Segunda-feira, 25 de Março de 2013

Coxos e rotos, mas glamorosos

Como alguém que parcos conhecimentos detém sobre essa máquina maravilhosa que é o corpo humano, até do meu próprio, ou não me fosse impossível distinguir à primeira entre um ataque de sinusite ou de rinite, e uma reles constipação, só conseguindo fazê-lo após uma aplicação fracassada de um anti-histamínico qualquer, faz-me espécie esta cena do João Moutinho.

 

Ora, tanto quanto se sabe, porque é do domínio público, o nosso jogador ter-se-á apresentado lesionado em Óbidos, na concentração da selecção nacional.

 

É da praxe que a quem se apresenta em tais condições, é normalmente passada guia de marcha de regresso a casa.

 

Desta vez, com o João Moutinho isso não aconteceu. Estando lesionado, deverá, em princípio, ter apresentado à chegada um qualquer documento médico a atestar esse facto.

 

Presumivelmente, sendo o responsável pelo corpo clínico do clube o Dr. Nelson Puga, terá sido da sua lavra o dito documento. Ou de outro médico qualquer, é irrelevante para a questão.

 

 

Esse documento, certamente terá sido apreciado por um colega ou colegas de profissão, concluindo este(s) que existiriam hipóteses válidas de recuperação do jogador, a tempo do desafio em Israel.

 

Sendo assim, não tenho a menor dúvida de que o lógico, o ético, o aceitável, seria o corpo médico da selecção, o presidente, o contínuo, quem quer que fosse, entrasse em contacto com o clube do jogador, e explicasse a situação, e o motivo porque permanecia aquele em estágio.

 

O lógico, o ético, e o aceitável.

 

Pois bem, qual não é o espanto quando, na véspera daquele jogo o seleccionador vem dizer que o jogador só alinharia naquela partida se estivesse a 100%, e que a decisão seria do atleta.

 

Após o jogo, é o próprio quem afirma que, "Se joguei é porque estava a cem por cento".

 

Desconheço quais serão os tempos de recuperação para o tipo de lesão de que padecia o João Moutinho, mas recordo-me que, pelo clube, desde 2 de Março, quando defrontámos o Sporting, falhou esse jogo e mais aquele em que derrotámos o Estoril-Praia.

 

Regressou frente ao Málaga, mas apenas por 46 minutos, e tornou a falhar a partida contra o Marítimo.

 

Agora, em três dias, recuperou a lesão e jogou 90 minutos, de fio, a pavio, e aposto que no Azerbaijão vai suceder o mesmo.

 

A hipótese lógica, ética e aceitável de ter havido contactos entre a selecção e o clube, cai por terra quando o presidente do FC Porto, constata no pós-jogo que “Moutinho não está bem” e que, "[o] Moutinho de Israel não foi o Moutinho a 100 por cento que temos visto no FC Porto".

 

Vejo várias hipóteses para matar esta charada.

 

A que mais me agrada é a de que o homem, efectivamente chegou lesionado, mas recuperou, com ou sem milagre, o que constitui uma óptima notícia para nós, pois tanta falta nos tem feito.

 

Outra hipótese é a de que o João Moutinho não estava lesionado com a gravidade anunciada, e o FC Porto, numa altura morta das competições, em que poderia aproveitar esta semana e meia para recuperar sem pressas da lesão, tentou fazer com que o seu jogador não fosse à selecção.

 

Terá mentido Nelson Puga ou, pelo menos, exagerado ligeiramente a gravidade da lesão do jogador? Ou será hipocondríaco?

 

A derradeira hipótese, e a que, ainda assim, menos me agrada. Os senhores doutores da selecção nacional, deliberadamente ignoraram e desautorizaram completamente a opinião de um colega, e mantiveram o jogador em estágio.

 

A não ser assim, porquê a preocupação do treinador nacional de fazer recair sobre o jogador a responsabilidade da decisão de jogar ou não?

 

Pensaria estar perante uma lesão psicossomática, ao estilo do Izmaylov?

 

A reacção do clube, na pessoa do seu presidente, foi tão ténue, tão “low profile”, que quase deita por terra esta possibilidade.

 

Porém, tendo em atenção aquele que é o histórico mais recente de reacções, aos mais variados níveis, não deixa de se enquadrar no padrão.

 

Será que para o corpo clínico da selecção, hipócrita é um derivativo de Hipócrates?

 

Numa selecção onde é titular um jogador como o Varela, protagonista de uma época magnífica e que na última partida do seu clube entra aos dez minutos, para tornar a sair, e chateado, aos 73 minutos, que mais se poderá esperar?

 

E pronto, assim empatámos com Israel, e agora a seguir, contra o Azerbaijão, não vamos ter o craque n.º1, eterno putativo candidato mal sucedido a superar a pulga.

 

Mas não faz mal, afinal somos ricos, lindos e todos têm inveja de nós por isso. Ou por outro motivo qualquer...

 

 

 

sinto-me:
música: Bad case of loving you - Robert Palmer
publicado por Alex F às 19:52
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