Nas minhas deambulações bluegosféricas, não pude deixar de notar os comentários depositados em algumas caixas apropriadas para o efeito, por adeptos benfiquistas.
Com uma consternação, que me apertou o coração e quase uma lágrima a desaguar no canto do olho, constatei a comovente mágoa irreprimida desses adeptos, feridos por certo, na sua inabalável dignidade clubística, pelos aleivosos comentários produzidos pela mente torpe do nosso treinador, e em seguida verbalizados sem a necessária e conveniente pausa reflexiva sobre a matéria, a propósito da actuação desse ícone supremo e tantas vezes incompreendido, da leal e sã prática desportiva que dá pelo nome de Maximiliano Pereira, familiarmente conhecido por Maxi.
E com toda a razão deste Mundo, e eventualmente de outros. De tal sorte que, abertos de par em par pelo seu fervor de adeptos do maior clube da Terra, os majestosos portões da clarividência, trataram de demonstrar-nos, reles trupe de néscios, ignaros incapazes de distinguir um fora-de-jogo dum jogo fora, que, do nosso lado, outros houve face aos quais o Maxi, na sua imaculada inocência, poderia pedir meças à Madre Teresa de Calcutá, ela própria.
Este era, também, um dos motivos porque queria ver aquele que “[f]oi um jogo entre duas grandes equipas, um grande espectáculo”, e onde o ”João [“pode vir o João”] Ferreira fez uma grande arbitragem”.
Finalmente consegui vê-lo no meu online favorito. E o que foi que vi? Entre outras coisas, aquilo que se segue:
1’ - primeira falta do Maxi Pereira, não assinalada pelo árbitro-que-fez-uma-grande-arbitragem,;
3’ – pisadela do Matic ao Defour;
5’ – falta do João Moutinho;
6’ – dupla falta do Maxi Pereira. Não assinalada a primeira tentativa, à segunda não falhou;
9’ – Alex Sandro faz falta, salvo erro sobre o Sálvio. O árbitro dá a lei da vantagem, e este último segue com a bola controlada. Quando fica cara-a-cara com um adversário, o árbitro decide assinalar a falta;
17’ – Jardel tenta obstruir, com contacto físico, o Lucho Gonzalez. O árbitro nada assinala;
24’ – Pisadela do Fernando a um adversário;
25’ – Falta, sem bola, do Maxi Pereira;
27’ – Lucho Gonzalez faz falta, o árbitro não assinala, e dá a lei da vantagem;
37’ – Falta do João Moutinho;
38’ – Cotovelada do Enzo Pérez ao João Moutinho;
41’ – Lance entre o Mangala e o autor do golo fantasma. O árbitro nada aponta;
41’ – Na sequência da jogada anterior, é assinalada falta do João Moutinho sobre o Lima, numa jogada em que este simula a bom simular, a falta que não existe. Peso na consciência da jogada anterior, ou apenas uma melhor posição para quem marca a falta?
43’ – 41% de posse de bola para a equipa da casa, 59% para o FC Porto;
46’ – Nova pisadela do Fernando;
51’ – Nova falta inexistente assinalada ao João Moutinho;
52’ – Falta inexistente, desta vez apontada ao Lucho Gonzalez;
53’ – Falta do Enzo Pérez;
58’ – Nova falta sem bola não assinalada, do Maxi Pereira;
59’ – Mais uma falta não assinalada ao Maxi Pereira;
61’ – Falta do Matic;
64’ – Uma nova falta apontada ao João Moutinho, mas que não existe;
71’ – Falta do Alex Sandro;
73’ – 11 faltas para a equipa da casa, 15 para o FC Porto. Como se pode constatar, nas minhas contas não estão incluídas todas as faltas. Não queriam mais nada? Como a paciência não abunda, limitei-me àquelas perpetradas pelos que considerei serem, ou poderem vir a ser, os actores mais relevantes.
Curiosamente, o número a que chego para a equipa da casa, entre as que efetivamente existiram e foram assinaladas, e as que passaram em claro, coincide com o da estatística.
Para o FC Porto, contabilizo menos três faltas. Por aqui podem aferir da fiabilidade deste estudo exaustivo.
75’ – Falta do Matic;
76’ – Falta do Carlos Martins;
78’ – Nova falta do Matic;
81’ – Falta do João Moutinho;
81’ – Falta não assinalada do Maxi Pereira;
84’ – Falta do Maxi Pereira;
88’ - 48% de posse de bola para a equipa da casa, 52% para o FC Porto;
92’ – Falta do Mangala;
94’ (final do jogo) - 50% de posse de bola para a equipa da casa, 50% para o FC Porto;
Algumas das pérolas acima mencionadas, poderão ser visualizadas no vídeo que se segue, da lavra dos Guerreiros da Invicta:
Portanto meus amigos, vamos ser um bocadinho sérios e objectivos. Não estaremos a comparar o incomparável?
Ora se ao Maxi Pereira, entre faltas com bola e sem bola, lhe são apontados quatro atropelos às leis do jogo, e ficam por assinalar outros cinco, a que título é que o vamos comparar, por exemplo, com o João Moutinho?
O João Moutinho fez faltas, é verdade. Nada mais, nada menos, que três. Contudo, foram-lhe assinaladas mais duas, cortesia das quedas aparatosas de Gaitán, Sálvio, Enzo Pérez, Carlos Martins, e Cia. Lda.ª.
Ao Lucho Gonzalez, outro dos escolhidos para a comparação, foi-lhe apontada uma única infracção, que logo por azar, não existiu. A que efectivamente cometeu não foi assinalada, compensada pela lei da vantagem.
Tentemos o Fernando. Deu duas pisadelas a adversários, ou pisões, que não de Moura, se preferirem. Mais uma que o Matic. Caso para expulsão? E a cotovelada do Enzo Peréz ao João Moutinho?
Então e o lance do Mangala com o marcador do golo fantasma? Um faz-se ao lance em movimento para diante (Mangala), o outro, às arrecuas. O choque no ar é inevitável. Quem entra de frente, tendo noção de onde se encontra o adversário e da inevitabilidade do choque, faz por proteger-se, utilizando o(s) braço(s)/cotovelo(s).
Para mim, é um lance perfeitamente casual, mas não me chocaria que o árbitro assinalasse falta, apenas pela vantagem que detinha o defesa, de frente para a jogada, e pela forma menos prudente como se fez ao lance.
Não entrou de cotovelos à frente, naquela que o diga o Sapunaru, é uma das especialidades do seu adversário naquele momento. Para além dessa, não obstante todo o vigor físico que aplica na refrega, só cometeu mais uma falta, e no dealbar da partida.
E o lance do Jardel sobre o Lucho?
Ou seja, meus caros, não há comparação possível entre aquilo que é o Maxi Pereira, e que por não querer, nem que seja por mero acidente, ofender a sua progenitora, vou abster-me de enunciar, e o que são e fizeram durante aquele jogo, outros jogadores, de ambos os lados.
O Maximiliano segue na esteira de outros que vestiram aquelas cores, e assim de repente vêm-me à mente os nomes de um Mozer, um Schwarz ou um Veloso, quando as forças começaram a minguar.
E também não adianta compará-lo com alguns outros que envergaram a nossa camisola, como tanto lhes apraz fazer, recordando Fernando Couto, Jorge Costa, Paulinho Santos ou Bruno Alves.
Há uma diferença insanável entre estes e o Maxi Pereira, que ficou bem patente neste desafio: o proteccionismo que lhe é tributado pela equipa de arbitragem.
Fernando Couto, Jorge Costa, Paulinho Santos ou Bruno Alves, foram aquilo que foram em campo, por sua própria conta e risco. Mais tarde ou mais cedo, acabaram por sofrer na pele as consequentes punições pelos seus actos, quiçá menos vezes do que o mereceram.
O que acontece com esta espécie de gladiador, como lhe chamam, dos tempos modernos, é que fá-las perfeitamente consciente de que permanecerá imaculadamente inimputável, o que apenas concorre para intensificar o dolo da sua conduta.
Por isso, tenham juízo, que desta vez até têm razão: o Maxi Pereira é, verdadeiramente, incomparável!
. O Incomparável Maximilian...