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Azul ao Sul

Algarvio e portista E depois? O mar também é azul...

Azul ao Sul

Algarvio e portista E depois? O mar também é azul...

A mística do funcionalismo

07
Mai15

 

 

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Ele há pessoas que têm um prazer insano em complicar aquilo que é simples.

 

Então não é que uns indivíduos quaisquer, um tal de Vítor Baía, um Jorge Costa e um Ricardo Costa, resolveram ligar o “complicómetro”, e tiveram a distinta lata de vir para a praça pública falar em “falta de mística" no FC Porto actual?

 

Que raio! Não têm nada de mais produtivo para fazer?

 

Mas, o actual treinador da nossa equipa respondeu-lhes à letra, certamente para grande alegria dos seus fãs:

 

"Falta de mística? A mística passa pelo profissionalismo, pelo orgulho, pela responsabilidade, e a equipa mostrou isso"

 

Ora, nem mais. É tão prosaico e linear, que não percebo donde vêm questões tão a despropósito.

 

Outra coisa que também não percebo é que, se a equipa mostrou estas características ao longo da temporada, e os outros é que vão à frente, o que é que faltou?

 

Os outros tiveram mais profissionalismo? Mais orgulho? Foram mais responsáveis?

 

Sim, já sei: as arbitragens. É claro.

 

O descalabro de Paulo Fonseca também começou com o penálti mal assinalado na Amoreira. Por outro lado, o Jesualdo Ferreira foi campeão, mais do que uma vez, em plena ebulição do Apito Dourado, numa altura em que nenhum árbitro nos dava o benefício da dúvida. Antes pelo contrário.

 

Mas voltemos ao que interessa.

 

Se me dirigir a uma qualquer repartição pública, o mínimo que exijo aos meus concidadãos e colegas funcionários públicos, ou o quer que nos queiram chamar, é profissionalismo, orgulho e responsabilidade.

 

E, quer acreditem, quer não, há muitos bons profissionais na nossa administração pública. Têm orgulho em prestar um serviço público, e fazem-no de forma responsável.

 

É uma realidade que constato e com a qual convivo diariamente.

 

Aliás, digo mais, aquilo que a nossa administração pública tem de bom e que funciona, depende largamente do empenho desses profissionais, que dedicam uma porção considerável do seu horário de trabalho, a desfazer e reciclar merdas que chefias incompetentes, colocadas politicamente em função do cartão partidário, os tais “boys” e “girls”, que não acabaram, nem pouco mais ou menos, por ignorância, incapacidade e clientelismo produzem.

 

Talvez daí a necessidade de ampliação do horário de trabalho…

 

No entanto, a imagem global que passa da nossa administração pública é aquela que todos conhecemos.

 

Porquê? Porque os bons profissionais que existem não têm qualquer contrapartida palpável que os compense pela sua dedicação, e consequentemente, desmotivam-se.

 

Desmotivados, acabam por fazer aquilo que tantas vezes se vê: picar o ponto à entrada e à saída, e amanhã há mais.

 

E é este o cerne da questão: a motivação.

 

Um profissional competente e sério atinge os seus objectivos. É o normal, e é a isso que o seu profissionalismo, o seu orgulho e a sua responsabilidade, o obrigam.

 

Um profissional motivado, transcende-se, e supera-os.

 

Num clube, reconhecido mundialmente por contratar jogadores desconhecidos, embora cada vez menos desconhecidos, valorizá-los, e transferi-los com lucro, como é se motivam os profissionais para darem tudo o que têm, com profissionalismo, orgulho e responsabilidade, sabendo que, mais cedo ou mais tarde chegará o ansiado momento de "dar o salto"?

 

E para transcenderem-se?

 

Como é que se faz isso quando a sua cotação de mercado parece nem sequer depender dos títulos conquistados pela equipa?

 

Veja-se o caso do Jackson Martínez. Sem dúvida um bom jogador, e não o tenho como mau profissional. Em determinados momentos, se estivesse cá de corpo inteiro, talvez até pudesse fazer mais, mas ainda assim é inquestionável que faz bastante.

 

Desde que veste as nossas cores, foi apenas uma vez campeão, e vai com três épocas entre nós. Deixou de ter pretendentes ou o seu valor de mercado baixou por isso? Não me consta.

 

Portanto, deve necessariamente haver algo mais.

 

Ou o que queremos para o FC Porto são profissionais ao jeito do tradicional funcionalismo público?

 

Jogadores que se limitam a picar o ponto, e corram as coisas como correrem, vão para casa com a consciência tranquila do dever cumprido, porque se correr mal, para a semana há mais?

 

É esse o tipo de mística que queremos?

 

Compreendo e encaro com normalidade, que alguém vindo de fora, e que conhece da história deste clube, aquilo que tiveram a delicadeza de lhe ensinar, se é que a tiveram, ache que “a mística passa pelo profissionalismo, pelo orgulho, pela responsabilidade.

 

Contudo, parece-me demasiado redutor. Por isso, acho estranho que adeptos portistas pensem o mesmo, e surpreende-me a facilidade tamanha com que se prontificam a renegar parte da história do clube, bem assim como a opinião de figuras que dela fazem parte.

 

Porquê? Ignorância? Estupidez? Amnésia? Desonestidade intelectual?

Sinal dos tempos

24
Abr15

Muito portista por aí fora precisa de aprender a perder para voltar a saber ganhar”.

 

Li esta frase num texto que o Jorge escreveu recentemente, no Porta 19, intitulado "Culpa".

 

Antes de mais, será talvez conveniente introduzir aqui uma nota prévia.

 

O Jorge, para além de ter para com ele uma dívida eterna de gratidão, por um dia ter entrado no Estádio do Dragão, é na bluegosfera o que mais próximo terei de um role model.

 

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Quando fôr grande, quero ser o Jorge.

 

Dito isto, direi também que compreendo onde ele quer chegar, e cada vez mais tendo a subscrever a mensagem que transmite, embora volta e meia tenha recaídas.

 

Como se não bastassem as milhentas desculpas esfarrapadas que aparecem nas horas das derrotas: os árbitros, o Vitor Pereira, as prioridades, o Lopetegui, a rotatividade, o Quaresma, os assobios, o Tózé, a chuva, o sol, o alinhamento de Júpiter com Saturno, o caralho que foda, e por aí adiante, ainda temos de gramar com as culpas e os culpados.

 

E, consequentemente, com o alijar das responsabilidades dos que pretendem não ter culpa no cartório.

 

No entanto, confesso que fiquei chocado. Costuma ser assim com os conceitos inovadores.

 

Se há temática que nunca me passou pela cabeça ver tratada na bluegosfera, a necessidade de algum portista, quem quer que ele seja, ter de aprender a perder, é o caso.

 

Deve ser um sinal dos tempos.

 

Eu, a última coisa que quero é aprender a perder. Muito simplesmente, porque não quero perder.

 

Perder é uma merda, foda-se! Ponto final. E é tudo quanto sei e quero saber sobre o assunto.

 

Perder é bom para os outros. Ficam tão bonitinhos nesse papel. Chiam, choram, gritam, culpam enfurecidos este Mundo e o outro, inventam desculpas mirabolantes.

 

Fica-lhes bem, assenta-lhes que nem uma luva, e fazem-no com a desenvoltura de quem a isso está habituado. Para quê mudar o que está bem?

 

Eu não quero aprender a perder. Fora de questão. Aceito que não se pode ganhar sempre, e até poderá ter o seu quê de pedagógico, mas, macacos me mordam se algum dia me passar pela cabeça aprender a perder.

 

E, apesar de tudo, enquanto portista, o mais natural é que nunca venha a perder um número de vezes suficiente sequer para uma introdução à matéria, quanto mais para aprofundá-la.

Não me levem a mal (por querer ganhar qualquer coisinha)

24
Abr15

João Pinto Hexa

 

Ao longo do tempo, muito daquilo que aprendemos na escola vai desvanecendo, mas há sempre coisas que ficam.

 

Por exemplo, aprendi, salvo erro em Gestão Comercial, que quando queremos entrar num mercado onde existe um concorrente que detém uma posição dominante, a melhor forma de o fazer é pela aposta na diferenciação do nosso produto.

 

Deixar bem claro aos nossos potenciais clientes quais os factores distintivos, que nos demarcam da concorrência, que lhes trarão benefícios e, em última análise, os levarão a optar pelo que oferecemos, em detrimento dos demais.

 

Espero que concordem comigo se afirmar que o mercado futebolístico português, é claramente dominado por um clube, com particular incidência naquilo que se passa fora do terreno de jogo, e muito especialmente, quando se trata de fazer as coisas pelo outro lado. É neste mercado que operamos, e quanto a isso, pouca volta haverá, de momento, a dar.

 

Cresci a gozar com os meus amigos sportinguistas, chagava-lhe o juízo dizendo que ainda iam gastar as palmas das mãos, de tanto as esfregarem, enquanto rezavam sempre o mesmo terço: "Este ano é que vai ser, vais ver, este ano é que vai ser!".

 

O primeiro título que vi o FC Porto conquistar, foi aquela Supertaça Cândido de Oliveira, em que após o segundo jogo, o guarda-redes da equipa derrotada, de seu nome Manuel Galrinho Bento, veio dizer que era uma taça a feijões.

 

Primeiro gozei, e depois irritei-me (e irrito-me!) com alguns benfiquistas que, incapazes de reconhecer o mérito das nossas conquistas, e à falta de melhores argumentos, continuam autisticamente a remeter a sua justificação para os árbitros, para a fruta, o chocolate ou o sistema.

 

Contudo, ao longo da presente temporada, sempre que percorri alguns dos espaços que me habituei a visitar na bluegosfera, e outros mais recentes, o panorama foi quase sempre o mesmo.

 

As competições são hierarquizadas por prioridades, há as que vale a pena disputar, e as outras, que vamos lá, mas se não fossemos, ninguém ficaria terrivelmente chateado. A feijões, portanto.

 

As derrotas e os títulos, que as mesmas pressupõem deixarem-se de conquistar até nas provas prioritárias, são justificadas pacientemente pelo "projecto a três anos", que nesciamente não consigo descortinar, e pelo tempo que é necessário para construir algo que valha a pena no futuro.

 

É claro que só a massa ignara dos adeptos resultadistas e imediatistas não consegue compreender isto.

 

E depois, as queixas dos árbitros e do sistema, fundamentadas em grande parte, mas que só por si, não explicam tudo.

 

Ou seja, nos dias que correm, o que é que nos distingue daquilo que disseram e fizeram, e dizem e fazem os nossos adversários? Qual é ou quais são o nosso ou nossos factor ou factores distintivos?

 

No capítulo das prioridades, há ainda quem não compreenda que os tais adeptos resultadistas e imediatistas, não valorizem o percurso na Champions, em detrimento das taças menores que ficaram pelo caminho. Por outras palavras, que se lixe a vertente desportiva, e viva a carteira recheada.

 

Mas será que as duas são mutuamente exclusivas? Estamos perante uma daquelas perguntas sacramentais e estúpidas (ou sacramentalmente estúpidas) que se se fazem às crianças: " de quem é que gostas mais, da mamã ou do papá? "

 

Há alguma regra que impeça de aliar um bonito percurso internacional, à conquista de alguma coisa entre portas? Se há, esqueceram-se de avisar o Villas-Boas e o Mourinho.

 

Se, por um lado, o sucesso internacional alimenta a carteira, as vitórias e os títulos alimentam a alma. A opção é difícil.

 

A lógica dirá que sem europa, não há pilim, sem pilim não há vitórias. Porém, foi a contrariar essa lógica que nasceu o FC Porto moderno.

 

O que é que apareceu primeiro: as vitórias ou os milhões?

 

Li recentemente uma notícia, segundo a qual o FC Porto terá embolsado qualquer coisa como 600 milhões em transferências. Onde é que param esses milhões?

As vitórias, essas estão no museu e até prova em contrário, é lá que vão ficar.

 

Também não é despiciendo que uma performance europeia de destaque projecta o clube e valoriza os seus activos, os jogadores. É um facto, sem dúvida.

 

Resta saber se o FC Porto dos dias de hoje, na sua fase pós-moderna, é um clube de futebol ou uma mera empresa comercial. O objectivo é simplesmente valorizar os seus activos e revendê-los com lucro, ou utilizá-los da melhor forma possível para atingir resultados desportivos a acrescentar ao seu palmarés?

 

Tirando o caso das empresas comerciais, em qualquer outro tipo de actividade, cujo exercício se pressupõe que irá ser continuado, que sentido fará ter por prioridade a venda dos activos necessários para a sua prossecução?

 

Sempre que é questionada a enormidade do passivo dos nossos rivais, invariavelmente a resposta é que os activos, nomeadamente jogadores e estádio, cobrem esse passivo.

 

É claro que todos sabemos que tal, apesar poder de ser factualmente correcto, não passa de uma falácia, pois se forem vendidos os jogadores e o estádio, não há clube. Connosco é diferente?

 

O que é que nos distingue deles? Qual a nossa marca distintiva?

 

A Taça de Portugal foi-se, por conta da rotatividade, que tão útil, veio a provar ser para derrotar o Basileia. A Taça de Portugal salvava a época? Nem por isso.

 

A Taça Lucílio Baptista também se foi. Não era prioritária. Dificilmente algum dia o será, logo, ainda menos salvava a época.

 

Uma boa presença nas competições europeias salva a época? Do ponto de vista estritamente financeiro, é bastante provável.

 

A Liga? É claro que sim, mas...o facto de agora se chamar NOS, não quer dizer que seja forçosamente para nós.

 

Tudo somado, estamos na iminência de acabar a época, como diria o Mourinho, com “zero tituli”.

 

Fazendo uma espécie de média, diria que, num ano normal nosso, ganhamos dois títulos: o campeonato e a Supertaça, como aconteceu nas duas épocas do Vítor Pereira.

 

Num ano bom, juntamos a Taça de Portugal, e num ano excepcionalmente bom ganhamos a Liga Europa, como aconteceu com o Villas-Boas, ou indo para além disso, a Champions.

 

Portanto, de uma época excepcional, passámos para duas normais, e menos que isso com o Paulo Fonseca, em que ficámos pela Supertaça.

 

E esta temporada, a ver vamos…

 

É esta tendência que me preocupa. E ainda mais que a tendência, preocupa-me a condescendência que vejo da parte de alguns para com a mesma, porque durante muito tempo, a nossa marca distintiva foi não haver jogos a feijões.

 

Competitividade até à medula, onde entrávamos era para dar luta, e ganhar, ou pelo menos, fazer tudo por isso, tantas vezes contra tudo e contra todos.

 

É irrealista nos tempos que correm? Talvez. Desculpem lá, mas não me levem a mal por querer ganhar qualquer coisinha!

 

Se vos diverte discutir o Lopetegui, o Quaresma, o Tozé, a rotatividade, os assobios, força. São temas entretidos para debater, e dão pano para mangas.

 

Agora, o que sinto é que talvez fosse mais proveitoso discutir o que é o portismo, na sua essência.

 

A crise maior que vejo é de identidade. À força de tanto querer universalizar, mais se perde aquilo que é nosso, que é único, o nosso factor distintivo, e os resultados estão à vista.

 

A universalidade pouco nos acrescenta, o único, pelo contrário, deu bons resultados.

 

Fico por isso com a triste sensação de que cada vez mais se fala do #SomosPorto, mas o que é (ou foi) Ser Porto, anda um tanto ou quanto esquecido, e pior ainda, que a todos os níveis, há por aí muito quem faça convenientemente por o esquecer.

 

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A problemática do assobio

20
Nov14

Depois do Bloco de Esquerda se preocupar com o reles piropo, do nosso lado são os assobios dos adeptos à sua própria equipa, que provocam casos sérios de urticária.

 

É uma temática interessante, especialmente porque, para além das vozes, muitas, críticas para com os assobiadores, poucas tentativas vi de procurar compreender, afinal de contas, porque diabos assobiam.

 

Paradigmático na procura de uma resposta, foi um dos comentadores do Porto Canal, não me recordo do seu nome, no pós-match da recente derrota com o Sporting.

 

Para ele, sendo certo que o (mau) futebol apresentado pela equipa não puxa pelos adeptos, estes também não incentivam a sua equipa. Antes pelo contrário, invectivam-na. Dizia ele, que lhe dava a impressão de que estes adeptos, que talvez se comportassem racionalmente durante a semana, deixando no ar a dúvida quanto a isso e dando-nos a boa notícia de que ele o fazia, pareciam aproveitar o fim de semana e os jogos de futebol para extravasar a sua irracionalidade, assobiando a equipa, que supostamente deveriam apoiar.

 

Ou seja, resume-se a situação a uma questão de quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha, que não tendo solução resolvida estará sempre, ou que a ter solução, será a saída mais fácil que é a irracionalidade dos adeptos.

 

É curto, e é o tipo de resposta simplificadora de que francamente, não gosto.

 

Julgo que não fujo muito à verdade se disser que na génese e crescimento do FC Porto moderno esteve uma forte identificação do clube com a cidade e a região, aliados numa luta, quero acreditar, mais contra a centralidade da capital do que contra o sul no seu todo.

 

Simultâneamente houve uma profunda identificação dos adeptos com o repto lançado pelo clube, e não só. Identificaram-se facilmente também com alguns jogadores, oriundos alguns deles dos mesmos lugares que eles próprios, com os quais estabeleciam sem dificuldade laços de grande afinidade, e cujo comportamento em campo, no fundo replicava a sua própria postura perante o desafio lançado e a vida - os chamados jogadores à Porto.

 

No entanto, assobios sempre os terá havido, e se alguns jogadores mal mijavam fora do penico se sujeitavam à assobiadela geral, outros podiam executar perfeitas obras de arte pelas paredes, sem que mal algum os afligisse.

 

Por muito que custe, este FC Porto, de Pinto da Costa, meu e de, quero crer, ainda muitos outros portistas, como todas as coisas vivas, nasceu, cresceu e morreu.

 

O FC Porto pós-moderno dos dias de hoje, sen que isto seja necessariamente uma crítica, é um entreposto de jogadores. É a fórmula, que nos garantem sem grande hipótese de refutação, que assegurará a sobrevivência do clube e a continuação na senda da conquista. Mais do que recorrer a fundos de jogadores, o clube transformou-se ele próprio num fundo de jogadores.

 

Nos tempos que correm, em que todo o cuidado com os produtos tóxicos oferecidos pelas instituições financeiras, é pouco, o investimento em jogadores com a chancela #SomosPorto, garante, para gáudio de alguns portistas, conforme já li, e dos investidores, um retorno garantido, inclusivamente superior ao que se poderia obter por outras vias.

 

Em nome deste FC Porto as referências com que os adeptos contavam no terreno de jogo, os jogadores com os quais se identificavam, foram progressivamente e menos paulatinamente do que, confesso, me agrada, sendo-lhes retiradas.

 

Em troca, o que é que o clube, a SAD, a direcção, deram aos seus adeptos? Vitórias atrás de vitórias. Os jogadores à Porto, que dentro do campo eram os elementos de referência dos adeptos foram sendo despachados para a Turquia, para os Rio Aves, Estoris e para a equipa B:

 

"estes até são bons rapazes, mas estes que aí vêm são melhores, alguns deles são mesmo vedetas internacionais, e assim vamos continuar a ganhar"

 

Ora, sendo esta a oferta, quando as vitórias não aparecem, os adeptos olham para o relvado e não encontram alguém que colha a sua especial simpatia, mas apenas camisolas azuis e brancas.

 

É como dizia o Rui Veloso: "O prometido é devido", e claro está, cai-lhes mal. É natural, e daí ao assobio é um vê-se-te-avias.

 

O seu comportamento tem muito de pavloviano, ainda que involuntariamente induzido. Foram condicionados para reagirem positivamente às vitórias, e fazem-no, da mesma forma que reagem pela inversa às derrotas.

 

O futebol ainda é um jogo de homens (e mulheres) para homens (e mulheres), a experiência diz-me que tendemos a ser mais condescententes para com aqueles com os quais estabelecemos laços de alguma afectividade: "Quem para louvar a noiva, senão o noivo?"

  

É irracional? Talvez. Mas o que é que será mais irracional, este tipo de comportamento, ou o acreditar que, porque nos últimos 30 e tal anos as coisas correram maioritariamente pelo melhor, o mesmo irá forçosamente novamente acontecer?

 

Isso é pura fé. Há algo mais irracional do que do que a fé?

 

Por tudo isto, talvez não fosse pedir muito que o Porto Canal, obviamente sem abdicar da sua linha editorial, em vez de nos presentear com boas novas sobre a racionalidade do(s) seu(s) comentador(es), pudesse incluir na sua grelha de programas, qualquer coisa que promovesse a aproximação entre os adeptos e os jogadores do clube.

 

Será que jogadores como o Tello, vindo do Barcelona, ou o Óliver do Atlético de Madrid, habituados a lidar com o todo-poderoso e omnipresente Real Madrid, não terão alguma coisa interessante para dizer, com que os adeptos do FC Porto possam estabelecer um paralelismo?

 

Ou o Brahimi? Ou o Maicon, que já por cá anda há uns anos?

 

Bem sei que há a revista, há as redes sociais, e tudo isso, mas decididamente, não chega. Este tipo de intervenção está vedado ao Porto Canal?  

 

Posso estar enganado, e certamente até estarei, mas parece-me que os laços afectivos e a identificação que, sem censuras, se estabelecerem entre os adeptos e os jogadores, terão um efeito bem mais duradouro do que campanhas, que por muito bem gizadas que sejam, à primeira derrota se irão.

 

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Só para ter a certeza…

19
Nov14

Afinal, o Tozé é menos portista porque simulou uma falta e tentou sacar um amarelo ao adversário, ou porque o fez naquela jogada com o Martins Indi, e contra o FC Porto?

 

É que eu lembro-me do Paulinho Santos a sair do relvado estendido na maca, e a fazer o sinal de OK (infelizmente, não consegui localizar na net a imagem alusiva. Se alguém quiser fazer o favor, esteja à vontade).

 

Alguém vai querer pôr em causa o portismo do Paulinho Santos? E não se preocupem com a resposta que derem, que, quase de certeza, ele não lê este blog.

 

Agora, vamos lá por imagens.

 

Se quisessem escolher uma imagem que simbolizasse a mística do FC Porto, a superação de si próprios, o pensar no outro como em si mesmo, a luta aguerrida até ao último instante, o Ser Porto, o sentir a chama azul e branca no sangue, o pulsar do fogo da determinação e da garra nas veias, o fazer do impossível o possível, do ganhar e crescer independentemente de quem está do contra, do outro lado, a congeminar na sombra (descrição de mística do FC Porto, do Ser Porto, ou do portismo, como quiserem, retirada, com a devida vénia, do blog Porto Universal), qual das imagens escolhiam?

 

Esta, onde estes senhores festejam no encerramento do nosso pior campeonato dos últimos 30 anos, uma vitória no Dragão sobre o já campeão nacional, que viria a conquistar também as Taças de Portugal e da Liga:

 

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Ou esta, onde um Senhor chora após a conquista de um hexa, sim hexacampeonato de andebol?

 

João Pinto Hexa

 

Eu tenho a minha resposta, não deixem que a maiúscula em “senhor” os influencie na Vossa.

 

Voltarei a este assunto, dependendo das respostas, se as houver.

Se eu fosse...

02
Nov14

 

 

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Após a rotatividade ter atingido o seu pináculo (até à data!) na partida frente Sporting, cuja derrota nos custou a eliminação da Taça de Portugal, e pior do que isso, ter de gramar com o sorriso trocista do Bruno de Carvalho, seguiram-se três vitórias consecutivas.

 

Contra o Athletic de Bilbao, o Quaresma decidiu o desafio.

 

Em Arouca, o onze que entrou em campo tinha apenas uma alteração relativamente ao último que jogara.  

 

No jogo de sábado sairam o Herrera, um dos jogadores mais contestados pelos críticos, e o Tello, e entraram o Óliver e o Quaresma.

 

Se eu fosse um portista a sério, daqueles que não são adeptos do FC Quaresma, do FC Assobios ou do FC Festas, aproveitava a embalagem deste recente trajecto vitorioso, e parava um bocadinho para pensar.

 

Se eu fosse inteligente, o que se coloca em dúvida a título meramente académico, perceberia sem grande dificuldade que as últimas opções do mister Lopetegui revelam afinal uma crescente aproximação àquilo que os contestatários, membros de pleno direito do FC Quaresma, do FC Assobios, do FC Festas e demais, vêm reclamando.

 

E, sendo inteligente, ficaria contente, porque os resultados não enganam, e têm sido jeitosos.

 

Tão contente que certamente não perderia tempo a tentar demonstrar que o golo do Quaresma resultou de um acto de egoísmo, pois havia um colega em melhor posição para marcar, além da ajuda prestada pelo guarda-redes contrário.

 

Ou a constatar que o Arouca, enfim, o Arouca é o Arouca...

 

Ou que o golo do Brahimi, sendo um golpe de génio, surgiu também ele após uma série de jogadas egoístas, que poderiam facilmente tê-lo feito ir para o duche mais cedo.

 

Mas ficaria ainda mais contente por comprovar que a grandeza do FC Porto é de tal ordem, que consegue albergar no seu seio várias correntes de opinião distintas, das  pró fundamentalistas acirradas às critícas e contestatárias obstinadas, e que no fundo e apesar dos pesares, todas querem o mesmo: que o FC Porto vença, que vença sempre, e em particular, clubes cuja dimensão nos é inferior, como diria o presidente do Sporting.

 

Se fosse um portista a sério e inteligente, garanto que não perderia tempo precioso a apregoar e a exibir o meu portismo em detrimento dos demais, e marimbava-me para os adeptos do Eça, que se divertem a criar heterónimos para algo que é único, até nas diferenças.

 

Digamos que é como os concursos de medição de pilinhas, que perdem um tanto ou quanto do seu interesse, a partir do momento em que o John Holmes entra em cena.

 

Isto, se eu fosse...