Há uma regra na vida, que embora nunca tenha aplicado pessoalmente, tenho de ciência certa, que resiste a qualquer teste ou experimentação.
Só vocês saberão o porquê, mas imaginem que vão visitar uma vidente, uma astróloga, uma cartomante, uma taróloga, uma cigana, como quiserem. Se baterem à porta ou tocarem à campainha, e do lado de lá uma voz perguntar: “Quem é?”, esqueçam. É escusado, podem dar meia volta e ir embora.
Assim andam a arbitragem portuguesa e as nomeações do Vítor Pereira. Ele bem nos pode oferecer a bola de cristal, o baralho de Tarot, e dizer-nos que vamos ter os melhores árbitros nos melhores jogos.
A acção não bate certo com o discurso, e as nomeações que faz são de tal forma incompreensíveis, que se tornam mais imprevisíveis que uma ida dos meus filhos à casa de banho.
Isto, caso se perguntem, vem muito concretamente a propósito da recente nomeação dos Manueis, o Oliveira e o Mota, para os jogos do actual primeiro classificado e o nosso.
Mas não é novo. Já no final da época passada, que ainda por cima, marcou a estreia da profissionalização da arbitragem, questionei esta “política”. Não estão disponíveis os internacionais/profissionais, e vão estes? Será isso?
Paulo Baptista – um árbitro que, não obstante a longa carreira, pelos vistos, nunca mostrou competência suficiente para alcançar a internacionalização, mas que possui no seu currículo um vasto lastro de presenças em clássicos e até uma final da Taça de Portugal – comentou criticamente na época passada, que seria uma forma de preservar os internacionais.
Apitavam menos, logo, mais longe do escrutínio geral estariam e menos erros cometeriam.
Então mas estes, não é suposto serem os melhores? Se são os melhores, não errarão menos que os outros?
Ou afinal, é tudo a mesma coisa? Se é assim, porque é que estes é que são internacionais/profissionais, e não os outros? Qual é o critério de escolha? As avaliações?
Então, mas se não chegam a internacionais porque não têm boas notas, a seguir vão apitar os tais melhores jogos? Para quê? Melhoria de nota?
Tudo isto é muito relativo. Ainda há umas jornadas atrás tivemos um belo exemplo do que é a ironia poética da nossa arbitragem.
Bruno Paixão, um árbitro que fez o percurso inverso, sendo despromovido de internacional, segundo a lógica, por não ser suficientemente competente para tal, foi apesar disso, escolhido para um jogo importante.
A coisa até não lhe terá corrido mal, mas um dos seus auxiliares cometeu um daqueles erros de palmatória, perfeitamente naturais, quando a favor de um dos clubes em compita. O que é que aconteceu? Todos caíram em cima do Bruno, e irão cair-lhe enquanto o caso estiver em cache na memória.
Nessa mesma jornada, o Artur Soares Dias, árbitro internacional, fez uma arbitragem do mais ranhoso que há, num jogo nosso, e o que é que lhe sucedeu? Escapou-se incólume por entre as gotas de chuva.
Por isso, esta questão, quanto a mim, ultrapassa já o mero pormenor da “escolha”. Acho que entrámos grandemente no domínio da gestão danosa.
Se existem recursos disponíveis, estamos a pagar por eles, e não os utilizamos, o que é que podemos chamar a isso?
Faz-me lembrar um País que conheço, que também foi pago para esquecer a pesca, a agricultura, a indústria: “Ah, e tal, esqueçam lá isso, que vos damos fundos para a formação profissional”. O resultado está à vista.
E se existem recursos disponíveis, pagamos por eles, não os utilizamos, e ainda vamos pagar a outros piores para executarem a mesma tarefa, então, nem sei o que diga.