Bem sei que, por vezes, há momentos em que por motivos dos mais variados, as pessoas em geral, e algumas em particular, perturbam-se e ficam fora de si.
Quando os indivíduos em questão, ainda por cima, padecem de mais do que evidentes desequilíbrios emocionais, a coisa pode assumir proporções com grau mais elevado de perigosidade.
A conjugação destes dois factores motivou os vários comentários que fiz no texto anterior, sobre o treinador do nosso adversário da pretérita sexta-feira.
Contudo, a uns diazitos de distância e após ter visto e revisto a intervenção do dito sujeito, mais uns quantos comentários a propósito da mesma, concluo que me equivoquei.
Na realidade, aquilo que me pareceu uma perturbação momentânea decorrente do resultado menos positivo no jogo, deixou de me soar tão espontânea como tudo isso. A forma como as baterias do treinador e do presidente daquele clube se assestaram ao árbitro parece tudo menos fruto do improviso.
É que nada daquilo foi novo, ou estava por ver, vindo senão das mesmas figuras, de outras suas equivalentes (no caso do treinador, fundamentalmente).
Mesmo antes do jogo, "O Porto é o maior, carago", divulgou uma mensagem de telemóvel, onde adeptos daquele clube davam a conhecer o, ao que suponho, contacto telefónico do árbitro Pedro Proença. Certamente com o objectivo de o felicitarem após a partida...
Também isto não era novo. Como se recordarão, na época 2009/2010, em que curiosamente, não fomos campeões, houve por aí uma onda de ameaças a árbitros e a quem os nomeia, perpetradas segundo consta por adeptos de um clube. Na altura, os visados foram, não só Vítor Pereira (o dos árbitros!), mas também o João “pode vir o João” Ferreira, Jorge Sousa e Vasco Santos, assim como as respectivas famílias.
Sempre ouvi dizer que “não é com vinagre que se apanham moscas”, por isso, não acredito, nem por um breve momento que, qualquer um daqueles indivíduos altere o seu comportamento por causa de tão boçais ameaças. Haverá com certeza algo mais profundo do que isso.
Senão, como é que se explicaria o ascendente que a partir de um certo jogo no Bessa, um clube ou o seu presidente, passaram a exercer sobre o árbitro Lucílio Baptista? O que é que esse presidente terá querido dizer quando, para além de pedir a intervenção da Polícia Judiciária, afirmou que sabia “quem tinha jantado com quem, e onde tinham jantado”?
Alguém investigou? Tanto quanto aquela celebérrima tirada do “fazer isto por outro lado”.
Porque é que esse presidente, que agora não se coíbe de “recomendar” a um árbitro que peça escusa de dirigir encontros do seu clube, que por mero acaso até é o de ambos?
Não foi este mesmo presidente que disse, a propósito de alguns árbitros que, “isso é tudo para nos fod…”. O que é que isto queria dizer? Ninguém terá tido a curiosidade de saber porque é que os juízes em questão, quereriam tramar o tal clube?
E os árbitros visados? Não se terão sentido de alguma maneira atingidos na sua honorabilidade por aquela afirmação?
Já agora, o tal árbitro que podia vir, porque é que continuou a apitar jogos daquele clube? Ou melhor ainda, dos concorrentes directos do tal clube. Não recomendaria a prudência que assim não acontecesse?
As questões são mais que muitas. E podemos continuar nesse caminho.
Porque é que o Pedro Henriques, depois do famoso golo anulado ao Nuno Ribeiro, no tal jogo com o Nacional da Madeira, foi sendo progressivamente afastado de jogos importantes?
Apenas duas épocas bastaram para o seu desaparecimento total de cena, e nem duas arbitragens do piorio em jogos nossos contra o Vitória de Setúbal, incluindo um cartão amarelo ridículo ao Falcao, que o impediu de defrontar o clube de que se fala, o salvaram.
Por onde anda o Olegário Benquerença? As últimas notícias que houve a seu respeito, foram que teria chumbado nos testes yo-yo da UEFA, e ponderava por fim à carreira, apesar de querendo, poder repetir os tais testes.
Antes disso, estivera de “baixa”. Alguém acredita que o Olegário Benquerença errou na época passada, no jogo do mais grande do Mundo dos arredores de Carnide em Guimarães, por causa do prémio que recebeu na Associação de Futebol do Porto?
Então, e na temporada anterior no Dragão, na partida em que quiseram, sem sucesso, fazer o “jogo da festa do título”, quando expulsou o Fucile, sem motivo para tal? Ou na Taça da Liga, da mesma época, em que, também contra os vimaranenses, admoestou apenas com amarelo o Luisão, retirando toda e qualquer hipótese de aquele vir a ser penalizado por via de um sumaríssimo, depois de uma agressão mais que evidente?
Será que está ainda a pagar a factura do golo invalidado ao Petit, nos tempos do Mourinho? No que vai de 2011/2012 fez cinco jogos na Liga Zon Sagres, apenas um envolvendo uma equipa do topo da tabela: na primeira jornada, na nossa deslocação a Guimarães.
Ainda gostava que me explicassem, como se eu fosse muito burro, que vai na volta, até serei, porque é que o tempo passa, e o mesmo clube que recusou alguns árbitros, continua a querer determinar quais aqueles que podem ou não dirigir os seus jogos?
Sobre esta questão dos árbitros, escrevi no meu primeiro blog, há mais ou menos quatro anos (21 de Fevereiro de 2008, para ser mais exacto), após uma arbitragem de Pedro Henriques, numa deslocação do FC Porto à ilha dos buracos, um texto intitulado "Irracionalidade Arbitrária", onde disse qualquer coisa como isto:
“Meus amigos, os árbitros erram! Os árbitros erram muito! Os árbitros erram com uma frequência que não devia acontecer.
Atenção, que eu não disse que erram de propósito, mas erram muito, e contrariamente ao que alguns querem fazer crer, não erram sempre para o mesmo lado!
Contudo, se acreditar que o que acabei de dizer não é verdade, dá conforto e contribui para a felicidade de alguém, lindamente, continuem”.
Hoje, quatro anos volvidos, mantenho a mesmíssima opinião, sem retirar uma vírgula que seja.
Quero dizer com isto que vi um número de jogos mais que suficiente no campo de um clube pequeno, para perceber a ratio operandi dos apitadores nacionais. Os árbitros portugueses, em primeira linha, favorecem tendencialmente as equipas chamadas grandes, mais grandes ou que foram grandes.
Depois, sendo bichos caseiros, puxam pela equipa da casa, não vá o diabo tecê-las…
E só depois entram em conta com factores como sejam os amores, desamores ou ódios de estimação.
Dentro desta lógica, por certo nenhum adepto do FC Porto esperaria algum dia ver o Elmano Santos ou o Bruno Paixão, a “favorecer” o seu clube, da mesma maneira que ninguém esperará em tempo algum ver o João “pode vir o João” Ferreira ou o Duarte Gomes decidirem contra o seu clube do coração.
Mas estes serão epifenómenos, digamos que, naturais, pois cada um tem direito às suas paixões e às suas aversões.
O problema é mais do que errar. Porque errar, erra-se, porque é natural errar. A predisposição para errar sempre para o mesmo lado, seja a favor, seja contra, é que é preocupante. E é isso que se via e vê nos árbitros que acabei de indicar.
Agora, vamos dizer que aqueles juízes ou outros quaisquer erram ou erraram, porque estão de alguma forma “comprados”?
Lamento, mas não acredito. Socorrendo-me uma vez mais do economês, do Adam Smith, e da sua “Teoria da Mão Invisível”, é um pressuposto de base que os agentes económicos se comportem racionalmente, e tomem as opções que melhor defendem os seus interesses.
Nós de certeza que o fazemos. Quando investimos o pouco que ainda resta para investir, se é que resta, optamos por aqueles produtos ou depósitos que nos oferecem melhores garantias de rendimento.
Assim são os árbitros. Dentro daquilo que é o nacional porreirismo e a ostensiva subserviência pátria perante quem detém o poder, parece-me perfeitamente natural que as decisões arbitrais pendam arbitrariamente, em caso de dúvida, para o lado de quem manda. Ou de quem aparenta mandar.
E é aqui que reside o busílis da questão. Da parte do FC Porto, nunca se assistiu, quiçá devido à sua dimensão, a um esforço tão desmesurado para fazer alarde do poder de que falo.
O mesmo não se poderá dizer de um outro clube, que imaginarão qual é. A época de 2009/2010 foi paradigmática nesse sentido. Tudo empurrava no mesmo sentido, foram investidos rios de dinheiro, como disse Pinto da Costa, “quase que fizeram do [tal clube] o clube do regime”.
Ou seja, uma tal conjugação de factores que fez com que, quase sem surpresa, as decisões dos árbitros pendessem invariavelmente para aquele lado.
Este foi, de resto um objectivo confessado por António-Pedro Vasconcellos, quando ainda fazia parte do painel do “Trio d’Ataque”.
A dada altura, a propósito dos tais “roubos” nas primeiras jornadas da temporada finda, incessantemente trazidos à colação, a propósito de tudo e de nada, lamuriou-se justificando as suas queixas pelo facto de os árbitros, perante situações de dúvida ocorridas em jogos do FC Porto e do seu clube, no nosso caso decidirem a favor, e no deles, contra.
Ficou por ver o que é que o indivíduo em questão e os seus equivalentes consideram como caso de dúvida. No limite, todas as jogadas em que não são beneficiados… Mas isso são contas de outro rosário.
Aquele era, na visão enviesada dos dirigentes e adeptos daquele clube, o grande desígnio a atingir. Que, quando em dúvida, a decisão caísse para o seu lado.
Esta foi também a grande vitória conseguida pela direcção do tal clube no processo “Apito Dourado”.
Bem podemos ir superando os obstáculos colocados nas mais diversas sedes. UEFA, tribunais administrativos de primeira e segunda instância, enfim, em todo lado onde haja alguém com dois dedos de testa, todas essas conquistas, neste contexto, não passaram de vitórias de Pirro.
Tudo bem, vamos ganhando os processos, mas qual foi o árbitro que, naqueles tempos conturbados do “Apito Dourado”, teve a coragem de, em caso de dúvida, e quero dizer dúvida mesmo, decidir a favor do FC Porto?
Muito poucos, ou mesmo nenhuns. O mérito de termos ganho quatro títulos nesse período em que ninguém pode apontar qualquer réstia de favorecimento, não nos tiram, por muito que se esforcem.
Nos dias de hoje, a situação mudou, mas não se alterou significativamente.
Com a amplificação que a comunicação social faz dos erros da arbitragem a nosso favor, enquanto omite e obscurece tanto os que nos prejudicam, como os que favorecem a concorrência. Com, por exemplo, a divulgação casuística e selectiva dos relatórios dos observadores dos árbitros mais convenientes, qualquer um que erre, como se viu agora com a equipa do Pedro Proença, vê cair sobre si um tal manto de suspeição, que progressivamente se vai tornando insustentável a sua continuação em funções.
Que o digam o Pedro Henriques, Olegário Benquerença, e a ver vamos o que vai agora suceder com Pedro Proença. Por via das dúvidas, será bom que se acautele quando voltar ao Colombo.
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