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Azul ao Sul

Algarvio e portista E depois? O mar também é azul...

Azul ao Sul

Algarvio e portista E depois? O mar também é azul...

Sim, sinto-me estupidamente optimista. Estarei a chocar alguma?

20
Fev14

Antes de mais, quero manifestar o meu mais profundo apreço e sincera admiração pelos que que vêem e persistem em ver o copo (leia-se: o FC Porto, versão 2013-2014), meio vazio.

 

Sou sincero. Em condições normais, não me assiste a menor dúvida que estaria entre Vós. Desta vez, porém, não sei o que se passa comigo. Por mais que o tente, não consigo.

 

Sinto-me doentia e estupidamente optimista, talvez até como nunca me sentira antes, mesmo perante situações bem mais risonhas.

 

Não, não pensem que estou assim por causa do jogo de Barcelos. Posso estar optimista, mas ainda não estou completamente tótó. Esses pastam lá para os lados da Calimeroláxia!

 

 

 
Percebi perfeitamente que aquele Gil Vicente não é nada de especial. Tirando os Hugos Vieiras e os Luíses Martins, e mais um ou outro, que resolvem fazer do jogos que disputam contra nós, os pináculos das suas tristes vidas, não lhe vi nada de especial. Ainda se o Paulo Baptista fizesse de Bruno Paixão…

 

Não, isto já vem de mais atrás. Se num acesso de masoquismo, releremo que escrevi aquando do regresso do Quaresma, percebem facilmente uma nota de franco optimismo. Ou ilusão, que apesar de tudo, se mantém, contra ventos e borrascas.

 

Se costumam passar por cá, também com certeza que já perceberam que a minha veia de optimismo não se confunde com o tomar por maná dos céus toda e qualquer sacrossanta decisão emanada da direcção da SAD.

 

Bem, talvez fizesse melhor se, em vez de jogar conversa fora, desembuchasse porque é que raios é que me sinto optimista, e quem sabe, com uma dose valente sorte, talvez ainda consiga converter um ou dois de Vós. Havia de ser lindo!

 

Então vamos lá. Em primeiro lugar, estou optimista porque nos encontramos claramente na nossa “zona de conforto”.

 

Estamos a quatro pontos do primeiro classificado, que vamos receber no Dragão na última jornada da Liga. Partantos, não dependemos única e exclusivamente do nosso desempenho para revalidarmos o título. O que, paradoxalmente, joga a nosso favor.

 

Claramente preferimos assim, e as coisas correm-nos melhor quando estamos neste estado. Cai-nos melhor o papel do underdog.

 

Até parece que estar em primeiro não nos motiva por aí, além, e daí os deslizes pungentes, que surgem com uma arreliadora naturalidade. Não somos aves de rapina necrófagas em busca da carniça, e quem nos tira o prazer da caça, da perseguição, tira-nos quase tudo.

 

E depois, é como diz o Francesco Bernoulii, no “Carros 2”:

 

“Para destruir os sonhos de alguém, é preciso subir as expectativas!”    

 

Além disso, não sei se já olharam para o calendário de competições. Vamos entrar numa fase de maior regularidade, as interrupções vão ser menores e mais espaçadas, e isso, em princípio, favorece as equipas que fazem da constância exibicional uma regra.

 

O busílis é atingir essa constância, ou que mais não seja a constância pontual, como nos tempos do Villas Boas.

 

Aquele que será sempre o nosso principal rival, como se isso fosse uma grande novidade, ou se o conseguisse efectivamente fazer, avisou de antemão que não vai gerir coisa nenhuma!

 

As intermitências são claramente benéficas para quem insiste em fazer do futebol uma intensa cavalgada, e o faz jogo atrás de jogo. Beneficia ainda as equipas em construção, que precisam mais de treinar do que jogar, para criarem os necessários automatismos, e ressacarem convenientemente, quando a vida lhes corre menos bem.

 

Deste ponto de vista, uma sucessão mais contínua de jogos parece-me que nos será vantajosa.

 

O outro motivo pelo qual estou optimista – sim, são apenas dois! O que é que esperavam? Ficaram desiludidos? – é que conseguimos neutralizar uma das mais perigosas variáveis aleatórias que nos poderiam sair ao caminho: o Paulo Fonseca, o nosso treinador.

 

E aí, verdade seja dita, o mérito é todinho da direcção da SAD.

 

São muitos os que clamam pela substituição do nosso actual treinador, talvez tantos, se não mais, quanto os que ficaram desagradados com a famosa entrevista de Pinto da Costa ao Porto Canal, e nomeadamente com o voto de confiança ao técnico então expresso.

 

 

 

Retive do que se escreveu na altura, a opinião do Miguel Sousa Tavares que, se interrogava, relativamente ao presidente, se “esse dom [do fino conhecimento que sempre teve do futebol] se perdeu algures, ou se ele entrou por uma estranha e suicidária estratégia”.

 

Concluindo, a questionar:

 

“Então, o que pretenderá Pinto da Costa: convencer-nos de que nós – todos nós, os adeptos – depois de 30 anos assistir a vitórias, não somos capazes de perceber de que matéria elas são feitas?”

 

E seremos? – pergunto eu.

 

É que, onde muitos vêem na inacção para a substituição, uma omissão, eu vejo acção no sentido da reparação de um erro, do qual, a direcção, ainda que não o assuma, estará, tudo leva a crer, perfeitamente consciente.

 

Paulo Fonseca é um misto de Luigi del Neri dos tempos modernos, e daquela dona de casa dum anúncio de um óleo (ou de uma margarina, não me lembro), que dizia sonhadora: “Hoje vou variar. Hoje vou fazer maionese de gambas”.
 
 
 
 

Apenas teve a sorte de ter conseguido disfarçar melhor a coisa nos primórdios da sua estadia entre nós, e verdade seja dita, a vida não lhe ter corrido excessivamente mal, conseguindo passar além do período de experimental.

 

A equipa, com aquela estória do duplo pivot e com o Lucho para diante, andava claramente partida, dividida entre um bloco defensivo demasiado recuado e desprotegido pela confusão gerada a meio-campo, e um bloco avançado desapoiado, e com extremos, ou algo parecido, como o Josué, incapazes de catapultarem o jogo para diante.

 

O resultado foi o que se viu na deplorável fase de grupos da Champions que fizemos.

 

Havia que dar uma volta às coisas, e o que é que aconteceu em Janeiro? Para começo de conversa, o regresso do Quaresma.

 

Já por diversas vezes ouvi, inclusivamente da parte do presidente, que o grande obreiro da sua vinda teria sido o treinador.

 

Custa-me a aceitar. Que eu saiba, por onde passou, o Paulo Fonseca nunca treinou grandes vedetas, muito menos uma vedeta do calibre de um Ricardo Quaresma.

 

Acredito que tivesse vontade de experimentar, mas a vinda do extremo, quanto a mim, colocou-o claramente sob pressão. É muito fácil despachar um Iturbe, ou encostar um Kelvin ou um Quintero, quando comparado com o sentar um Quaresma no banco.

 

Se veio, veio para titular. Nem os adeptos lhe perdoariam algo diferente. Com o Quaresma no onze, a equipa tem necessariamente que chegar-se mais à frente. É como disse aquando do seu regresso, liberta os colegas e puxa para diante a tracção da equipa.

 

Por muito que o treinador seja apreciador de cautelas e caldos de galinha, é meio caminho andando para enviar para o esquecimento o tal duplo pivot.

 

Só dou aqui o benefício da dúvida sobre os méritos e o assentimento do Paulo Fonseca para sua vinda, porque simultaneamente, sendo ele, Quaresma, quem é, e vindo inevitavelmente para titular, mais facilmente se justifica aos olhos dos adeptos, o desaparecimento do Kelvin ou do Quintero.

 

Cronologicamente em seguida, tivemos a saída do Lucho. Por muito que se diga que saiu a seu próprio pedido, ninguém me tira da cabeça que houve ali dedo da SAD.

 

A saída do Lucho veio resolver uma situação que o Paulo Fonseca se vinha a revelar incapaz de solucionar convenientemente.

 

Disse, quando escrevi o texto "O Kama Sutra táctico do Paulo Fonseca", que a questão do Lucho era difícil de resolução, fundamentalmente porque ia para além do racional de qualquer adepto, entroncando directamente no plano do emocional.

 

 

E não só dos adeptos. Não me esqueço da homilia em defesa do Lucho Gonzalez, proferida pelo José Fernando Rio no Porto Canal, no pós-match do jogo contra o SC Braga no Dragão.

 

Curiosamente, ou talvez não, quanto a mim, um dos nossos melhores desempenhos da época, e em que o El Comandante, doente, saiu ao intervalo para dar o lugar ao Carlos Eduardo.

 

Defendia o comentador que o Lucho teria sempre lugar naquele meio-campo, pois fazia qualquer uma das três posições em causa.

 

Pelos vistos, o Paulo Fonseca parecia pensar o mesmo, e por isso mesmo, daí para diante limitou-se a fazer a entrar o Carlos Eduardo para dez, e o Lucho recuou no terreno.

 

Isto quando, progressivamente, na mente dos adeptos se ia tornando cada vez mais evidente que, nas condições físicas em que se encontrava então, a única posição possível para o ex-capitão era a de sentado no banco de suplentes.

 

Mesmo recuado no terreno, isso tornou-se bem evidente na derrota da Cesta do Pão. Contra equipas mais pequenas, o Fernando ainda faria à vontade os dois lugares mais recuados do meio-campo, e nem se notaria a “ausência” do Lucho.

 

Contra equipas de outra dimensão, ou na Liga Europa, já não seria assim, com a agravante para a SAD, de termos em campo um jogador, que saltava à vista desarmada não poder com uma gata p’lo rabo, e no banco, jogadores contratados a peso d’oiro, a desvalorizarem-se de dia para dia.

 

E este era um problema que o Paulo Fonseca não queria, ou era incompetente para resolver. A saída do El Comandante facilitou-lhe a vida de sobremaneira.

 

Depois temos a renovação do Fernando. A renovação do Polvo foi a machadada final, assim espero, e penso que todos nós, na estória do duplo pivot. Com o novo capitão em campo, é para esquecer essa hipótese.

 

Finalmente, a venda do Otamendi e o regresso do Abdoulaye. Com esta troca ficou bem transparente que o que está em causa, vá-se lá saber por quê, é a falta de confiança do Paulo Fonseca no Maicon.

 

Só assim se explica a “opção táctica” que foi retirá-lo da equipa, e com que sucesso, na Cesta do Pão, e agora, a entrada do Abdoulaye na equipa, directamente de emprestado a titular.

 

Com todas as panes cerebrais de que o Otamendi vinha padecendo, mantê-lo à disposição do treinador, em especial para as partidas mais importantes, e numa fase em que todas elas são decisivas, era um risco desnecessário de fogo amigo.

 

Assim, como assim, uma vez afastado o Maicon, fica o Abdoulaye, que, não desfazendo, pior do que o argentino não será fácil fazer.

 

Por tudo isto é que eu digo que não vejo qualquer inaccção por parte da Direcção da SAD.

 

Antes pelo contrário, a SAD, apercebendo-se do erro original, que terá sido a contratação do Paulo Fonseca, esteve activa e operante, fazendo aquilo que estava ao seu alcance para, sem dar o braço a torcer, dotar a equipa das condições necessárias para discutir o campeonato até ao fim.

 

E mais, fê-lo entrando por uma área onde, por exemplo, com Vítor Pereira, não o fez: as quatro linhas.

 

Estas entradas e saídas tiveram, ou esperar-se-ia que tivessem, impacto directo na constituição do onze que entrasse para jogar, enquanto que com o Vitor Pereira, o regresso do Lucho, não sendo despicienda a sua presença em campo, teve muito mais em vista pôr em ordem um balneário. Senão, veja-se a chamada em simultâneo do Paulinho Santos à equipa técnica.

 

Desta vez, designadamente uma vez assegurada a continuidade do Fernando, e com a saída do Lucho, criadas expectativas de titularidade em rapazes como o Defour ou o Quintero, o balneário parece pacificado.

 

Com as movimentações operadas, as questões estruturais da equipa e da sua forma de jogar estão resolvidas por exclusão de partes. Restam no fundo, apenas as taras e manias do Paulo Fonseca, como sejam, a ostracização do Maicon, a indecisão rotativa do meio-campo, a preferência pelo Ricardo, em detrimento do Kelvin ou do Quintero, e os seis minutos de glória do Ghilas.

 

Por isso, ainda que compreenda os anseios manifestados por alguns colegas, a substituição do Paulo Fonseca, neste momento, não me parece que seja de todo prioritária, uma vez que aquele se encontra reduzido a uma expressão pouco mais que irrelevante.

 

Assim sendo, e em conclusão, mais do que do treinador ou da SAD, parece-me que estamos nas mãos dos jogadores, e daquilo que resolverem fazer ou não.
 
 
 

Ora, se quase todos eles são internacionais, muitos deles com aspirações a estarem presentes no próximo Mundial, é muito natural que, com portismo ou sem portismo, com tarjas ou sem tarjas, sejam suficientemente espertinhos para perceberem que o seu sucesso e o das suas carreiras, será tanto maior quanto assim o for o da sua equipa. 

 

Dito isto, e abundantemente, três dias após ter começado este monólogo à la Fidel de Castro, tenho a declarar que continuo estupidamente optimista.

 

Com o resto da família toda doente, e rodeado de uma incultura de vírus, germes e outros bicharocos, estarei a chocar alguma?

O kama sutra táctico de Paulo Fonseca

12
Nov13

 

  

Duas descidas à capital do império, e quatro pontos às malvas. Com o apuramento para a fase seguinte da Champions francamente comprometido, há que convir que as coisas não nos correm propriamente sobre rodas.

 

Uma estratégia de duplo pivot demasiado defensiva, para aquilo a que estamos habituados. Panes cerebrais recorrentes, a afectarem à vez a dupla de centrais, quase na proporção inversa ao interesse propalado de alguns tubarões. Um Varela distante. Um Jackson ausente. Um Josué, que não é exactamente um extremo, e um Licá, que não enche as medidas da generalidade dos adeptos. A equipa impulsionada para a frente quase que apenas e só, pela acção dos laterais, e ainda assim com intermitências. Uma aparente ausência de plano de jogo, que faz adiar as substituições possíveis para a vizinhança do irremediável.

 

Há uma série de factores, facilmente identificáveis, em torno dos quais, racionalmente, se reune o consenso dos adeptos.

 

Porém, parece-me a mim que o problema da nossa equipa é mais profundo, e vai para além do racional. Entronca mesmo no emocional, e daí a sua ultrapassagem colocar uma dificuldade acrescida.  

 

Falo do papel do Lucho Gonzalez na equipa e da sua posição em campo.

 

 

 

Não se me oferecem grandes dúvidas que o regresso do Lucho, bem como a integração do Paulinho Santos na equipa técnica, estiveram intimamente ligados à inépcia de Vitor Pereira na gestão do grupo e dos recursos humanos de que dispunha.

 

Faltava uma voz de comando, um líder no balneário e no campo, e ei-lo de regresso.

 

Lucho regressou, mas para uma posição diferente daquela de lançador de jogo, a que nos habituara. Vitor Pereira admitiu que não era ele que lhe dizia para jogar entre linhas, mais adiantado.

 

Com Paulo Fonseca, tendo este confessado a sua admiração por Wenger e pelo pateta platinado, fica-me a dúvida se o posicionamento do Lucho em campo será "fortuito", ou verdadeiramente uma opção táctica.

 

Sendo certo que o duplo pivot pode resultar interessante em jogos como o de Guimarães, como forma de assegurar alguma compacidade defensiva, em momentos que a equipa se vê acossada e forçada a baixar linhas, não deixamos de estar perante a velha história da manta curta.

 

Só com duas unidades, fica a faltar-nos futebol a meio-campo. Nota-se a ausência de um João Moutinho, capaz de guardar a bola, de jogar e de fazer jogar. O futebol de toque, que estava no ADN do FC Porto de Vítor Pereira, e que no exagero, se esgotava em si próprio.

 

Continuo a dizê-lo, das vezes, poucas, que vi o FC Porto jogar, a equipa pareceu-me muito mais próxima de um 4 x 2 x 4, que dum 4 x 2 x 1 x 3, com o Lucho lá para diante, a fazer mais as vezes de um segundo avançado, que de um terceiro médio.

 

Esta posição, uma vez que dos restantes médios poucas bolas lhe chegam em condições, e apenas os laterais parecem talhados para transportar jogo, faz com que o homem tenha de recuar, e corra quilómetros a tentar recuperar bolas na primeira fase de construção de jogo adversária, um pouco à imagem do que fazia o Aimar, com muita, demasiada traulitada à mistura, e por sancionar a maior parte das vezes.

 

Dado o seu actual estado de capacidade física, não me parece um papel muito recomendável. Aliás, a posição que ocupa no terreno faz-me lembrar aquela máxima estratégica futebolística de que, quando alguém se aleija e estão esgotadas as substituições, vai jogar lá para a frente. Faz figura de corpo presente, e pode não surtir em nada, mas ao menos não atrapalha cá atrás.

 

Além disso, as tentativas sucessivas entrar em tabelas no último terço do terreno, onde a aglomeração de jogadores é natural, tem-se revelado pouco mais que infrutífera.

 

Qual seria então a posição ideal do Lucho Gonzalez, partindo do princípio que, do ponto de vista emocional, retirá-lo de campo teria um impacto negativo, quiçá irreparável entre os adeptos?

 

Dadas as suas presentes condições físicas, a sua inegável inteligência, que se traduz numa capacidade de passe de excelência, e a sua menor propensão para o transporte da bola, a escolha óbvia é a de "médio esquecido".

 

Perguntarão: "Que raio?!"

 

Pois bem, o "médio esquecido" é o gajo que antigamente, nos tempos em que eu ainda ia ver treinos, vestia nos treinos de conjunto o colete amarelo.

 

O artista, o cérebro, Il regista à italiana. Os outros, todos atacam e defendem. Ele, limita-se a atacar. Joga pelas duas equipas, e quando algum elemento de uma delas conquista a posse de bola, entrega-lha prontamente e redondinha, para que construa o ataque. Actua num espaço de terreno limitado, mais ou menos confinado entre os meios de ambos os meios-campos. Uma espécie de, bleergh!, Michel Platini dos tempos modernos.

 

É nesta posição que vejo o Lucho Gonzalez. Com o Fernando na cobertura defensiva, e dois médios no apoio, a fazerem os movimentos de compensação acima e abaixo. Um losango, com dois avançados lá à frente.

 

De que sabe lançar os avançados, já deu bastas provas nos tempos do Jesualdo Ferreira. É um facto que os nossos actuais avançados não se chamam Lisandro, nem Quaresma. Nem sequer Tarik, caramba!

 

Daí a opção, um pouco na lógica do Mourinho, por um avançado fixo - o Jackson, e alguém a fazer de Derlei. E aí, tanto pode ser um Varela, cada vez menos extremo, e volta e meia, a revelar-se um finalizador, como um Licá buliçoso, ou mesmo um Quintero. E porque não um Ghilas?

 

Ou seja, o kama sutra táctico do Paulo Fonseca resume-se, no fundo, a uma única posição: a do Lucho Gonzalez. É probrezinho? Pois é. Mas quando resulta... 

O muso inspirador

20
Nov12

 

 

“Todavia, eu devo ter visto um jogo diferente de, por exemplo, os enviados deste jornal. Vi, uma vez mais, um Lucho completamente fora do jogo, incapaz de fazer um passe certo, comprido ou curto, desastrado a rematar, lento a atacar: mas depois li que tinha sido o melhor em campo.

 

(…) o ataque do FC Porto vive da dinâmica criada por três jogadores determinantes Moutinho, James e Jackson Martinez – à volta dos quais vagueiam, sem sentido, dois outros – Lucho e Varela que apenas esperam uma oportunidade caída do céu para marcar um golo, que consiga esconder o pouco ou anda que actualmente acrescentam à equipa”.

 

“É uma diferença ver uma equipa de gente pouco experiente a jogar sem bússola que os oriente enquanto navegam por mares acidentados (ma non troppo, porque o Nacional é fraquinho), mas quando o comandante é…El Comandante, as coisas piam mais fininho que um castrati depois de levar um pontapé nos tomates metafóricos. Paradoxal, eu sei, just go with it. Lucho tem nível, classe, elegância. Mas tem, acima de tudo, a experiência e a inteligência competitiva que lhe permite estar em campo e fazer com que todos olhem para ele e tentem perceber o que é que o líder pretende e o que é que terão de fazer para receber a sua aprovação. Lucho é tão importante para o FC Porto 2012/13 como Deco era em 2003/04. Não preciso de dizer mais nada, pois não? Ah, esperem. GOLAZO!”

 

Dois jogos. Duas análises. Um jogador – Lucho Gonzalez. Até aqui nada de mais. Os desempenhos dos atletas variam de partida para partida, sem que seja preciso ver reencarnar neles um qualquer Dr. Jekill e Mr. Hyde.

 

Duas observações produzidas após duas partidas diferentes, mas que não se circunscrevem a esse dois momentos.

 

E, estranhamente, ou talvez não, duas apreciações que não tenho qualquer pejo em subscrever, para mais ainda, tendo em conta quem são os seus autores, gente reputadíssima, da mais alta estirpe.

 

Os dois primeiros parágrafos são provenientes da crónica do Miguel Sousa Tavares, “Um lugar na Europa”, escrita após a nossa partida em Kiev, onde conquistámos o direito a aceder aos oitavos de final da Champions, e fui buscá-los aqui.

 

O último, por sua vez, é oriundo da rúbrica “Baías e Baronis” relativa ao jogo da Taça de Portugal com o Nacional da Madeira, e fui pescá-lo a um dos locais mais credíveis da nossa bluegosfera, sendo da lavra de um dos autores em quem mais confio – o Jorge, do Porta 19.

 

Vi o encontro de Kiev, não vi o da Choupana. Na Ucrânia, não consegui ver tudo o que Sousa Tavares viu. Por outras palavras, não vi o Lucho Gonzalez “incapaz de fazer um passe certo, comprido ou curto, desastrado a rematar, lento a atacar”.

 

O que vi, efectivamente foi El Comandante “completamente fora do jogo”, de tal maneira que nem naqueles pormenores reparei.

 

Mesmo sem ter visto o jogo da Madeira, e sem me querer comprometer na comparação com o Deco, também não tenho qualquer dúvida em corroborar o restante daquilo que o Jorge escreveu.

 

Porquê? Passo a explicar. 

 

A última vez que vi ao vivo a nossa equipa, foi na Supertaça de 2008, que perdemos 0-2, com o Sporting. De quem? Nada mais, nada menos que do Paulo Bento, tão na berra ultimamente.

 

O meu sogro, sportinguista, arranjou os bilhetes – até parecia que adivinhava! – e lá seguimos para o nosso elefante branco. Por sorte, nem ficámos perto um do outro (ele tinha um lugar de honra, e eu fui para a bancada com o meu cunhado, benfiquista. Boa companhia, portanto) …

 

Nesse jogo, houve Xistra, houve um Rochemback, que devia ter sido expulso e um Yannick Djaló, que deve ter feito nessa tarde/noite o jogo da vida dele. Ainda assim perdemos, quase exclusivamente, por demérito próprio.

 

Demérito porque, dentro da rigidez empedernida do 4x3x3 do Jesualdo Ferreira, fomos incapazes de responder tacticamente ao então famoso, losango do meio-campo do adversário.

 

O Moutinho, o Renhánholi e o Derlei, e por vezes, ainda o Rochemback, caiam sobre o Sapunaru, sem que se visse sombra do médio que deveria ajudar na cobertura àquele lado. Precisamente o Lucho Gonzalez.

 

No outro lado, o Izmailov, com as ajudas intermitentes do Abel e do Djaló, punham em sentido o Benitez e o Raúl Meireles.

 

Quando o losango basculava para a esquerda, o que acontecia quase por sistema, os adversários superavam em número os nossos jogadores. O Lisandro tentava fechar como podia, mas faltava sempre alguém, e o Lucho, pouco ou nada defendeu.

 

Se o fluxo do jogo virava para o outro lado, viam-se os nossos rapazes a esfalfarem-se a correr atrás da bola, e quase sempre, o Lucho Gonzalez sozinho no outro flanco. Um espectador atento, completamente fora do jogo.

 

Infelizmente, foi essa imagem da nossa equipa e do El Comandante que retive do último jogo que tive oportunidade de presenciar ao vivo e a cores.

 

Confesso que na altura, isso irritou-me solenemente, e como tal, também não fui dos que ficaram esfusiantes com o seu regresso.

 

Porém, meu caro Miguel Sousa tavares, há coisas com as quais temos de viver, e mais vale que o façamos serenamente. “Primeiro estanham-se, depois entranham-se”.

 

Do nosso capitão não se espera um elevado grau de comprometimento com os processos defensivos da equipa. Tão pouco será expectável que pegue na bola e corra com ela nos pés, até ao momento oportuno de endossá-la a um colega colocado na cara do golo. Isso era com o Deco.

 

Não, o que se espera é que faça uso da sua inteligência, e faça correr a bola e aos colegas de equipa, criando-lhes as oportunidades adequadas para que concretizem os golos que nos levem às vitórias.

 

Ou, nesta sua versão actual, em que surge mais próximo dos avançados e das zonas de concretização, que faça uso do seu remate, e marque golos, como fez para a Taça de Portugal.

 

Rasgos de clarividência e classe. Momentos superlativos que felizmente, o definem enquanto jogador.

 

Por isso, é natural que vagueie à volta dos demais avançados. Mas não é certo que o faça sem sentido. Há ali, quer se queira, quer não, muito a propósito e muita experiência.

 

É isso que aporta à equipa, como diz o Jorge. Do El Comandante espera-se que traga os toques de inteligência e de classe que nos falt(av)am para que as vitórias surjam naturalmente, e que progressivamente deixem de estar na dependência de rasgos individuais e arrancadas do Hulk, para resolver as partidas.

 

É um líder por excelência, dentro e fora do terreno de jogo, e a sua presença, a par da limpeza de balneário operada desde Janeiro passado, permitirão ao treinador gozar de uma vida mais serena do ponto de vista disciplinar.

 

Quanto ao resto, é ir vivendo com ele, na certeza porém, de que é, e vai ser cada vez maior, a importância da equipa no sentido de suprir a ausência física do Hulk e as ausências episódicas do seu líder.

A confissão

07
Fev12

 

A análise feita pelo Jorge das contrações de inverno do FC Porto é do mais completo que pode haver. É daquelas que coisas que se assinam em baixo, sem grande receio do que, havendo-as, possa vir nas entrelinhas.

 

No entanto, há um pormenor que, talvez por pudor, é abordado en passant, como que não quer a coisa, e que, apesar do resultado do recente jogo contra o Vitória de Setúbal, e do bem sucedidas que foram no mesmo as mais recentes contratações, não consigo por para trás das costas.

 

“A aposta nestas duas contratações de último dia trazem dois pontos que não poderão ser contestados: é uma assunção de falha pela parte da cúpula na planificação da época(…)”.

 

Nem mais, só não me parece correcto que tal assunção se fique apenas pela “aposta exacerbada em Kléber/Walter para a solução ofensiva central”.

 

Sim, mas não só. Senão vejamos.

 

Conforme disse em tempos, parecia-me que nosso meio-campo, na anterior configuração do plantel, oferecia soluções mais do que suficientes. O João Moutinho, o Defour, o Belluschi, acrescentando alternativas como o Danilo e o Guarín, se estivesse para aí virado, daria para o gasto.

 

Como problemática via, antes sim, a situação do trinco, onde, para além do Fernando, restava apenas o Souza.

 

Ou seja, assim à primeira vista, não me parecia essencial a contratação de mais um elemento para o centro do terreno. É claro que o El Comandante não é um qualquer. E também é mais que evidente que o Belluschi tem estado esta temporada bastante abaixo da forma que exibiu na época transacta, e que quanto ao rapaz do chapéu colombiano, subsistiriam bastas dúvidas, fundamentalmente quanto à sua vontade de produzir alguma coisa de jeito.

 

Postas as coisas de outra forma, reparemos nas contingências que estiveram por detrás das saídas dos jogadores que deixaram o Dragão desde Agosto.

 

De todos, o Falcao e o Guarín, poder-se-á dizer que serão os únicos que saíram para melhor, ou equiparável ao FC Porto. O Falcao para melhores condições financeiras, e o Guarín, para uma Liga com mais visibilidade e um clube, quer se queira quer não, minimamente compatível com o nosso.

 

O Rúben Micael acabou por ser uma espécie de contrapeso na transferência do Falcao, como aqueles rebuçados que na mercearia acrescentavam ao prato da balança, para dar mais umas gramitas ao peso do fiambre (ou o que fosse!).

 

O Falcao, depois das trapalhadas e dos adiamentos sucessivos da sua renovação, era por demais evidente que já cá não morava.

 

Do Fucile, de acordo com o que se ouviu ao nosso treinador, terá faltado, pelo menos, empenho no trabalho durante a(s) semana(s), para além das já usuais panes mentais, de cuja espontaneidade, muito sinceramente, começo a duvidar.

 

Mal de nós se o Guarín, depois da telenovela de carretel colombiana que protagonizou, com a ajuda empenhada do seu empresário, continuasse no nosso clube.

 

Ao Belluschi, ninguém terá deixado de reparar nas mais que evidentes manifestações de desagrado aquando de algumas substituições acontecidas esta temporada.

 

Destes jogadores, excluindo o Falcao e o Rúben Micael, todos os demais acabaram por sair por empréstimo, o que não exclui, à priori, a hipótese do seu regresso, ainda que, a alguns deles, como o Guarín, não o queria de volta nem pintado a ouro.

 

Onde é que quero chegar com este palavreado todo? É muito simples. Em pelo menos três destas saídas - Fucile, Guarín e Belluschi – parece evidente que os jogadores em causa não seriam “Brise Contínuo” no balneário.

 

Quanto a mim, a vinda do Lucho Gonzalez, mais do que “uma revolução na mentalidade de um conjunto de jogadores que provaram não conseguir criar uma estrutura coesa em campo”, parece-me que quererá antes instaurar essa revolução no balneário, e daí sim, transportá-la para o campo.

 

Noutras palavras, se a única explicação, minimamente razoável que consegui encontrar para mim mesmo, como justificativa da ascensão do Vítor Pereira a treinador principal, seria por se tratar de uma solução de continuidade, por fazer parte de um grupo vencedor, e assim, de certa maneira, se situar em pé de igualdade com um plantel de jogadores, que haviam vencido praticamente tudo o que havia para vencer, essa justificação cai por terra.

 

Por essa via, e pela também mais que evidente “inversão pontual (?) da estratégia de vários anos” em matéria de contratações, Vítor Pereira passou a ser tudo menos uma solução de continuidade.

 

Neste momento, esperemos que não tardiamente, das duas, uma: ou a SAD ainda espera, a cinco pontos do líder, cujo presidente, até vai dar uma entrevista à televisão estatal, sem se perceber muito bem qual a efeméride que festeja - serão os cinquenta anos da primeira mijinha atrás da árvore em terras da metrópole do Eusébio? – recuperar o terreno perdido?

 

Ou, será tão somente pão e circo? Para satisfazer os apaniguados dá-se-lhes o avançado, por que tanto clamam e o El Comandante. Será isso?

 

Infelizmente, o que me parece evidente é que as contratações do Lucho e do Janko trazem consigo um travo amargo a fracasso, e soam-me, muito sinceramente, à confissão do rotundo fracasso que foi, não a aposta na dupla Kléber/Walter, mas sim na promoção do nosso treinador-adjunto a principal.

 

Não me parece que o Lucho Gonzalez venha para ser o braço do treinador dentro do relvado, ou para ajudar o Hulk, nas novas funções em que foi investido. Cheira-me antes que veio, antes de mais porque quis, e depois, para conseguir aquilo que o treinador não consegue: ter mão no balneário e motivar os colegas de equipa mais jovens, através das suas inegáveis capacidades de jogador e de líder.

 

 

Portanto, neste momento acho que estamos como após a derrota com a Naval 1.º de Maio, em 2008, em que o Bruno Alves foi no final do jogo falar com os adeptos, e a partir daí os jogadores tomaram as rédeas de um barco, que o Jesualdo Ferreira ameaçava deixar afundar, como se viu na época seguinte.

 

Neste momento, é isso que espero. Que os jogadores, sob a batuta do Lucho, do João Moutinho, do Hulk, etc. se assumam, e deem aos adeptos, no mínimo, as alegrias de eliminar o Manchester City e ir ganhar à Cesta do Pão.

 

Algo que, ou muito me engano, ou um treinador que claudica em casa com Apoeis cipriotas e Zénites sampetesburguianos, dificilmente será capaz de fazer.


Nota (actualizado em 2012.02.08): Ora bolas! Esqueci-me do Walter, caramba! Também recebeu a mais que prevista guia de marcha. Contudo, a situação do Walter não se enquadra em nenhum dos casos mencionados. O seu caso é perfeitamente retratado pela tal dupla aposta exarcebada nele e no Kléber, cuja falha terá sido assumida pela contratação do Janko (e do Lucho).

 

O caso do Walter foi uma aposta falhada desde o início, e a prova provada de que nem todos os patinhos feios se transformam em belos cisnes. Ainda assim, para mim, por aquilo (pouco) que fez, parece-me que tem mais arte e manha de ponta-de-lança que o Kléber.