Terça-feira, 17 de Janeiro de 2012

(Tele)Visão Azul

 

 

Ontem no “Somos Porto”, do Porto Canal, entre outros apontamentos e comentários que subscrevo inteiramente, vi sugerir aquilo de que falei no último artigo: o regresso do Mário Jardel ao FCP, para treinar os nossos avançados. E inclusivamente, quem defendeu essa tese – a empresária Rita Moreira - sustentou-a com um dos argumentos que utilizei: se há treinadores para guarda-redes, porque não fazê-lo para avançados?

 

É sempre reconfortante quando vemos que as “nossas” ideias mais estapafúrdias, afinal talvez não o sejam tanto como isso. Ou pelo menos, que há outros que têm ideias tão estapafúrdias como as nossas!

 

Quando escrevi o texto não sabia que o Jardel estava por cá, ou que ia estar, portanto foi mesmo pontaria. Ver ontem aquela entrevista e a conversa que a seguiu, entrecortada com as imagens dos golos marcados pelo Super Mário ao AC Milan, acreditem, deixou-me de lágrima no canto do olho.

 

 

 

Se estão a pensar que sou um pieguinhas por aquilo que acabei de confessar, garanto-lhes que sou tão emotivo como qualquer um. Admito que chorei quando vi o Bambi, quando o Faísca McQueen desistiu da Taça Pistão, para ajudar o Rei a acabar a corrida, quando o Rocky Balboa deitou abaixo o brutamontes do Dolph Lundgren ou quando vejo a Cardozo expulso por simular uma falta, depois de milhentas agressões impunes.

 

O que é que querem? Sou assim.

 

Aproveito para prestar aqui a minha singela homenagem ao Porto Canal. Ao contrário de outros, nunca vi naquele canal ser ofendido alguém com outras preferências clubísticas, ou incitamentos à tomada de armas contra quem quer que seja. Antes, vejo programas que, embora simples, se pautam por conteúdos e debates de um nível bastante mais elevado do que a boçalidade por aí se vê. E não é só nos canais de certos clubes.

 

Para quem como eu, mora a 550 quilómetros do Dragão, e tem poucas possibilidades de se deslocar, um canal como o Porto Canal constitui um excelente veículo para estreitar os laços afetivos com o clube.

 

Poder assistir em direto a transmissões de jogos de basquetebol, andebol e hóquei em patins no Dragão Caixa, foi uma alegre novidade e um contacto com uma realidade quase desconhecida, tão raro esses jogos aparecem nos canais ditos generalistas.    

 

Este canal, que quanto a mim ainda poderia aprofundar o seu “portismo”, contribui para combater uma das pechas, entre outras, que desde sempre apontei ao nosso presidente.

 

Sendo algarvio e vivendo no Algarve, fiquei desde sempre chocado com o discurso regionalista de Jorge Nuno Pinto da Costa.

 

Quando decidi que o meu clube era o FC Porto, nos idos de 1977-78, na minha sala da escola havia apenas dois portistas. Não sei atualmente quantos miúdos do FC Porto terá cada sala, mas é provável que sejam mais.

 

O clube cresceu, os êxitos alcançados contribuíram para difundir a sua imagem pelo Mundo todo, e atualmente encontram-se portistas, adeptos ou meros simpatizantes, por todo o lado.

 

Por isso, não posso concordar com o nosso presidente, quando o seu discurso é no sentido de manter o clube encarcerado no seu reduto regional, esquecendo os portistas que situam fora desse espaço territorial, e não contribuindo assim em nada para uma expansão ainda maior do a até à data registada.

    

Que o FC Porto é um clube, primeiro da cidade do Porto, depois do Norte, e só a seguir vem o resto, ninguém põe em causa. É a realidade, e é óbvio.

 

Mas é tremendamente redutor acabar por aí. O combate ao centralismo não é um exclusivo nortenho ou portista, ainda que aí se possa sentir com uma maior intensidade. O jugo que a capital do império exerce faz-se sentir sobre o resto da paisagem, e cada qual reage à sua maneira. haja quem capitalize e congregue esse setimento de revolta.

 

E é isso que, para mim, significa e sempre significou o “portismo”: um estado de espírito, uma forma de estar, uma capacidade de pensar sem seguir o resto da maralha. Em suma, um ato de revolta e de resistência, e uma maneira de estar diferente daquelas marias-vão-com-as-outras, que alegam um direito divino a vencer, independente dos seus méritos, mas apenas porque sim, e porque são em maior número que os demais.

 

Oxalá o Porto Canal, agora também com esse grande portista que é o Júlio Magalhães, siga neste sentido. Essa seria sem dúvida uma vitória ímpar, maior do que ser o mais grande do Mundo e arredores.

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