Numa da inúmeras tiras do Quino, uma das personagens, salvo erro o Miguelito, a páginas tantas, queixa-se à Mafalda porque a sua professora, com toda a solenidade, informou na sala de aula que:
“Cristóvão Colombo descobriu a América em 1492”
“1492!!” – insurgia-se ele, rematando, para concluir: “Digamos que a minha professora, não tem a agilidade informativa da France Presse”.
Recordei-me deste momento do Miguelito, quando vi a celebração do melhor ataque do campeonato, na capa do “Record” de hoje:
É inquestionável. O clube em questão tem 50 golos marcados, o FC Porto tem 49, e o terceiro melhor, o SC Braga tem apenas 44. Logo, é sem sombra de dúvida o melhor ataque.
No entanto, este enaltecimento fez-me recuar, tal como neste outro texto que escrevi recentemente, mais anos do que aquele número de golos.
Mais exactamente à época de 1958/1959, e ao pós famoso jogo do Inocêncio Calabote.
Só para os situar, no caso improvável de não terem lido o dito texto, aquele campeonato foi conquistado por nós, pela maior diferença de golos entre marcados e sofridos, o tal de "goal average".
Os dois primeiros classificados terminaram a prova com 41 pontos, mas enquanto do nosso lado foram 81 os golos marcados, e 22 os sofridos, a equipa que venceu no jogo dirigido pelo mítico Calabote, obteve 78 tentos, e sofreu 20.
Com a bonomia e o fairplay que ainda hoje a caracteriza, a comunicação social afecta ao clube perdedor de então, “lamentava, com alguma subtileza, a perda do campeonato. Veja-se, a título de exemplo, o artigo de Aurélio Márcio, [no papel para forrar fundos de gaiolas de periquitos]:
“O [segundo classificado ex-aequo] seria campeão em França e Inglaterra
O FCP conquistou o título por um golo, que tanto pode ser o de Teixeira como o da CUF. Em França e Inglaterra, porém, o SLB seria campeão, pois o seu quociente (3,9) é superior em relação ao do FCP (3,6) (Nota: o quociente calculava-se dividindo o total de golos marcados pelo total de golos sofridos).
Fazemos votos para que numa próxima reforma do regulamento geral da FPF se recorra todos os meios de desempate, menos aos jogos extra, que não condizem com o espírito da competição.”
O Norte Desportivo [por esses dias, rival do papel para forrar fundos de gaiolas de periquitos] faz uma notícia bem corrosiva como resposta ao texto de Aurélio Márcio:
“O [segundo classificado ex-aequo] ficaria campeão em Inglaterra e em França, mas…
…em Portugal o campeão é o FCP.
Alguns colegas nossos do sul têm descoberto muitas coisas. São, realmente, uns verdadeiros sábios e, os seus devaneios, caprichosos, saem da vulgaridade. Agora descobriram que o SLB, se fosse na França e na Inglaterra, teria ficado campeão, pois seria utilizado o coeficiente de golos de golos. E foram tão ”perfeitos” que até fizeram contas a demonstrarem que são excelentes aritméticos…
Mas a despeito dessas obrigações, ao simpático e popularíssimo [clube] o que interessava era ficar campeão de Portugal. Ora esse intuito é que não se corporizou, pois o campeão é o FCP.
Foi pena que os nossos ilustres colegas não informassem a multidão de quem ficaria campeão da Indochina, nas Filipinas ou na Patagónia.”
Assim são os festejos pelo melhor ataque. Ora, muitos parabéns, mas quem está na dianteira, ainda que ex-aequo, é o FC Porto. Portanto, fiquem lá com o melhor ataque, que a melhor defesa e a melhor diferença de golos moram noutro sítio.
Outro exemplo da falta de agilidade informativa reinante, poderia ser aquele que se segue.
O FC Porto depois da sobrecarga física que significaram os encontros com o Málaga e com o Rio Ave, e aproveitando os efeitos suspensivos do recurso interposto pelo Vitória de Setúbal na Taça Lucílio Baptista, só vai começar a preparar o clássico da Calimeroláxia na terça-feira.
Entretanto, após o seu jogo de ontem, qual é uma das constatações, sempre perspicazes, do treinador do clube que não se preocupa nada connosco, e que nos acusa de dormirmos, vivermos, existirmos, sempre obcecados por eles, e que por sinal e até ver, vai disputar uma meia-final da Lucílio Baptista com o SC Braga, na próxima quarta-feira?
"O Sporting agora joga com meia equipa B"
Neste caso, como facilmente se constata, a falta de agilidade está do lado de quem recebe a informação.
É da teoria da comunicação. O indivíduo em questão foi receptor da mensagem de que o clube que vamos defrontar, agora joga com meia equipa B. Contudo, por incapacidades e lacunas de (a)variada ordem, comumente designadas por “ruído”, foi incapaz de processar aquela informação.
Se o tivesse sido, talvez tivesse percebido que, se o nosso futuro adversário faz alinhar agora meia equipa B, tal significará que algo andaria mal com a sua equipa, dita A. Ou não?
Equipa A, por sua vez, que a sua equipa defrontou e derrotou, n’”um campo que quando (…) lá foi, era mais difícil”. Seria mesmo? E o treinador do adversário na altura? Também era, como o de agora, "o melhor treinador a dinamizar o 4x3x3”?
Pormenores asininos!
Regista-se porém outros casos, em que a agilidade informativa é tão aguçada e astuta, que até assusta.
Deitei-me no sábado passado de consciência tranquila, com a grata sensação do dever cumprido. O jogo não correu pelo melhor, em termos exibicionais, mas, apesar da estupidez do penálti do Jackson Martinez, derrotáramos o Rio Ave.
Os penáltis a nosso favor foram claríssimos, e não haveria nada a apontar.
No domingo, olho para os destaques da imprensa, e dou de caras com isto:
Confesso que fiquei assarapantado. Não vi o jogo, mas ouvi o relato. Que eu tenha reparado, ninguém falou num penálti a favor dos vilacondenses.
Não vi os programas desportivos de sábado (nem os de domingo, nem vou ver os de hoje!), por isso, não sei se terá sido o Gobern a abordar este tema. Admito que sim…
Para tirar dúvidas,fui ao "Bibó Porto, carago!", ler o "Tribunal d'O Jogo".
Mais consensual seria difícil: “Decisões exemplares”, é como começa o resumo da actuação do árbitro.
E no entanto, ontem na RTPI, lá veio outra vez a história do penálti, que terá sido cometido pelo Otamendi sobre o Ukra, mas que, na única toma que mostram do lance – quais repetições, qual carapuça! – não se percebe bem o que se passa.
Portanto, esta coisa da agilidade informativa, como tantas outras, no que ao nosso futebol diz respeito, é claramente como os interruptores, umas vezes para cima, outras para baixo, liga e desliga.
...e, a propósito de agilidade...
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