verdade desportiva”.

 

No entanto, vêm depois dizer que [o] jogo do Porto é o único que não cumpre os pressupostos em que assentou o pedido dos órgãos sociais”. Porquê? Porque [o] FC Porto, com esta Direcção, nunca se baterá pela verdade desportiva”.

 

Resumindo, como o “FC Porto, com esta Direcção, nunca se baterá pela verdade desportiva”, as papoilas saltitantes dispõem-se, quais São Jorges, a penetrar no Dragão, esse antro maléfico da falsidade desportiva, e a jogar contra o FC Porto.

 

O que é que se ganha então com tão profiláctica medida?

 

O FC Porto, que não se bate, nem baterá em tempo algum, com esta Direcção pela “verdade desportiva”, vai poder beneficiar desse magnífico bodo aos pobres, que representa a visita da “Instituição”.

 

Os outros, aqueles que se batem lado-a-lado com os São Jorges, pela “verdade desportiva”, vêem-se privados da visita dos seus patronos. Isto parece lógico?

 

A mim, parece-me, no mínimo, injusto!

 

E ainda pode haver um jackpot por detrás disto tudo!

 

É que, se nos portarmos mal, e por alguma incontrolável e terrível ironia do destino, o veículo que transporta os incansáveis guerreiros da verdade, sofrer algum acidente, que não seja uma cagadela de pombo, ainda poderá dar-se o caso de fazerem meia-volta, e regressarem à Cesta do Pão, sem jogar.

 

Então é assim que se propõem a defender a “verdade desportiva”?

 

Qualquer clube pequeno ao ver isto pensará para os seus botões: “Espera, então se eu for pela verdade desportiva, os tipos não vêem cá, e fico a arder sem a receita? Que se xaringue mas é a verdade desportiva, que eu quero é o pilim!”

 

Pior, se começar a correr por aí que, não só os adeptos e sócios gloriosos não porão os pés nos estádios dos infiéis, mas também que se acontecer algum percalço na viagem da equipa, dão às-de-vila-diogo, e voltam para trás, parece-me bem que muitas pedradas vai levar aquele autocarro.

 

…e não são daquelas de que parecem estar acometidos os inspirados proponentes da medida!

 

É que sempre são três pontos sem espinhas!

 

Onde é que esta gente tem a cabeça? Como se costuma dizer, isto não é defeito, é feitio.

 

A começar (ou neste caso, a terminar) pelo seu putativo candidato à presidência da Federação Portuguesa de Futebol, que, em 10 de Outubro, admitia avançar, caso Madail saísse, e agora já diz: "Contem comigo!", independentemente do que venha a fazer o actual presidente.  

 

A coerência e a consistência das posições dos indivíduos em causa, vão para além do mero contorcionismo intelectual. É como diz o título, fazem lembrar um cócó de cão, daqueles muito, mas mesmo muito ralinhos.

 

Por Belenos e por Toutatis!

19
Out10

"Com os actuais estatutos e o peso que as associações têm, será difícil. Se pensarmos onde estavam os principais líderes das associações, estavam na Islândia a ver o jogo de Portugal. Isso quer dizer algo importante e tudo indica para uma recandidatura de Gilberto Madail.

(…)
Quem quer ser presidente da Federação, não é só porque lhe apetece. Se dependesse da opinião pública a história seria outra. Mas quem quiser ser presidente tem que saber que vai vencer. Com os actuais estatutos, o futebol contínua na ilegalidade e só perante um cenário de mudança neste aspecto é que as coisas poderão ficar mais clarificadas."

 

Depois de ler estas declarações recentes de Vítor Baía, n’"A Bola", a minha mente vagueou para o “Astérix na Córsega”, da dupla Goscinny e Uderzo.

 

Apesar de simétricos no seu desenrolar, os processos eleitorais corso e para a presidência da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) são, como podem ver, impressionantemente semelhantes.

 

 

 

 

Os corsos põem os votos nas urnas, deitam-nas ao mar, sem as abrir, e o mais forte é “eleito” Chefe.

 

Na FPF, tendo em conta os “preliminares” que vão sendo do conhecimento público (e só estes) – viagens à Islândia, jantares e por aí fora – primeiro congregam-se os apoios e fica-se a saber quem ganha as eleições, e depois (finalmente!), vota-se.

 

Ou seja, às malvas com a democracia e a liberdade de escolha. As urnas, que em princípio, seriam por excelência o local de decisão, não passam em ambos os casos de um belo adorno decorativo, ou, no caso da Córsega, de poluição marítima.

 

Bem visto Vítor Baía. Assim não vale a pena. Palhaçada por palhaçada, mais vale ir lá o Fernando Seara, que nesse capítulo, joga em casa.

 

Como diria o Astérix:

 

“Por Belenos e por Toutatis, são doidos estes lusitanos!”


Nota: Não obstante, há que reconhecer que as “potenciais” candidaturas de Vítor Baía e Fernando Seara seriam/são bastante diferentes nos seus pressupostos de base.

 

 

Para este último, independentemente de se decidir a avançar ou não, uma candidatura destas, visa com certeza, mais do que um objectivo. Ou quem a patrocina não tivesse por hábito movimentar-se “por outro lado”, em vários tabuleiros.

 

 

Antes de mais, tenho para mim que a candidatura de Seara se integra na estratégia global de descredibilização do futebol português, seguida por quem faz disso álibi recorrente para quando as coisas não lhe correm de feição.

 

 

É mais uma candidatura de “uma pessoa seríssima e consensual” (e independente, acrescento eu), que tem em vista a regeneração deste nosso pobre futebol, a bem da verdade desportiva.

 

 

Se for bem sucedida, temos verdade desportiva. Se não, então é a vitória de todos os sistemas e mais alguns, dos que não têm vergonha, e dos que estão interessados na manutenção do actual status quo.

 

Por outras palavras, se ganharem, ganham, e se perderem, ganham capital de queixa, para continuarem como se tem visto até aqui, na política do quanto pior melhor. Bem hajam!

 

De um outro ponto de vista, quanto mais longe for a candidatura de Fernando Seara, e quanto mais comichão causar a Gilberto Madaíl, melhor.

 

Para quem estrategicamente “os lugares na Liga são mais importantes do que contratar bons jogadores”, quanto mais apertado estiver Madaíl, maiores probabilidades terá de colocar os seus peões de brega.

 

Basicamente é o mesmo tipo de jogada utilizado na negociação com a Sportv, com a entrada em cena da BenficaTv. Não são de facto muito imaginativos.

 

Tacticamente não revelam grande riqueza, mas lá está, é dos livros, e não é mais do que a aplicação do velhinho “em equipa que ganha, não se mexe”. Em táctica vencedora também não.

 

Resta saber é até que ponto esta será vencedora. Duas Ligas já rendeu, mas mais do que isso, a ver vamos…

 

Quanto ao Vítor Baía, deve ter aprendido que dar a cara e boa vontade, não chegam para este tipo de cavalarias, e se pensou que sim, então muito anjolas terá sido.

 

Razão tinha o Figo quando disse que só se quisesse ter chatices é que voltava para Portugal.

A raposa feliz

08
Out10

Como, ao que parece, o sr. Presidente da Câmara de Sintra é uma pessoa ocupada por afazeres de vária ordem, aqui fica uma sugestão de um texto, com que poderá perfeitamente prefaciar o manifesto eleitoral da sua candidatura à presidência da Federação Portuguesa de Futebol.

 

“A farsa da fiscalização do futebol

 

No início de 2001, a direcção do Sport Lisboa e Benfica, pouco tempo depois de tomar posse, denunciou uma dívida fiscal do próprio clube que representa, no valor próximo de 10 milhões de euros, originada pela equipa dirigente anterior, chefiada por João Vale e Azevedo.

 

Face à dimensão elevada da dívida, colocou-se imediatamente a questão de como teria sido possível a dívida ter atingido valores tão altos, sem que houvesse uma intervenção de controlo fiscal, ou a devida participação criminal. Ou seja, colocou-se a hipótese da falência dos mecanismos de controlo fiscal dos clubes de futebol.

 

Realizado o inquérito pelo crime de abuso de confiança fiscal, e proferida a pronúncia, João Vale e Azevedo vai agora responder em julgamento por este crime, no valor de 6,091 milhões de euros, referente à retenção de IRS descontado a trabalhadores e atletas do SLB, no período compreendido entre Abril de 1998 e Outubro de 2001.

 

Ainda segundo a pronúncia, o clube, durante esse período de tempo, nunca se encontrou numa situação de estado de necessidade capaz de justificar esta retenção, que foi abusiva e criminosa.

 

No entanto, para além da gravidade desta situação, o que importa também reter é que o conhecimento público da dívida e dos seus valores, ou seja, o crime, caso não tivesse partido de uma autodenúncia da direcção sucessora, nunca se teria dado. Como foi possível que os mecanismos de fiscalização existentes não tivessem actuado?

 

A questão remonta ao regime especial para pagamento das dívidas fiscais dos clubes de futebol, estipulado pelo chamado Totonegócio, em 1999. De acordo com esse regime, extremamente favorável aos clubes, os mesmos passavam a entregar as receitas do Totobola, referentes ao período 1998-2010, para pagamento das dívidas fiscais contraídas até 1996. Em contrapartida, comprometiam-se a não gerar mais dívidas, a partir do ano referido.

 

Para acompanhamento e fiscalização especial do cumprimento este acordo, foi criada uma Comissão de Acompanhamento (CA) das dívidas dos clubes, a funcionar como órgão de apoio, junto do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais (SEAF).

 

A CA, no exercício de monitorização dos pagamentos dos clubes, elaborava um mapa mensal com os pagamentos efectuados por estes à Administração Fiscal, baseados em documentos enviados pelos serviços de finanças das áreas a que pertenciam os clubes.

 

Entretanto, por razões que ainda hoje são polémicas, a dada altura do processo, a própria CA propões a suspensão das inspecções aos clubes, sobre factos fiscais ocorridos entre 1996 e Junho de 1998. A proposta foi aceite.

 

Neste quadro administrativo, fiscal e político, posterior a 1999, alguns clubes geraram ainda mais dívidas fiscais, sem qualquer penalização. Entre eles, o SLB, cuja dívida não foi tempestivamente denunciada ao Ministério Público por quem de direito, ou seja, pelos responsáveis da Administração Fiscal. Por outras palavras, a duplicação das estruturas de fiscalização, de serviços de finanças e CA, só contribuiu para a desarticulação dessas mesmas estruturas e para o encobrimento objectivo da situação.

 

Note-se que no caso do SLB, à data da existência desta dívida, era emitida pelos serviços fiscais a necessária declaração de inexistência de dívidas fiscais do clube, já que esta era exigida como condição para o clube poder participar nos campeonatos da Liga de futebol.

 

Entretanto foi instaurado inquérito-crime para averiguação dos acontecimentos no âmbito da CA. Acontece que a confusão orgânica dos serviços de finanças, a deficiente informatização, e a sobreposição de estruturas de fiscalização, impediu que durante o inquérito-crime fosse possível o apuramento e individualização de eventuais responsabilidades. Por outro lado, este modo de funcionar por parte do Estado, permitiu que os mapas mensais enviados à CA agregassem todos os valores fiscais originados nos clubes, mesmo aqueles resultantes de salários, vendas e receitas do bingo, método que, não discriminando cada um dos valores, impedia a verificação das falhas. E a CA, por sua vez, nunca solicitou, como podia e devia fazer, os devidos esclarecimentos aos serviços de finanças que emitiam os mapas.

 

O que nitidamente resulta de tudo isto é que por detrás de um aparente quadro de hiperfiscalização, existia um circuito fechado entre os serviços de finanças, o SEAF e a CA, com métodos de trabalho de tal modo confusos que nunca foi possível esclarecer quem, em determinado ponto-chave do circuito, devia zelar pela denúncia do crime.

 

Também foi impossível apurar, no caso do abuso fiscal de 6,091 milhões de euros, quem do lado da Administração Fiscal ou da CA permitiu o desenvolvimento deste, negligenciando os seus deveres de fiscalização.

 

Por último, permanecerá para sempre em mistério se ocorreram eventuais crimes de corrupção por parte dos funcionários do Fisco, membros da CA, ou de outros elementos envolvidos.

 

Ao mesmo tempo, a inspecção ordenada após a autodenúncia do SLB, veio permitir aquilo que era proibido: o pagamento em prestações da dívida, ao mesmo tempo que o clube recebeu dinheiros públicos para a construção do novo estádio.

 

Resta dizer que, segundo o diário Público informou em 28 de Outubro de 2002, no final de Agosto desse ano, as dívidas fiscais dos clubes de futebol, contraídas após Maio de 1998, chegavam aos 15 milhões de euros.”

 

Se tiveram a paciência de ler até aqui, peço-vos que atentem na forma soft, como é escrita esta peça de narrativa.

 

Na forma “en passant”, como são omitidos certos aspectos, que até poderiam ter o seu quê de interessante, como, por exemplo, quem constituía a dita Comissão de Acompanhamento.

Na resignação com que se encolhe os ombros, e se constata que como foi impossível apurar responsabilidades, e para concluir, o chuto final para canto, do género “se as dívidas, de todos, no final disto tudo até eram de 15 milhões de euros, para que é que nos estamos p’ráqui a chatear?!”

 

Quem não conhece a origem e lê este texto, poderá ser induzido a pensar que só poderá ter sido escrito por algum portista. Mas, se tiver em conta os aspectos enunciados acima, facilmente conclui que está demasiado “light” para isso.

 

Será que foi um benfiquista? Ná. São demasiadas verdades para esse tipo de estômagos suportarem.

 

Aquilo que reproduzi é um excerto do livro “O inimigo sem rosto – Fraude e corrupção em Portugal”, da autoria da insuspeitíssima Senhora Procuradora-Geral Adjunta Dr.ª Maria José Morgado, que, ao que consta, não será portista desde pequenina, e de José Vegar, cuja simpatia clubística desconheço.

 

Já agora, e para que conste, o presidente da famosa CA era, nada mais, nada menos, que o inefável dr. Fernando Seara, o isento adepto benfiquista, putativo candidato, por sua espontânea iniciativa, à Presidência da FPF.

 

No passado, puseram a raposa a guardar o galinheiro, e o resultado foi o que se viu. Porque não repetir a dose?

 

Bute aí! Vota no Seara!

 

Mar de preocupações, em seara alheia

12
Ago09

 

A TVI24 tem mais um daqueles programas dedicados ao comentário da actualidade desportiva, onde representam Benfica, Sporting e FC Porto, respectivamente, Fernando Seara, Eduardo Barroso e Pôncio Monteiro.
 
Anteontem, a dada altura e a propósito das contratações do Benfica, Eduardo Barroso fez um comentário qualquer que enervou Fernando Seara, e que o levou a recomendar paternalmente, que “não se preocupasse tanto com o Benfica”, que o Benfica estava bem, e que “não se preocupasse com o Benfica”.
 
Aposto que Eduardo Barroso, tal como eu, e muitos outros não benfiquistas, ficámos todos muito mais aliviados, porque o Benfica se encontra bem e de saúde. Mas tal, não leva a que, ao menos pela minha parte, o Benfica deixe de ser motivo de preocupação.
 
E preocupo-me, e vou continuar a preocupar-me, porque a reacção do Dr. Fernando Seara, foi idêntica à reacção do presidente do Benfica, quando confrontado com a notícia de que a sua direcção havia hipotecado dez anos de receitas para pagar os reforços contratados neste defeso.
 
Preocupo-me porque, pouco depois de ser do conhecimento público esta operação financeira, o presidente do Benfica veio dizer que “o dinheiro não cai do céu”, e que afinal de contas não havia qualquer antecipação de receitas, mas que estava tudo bem. Porém, não explicou, nem pouco mais ou menos, de onde vinha então o dinheiro.
 
Preocupo-me ainda, porque foi o Benfica o clube que foi multado pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários em 40 mil euros, por “informação não verdadeira”, aquando da contratação do brasileiro Ramires.
 
Preocupa-me que, no clube com mais associados em todo o Mundo (cento e setenta e um mil, ao que consta), a Direcção em funções tenha sido, Enver Hoxhianamente[1], eleita por 18.825 votantes (91,74% dos votos), e o orçamento para 2009/2010, de 29 milhões de euros, tenha sido aprovado por 90%, de 52 gatos pingados, após segunda convocatória, por falta de quórum à primeira, e com chapadas à mistura.
 
  
 
Preocupo-me pelo ar de evidente desconforto de que Fernando Seara fez alarde, quando Eduardo Barroso, se calhar não tanto descabidamente como poderia parecer, associou a sua presença naquele espaço de comentário às eventuais vantagens políticas que daí poderia retirar.
 
Preocupa-me o ar maioral com que o Dr. Fernando Seara proclamou que o Benfica se encontrava em posição privilegiada para renegociar os direitos das transmissões televisivas, cujos contratos, pelos vistos, vão caducar em lá para 2013, ou seja, após o términus do mandato desta direcção do Benfica, que o Dr. Seara apadrinha.
 
Preocupam-me notícias, como aquela do “Sol”, aqui há uns dias, de uma dívida por parte do Benfica, à empresa Euroárea, decorrente do financiamento obtido para a construção do Centro de Estágio do Seixal, que deveria ser ressarcida através da obtenção, junto das Câmaras de Lisboa e do Seixal, de novos alvarás para projectos urbanísticos.
 
Preocupo-me porque, por exemplo, a Dr.ª Maria José Morgado, que tão diligentemente, não teve pejo em servir-se do “Eu, Carolina”, para reabrir os casos da “Fruta” e do “Envelope”, não dedique o mesmo tipo de atenção a notícias como a anterior.
 
Preocupo-me que, perante a existência de factos públicos, bem elucidativos da forma como o Benfica branqueou as dívidas fiscais que lhe impediam de receber fundos públicos para a construção do novo Estádio, a mesma Dr.ª Maria José Morgado fique impávida e serena.
 
Preocupa-me este tipo de encolher de ombros, que não é de hoje, e que vem repetir o que aconteceu aquando do episódio das certidões das Finanças, digamos, que relativamente conflituantes com a verdade, obtidas por Vale e Azevedo, descrito pela Dr.ª Maria José Morgado, no seu livro “O inimigo sem rosto – Fraude e Corrupção em Portugal”.
 
Preocupo-me porque aí, perante a diluição da(s) responsabilidade(s) pelo ocorrido por vários autores, a conclusão, pura e simples, foi que não era possível apurar o(s) culpado(s).
 
Preocupa-me o ataque de amnésia, que faz esquecer o eixo do mal, caracterizado pela autora no dito livro, como sendo constituído pela tríade: autarcas, promotores imobiliários e clubes de futebol, sempre tão presente em tantos aspectos da vida do Glorioso.
 
Preocupa-me que, afinal de contas, se dê tente dar um rosto à corrupção, mas que por detrás desse rosto esteja um clube desportivo, e que os factos com que se pretendia sustentar essa tentativa não fossem, ao que se sabe, além da estrita esfera do fenómeno desportivo, quando outros, de muito maior quilate, e transversais à sociedade, no seu todo, passam incólumes.
 
Preocupo-me porque este estado de coisas, em vez de melhorar, parece que tem vindo progressivamente a assumir contornos que parecem pouco apropriados para um regime democrático, e mais condizentes com uma ditadura – a ditadura dos seis milhões.
 
Preocupa-me, numa instituição, supostamente respeitável, como o é, o Sport Lisboa e Benfica, a constante falta de fairplay, de jogo limpo, de transparência, de vergonha na cara, de ética, desportiva e não só, e as recorrentes tentativas de abuso de posição dominante por parte dos seus corpos sociais.
 
Preocupa-me que, quando se fala em verdade desportiva, não sejam lançadas petições online sobre estes assuntos.
 
Preocupa-me que, numa altura em que o presidente da UEFA tanto se preocupa com o Real Madrid, o Cristiano Ronaldo e o Manchester City, o organismo que superintende o futebol europeu, não se preocupe com a transparência de gestão dos seus filiados, e não estude medidas que fomentem e defendam a sã concorrência entre os clubes.
 
Por estas alturas devem possivelmente, estar a pensar que vivo amargurado e deprimido com todas estas preocupações. Faço minhas, com o devido respeito, as palavras do Dr. Fernando Seara e do presidente do Benfica: não se preocupem, está tudo bem.
 
Devem ter notado que nenhuma das preocupações expressas, tem que ver com o que se passa no campo de jogo, propriamente dito.
 
Enquanto o FC Porto continuar a conseguir, por direito próprio, e sem favores de ninguém, nem pedidos para que outros sejam excluídos, ombrear taco-a-taco com clubes como o Manchester United, ainda que não lhes ganhe.
 
Enquanto no discurso dos seus jogadores, mesmo naqueles acabados de chegar há dois dias, a tónica for: “Ganhar, ganhar, ganhar!”.
 
Enquanto, cada vez que jogar, demonstrar o potencial suficiente para tornar irrelevante a presença do(s) árbitro(s), a favor ou contra.
 
Está mesmo tudo muito bem!

 


[1] de Enver Hoxha (Gjirokastër, 16 de outubro de 1908Tirana, 11 de abril de 1985) foi o governante da Albânia desde 1944 até sua morte, em 1985 (http://pt.wikipedia.org).